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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Mais que um 'fora Renan'


POR FABIANA A. VIEIRA



“Exerci minha cidadania, votei no abaixo-assinado contra Renan”. Essa frase não me saiu mais da cabeça. Mais de um milhão de assinaturas, um movimento embalado pelas redes sociais que reivindica apenas e sinceramente a ética na política.

Quando surgiu, a crítica conservadora dizia que a internet iria gerar seres individualistas, fixados na tela do computador e não nas relações sociais. A sociedade seria despedaçada por indivíduos atomizados. Não foi isso o que aconteceu. Hoje cada notebook é um emissor de opinião, cada tela sintetiza milhares de manifestações e o Facebook promove a opinião pública, inaugura relacionamentos, garante a autonomia da sociedade, desbanca os veículos institucionais contaminados pelos interesses econômicos e faz de cada terminal conectado um exercício de direitos e ideias.

Tudo bem. Isso é inexorável. Um verdadeiro avanço na liberdade de opinião. É até compreensível que devemos tolerar manifestações irrelevantes ou sem sentido em determinado momento, mas o relevante é que o conjunto do fenômeno é positivo. As pessoas escrevem mais, têm mais ideias, mais contatos, melhor posicionamento e conhecimento sobre tudo, ou quase. 

Agora qual a eficácia de uma mobilização virtual? Até que ponto Renan vai perder o sono e o mundo da política vai verdadeiramente repensar suas práticas fisiológicas e corruptas porque uma corrente virtual chega à casa dos milhões? A cidadania se resume a uma assinatura em um manifesto ou deveria incidir de forma mais contundente e objetiva na realidade mesma da denúncia?

Sugiro essa reflexão porque não vejo o mesmo engajamento social e midiático pela reforma política. Enquanto não forem alterados os pressupostos que conformam a representação política não teremos sucesso. E aponto o financiamento privado das campanhas e a escolha de líderes carismáticos e não projetos políticos como uma causa determinante para a contaminação ética dos eleitos.

Enquanto as campanhas continuarem galgando patamares absurdamente milionários, gerando uma conivência explícita entre quem financia e quem se elege, entre quem se elege e o que legisla e fiscaliza, entre o patamar astronômico de uma campanha e os salários miseráveis do serviço público, entre os “fornecedores amigos”  e as licitações viciadas, entre o poder político e o tráfico de influência, não teremos uma vida pública sadia.

Da mesma forma não podemos aceitar que ainda vingue a cultura atrasada do voto personalista no famoso, no carismático, no líder tradicional, no volume publicitário de campanha ou no aliciamento financeiro de lideranças em detrimento de compromissos duradouros e fiéis às propostas programáticas.

Depois de renunciar, o povo trouxe Renan de volta. Agora é presidente do Senado da República, do Congresso Nacional e sucessor na linha do poder nacional. Está na hora deste povo acordar. Exigir um fora Renan e também, mas ao mesmo tempo, uma reforma política ampla, transparente, animadora de uma dimensão pública verdadeiramente civilizatória.

As redes sociais podem e devem ajudar a fomentar a mobilização crítica. E podem mais do que isso. Podem estimular ações práticas. Agora precisamos incluir na agenda temas estruturantes que produzam mudanças para valer e não apenas para sensacionalizar o inconformismo, criar espetáculos ou alimentar a rebeldia.  É preciso botar o dedo na ferida e produzir resultados inovadores nas ações políticas e sociais. 

É urgente valorizar o voto e melhorar a presença da sociedade nos executivos e nos parlamentos.
Uma sociedade não será saudável enquanto sua classe política estiver doente, em estado de dependência, totalmente viciada no poder econômico.