POR CHARLES HENRIQUE VOOS
A política desenfreada de espraiamento urbano da cidade de Joinville, implementada ao longo dos últimos cinqüenta anos, tornou a conurbação um processo inevitável aos olhos dos planejadores urbanos. Por mais que sejamos vizinhos de várias cidades, uma em especial está se utilizando do crescimento econômico joinvilense: Araquari.
Adotando uma política fundiária esdrúxula, fortes renúncias fiscais e a integração socioespacial com Joinville (principal pólo econômico do estado) e a malha portuária (São Francisco do Sul, Itajaí e Itapoá), esta cidade tornou-se, nos últimos dez anos, uma das que mais aumentou o PIB no Brasil (369% de 1999 a 2008). A população também aumentou muito (55% nos últimos vinte anos). Recentemente, vários investimentos estão planejados para a zona sul de Joinville, ou na própria cidade de Araquari. O projeto da UFSC-de-um-curso-só, juntamente com parques industriais e aeroporto internacional foram atrativos que levaram a multinacional BMW a anunciar a instalação de uma fábrica por lá.
Acompanhando tantas mudanças, o prefeito reeleito, João Woitexem (PMDB), está preocupado com o planejamento da cidade. Os prefeitos das cidades vizinhas também. E, nesta semana, acompanho pelos jornais o desastre anunciado. A cidade de Araquari contratou uma consultoria especializada para um "planejamento estratégico".
A BMW vai auxiliar a Prefeitura de Araquari a estruturar seu planejamento estratégico de longo prazo. O município terá de se ajustar a uma nova realidade socioeconômica, a partir da chegada de indústrias de porte, complementa o secretário secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável Paulo Bornhausen. O prefeito João Pedro Woitexen já contratou a Pontifícia Universidade Católica do Paraná para fazer estudo sobre o futuro da cidade. (Coluna "Livre Mercado", Jornal A Notícia de 12 de fevereiro de 2013)É visível que a prefeitura de Araquari não está interessada em planejar a cidade, mas sim o crescimento econômico dela. Este novo démarche estratégico vêm devastando as prioridades sociais das agendas governamentais Brasil afora, e Araquari está sendo um exemplo bem claro disto. Tudo em prol de uma suposta competitividade: se em Joinville demoram para abrir empresas, aqui abrimos "na hora". Se lá não tem um Aeroporto decente, aqui nós doamos terrenos para grandes aeroportos. E a lista de itens competitivos é infindável. A cidade (e o desenvolvimento urbano), portanto, vira mercadoria. Uma mercadoria de luxo. Para quem?
A cidade é feita de pessoas, mas o "planejamento estratégico" é feito para poucos. Como qualificar a infra-estrutura de Araquari para a maioria da população, que nem possuiu esgotamento sanitário na maioria das vias públicas? Por que pensar em aeroportos, multinacionais, economia a todo vapor... se o problema da cidade é outro? Acompanhamos mais um exemplo clássico de confusão do que é crescimento econômico e do que é desenvolvimento urbano.
O "planejamento estratégico" sublima qualquer intenção da sociedade na participação da tomada de decisões. Instaura, por sua vez, o poder de uma nova lógica, com a qual se pretende legitimar a apropriação direta dos instrumentos de poder público por grupos empresariais privados (e o pior: grupos multinacionais). E podem apostar: um dos itens mais importantes desta nova lógica será a região metropolitana. Se isso acontecer, a tragédia urbana estará com dias contados para se iniciar.
PS: para os interessados neste tema, vale a pena a leitura do texto "Pátria, empresa e mercadoria. Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano", do Professor Carlos Vainer (UFRJ).
Charles Henrique,
ResponderExcluirTocou num ponto importante, me fez lembrar to Planejamento que Joinville fez e que serviu para nada.
Seria legal colocar o link com o texto do Carlos Vainer
Charles,
ResponderExcluirExcelente abordagem, porém digo que o prefeito João não teria metade do sucesso que teve se não fosse a incompetência das gestões Joinvilenses.
Seu próprio texto reforça a realidade: "se em Joinville demoram para abrir empresas, aqui abrimos "na hora".
É o cúmulo mas o "empreendedorismo" do Prefeito soube aproveitar a oportunidade da nossa incompetência administrativa e levou para Araquari a galinha antes do ovo(de ouro?)!
Agora com o galinheiro povoado e rendendo boa produção ele está pensando nos puleiros, na água, na rede, na parte sanitária ... e porque não na parte estratégica já que a tática está indo tão bem!
Nos resta agora repensar a nossa simbiose com todos os municípios do norte para não ficarmos mais uma vez "apenas com o ônus".
Sorte e Sucesso pelo bônus Araquari!
Estimas de competência administrativa e empreendedorismo para a nova Joinville.
Planejar leva muito tempo, precisamos de respostas rápidas. Que venham muitas outras empresas para nossa região, pois o que importa é emprego e comida na mesa.
ResponderExcluirCarlos Dressel
Não sejamos egoístas. A onda "desenvolvimentista" é para todos. Prefiro mil vezes "tal esculhambação" com a barriga cheia e esperança no futuro, do que a tranquilidade de lugares donde fugi, lugares sem presente e sem futuro, pela simples falta de investimentos capitalistas. Mas nem tudo está perdido, mirem-se no exemplo paranaense, Curitiba e região metropolitana. É impossível segurar a "onda".
ResponderExcluirOs investimentos privados e públicos surgem em descompasso pq um é rápido ou pq outro é lento?
ResponderExcluirSinceramente eu só via 3 alternativas para Araquari:
- Ficar como estava
- Virar Dormitório
- Aproveitar a extensa, plana e pouco ocupada região margeando a BR101.
Os desafios são grandes e as necessidades dos contribuintes no futuro serão diferentes das do presente.
O suposto planejamento de Joinville ocupando residencialmente todos os espaços onde existiam e onde deveriam ser instaladas indústrias criou a "indústria do alvará", penalizando quem produzia riqueza usufruída por todos. Infelizmente empreendedores são forçados a mudar para Araquari ou encerrar atividades.
Espero que agora que encontrou uma vocação promissora Araquari dedique-se a melhorar a qualidade de vida principalmente no que depende dos serviços públicos.
Pelo que vejo aqui, há uma certa dor de cotovelo expressa no seu texto. Isso é puro egoísmo, porque até alguns anos atrás era tudo Jlle, mas agora Araquari está se desenvolvendo, não precisa mais ir até a cidade vizinha, para buscar trabalho por exemplo. O progresso serve para todos. Parem de ser mesquinhos e vejam o lado positivo das coisas.
ResponderExcluirEm nenhum momento estou sendo egoísta. Falo sobre a irresponsabilidade que se dá ao encarar um "planejamento estratégico" como um "planejamento urbano".
ExcluirTocou num ponto essencial Charles: prá quem serve este modelo de desenvolvimento de Araquari?
ResponderExcluirPara os donos de áreas e principalmente para as imobiliárias? Para as empresas de terraplanagem e empreiteiras? Para os políticos, que abreviam e simplificam os processos de instalação de industrias em detrimento do meio ambiente e da qualidade de vida?
Será que é sinônimo de desenvolvimento se ter alvarás e licenças relâmpagos e sem critérios? O que vejo quando passo na BR-280 é um completo desordenamento de ocupação e um já perceptível rastro de passivos ambientais e sociais.
Perfeito, Manoel!
ExcluirAinda bem que joinville demora pra abrir empresas. Comparar com a "agilidade" de araquari é uma demagogia gigantesca. a equipe que assumiu terá de explicar porque tanto julgavam e agora fazem o mesmo.
ResponderExcluirA sorte de Araquari que o IPPUJ é nosso e niguém tira... hahahahaha
ResponderExcluirNelsonjoi@bol.com.br