quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Diga NÃO aos elevados e SIM à mobilidade integrada

POR FELIPE SILVEIRA

Esse texto é uma continuação do texto de quarta-feira passada (Diga NÃO aos elevados) por dois motivos: 1) o assunto não se esgotou e rendeu alguns bons comentários; 2) meus queridos anônimos, sempre eles, não entenderam (ou fingiram que não) algumas coisas que serão esclarecidas neste texto.

Primeiro, vamos deixar claro que o texto não é a criminalização, "vilanização" ou “demonização” do uso do carro, como foi dito por lá. O texto é uma reflexão para que as soluções para o trânsito não sejam baseadas na construção de elevados, conseqüência da priorização do carro como principal – e praticamente único –, meio de transporte dentro das cidades. Para isso, sugeri pensarmos em soluções simples, como pequenas alterações nas vias que podem desafogar o trânsito, e também afirmei que é impossível melhorar a mobilidade urbana com tanto carro na rua. Assim, afirmei que é preciso DIMINUIR o número de automóveis. Antes que digam que eu estou negando o que escrevi na semana passada, o texto está lá, sem alterações, para quem quiser conferir.

Dito isto, vamos falar sobre a proposta deste texto, que é mostrar como é possível diminuir o uso do carro no cotidiano e assim melhorar a sociedade. O debate já teve início nos comentários do texto de semana passada e vamos continuar por aqui. Mas, desta vez, ao invés de falar sobre algumas idéias, vou mostrar como essa mudança já deu certo.

O exemplo de Copenhague

A jornalista Natália Garcia saiu a pedalar pelo mundo para saber como algumas cidades lidam com essa questão do transporte, experiência que ela conta no site Cidade para pessoas. O exemplo que mais me impressionou foi o de Copenhague, na Dinamarca. Lá, por causa de uma mudança de ponto-de-vista da gestão municipal, há cerca de 20 anos, o transporte que se encaminhava para ser caótico, hoje é dividido em aproximadamente 25% para cada modal. Ou seja, 1/4 das pessoas usa carro, outro usa ônibus, outro usa bicicleta e outro vai a pé mesmo. Deem uma olhada no vídeo e reparem no que um dos entrevistados falou sobre a postura das pessoas em relação ao poder público:



Depois de terem visto o vídeo, vamos debater como isso pode ser feito por aqui. Os principais argumentos para não andar de bicicleta em Joinville são as condições climáticas, a falta de segurança e a péssima qualidade das vias. Evidentemente, pedalar e andar a pé na Dinarmarca é mais seguro, mas isso não é por causa da natureza privilegiada. Mesmo no rigoroso inverno nórdico, com neve, as pessoas continuam a usar a bicicleta. Não com a mesma freqüência, mas continuam. Já a segurança e a conforto são resultados de políticas públicas para devolver as cidades às pessoas.

Outro ponto que sempre aparece neste debate é a afirmação de que o Brasil não é a Dinamarca e Joinville não é Copenhague. Bom, não preciso dizer que eu sei disso. No entanto, idéias são idéias em qualquer lugar e os bons exemplos estão aí para serem usados como referência para a construção de um novo modelo de transporte adaptado a nossa realidade.

Mas construir um novo modelo passa pela reformulação de uma maneira de pensar que já está consolidada. Essa maneira de pensar nos leva a crer que a bike é um ótimo instrumento de lazer, e não de transporte. Leva a pensar que andar a pé é muito cansativo e que andar de ônibus é horrível (e é mesmo, atualmente, mas nós podemos mudar isso e tornar uma coisa melhor).

Por isso tudo, acredito que a solução para o trânsito não é ser contra o carro e nem priorizá-lo. A solução é pensar em um sistema de mobilidade integrado, que ofereça segurança e opções a todos os interesses. Quem precisa mesmo, anda de carro. Quem pode pedalar, com certeza ganhará em qualidade de vida. Quem só pode andar de ônibus, que tenha conforto e condições para isso. Veja algumas lições que podemos aprender com Copenhague para chegar lá.



E, para quem quiser sonhar com um rio Cachoeira diferente, fica também a lição dos nórdicos. Só pra dar um gostinho de como pode ser:

14 comentários:

  1. “Por isso tudo, acredito que a solução para o trânsito não é ser contra o carro e nem priorizá-lo. A solução é pensar em um sistema de mobilidade integrado, que ofereça segurança e opções a todos os interesses. Quem precisa mesmo, anda de carro. Quem pode pedalar, com certeza ganhará em qualidade de vida. Quem só pode andar de ônibus, que tenha conforto e condições para isso. Veja algumas lições que podemos aprender com Copenhague para chegar lá.”

    Capaz que o megapreconceituoso autor de “A Bolha” escreveria algo tão sensato. Se não foi o papai baço que escreveu para você, deve ter sido ele que te orientou.

    O vermelhinho “dando mole” para os burgueses exploradores com seus carros de luxo comprados com o suor da sofrida classe operária? Não...

    Que é isto companheiro? Dirão.

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  2. Cara,

    este texto me fez pensar e sonhar.

    Sonhar porque os vídeos nos fazem acreditar que é possível, que com vontade e esforço dá pra fazer.

    Pensar...

    1. Ovo/galinha. O que é preciso vir primeiro? A estrutura cicloviária ou o desejo/necessidade de andar de bike? Chamou-me a atenção no primeiro vídeo que eles falam que os habitantes pediram bicicleta, ao ver que não dava mais pra focar no carro. Estamos longe disso. Como muita gente gosta de falar por aqui, o carro é o nosso brazilian dream. Todo mundo sonha em trabalhar e comprar um carro. OK. Vai chegar um momento que ficará impraticável, por mais que governos esforcem-se para viabilizar o sistema focado nos carros. Aí a população vai sentir que não dá e clamar pela estrutura cicloviária. Tô divagando, sem qualquer compromisso de ser opinião... são devaneios.

    Sei lá...

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  3. Parabéns pelo texto Felipe! Onde eu assino? :D

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  4. Bacana,
    Muito bom, aquele vídeo dos 5 conselhos para as cidades brasileiras.

    Mostra que é possível uma cidade obter êxito nos diferentes modais, e mostra também extamente o que o nosso governo não faz, que é pensar a cidade para as pessoas.

    Outra coisa que nosso governo não faz é pensar a longo prazo, já que um mandato dura apenas 4 anos ou no méximo 8. Pensar em 15 anos para os políticos é muito difícil, Aliás, pensar já é considerado pelos políticos algo muito difícil.

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  5. Acho que esse vídeo sobre Portland pode interessar; http://www.youtube.com/watch?v=FubpAJ-Uo1E

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    1. Demais esse vídeo. Vou pesquisar mais sobre Portland.

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    2. Para quem diz que isso é possível apenas na Europa, veja só, até os americanos estão se mexendo, hein! Portland é exemplo disso.

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  6. Os nossos governos pensam tanto em carro em detrimento de pessoas, que até um determinado "parque" é formado por uma rótula ensandecida, com direito a mão inglesa e tudo mais.

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  7. "Rótulas ensandecidas" como esta estão aos montes pela Europa.
    Em Paris, por exemplo, existem inúmeros "parques" (lá são denominados jardins)espelhados pela cidade. E o tráfego é pesado.

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    1. Como é difícil explicar que uma coisa é uma coisa. Por exemplo os parques, as praças e os jardins são coisas distintas, seja em Paris ou em Joinville.
      Agora rotatórias são outra coisas, sejam elas ensandecidas ou desvairadas.

      A Bíblia explica que não há pior cego que o que não quer ouvir, nem pior surdo que aquele que não quer ver.

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    2. Jordi, comece então a ouvir e a enxergar.

      No mais, em Paris, por exemplo, acho que tens razão. Algumas rotatórias de lá estão mais para desvairadas do que ensandecidas.

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    3. Prezado Anônimo

      Ouço e enxergo. Provavelmente não devemos ouvir e enxergar nem as mesmas coisas, nem desde a mesma perspectiva.

      Mas estou de olhos e ouvidos bem abertos e atentos.

      Obrigado pelo conselho

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    4. Rótulas é um bom tema, principalmente para enfrentar os elevados. E mão inglesa só é bom na Inglaterra...

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