sábado, 19 de novembro de 2011

Gostar de Joinville não basta


POR UPIARA BOSCHI

Passei dois anos e três meses em Joinville. Olhando assim, parece pouco. Mas durante esse período, pareceu interminável. Joinville não é uma cidade fácil de entender, de decifrar. Até porque ela não parece se esforçar para isso.

Antes de escrever esse texto, perguntei a uma amiga paulistana que passou um dia em Joinville recentemente, quais foram suas impressões sobre a cidade. A primeira palavra que veio à cabeça dela foi "inóspita". Levei um susto, por achar forte demais o termo. E é, como ela mesmo reconheceu.

A amiga não queria dizer que foi mal recebida. Ela achou a cidade vazia, com enormes terrenos desocupados em regiões que lhe pareceram centrais - e eram. Achou que o aeroporto era o menor que tinha visto e que o trânsito, embora não fosse um grande problema, oferecia poucas opções de rotas. Poucas pessoas que conheço são tão paulistanas quanto ela e, certamente, a metrópole é seu parâmetro.

Tinha um pouco de São Paulo na cabeça, mas muito, certamente, de Florianópolis - a cidade que considero minha - quando cheguei na rodoviária de Joinville no fim de 2007, para ficar por uma quantidade de tempo impossível de prever. Que acabaram sendo os tais dois anos e três meses. Não achei Joinville inóspita, mas tive certeza de que ela não gostou de mim. Levou um bom tempo para que conseguíssemos conviver e descobrir afinidades. Na época, a frase que eu mais ouvia quando reclamava da vida joinvilense, especialmente a noturna, era "agora está bom, há cinco anos era pior".

Quando minha amiga paulistana falava de suas breves impressões sobre a cidade, minha vontade era repetir essa mesma frase. Acabei me vendo no papel inverso ao de quando fazia minhas queixas. De repente, era eu o complacente a contextualizar os problemas de Joinville.

Talvez esse seja um dos grandes problemas da cidade. Há sempre quem a defenda, inclusive seus problemas. Ao finalmente ultrapassar a barreira dos 500 mil habitantes, Joinville se vê diante dos problemas que sua dimensão proporciona e dos presentes no cômodo autorretrato que boa parte de suas habitantes enxerga. Nessa mistura, os problemas reais viram polêmicas murchas. A cidade deve ou não ter elevados, o que fazer com as árvores da avenida, quantos vereadores são necessários, etc.

No momento de transição que vive, Joinville precisava descobrir a cidade que é e a que quer ser. E dar às picuinhas entre certos grupos e rivalidades políticas a pequena importância que elas merecem ter no cotidiano de uma cidade desse porte. Ou então vai seguir sendo a mais populosa e mais rica do Estado, mas que não consegue sair de seu imobilismo. Se Joinville avança, leva junto Santa Catarina - este Estado que, na prática, não tem Capital.

E olha que esta opinião, como dizem os bocas alugadas das rádios locais diante de qualquer crítica à cidade, "é coisa de quem não gosta de Joinville".

Upiara Boschi é jornalista, trabalha no Diário Catarinense e passou 2 anos e 3 meses em Joinville, no A Notícia, entre 2007 e 2010.

7 comentários:

  1. Sou natural do RS e estou há quase 20 anos em Joinville. Posso atestar que o choque cultural é muito grande no tempo vivido por aqui. As pessoas são mais isoladas e egoístas de um modo geral. Ninguém daqui, em raríssimos casos, vai convida-lo a visitar a sua casa, e nem proporcionar que isto aconteça.
    Apesar disto, a melhor qualidade de vida no sentido de segurança e mobilidade (que eu acho que está acabando) e proximidade com Floripa e Curitiba fez com que muitos migrantes aqui se fixassem e permanecessem. E acho que isto acrescenta e tende a melhorar a cidade, com a inclusão de novos parâmetros e referenciais de vida.
    Acho que vários problemas ditos estruturais, e também a relação do poder público com o privado são consequencias diretas da visão ainda pequena das coisas, da desvalorização dos valores e principios éticos que ainda predomina por aqui.

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  2. Que bom que há sempre quem a defenda.

    Se um Joinvilense, em situação parecida, dissesse que São Paulo é inóspita (e talvez seja mesmo...), os paulistanos não dariam nenhuma importância.

    A mesma coisa quanto aos manezinhos da ilha da magia, preguiçosos por exequência quando o assunto é trabalho. De nada este se importariam com as "criticas" dos "meros" joinvilenses.

    Só o que faltava que além de sustentar a capital (que esta cada dia pior mesmo com as torneiras abertas), vou me importar com a opinião do amiguinho do Guga.

    Seja Joinville ou a cidade do Zé das Couves, os problemas são muitos, muitos mesmos, e é só com muito trabalho e vergonha na cara para melhorarmos a situação, sobretudo por não sermos a capital do estado e termos recursos menores.

    Este grupo que venho implementar o A Notícia era RBS, especialmente os gaúchos, pouco contribuíram com nossa cidade e, em minha opinião, já vão tarde.

    (O Baço trabalha no A Notícia, será que ele vai censurar meu comentário?)

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  3. Caro anônimo. Eu não sou censor. E as regras de publicação já foram definidas e apresentadas aqui no blog. Mas há aí uma assimetria. Você sabe quem eu sou e onde trabalho. Mas a recíproca não é verdadeira: eu só sei que você é um anônimo, uma pessoa que não assina as coisas que escreve.

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  4. A vida é assim mesmo.

    Geralmente são os jornalistas que estão do lado comodo da assimetria, criticando políticos, empresários e tudo que desagrade o senso comum.

    O simples fato de assinarem não faz com que a simetria exista por parte deste políticos, empresários e afins, pois, como bem sabes, estes não podem responder na mesma medida, pois a vida é assim mesmo...

    No mais, de nada mudaria eu colocar um nome qualquer aqui. Até porque, como és defensor da liberdade absoluta de opinião, você não iria me processar não é mesmo?

    Alias, a demora e ineficiência de uma carta precatória internacional é bom tema de artigo.

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  5. Paulistas e florianopolitanos não se importam com críticas porque gostam da cidade onde moram. O segundo "anônimo", que exigiu coragem do comentarista e no entanto se escondeu atrás da ausência de nome, deveria se preocupar mais em melhorar a cidade onde vive e menos em criar rivalidades bizarras. SP, Fpolis e Joinville são cidades brasileiras. Não entendo qual a origem de uma oposição tão ferrenha e boba, se não na falta de informação e de civilidade.

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  6. "Paulistas e florianopolitanos não se importam com críticas porque gostam da cidade onde moram."

    Dahhhhh!!!! pate palminha bate...

    E chamar paulistano de paulista é um bom exemplo de falta de informação... cada um que aparece...

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  7. Grande morador de Joinville, Anônimo. Você é uma pessoa que certamente faz bem a qualquer cidade e faria muita falta neste mundo. Um orgulho brasileiro! Abraços e boas festas!

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