quarta-feira, 18 de março de 2015

O que 2015 tem a ver com 1964?

POR FELIPE SILVEIRA

O 15 de março nos mostra como precisamos falar, discutir e refletir muito mais sobre a ditadura civil-militar de 1964 a 1985, especialmente sobre o golpe de 1º de abril, que depôs o presidente eleito João Goulart, o Jango. A partir dessa reflexão, podemos ter outro olhar sobre os movimentos atuais, entre outras pautas (algumas justas, como o “fim da corrupção”), o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o absurdo pedido de intervenção militar, inclusive em inglês, para os americanos entenderem bem.

O mundo é outro 51 anos depois, mas há muitos pontos em comum entre o movimento atual e o de 64. Jango não era comunista, mas era “acusado” por parte dos manifestantes da época. O governo Dilma também não é. Tanto que é imensamente criticado por boa parte da esquerda hoje.

Havia interesses norte-americanos sobre o Brasil, inclusive com campanhas difamatórias promovidas por institutos que tinham muito dinheiro para fazer o trabalho sujo. O embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, foi um dos principais articuladores do golpe. Da mesma forma, no Brasil de hoje, há uma profusão de institutos e outras organizações com grana pra fazer o trabalho difamatório. E a própria CIA (Agência de Inteligência Americana) foi pega com a boca na botija bisbilhotando por aqui.

Mas, se à época o interesse se dava no contexto da Guerra Fria, tentando barrar o avanço do comunismo no mundo, o interesse sobre o Brasil hoje se dá no contexto dos BRICS, os países emergentes que se organizam para ter independência política e econômica dos EUA e da Europa. Incomoda muito e dá muito prejuízo para as potências do norte que estes países da periferia do mundo consigam se organizar de modo a se tornarem independentes.

Não acredito em um novo golpe militar (também não descarto), pois não é mais a prática comum a ser adotada na América Latina, como em meados do século XX. Mas, inegavelmente, interessa muito ao capital internacional que o Brasil seja controlado por gente mais “amigável” aos seus interesses. Como se o governo petista já não seja amigão o suficiente. Só que eles, egoístas que são, sempre querem mais.

Algo de errado não está certo, diria o outro
Para alcançar seus objetivos, o caminho é a desestabilização política e econômica. Dessa forma se abre caminho para a privatização completa da petrobrás, da redução de serviços públicos como o SUS e a educação pública, para uma concentração ainda maior de renda, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

Isso não é uma defesa do PT como o salvador da pátria. Acredito, inclusive, que devemos superar o PT e avançar mais ainda as conquistas para o povo. Mas é preciso fazer isso democraticamente. O que faço, aqui, é uma defesa da democracia ante a uma ameaça gravíssima a ela.

É preciso criar mecanismos de combate à corrupção, é necessário cobrar o governo Dilma/PT, é urgente se organizar enquanto sociedade para mudar o Brasil. Mas mudar para melhor. Marchar ao lado de gente que pede golpe militar, que xinga a presidenta de “vaca” e “puta”, que enforca bonecos de Dilma e Lula, entre outros absurdos que vimos no domingo, não dá. Caminhar ao lado dessas pessoas é engrossar o coro ao desejo delas, é ser conivente com o desejo de uma nova ditadura, de violência e de violações dos direitos humanos. Você é melhor do que todos esses vermes que pedem um novo golpe.


Comece a mudar o Brasil pela sua cidade

Nesta quarta-feira, 18 de março, ocorrem dois debates muito interessantes sobre questões políticas da atualidade.

Às 19h15, no mini-auditório da Sociesc da Marquês de Olinda, ocorre o debate “A criminalização das mulheres nos movimentos sociais”, promovido pela organização da campanha “Protesto não é crime”, que atua contra a criminalização de ativistas políticos de Joinville por meio de processos judiciais e campanhas difamatórias. A Emanuelle Carvalho escreveu sobre o assunto aqui.

(Clique nas imagens para ampliar)
Às 19 horas, no anfiteatro do Bom Jesus/Ielusc, o debate é sobre o tema abordado no texto, mas bem mais amplo: “Protestos do dia 15 de março de 2015: conjuntura, história e desdobramentos”.

Exerça sua cidadania dialogando com as pessoas que lutam por mudanças todos os dias e sofrem na pele as consequências. Busque o diálogo, em vez de sair correndo para bater panela toda vez que ouve a voz da presidenta na TV. Faça sua crítica ao PT, vá às ruas, se organize. Mas não esqueça da corrupção dos outros. Não esqueça do descaso do governo municipal e estadual com a sua cidade. Não esqueça de cobrar do vereadores e dos secretários. Exerça a sua cidadania na democracia.

 

9 comentários:

  1. Não creio que exista intervenção norte-americana nos episódios dos últimos dias, como você mesmo disse, os tempos são outros. O governo dos democratas americanos enxerga a partir de Washington para dentro, não para fora. Obama (e a CIA) não tem esse interesse todo que muitos esquerdistas imaginam que ele tenha. Mais uma coisa é certa: americanos, republicanos e democratas, querem entender com o quê estão lidando no âmbito da política mundial, por isso as investigações de Dilma pela CIA. Quanto a Petrobras, provavelmente a CIA já sabia dos desvios na empresa muito antes da própria justiça brasileira.

    Convenhamos, um governo do porte do Brasil que se cala ante do que ocorre na Venezuela e mantém relações diplomáticas muy amigáveis com o Irã, Rússia e vária ditaduras africanas, países cuja democracia está em decadência ou inexistente, é de manter suas reservas. Levando em consideração o corte de verbas na instituição máxima da diplomacia brasileira, a pergunta que os gringos querem fazer (e provavelmente já sabem a resposta) é: com o proposital enfraquecimento do Itamaraty, quem faz as pontes nas conversas com essas ditaduras?

    Óbvio que os EUA preferiam outro governante brasileiro na direção do país, ainda mais levando em consideração a biografia da dona Dilma Rousseff, que todos nós sabemos que não “lutou” para libertar o país da ditadura militar coisa nenhuma, mais para impor outra, a do proletário. Mas os americanos conhecem bem a constituição brasileira e sabem que o ideal é fazer com que os brasileiros não votem mais no PT, mas por meios lícitos, por pressão, através da economia, retendo seus investimentos no país pelos próximos quatro anos. Simples assim.

    Quanto aos BRICS, não superestime esta sigla forjada por um economista da Goldman Sachs. Os países membros têm quase nada em comum, interesses bem divergentes, e os U$ 50 bi (talvez U$ 100 bi nos próximos anos) de crédito entre os membros são quase nada comparando com o crédito do FMI, que possui normas regulatórias, coisa que os BRICS ainda nem sonham ter.

    Por fim a velha tática esquerdista de culpar o que é de fora pelos erros no governo parece não colar mais na população brasileira. Ainda bem, só assim podemos resolver os nossos próprios problemas de forma mais prática e racional.

    Eduardo, Jlle

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eduardo, tu não acha estranho que os EUA também mantenham relações diplomáticas muito cordiais com ditaduras, como a da Arábia Saudita, e condene governos democraticamente eleitos, como a Venezuela?

      Excluir
    2. Muito forjado o BRICS, aham. Abriram até um banco forjado juntos.

      Excluir
    3. governo democrático da venezuela...

      seria bom que vc tivesse também esse olhar crítico para as manifestações da "esquerda". Vai encontrar gente defendendo ditadura do proletariado, por exemplo.

      dirceu guerreiro do povo brasileiro

      Excluir
    4. Os EUA mantém relações com a Arábia Saudita por que, embora seja uma monarquia absolutista, é um grande exportador de petróleo e um aliado para o controle de uma região historicamente conflitante. A questão não é o relacionamento com países historicamente mais ou menos democráticos, mas o status quo pelos quais esses países atravessam. A China sustenta uma política fechada, um comunismo, mas mantém-se estável. A Venezuela também é um grande exportador de petróleo, inclusive para os EUA, tem uma constituição, mas passa por uma situação dificílima com o governo controlando a mídia e perseguindo opositores com aval dos militares. É uma situação complicada para o povo daquele país, falta quase tudo nos supermercados. Neste ano haverá eleição para presidente, mas não há garantias da idoneidade das “urnas eletrônicas”, porque os diplomatas de outros países (inclusive do Brasil) que assistirão ao pleito eleitoral foram convidados apenas para o dia do evento.

      Resumindo, o objetivo do governo americano é minar as instabilidades políticas e econômicas, não o contrário. Como o governo daquele país faz isso: com intervenção militar ou com pressão econômica, como está fazendo os EUA ao diminuir a importação de petróleo venezuelano. O objetivo é fazer com que a população não vote em ditadores como Maduro.

      O banco do BRICS foi criado sem um p... tostão. China e Índia ainda estão reticentes quanto a participação e capacidade de contribuição de Brasil e Rússia. A mídia fez um alarde à toa.

      Eduardo, Jlle

      Excluir
    5. Felipe, assim como o Brasil faz o mesmo apoiando ditaduras. Isto sem dúvidas está muito acima da nosso real entendimento, há muitos interesses ocultos e não revelados de ambos os lados. A pergunta que temos que nos fazer é se os fins justificam os meios? Em minha opinião os meios importam sim, mas acho que sou minoria.

      Sds
      Anderson Titz

      Excluir
  2. Escutem e aprendam. Este foi um estadista. Este foi um presidente.

    http://jovempan.uol.com.br/noticias/brasil/politica/sem-credibilidade-e-popularidade-dilma-esta-perdendo-condicoes-politicas-de-governar-diz-fhc.html

    Antônio

    ResponderExcluir
  3. Deus deve tar se perguntando onde foi que ele errou.
    Se Deus criou o homem a sua imagem e semelhança...

    ResponderExcluir
  4. O PT, seus asseclas e empreiteiras causam desvios e perdas que somam R$ 88 bi na principal estatal brasileira e a desestabilização é causada pelo governo norte-americano? Seriam os norte-americanos nossos principais inimigos? Sério?

    E você ainda assina com nome e sobrenome?

    Antônio

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem