sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sobre a tragédia em Oruro e a violência em estádios



POR FELIPE SILVEIRA

Como ser humano lamentei muito a morte do torcedor boliviano de apenas 14 anos que foi atingido por um sinalizador atirado por um torcedor do Corinthians que estava na arquibancada do estádio de Oruro (Bolívia) para ver San Jose e Corinthians pela Copa Libertadores da América. Como corintiano eu lamentei mais ainda. Apesar de não ter nada a ver com o sujeito que cometeu a atrocidade, não deixo de sentir uma ponta de culpa nessa situação, já que tantas vezes me orgulhei do show que a torcida fiel dá nas arquibancadas.

Lamentei muito e procurei não opinar sobre a situação até agora. Não sei qual punição é justa, não sei qual é exemplar, não sei qual resolve o problema e não sei qual pode ajudar a confortar a família do menino que foi vítima da nossa violência. Não sei e duvido que alguém saiba, apesar do barulho feito nas redes sociais, motivados, principalmente, por clubismo, raiva e desejo de vingança.

O que sei, no entanto, é que algo precisa ser feito, antes que mais tragédias aconteçam (e não falo aqui em tragédia maior porque a morte de um menino de 14 anos já é gigantesca). E, para algo ser feito, é preciso debater e trabalhar com a conscientização.

Defender a extinção das organizadas é uma tolice. Não são proibições que inibem esse tipo de comportamento. Aliás, quanto mais empurrar para a margem, pior. Eu, particularmente, não gosto da cultura das organizadas – sim, há uma cultura e você pode pesquisar sobre isso –, mas são elas, na maior parte das vezes, que fazem o espetáculo do futebol. Muito mais sensato seria estabelecer regras de segurança em conjunto com as organizadas. Por exemplo, os fogos e sinalizadores fazem parte do show da torcida, então a proibição dos artefatos só pioram a situação, empurrando o torcedor para a marginalidade. Discutir com a torcida a forma de fazer isso de forma segura me parece bem mais inteligente. Até porque as torcidas fazem isso nos estádio há décadas e sabem como fazer.

Além de estabelecer o diálogo, também é preciso combater a cultura/cultivo da violência (e não estou dizendo que essa é a cultura das arquibancadas) com educação. Não tenho ideia de como fazer isso, mas quando grupos identificados com camisas se desafiam e se enfrentam na porrada é porque algo de errado há na sociedade.

Por último, é claro que eu defendo a punição dos culpados. A impunidade e a sensação de estar protegido no meio da multidão perpetuam a prática da violência – e não só nos estádios. A partir do momento que houver punição, coletiva e individual, o comportamento vai mudar. Se tragédias vão deixar ou não de acontecer eu não sei, porque a violência está em algum lugar em nós, mas é importante fazer algo para não alimentá-la.

7 comentários:

  1. apesar de tudo ,ainda há quem ainda diga que foi apenas uma "fatalidade" ...

    essas coisas acontecem porque não existe punição!

    brigas e mortes entre torcidas rivais existem faz tempo, mas não lembro de ter visto sequer um exemplo de alguém que foi penalizado e que servisse de memória para outros lembrarem antes de cometer uma burrice dessas ...

    Não lembro mesmo! desde o torcedor do jec morto pelos havaianos da "ilha da magia" até a morte dos mascarados do "bate-bolas" ...

    Então quem não tem um pouco de moral social chega ao absurdo de pensar: porque ter medo de matar? nada vai me acontecer mesmo!

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  2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_de_Heysel

    Marcio Rocha

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  3. Existe crime até dentro de instituições religiosas, que pregam amor, temor de Deus entre dogmas e discursos bíblicos.
    Não há que generalizar, culpando a torcida do clube de futebol, porém...
    (Lembrando que tenho conceitos formados sobre duas grandes torcidas de times brasileiros. Uns podem dizer que é preconceito, pré-conceito. Que se dane... Eu chamo de "pós-conceito").

    Quando vejo reportagens policiais do Rio de Janeiro, dificilmente vejo algemados torcedores do Botafogo, Vasco, Fluminense ou Olaria. Quando são reportagens da polícia paulista, dificilmente encontramos algemados com camisa do São Paulo, Santos, Palmeiras, ou XV de Piracicaba.

    "Torcida" tem seu papel definido no próprio sentido literal da palavra. Somente torcer. Quando muito, ir ao estádio para provocar a equipe e a torcida adversária. Torcida não entra em campo. Apenas carrega dentro de si convicções e justificativas para escolher a cada equipe.

    Lugar de criminoso não é no meio da torcida do meu time. Sentiria vergonha, hoje, se fosse corintiano.

    Mas hoje sou torcedor ... Torço junto com milhões... Para que a Justiça impere e que não sejamos mais testemunhas de casos como o que o Felipe acabou de descrever muito bem.

    Só não vou falar de paz, pois utopia não foi mencionada no texto.

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  4. Não há punição suficiente para o torcedor que atirou os fogos. Cadeia nele é o mínimo. E o clube tem que ser EXPULSO da competição.

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  5. Há trinta e tantos anos residia a menos de cem metros do estádio Couto Pereira em Curitiba PR, período suficiente para desejar manter-me longe de estádios de futebol e das gentes que ali frequentam. Desde aqueles dias abandonei a vida de torcedor, pois encontrei alternativas mais inteligentes e saudáveis para investir meu tempo.

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  6. Vamos falar de nossa realidade...Não que o caso do torcedor barbaramente assassinado seja desprezável. Mas acho que comentar aqui o que vejo na Arena é um canal bem interessante. Comecei a frequentar a Arena a pouco tempo atrás, menos de um ano, e neste pouco tempo já vi tanta coisa que afirmo que temos uma bomba relógio pronta para explodir. O comportamento de alguns torcedores da União Tricolor é pavoroso. No jogo com o Avai atravessaram a Arena para tentar apedrejar alguns torcedores que tentavam se esconder dentro do KartArena, as marcas do vandalismo ainda continuam por lá. Neste último jogo contra o Criciúma houve uma briga generalizada em frente a Arena com envolvimento da organizada. São alguns dos fatos que me levam a ter certeza que não posso nem pensar em levar minha filha ao estádio para ver um belo espetáculo de futebol. E particularmente não boto meus pés na Arena em jogo contra o Avaí, depois que vazou o vídeo em que evidencia a torcida do Avai tendo roubado o Bandeirão, não me surpreenderá se houver alguma hostilidade mais séria contra a torcida rival. Pelo que soube associados da União Tricolor não pagam ingresso, se isto for verdade me parece um tanto desproporcional. E se for verdade e quiserem mudar, então comecem a fazer com que todos paguem ingresso, ai vamos separar o joio do trigo. Se forem mesmo torcedores do Joinville Esporte Clube, então tornecem-se sócios e apoiem de verdade como deve ser...

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  7. Caro Felipe, a solução está bem clara, no teu post, no último parágrafo. O problema é que está em último. Deveria estar em primeiro, incluindo a suspensão do time da competição por pelo menos um ano com a perda da taça.

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