POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Foto: Agência RBS |
Digo isto porque a cidade de Joinville, na virada dos séculos 19 e 20, tinha uma economia extrativista de madeira e beneficiadora de erva-mate. A matéria-prima de muitos comerciantes poderia vir do planalto catarinense, sem contar a facilidade do escoamento de cargas para o porto de São Francisco do Sul. Para isto, o trem seria a grande solução. Entretanto, pelo traçado original, a ferrovia prevista para a região passaria 25kms ao sul de Joinville, ligando diretamente Jaraguá do Sul a São Francisco do Sul.
Defendendo os interesses que esta ligação regional poderia trazer para os empresários da cidade, em setembro de 1902, a Câmara Municipal intercedeu junto ao então Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Sr. Lauro Muller (catarinense, ex-governador da Província de Santa Catarina, e com ligações partidárias com a elite política joinvilense), solicitando a modificação do traçado da linha férrea. Veja mais sobre isso neste link.
Ou seja, o trilho de trem não era pra estar onde está. Só está devido a vontade dos empresários desta cidade.
A cidade se espraiou, a sua economia cresceu, e grande parte da ocupação urbana de Joinville aconteceu, até meados da década de 70, em torno da Estação Ferroviária. Os pobres ao sul, "pra lá do trilho", e os ricos ao norte e ao noroeste. Com o "boom" industrial, as ocupações adensaram-se para todas estas regiões, e incluíram novos vetores de ocupação, principalmente para operários: o leste e o oeste. O norte continuou sendo uma região de ricos, e o restante de classe média-baixa ou pobre.
Como Joinville teve uma ocupação descontrolada pelo poder público municipal, sem o cumprimento de planos diretores, estudos ou qualquer preocupação com o futuro, os mais pobres foram ocupando as regiões em que o trilho de trem passava (oeste e sul). E nos últimos anos, as reclamações com congestionamentos e demais transtornos na região são grandes por parte de moradores destas regiões. Somado a isto, a Estação Ferroviária não tem mais importância como antigamente (devido a uma política rodoviarista que aniquilou as ferrovias nacionais) e a solução encontrada pelo governo federal seria o contorno ferroviário para que, incrivelmente, o trilho de trem passasse mais ou menos a 25kms ao sul da cidade, conforme o projeto original de 1901!
A então senadora Ideli Salvatti foi a pioneira nesta questão em 2008 e levantou a bandeira junto ao governo Lula, o qual liberou recursos em 2009, totalizando R$ 68 mi em investimentos. A empresa que executaria os serviços foi licitada e os trabalhos seriam interrompidos em 2011 devido a um problema com o solo, que cedeu. Devido a este atraso, as licenças ambientais ficaram vencidas, e todo o processo de licenciamento ambiental deveria ser refeito. Após o esquecimento da imprensa e classe política locais (como relatei no Chuva Ácida em 2012), o tema voltou a ter andamento somente no ano passado. Agora, o novo prazo para início das obras é março deste ano, e conclusão para 2017. Nove anos de espera, isto se não houver novo atraso.
Quantas mortes serão necessárias para que esta questão seja tratada com urgência em Joinville? É incrível como o poder público, ao longo de todos estes anos, foi omisso: viu os pobres se acumularem "num canto" da cidade, e os deixou com problemas urbanos gravíssimos, em risco de morte permanente. Caso Samuel e tantos outros estivessem andando em uma região rica de Joinville, o trilho do trem nem estaria ali pois, nesta cidade, o descaso não combina com a riqueza.
Ele não estava andando, veio o trem e atropelou. Ele estava bêbado, dormindo, em cima dos trilhos. Embora o assunto seja relevante, não tem nada a ver com a responsabilidade da própria vítima, que foi descuidada e irresponsável.
ResponderExcluirTanto que juridicamente não há como a ALL ser condenada. Porém, se o governo FEDERAL DO PT não toma providências que deve,, o EMPRESARIADO LOCAL não tem culpa.
ExcluirFala-se do trem em Joinville como se a locomotiva fosse um bicho-papão: “Cuidado, menino, não fica muito tempo na rua senão o trem vai te pegar”, ou, “se não se comportar, olha trem do saco!”
ResponderExcluirPoupe-nos. Óbvio que a passagem em nível é um empecilho (em qualquer cidade minimamente decente as vias cruzam a linha férrea por viadutos ou túneis), mas a culpa pelos acidentes que envolvem morte ou membros decepados é do motorista, motociclista, ciclista e pedestre que não olham para os lados quando vão cruzar a linha férrea. Além disso, se a ferrovia que atravessa alguns bairros de Joinville é considerada perigosa, o que dizer da mesma que cruza o centro de Jaraguá do Sul?
Acho o desvio da ferrovia um desperdício de dinheiro. Vejam como está Blumenau depois que desativaram a ferrovia que atravessava o município? Hoje aquela cidade almeja esse tipo de modal para exportar seus produtos para o porto de Itajaí.
Eduardo
Além do descaso político e administrativo, a linha ferroviária também tem um enorme descaso de sua concessionária (ALL) que permite a passagem de trens dentro da maior cidade do Estado em pleno horário de pique, e sem qualquer manutenção dos desníveis acarretando enormes prejuízos para quem passa diariamente com seus veículos.
ResponderExcluirAi sim concordo com a objeção apontada. A manutenção na passagem precisa ser melhorada.
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ExcluirNão chego a afirmar que seja dinheiro publico desperdiçado, muito pelo contrário. Está mais do que na hora de retirar esse perigo à vida humana e a mobilidade do centro urbano de Joinville. A obra é extremamente necessária e não podemos sequer contar com uma sinalização decente e segura nos cruzamentos. A ALL diz que o problem é da Prefeitura e a Prefeitura diz que o problema é da ALL. E assim vem trocando figurinhas ha anos. Passagem de nivel sinalizada? Cancelas? isso custa muita grana né? Melhor deixar o pessoal ser atropelado porque aí o seguro paga.
ResponderExcluirColocam a velha e centenária placa "pare, olhe, escute e passe" e acham que está tudo resolvido. Funcionava bem, no tempo das bicicletas, carroças e dos Ford bigode. Hoje, os carros andam de janelas fechadas, ar condicionado e isolamento acústico. E a visibilidade dos trilhos é geralmente impedida por construções ou mato.
Portanto, retirem esses trilhos antes que mais gente morra!!
Mas, meu caro articulista. Afirmar que a culpa é dos empresários do início do século passado, que pediram para os trilhos passarem por Joinville, num tempo em que ninguem imaginaria o tamanho que Joinville tomaria, é exagêro. Injusto. Aquela estação teve sim papel importantíssimo no desenvolvimento da nossa cidade. Querer culpar aqueles empresários pioneiros é puro radicalismo cego e sem sentido.
Eu amo o Nelson, ele tem um jeito tão polido de tratar esse povo do Chuva Ácida que enternece meu coração...
ExcluirEu não culpei os empresários. Apenas relatei o fato. Está bem claro isto no texto. Abs!
ExcluirPense num trem de passageiros de Joinville a São Chico! Chutando grossamente, diminuiria uns 50% do número de carros engarrafados na BR 280!
ResponderExcluirSe conduzir trem não beba. Se beber, não deite sobre trilhos...
ResponderExcluirO governo do PT demorará mais tempo para concluir alguns quilômetros do contorno do que a construção da estrada inteira a pá e picareta a mais de cem anos atrás.
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