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terça-feira, 31 de julho de 2018

Não venham "acoxinhar" Portugal...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes uma amiga pediu a minha opinião sobre essa vaga migratória dos brasileiros para Portugal, em especial nos últimos anos. A resposta é simples: são todos bem-vindos, até porque precisamos de gente jovem para trabalhar e pagar impostos. A população portuguesa está envelhecida e, segundo especialistas, para manter os atuais índices de população ativa é preciso atrair 75 mil novos imigrantes adultos por ano.

O país deve estar aberto a receber gente de todo o mundo, mas no caso dos brasileiros há uma preocupação específica: as mudanças culturais que isso pode produzir. Grosso modo, há dois tipos de imigrantes brasileiros na vaga atual: os muito ricos, que procuram o país em busca de segurança e das vantagens da Europa, e os mais pobres, que são migrantes econômicos à procura de uma vida melhor.

Mas o foco do texto fica nos endinheirados com ideias coxinhas.

A CASA GRANDE - Por que falar em cultura? Porque há o risco de influências indesejáveis. Ainda recentemente uma nota de um jornal de Santa Catarina, que viralizou na internet, trouxe esta infausta notícia: “Construtoras de Lisboa estão erguendo prédios com elevadores de serviço. Elas não faziam isso desde a década de 60. Fazem agora para atender desejos de endinheirados brasileiros que invadem a capital portuguesa”, revelava o texto.

Não. É o tipo de coisa que não se deseja. E é sintomático estarmos a falar do elevador de serviço, um dos maiores símbolos do apartheid social que existe no Brasil. Não tem a ver com a cultura portuguesa. É claro que o país também tem os seus ricos, mas eles são mais moderados e moldados pela regra democrática. A ideia de que o dinheiro pode tudo não é usada de forma tão ostensiva como no Brasil.

Mas não é só. Outra nota, desta vez publicada em “O Globo”, diz que “para atender à demanda dos brasileiros, as construtoras vêm fazendo pequenas adaptações nos projetos, como a inclusão de área de serviço, quarto dos fundos e tanque”. Ora, o quarto dos fundos é o famoso quartinho da empregada, outro sinal desse apartheid social. Não por acaso li, um dia destes, uma frase incômoda: "os brasileiros são bem~vindos, mas mal-vistos".

Eis o problema. A casa grande precisa de uma senzala para ter a sua existência justificada. Os portugueses evoluíram culturalmente desde que voltaram à democracia e retroceder aos níveis das sociedades escravocratas não faz sentido. Enfim, não venham acoxinhar Portugal. Para a frente - em direção à civilização - é que se anda.

É a dança da chuva.






quarta-feira, 25 de abril de 2018

Coxinhas em Portugal: não estraguem a nossa cultura democrática

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje é feriado em Portugal. É o Dia da Liberdade, como se ensina às crianças nas escolas, ou da Revolução dos Cravos, como ficou mais conhecida em todo o mundo. Mas por que falar de um evento num lugar tão distante do Brasil? Há muitas razões de interesse. Portugal tem sido notícia porque muitos brasileiros de classe média – e são mesmo muitos – decidiram rumar para o outro lado do Atlântico à procura do que pensam ser um novo eldorado.

É um momento sociológico interessante. Ainda não notei pessoalmente, mas tenho lido que começam a surgir anticorpos na sociedade portuguesa em relação a muita dessa gente. Pelo que pude entender, acusam a coxinhada de ter um comportamento pouco condizente com uma sociedade mais igualitária. Eis o problema: no Brasil, essa classe média se considerava superior e agora procede da mesma maneira no novo país. É o jeito errado.

O que isso tem a ver com a Revolução dos Cravos? Não pretendo falar de história, mas de ironias. É importante informar aos coxinhas – que hoje, um belo dia de sol, certamente estão a desfrutar do feriado – que essa foi uma revolução das esquerdas (à qual a direita se juntou, à sua maneira) e na qual os socialistas e os comunistas tiveram papel determinante. Ah... não se estressem. Ser comunista ou socialista em Portugal não assusta.

E temos a grande ironia, em especial para aqueles que no Brasil vivem a pedir a volta dos militares. É que o movimento revolucionário português tinha, entre as suas lideranças,  militares com ideais de esquerda. O quê? Militares de esquerda? Não, não é ficção. Mas é claro que não estamos a falar de “generais de dez estrelas que ficam atrás da mesa com o cu na mão”, como no Brasil. Essa gente sempre disposta a defender privilégios, como as tais pensões para filhas de militares, por exemplo.

É bom viver num país onde ninguém pede a volta da ditadura. Se pedir é reconhecido como maluco. Nem ter que aturar os  “mourões” que por vezes saltam do pijama e vêm para a praça pública ameaçar com intervenções. Aliás, acabo de ouvir na televisão um líder do movimento de abril a pedir mais atenção para a pobreza que ainda persiste. “Onde não há pão não há democracia”, disse. Eis a diferença. Os militares do abril português são uma espécie de reserva moral da nação, enquanto no Brasil eles apenas zurzem ameaças.

É bom viver numa democracia. E deixo um conselho para a coxinhada. Em Roma sejam como os romanos. Tentem aprender a se comportar como quem vive numa numa sociedade com menos desigualdade. Mais do que isso, que se libertem do ideário de apartheid social que insistem em protagonizar no Brasil. E vão perceber que ter saúde, educação, transportes e segurança é bom, mas que é melhor quando é para todos.

Enfim, são todos bem-vindos, coxinhas ou não. Comunistas, socialistas, sociais democratas, verdes, democratas cristãos e outros estão prontos a recebê-los de braços abertos. Mas mudem o mindset. Não venham estragar uma cultura democrática que a Revolução dos Cravos permitiu construir ao longo dos últimos 44 anos.

É a dança da chuva.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Lulinha: é mentira, mas eu quero acreditar. E daí?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A lancha de Lulinha. O jato de Lulinha. A mansão de Lulinha. A fazenda de Lulinha. A empresa de Lulinha (Friboi, claro). E a Ferrari pintada a ouro de Lulinha. Ontem juntei todas essas tontices num post (abaixo) para o Facebook. A coisa teve milhares de partilhas e hoje, ao acordar, tinha recebido quase uma centena de pedidos de amizade. Mas...

Muitas dessas pessoas eram aquilo que a fraseologia coletiva convencionou chamar “coxinhas” e os "pobres de direita". Foi estranho. O post terminava com uma ironia acerca dos “idiotas que acreditam nessas merdas”. Ora, se o objetivo era justamente escrachar o pessoal das camisas da CBF, então deve ter rolado uma má interpretação. Ou não.

O absurdo do post é tanto que parece impossível alguém levar a sério. Mas as pessoas padecem com déficits de compreensão. Não por acaso no ano passado ficamos a saber que, de acordo com o Indicador de Analfabetismo Funcional, apenas 8% dos brasileiros têm condições de compreender um texto e de se expressar. Interpretar o mundo, então...

É uma incapacidade séria. Essa gente só vê o que quer. E como quer. O acesso massificado às redes sociais tornou o Brasil um lugar onde a mentira e o auto-embuste são uma forma de vida. Não importam os fatos, mas aquilo em que eu quero acreditar. É uma reedição de Nelson Rodrigues: “se os fatos estão contra mim, pior para os fatos”.

Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o alvo preferencial dessa perversidade coletiva. Qualquer absurdo, por mais inimaginável, ganha força quando associado ao nome Lulinha. O boato mais recente vai ao limite do escárnio: ele teria uma Ferrari pintada a ouro. E há quem acredite. Por quê? Porque sim. E basta.

É como se a verdade fosse uma questão de gosto, uma escolha à la carte. Qualquer conexão com os fatos e com a realidade pode ser dispensada. A minha versão é o meu casulo e ninguém me tira de lá. Lulinha tem a Ferrari. É a minha verdade e é com ela que eu quero viver. A mentira vira uma patologia. A sociedade fica cada vez mais doente.

É daí que vem o perigo. As pessoas fundam a própria identidade em miragens, ódios e amputação dos fatos. E é com essa visão distópica que vão interagir nos meios sociais. Não pode dar certo. Mentira e ódio são primos de primeiro grau. E o rebento dessa relação é o ambiente belicoso em que se tornaram relações, sejam reais ou virtuais.

Enfim, sobre Lulinha eu sei que é mentira. Mas vou acreditar e essa vai ser a minha verdade. E daí? E termino por onde a coisa começou. É óbvio que rejeitei a “amizade” da maioria. Amigos, prefiro ter poucos mas bons...

É a dança da chuva.