POR FABIANA A. VIEIRA
“Exerci minha cidadania, votei no abaixo-assinado contra
Renan”. Essa frase não me saiu mais da cabeça. Mais de um milhão de
assinaturas, um movimento embalado pelas redes sociais que reivindica apenas e
sinceramente a ética na política.
Quando surgiu, a crítica conservadora dizia que a internet
iria gerar seres individualistas, fixados na tela do computador e não nas
relações sociais. A sociedade seria despedaçada por indivíduos atomizados. Não
foi isso o que aconteceu. Hoje cada notebook é um emissor de opinião, cada tela
sintetiza milhares de manifestações e o Facebook promove a opinião pública,
inaugura relacionamentos, garante a autonomia da sociedade, desbanca os
veículos institucionais contaminados pelos interesses econômicos e faz de cada
terminal conectado um exercício de direitos e ideias.
Tudo bem. Isso é inexorável. Um verdadeiro avanço na
liberdade de opinião. É até compreensível que devemos tolerar manifestações
irrelevantes ou sem sentido em determinado momento, mas o relevante é que o
conjunto do fenômeno é positivo. As pessoas escrevem mais, têm mais ideias,
mais contatos, melhor posicionamento e conhecimento sobre tudo, ou quase.
Agora qual a eficácia de uma mobilização virtual? Até que
ponto Renan vai perder o sono e o mundo da política vai verdadeiramente
repensar suas práticas fisiológicas e corruptas porque uma corrente virtual
chega à casa dos milhões? A cidadania se resume a uma assinatura em um
manifesto ou deveria incidir de forma mais contundente e objetiva na realidade
mesma da denúncia?
Sugiro essa reflexão porque não vejo o mesmo engajamento
social e midiático pela reforma política. Enquanto não forem alterados os
pressupostos que conformam a representação política não teremos sucesso. E
aponto o financiamento privado das campanhas e a escolha de líderes
carismáticos e não projetos políticos como uma causa determinante para a
contaminação ética dos eleitos.
Enquanto as campanhas continuarem galgando patamares
absurdamente milionários, gerando uma conivência explícita entre quem financia
e quem se elege, entre quem se elege e o que legisla e fiscaliza, entre o
patamar astronômico de uma campanha e os salários miseráveis do serviço
público, entre os “fornecedores amigos” e
as licitações viciadas, entre o poder político e o tráfico de influência, não
teremos uma vida pública sadia.
Da mesma forma não podemos aceitar que ainda vingue a
cultura atrasada do voto personalista no famoso, no carismático, no líder
tradicional, no volume publicitário de campanha ou no aliciamento financeiro de
lideranças em detrimento de compromissos duradouros e fiéis às propostas
programáticas.
Depois de renunciar, o povo trouxe Renan de volta. Agora é
presidente do Senado da República, do Congresso Nacional e sucessor na linha do
poder nacional. Está na hora deste povo acordar. Exigir um fora Renan e também,
mas ao mesmo tempo, uma reforma política ampla, transparente, animadora de uma
dimensão pública verdadeiramente civilizatória.
As redes sociais podem e devem ajudar a fomentar a
mobilização crítica. E podem mais do que isso. Podem estimular ações práticas.
Agora precisamos incluir na agenda temas estruturantes que produzam mudanças
para valer e não apenas para sensacionalizar o inconformismo, criar espetáculos
ou alimentar a rebeldia. É preciso botar
o dedo na ferida e produzir resultados inovadores nas ações políticas e
sociais.
É urgente valorizar o voto e melhorar a presença da sociedade nos
executivos e nos parlamentos.
Uma sociedade não será saudável enquanto sua classe política
estiver doente, em estado de dependência, totalmente viciada no poder
econômico.
Parabéns mais uma vez pelo seu texto Fabiana.
ResponderExcluirAcredito que ainda não aprendemos a trabalhar com esta ferramenta. As redes sociais podem nos ajudar muito na mudança de pensamento e cultura de nosso país, mas só se for utilizada corretamente. Tivemos exemplos recentes em que as redes sociais ajudaram a trazer a democracia a países do oriente médio, mesmo que tenha sido por pouco tempo, em alguns casos.
Renan está onde está, porque os eleitores o colocaram lá! Ele ganhou o direito de representar a população, a que preço? Bom ai não sei! Infelizmente o poder econômico é muito forte.
Acredito que enquanto houver a briga pelo poder entre os partidos, não teremos uma sociedade sadia e nem uma politica sadia. Não vejo projetos para uma cidade e nem para um estado, infelizmente só vejo projetos pessoais e econômicos.
A briga pelo poder entre os partidos, ou seja, situação e oposição, com frequente alternância é primordial para Democracia.
ExcluirObrigada, Fabrício. Essa foi a ideia do texto.
ExcluirConcordo com Dirk. Talvez tenha me expressado errado. O que quero dizer sobre a briga pelo poder é que quando um está no poder o outro faz de tudo para derrubá-lo. E não deveria ser assim. Pois muitas vezes projetos importantes para a população são deixados de lado por mero oposicionismo, não podemos mais ter uma politica assim. A necessidade da população tem que estar acima disso tudo. Eles estão lá para trabalhar por nós e não para brigar pelo poder.
ExcluirConcordo. A alternância sempre será mais saudável. Para todos.
ExcluirTexto muito bom. Uma reforma política verdadeira, baseada em projeto político, para que não tenhamos, da noite para o dia, um João Qualquer presidente da Câmara. E que não permita também que funcionários pagos pelo congresso venham trabalhar em campanhas politicas de seus estados.
ResponderExcluirHum... Senti cheiro de ironia no ar!
ExcluirFabiana, eu prefiro defender o financiamento privado de campanha e exigir o fim do CAIXA 2 seja ele de origem privada ou pública que é o mais comum.
ResponderExcluirexigir o fim do CAIXA 2 é o mesmo que exigir de bandido para não roubar
ExcluirSim...perfeito.
ExcluirNão é oq A LEI exige?
ExcluirIsto mesmo!!! As redes sociais já ajudaram bastante no fora Carlito, o pior prefeito de nossa história. Agora é a hora do fora Renan.
ResponderExcluirNão considero que as redes foram responsáveis pela não-reeleição do Carlito. A não-reeleição do Carlito se deu por vários equívocos durante sua gestão, principalmente no quesito comunicação.
ExcluirFabiana, ontem o seu texto foi comentado no encontro e confesso que ainda não havia lido. Li agora e achei muito bom, conveniente e você conseguiu tratar de um assunto batido sob uma ótica diferente e bem mais profunda. Realmente tocou o dedo na ferida.
ResponderExcluirPrecisamos de educação para o povo, desde o início, assim se tornarão cidadão mais capazes.
Parabéns!
Obrigada, Gabriela. Foi uma pena ter perdido o encontro. Abraços
ExcluirÓtimo texto Fabiana.
ResponderExcluirO brasileiro ainda tem que aprender muito...
Sempre com um modo diferente e real de ver as coisas...
O Brasil talvez seja um dos únicos países em que Tribunais de Contas, Policia Federal e Ministério Público tornaram-se mais imprescindíveis para a Democracia que a própria estrutura do poder, que passa pelo Senado, Congresso, Assembleias e Câmaras. A tal da Reforma Política e Eleitoral tem sido empurrada com a barriga para a conveniência de quase todos os partidos.
ResponderExcluirFica difícil esperar que só o eleitor vire o jogo, ele é a peça fundamental e as redes proporcionam a sua mobilização, mas o sistema todo tem que mudar.
Este senado ficha-suja não representa o Povo Brasileiro. No momento em que a vitoriosa petição que conseguiu mais de um milhão de assinaturas pelo impeachment do presidente ficha-suja eleito pelo senado ficha-suja, agora é a vez de fazer a limpeza geral dessa "casa imunda" e exigir a renúncia coletiva dos 81 senadores e convocar uma nova eleição para eleger 81 Senadores Ficha-Limpa para compor um novo Senado Ficha-Limpa.
ResponderExcluirhttp://www.avaaz.org/po/petition/Renuncia_coletiva_de_todos_senadores_do_senado_fichasuja/?cCIDJcb
E aí? O que me dizem? O povo coloca Renan, os senadores votam pela presidência e os deputados não aceitam a moção.
ResponderExcluirCâmara da Capital não aprova moção contra Renan
20 de fevereiro de 2013 0
A Câmara de Florianópolis rejeitou na noite det terça-feira uma moção proposta pelo vereador Tiago Silva (PDT) para repudiar a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado. Foram 14 votos contra a proposta e apenas quatro a favor. (fonte Diário Catarinense, coluna Moacir Pereira do dia 20 de fevereiro de 2013)