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terça-feira, 25 de julho de 2017

Lulinha: é mentira, mas eu quero acreditar. E daí?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A lancha de Lulinha. O jato de Lulinha. A mansão de Lulinha. A fazenda de Lulinha. A empresa de Lulinha (Friboi, claro). E a Ferrari pintada a ouro de Lulinha. Ontem juntei todas essas tontices num post (abaixo) para o Facebook. A coisa teve milhares de partilhas e hoje, ao acordar, tinha recebido quase uma centena de pedidos de amizade. Mas...

Muitas dessas pessoas eram aquilo que a fraseologia coletiva convencionou chamar “coxinhas” e os "pobres de direita". Foi estranho. O post terminava com uma ironia acerca dos “idiotas que acreditam nessas merdas”. Ora, se o objetivo era justamente escrachar o pessoal das camisas da CBF, então deve ter rolado uma má interpretação. Ou não.

O absurdo do post é tanto que parece impossível alguém levar a sério. Mas as pessoas padecem com déficits de compreensão. Não por acaso no ano passado ficamos a saber que, de acordo com o Indicador de Analfabetismo Funcional, apenas 8% dos brasileiros têm condições de compreender um texto e de se expressar. Interpretar o mundo, então...

É uma incapacidade séria. Essa gente só vê o que quer. E como quer. O acesso massificado às redes sociais tornou o Brasil um lugar onde a mentira e o auto-embuste são uma forma de vida. Não importam os fatos, mas aquilo em que eu quero acreditar. É uma reedição de Nelson Rodrigues: “se os fatos estão contra mim, pior para os fatos”.

Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o alvo preferencial dessa perversidade coletiva. Qualquer absurdo, por mais inimaginável, ganha força quando associado ao nome Lulinha. O boato mais recente vai ao limite do escárnio: ele teria uma Ferrari pintada a ouro. E há quem acredite. Por quê? Porque sim. E basta.

É como se a verdade fosse uma questão de gosto, uma escolha à la carte. Qualquer conexão com os fatos e com a realidade pode ser dispensada. A minha versão é o meu casulo e ninguém me tira de lá. Lulinha tem a Ferrari. É a minha verdade e é com ela que eu quero viver. A mentira vira uma patologia. A sociedade fica cada vez mais doente.

É daí que vem o perigo. As pessoas fundam a própria identidade em miragens, ódios e amputação dos fatos. E é com essa visão distópica que vão interagir nos meios sociais. Não pode dar certo. Mentira e ódio são primos de primeiro grau. E o rebento dessa relação é o ambiente belicoso em que se tornaram relações, sejam reais ou virtuais.

Enfim, sobre Lulinha eu sei que é mentira. Mas vou acreditar e essa vai ser a minha verdade. E daí? E termino por onde a coisa começou. É óbvio que rejeitei a “amizade” da maioria. Amigos, prefiro ter poucos mas bons...

É a dança da chuva.