sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pedalar areja as ideias

POR FELIPE SILVEIRA

Não sei como é não ser um ciclista (não daqueles que usa capacete e participa de provas ou grandes pedaladas). Não sei porque uso a minha zica desde os 12 ou 13 anos, quando ela passou da condição de brinquedo para meio de transporte. Fui e voltei de bike para todos os cursos que fiz e também para quase todos os trabalhos que tive. De uns anos pra cá usei o carro com mais frequência, tanto por necessidade quanto por preguiça.

Essa introdução, um tanto pedante, confesso, tem um objetivo. Como não sei como é a vida sem bicicleta também não me sinto a vontade para dizer: compre uma bicicleta e comece a pedalar. É como tentar convencer um fumante a parar dizendo que é fácil. Não dá pra saber se você não fumou. Pra alguns é relativamente fácil, para outros é impossível.

O que eu posso dizer, no entanto, é que vale a pena tentar. Digo isso porque tive uma experiência parecida com um recomeço nessa semana e acredito que valha a pena compartilhar. Eu já estava há alguns meses sem a magrela, mas comprei uma usada há menos de uma semana e não demorou muito para perceber os benefícios que eu já conhecia, mas que havia esquecido por causa de outro tipo de comodidade que o carro traz.

Pra começar, estou há uma semana sem ligar o carro, o que me traz duas imensas vantagens imediatas. Não gastei gasolina e não peguei nenhum engarrafamento. Sabe aquela fila enorme que você enfrenta na avenida Beira-rio entre seis e sete horas da noite? Eu sou o cara passando de bicicleta pelo lado da pista. E, sem maldade, vocês não sabem como é boa a sensação. Esse é um convite para descobrir.

Outras duas vantagens têm a ver com o corpo e com a cabeça. Em duas pedaladas você já sente a respiração diferente e os músculos das pernas trabalhando. Mas não confunda com câimbras. Além disso, pode dizer adeus para aquela moleza que você sente após um dia todo no escritório e que te obriga a ver a novela, o seriado, o jornal e o programa do Jô antes de desmaiar na cama e acordar atrasado para outro dia de trabalho.

Mas, pra mim, a mudança mais importante é na cabeça. Sabe aquele negócio de ver a vida por outro ângulo? Você faz isso literalmente. O carro é uma prisão e uma armadura. A gente se sente seguro ali para enfrentar o mundo cão, mas, ao mesmo tempo, assustado por ele. Mas eu garanto que o lado de fora é bem mais legal. O ritmo é mais lento e o vento na cara areja as ideias. E, se tem uma coisa que o mundo precisa, é de ideias arejadas.


O King Kong do dinossauro

O mico da semana ficou com o colunista, radialista e apresentador de TV Luiz Veríssimo. E eu não digo jornalista porque jornalismo é outra coisa. O veterano da mídia da província afirmou, no twitter, que não ouviria mais as músicas do “danielao”, em referência a cantora Daniela Mercury, que, recentemente, assumiu a homossexualidade. Patético, pra dizer pouco.

Dias depois, após ouvir reclamações sobre o assunto, inclusive da nossa colega Fernanda Pompermaier, o comunicador afirmou que, na verdade, tentou enviar uma DM (mensagem direta) para alguém, mas a mensagem foi publicada para todos. Enfim, foi mais patético do que já havia sido. Em nenhum momento, porém, Verissimo assumiu o preconceito. Repetiu mais de uma vez que a maioria pensava como ele, como se isso servisse de justificativa, mas admitiu – olhem que bom exemplo – que, vez ou outra, pode ouvir o Canto da Cidade.


Sugestão: achei o texto Pequenos do mundo, boicotem, de Thiago Domecini, publicado no site Nota de Rodapé, inspirador. E tem a ver com o que escrevi aqui hoje. Vamos boicotar esse sistema safado de transporte, a indústria do carro, o Verissimo, os jornais sem vergonha, os bancos...

14 comentários:

  1. Nada contra as zicas, também cresci em cima delas, possuo uma quase nova e confesso que só pedalo ocasionalmente aqui no bairro, sem arriscar maiores percursos. Falo isto por que atualmente preservo mais a minha vida do que convicções e pragmatismos. Assim como as motos, vejo quase diariamente ciclistas estirados no asfalto, e não quero ser mais um na estatística em função da falta de ciclovias e falta de respeito de motoristas.
    Talvez não seja politica e socialmente correta esta minha opção, mas enquanto o poder público não fizer a sua parte, eu me abstenho de fazer a minha.

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    1. Com todo o respeito Manoel, ainda bem que nem todos partilham da sua ideia, a de se abster de ser o primeiro a sua parte. São as pessoas que ousam a fazer, que fazem a diferença no mundo. E antes que parta para o contra ataque, isso vale para tudo na vida.

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    2. com todo o respeito anonimo, eu prefiro continuar vivo do que passar riscos desnecessários. Se me derem condições, pedalo todos os dias. E isto não significa ficar de braços cruzados, apoio a luta da tarifa grátis, dos ciclistas e todos os modais de mobilidade. Justamente pela vontade de um dia poder andar de zica sem neuras nesta cidade.

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  2. Há um ano deixei minha magrela de lado, após pedalar por mais de 30 anos. Até em dias de muita chuva, não gosto de andar de ônibus coletivo (sou daqueles “pobre enjoado”). Quando eu passava pelos engarrafamentos da Ottokar, me sentia a pessoa mais feliz do mundo e sorria. Imaginava que os motoristas estavam a morrer de inveja de mim e da magrela, porque eu os ultrapassava a 25 ou 30 km por hora (é o que dizia o velocímetro instalado na bike). E deviam estar mesmo, porque é essa a sensação que tenho hoje quando alguém passa por mim. Como na vida precisamos vencer desafios e praticamente eu já venci o que veio depois de quase 30 anos, porque meu carro já ultrapassou a marca dos 10 mil quilômetros rodados, afinal, eu também quis saber como era dirigir uma fubica, agora posso voltar a desfrutar da minha pretinha novamente. Porque pedalar é tudo de bom, mesmo numa cidade que praticamente não oferece nenhum benefício aos ciclistas. E o pior, é que nem para os carros, porque o trânsito não flui. Uma coisa não foi legal neste período de aprendizagem: engordei 5 quilos e agora é correr atrás do prejuízo.

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  3. E pedalar sim, areja as ideias. Faz uma boa drenagem no "Tico e "Teco".

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  4. voltei a usar a zica como meio de transporte faz mais ou menos 2 meses, e é bem libertador. Faz pensarmos se precisamos de carro mesmo. Só uma dica, pelo menos uma vez na semana ligue o carro, ou vai ficar sem bateria como eu fiquei heheh

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  5. Adoro pedalar, mas está muito perigoso fazer isso em Joinville.
    Se abro um sorriso ao ultrapassar carros engarrafados na rua, já fecho a expressão e fico preocupado, além da falta de estrutura para uso desse meio de transporte, com o desrespeito e desatenção que muitos motoristas motorizados tem para com os amantes das "duas rodas".
    E não adianta estar nas ciclofaixas. Muitas vezes que pedalo, sou "quase" atropelado. Usando a ciclofaixa da Dona Francisca, por exemplo, vejo motoristas que ignoram completamente nossa faixa, não olham para ambos os lados antes de atravessá-la, estacionam e até trafegam sobre a mesma, empurrando os ciclistas para as calçadas ou mesmo para o meio da rua.
    A bicicleta, que é "símbolo" joinvillense, além de ter pouco espaço, é muito desrespeitada e ignorada.

    Vamos rever isso aí povo!

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  6. Uma pena que pedalar faz suar... eu odeio suar...
    E nos deixa a mercê de dias de chuva, que não são raros por aqui.

    Eu tenho a felicidade de morar perto do centro e do trabalho, o que faz com que use minha bicicleta com frequência. Mas às vezes penso se o trajeto fosse mais longo, se eu arriscaria. Por isso ainda ando de ônibus, dependendo da situação e da distância.

    Pois os veículos têm as ruas, os pedestres as calçadas (ou alguma coisa parecida com isso), e as bicicletas têm o quê? Algumas poucas ciclovias e ciclofaixas, já que na maioria do trajeto somos obrigados a disputar espaço com os motoristas, ou tomar o espaço dos pedestres na calçada, porque por mais que seja proibido, não arrisco minha vida em certos momentos. Ah, e como se não bastasse não termos nosso próprio espaço, nas poucas vezes que temos as pessoas pensam que é um tipo de estacionamento exclusivo, ou uma pista de corrida e de caminhada...

    Por isso todo o cuidado é pouco. Inclusive com outras bicicletas, pois também há a parcela de ciclistas que faz cagada.

    Não acho que deva abolir os carros, em determinados momentos são indispensáveis, eu ainda penso ter um. Talvez se o taxi fosse mais barato...

    Mas o que vejo é um excesso de veículos, um excesso de seu uso, uma preguiça generalizada, um "vamos fazer um mundo melhor, desde que eu não tenha que abrir mão do meu 'status' e da minha comodidade, desde que seja o outro que faça, acho lindo".

    Excesso de tudo, menos de consciência. Mas de todas as partes. Seria injusto condenar só quem usa carro.

    Sofia

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    1. Sofia, o espaço destinado às bikes são as ruas. Temos prioridade em relação ao carro, apesar de muita gente não saber. Por isso temos que ser cada vez mais ciclistas. É assim que vamos começar a mudar essa cultura.

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  7. Cidade das bicicletas é Copenhagen, nunca vi tantas. Joinville está longe de oferecer condições com o mínimo de dignidade para um ciclista. Eu tbem não usaria. Onde eu morava, perto da Marquês de Olinda era quase impossível.

    Sobre a vergonha alheia do colega joinvilense, fiquei decepcionada com o término precoce da discussão. Queria um bate boca intenso e ele recuou... fazer o que... menos diversão...

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  8. Jornalista que não sabe educar o próprio filho deveria sumir da midia.

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  9. Olá Felipe. Como ciclista gostei do seu texto. Tenho a felicidade de morar em um trecho bem servido de ciclovias, e trabalhar proximo a minha casa. As bicicletas sem duvida tem ampla vantagem, mesmo com alguns inconvenientes como "chegar suado no trabalho". Infelizmente o "Status" de "ter um carro" ainda fala mais alto, mas sigo em frente, pedalando. Pra andar de bike em Jlle tem que ter coragem e tem que ter moral. Tem que saber se colocar no transito. Abraço

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    1. Taí, gostei do que o Luiz escreveu. Faço dele, a minha frase: "para andar de zica em Joinvas, tem que ter coragem e tem que ter moral"
      Isso não é para qualquer um!
      Abraço

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    2. Luiz, nós sabemos como é viciante e bom e também como é difícil pedalar em Joinville. Por isso, inclusive, fiz a ressalva de que pra mim é mais fácil, pois não sei como é ser uma pessoa inexperiente no trânsito. Já tive pessoas próximas que começaram a pedalar e me deixaram muito preocupado. Mas acredito que temos que superar esse medo e essa preocupação. Ocupar as ruas. Exigir respeito, do poder público e da sociedade. Se a lei for cumprida, não há perigo. Sabemos que há um longo caminho pra isso acontecer, mas a lei tem que ser cumprida, e para isso precisamos ser mais.

      Outra coisa que podemos fazer, também, é ajudar ciclistas novos a ganhar experiência, pedalando junto e dando dicas. Há projetos assim em grandes capitais.

      Abraço!

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