POR
CLÓVIS GRUNER
Encerrei assim
meu primeiro texto como colaborador do Chuva Ácida: “O combate à pobreza
e à miséria, em que pese sua urgência, não esgota o problema. Uma política
ativa de respeito aos direitos humanos precisa assegurar a laicidade do Estado
e a igualdade dos direitos civis; conduzir firmemente o processo de acerto de
contas com nosso passado autoritário; respeitar e fazer respeitar as diferenças
de gênero, étnicas e religiosas, entre outras; afiançar o acesso à saúde;
investir na educação pública e de qualidade, em todos os níveis; combater a
violência institucional, dentro e fora das penitenciárias; garantir um marco
regulatório sem o qual a liberdade de imprensa resta ameaçada; enfrentar a
violência que grassa no campo e realizar uma efetiva reforma agrária; promover
um desenvolvimento sustentável, atento aos riscos ambientais inerentes ao
progresso tecnológico e industrial; entre outras medidas.”
Naquela
ocasião, fazia um breve balanço do que percebia como um retrocesso nas
políticas de direitos humanos nos três governos petistas, apesar de reconhecer
os avanços principalmente nos investimentos sociais e nas políticas de combate
à miséria com programas como, por exemplo, o Bolsa Família, uma das poucas iniciativas republicanas na história de uma República que tem sido tão pouco. Voltei ao assunto
em outros textos, principalmente quando das manifestações de junho de 2013 e,
mais recentemente, nas mobilizações contra a Copa.
Em linhas gerais, procurava chamar a atenção para dois aspectos, a meu ver complementares. De um lado, a necessidade de repensar e reinventar nossa democracia, de fazer-lhe a necessária crítica, de apontar seus limites passadas três décadas do fim da ditadura. De outro, o desgaste do modelo político vigente desde, não coincidentemente, a retomada democrática nos anos de 1980, cujas estruturas restam intocadas mesmo depois de 12 anos de um governo de centro-esquerda, imobilizado, entre outras coisas, porque refém das muitas alianças firmadas para assegurar a governabilidade.
Em linhas gerais, procurava chamar a atenção para dois aspectos, a meu ver complementares. De um lado, a necessidade de repensar e reinventar nossa democracia, de fazer-lhe a necessária crítica, de apontar seus limites passadas três décadas do fim da ditadura. De outro, o desgaste do modelo político vigente desde, não coincidentemente, a retomada democrática nos anos de 1980, cujas estruturas restam intocadas mesmo depois de 12 anos de um governo de centro-esquerda, imobilizado, entre outras coisas, porque refém das muitas alianças firmadas para assegurar a governabilidade.
E é
por acreditar ainda na possibilidade e na emergência de uma alternativa à
esquerda que voto em Luciana Genro, do PSOL. Em um nível mais imediato, o
partido e suas lideranças tem sido uma via tanto aos limites impostos à e pela
esquerda governista, como ao retrocesso pela direita, representado hoje pela
candidatura do senador tucano Aécio Neves. Mas, ainda mais importante, o PSOL oferece, a um nível institucional, a possibilidade de reinserir na agenda política
pautas colocadas em segundo plano, quando não simplesmente esquecidas,
pelos grupos políticos mais tradicionais, dentro e fora do governo, em diferentes graus comprometidos como uma agenda conservadora.
O programa de governo e as ideias do PSOL são irrealizáveis em sua integralidade, a significar que, se o
partido um dia chegar a ser governo, seguirá a mesma trajetória do PT, rendendo-se
às exigências da realpolitik e da governabilidade? Não sei. Mas não acho que
exercícios baratos de futurologia ajudem na hora de decidir o voto. Eu escolho
o PSOL e Luciana Genro porque miro o presente e vejo neles a possibilidade de
trazer para o debate eleitoral temas que me são caros, tais como os direitos
LGBT; a descriminalização do aborto e a violência contra a mulher; o combate ao
racismo; a necessidade de pensarmos outras políticas de segurança pública e de combate
à violência, tais como a desmilitarização da polícia; a regulamentação dos
meios de comunicação; a reforma política e o aprofundamento da democracia,
entre outros.
O
historiador da arte inglês T. J. Clark, em um texto tanto breve como contundente,
reivindica uma esquerda disposta a levar a sério a “experiência da derrota”, renunciar
às promessas messiânicas de futuro e “capaz de encarar o mundo”. Não estou
plenamente certo se o PSOL preenche todos esses requisitos. Mas entre os partidos
que disputam as eleições deste ano, ele me parece o mais próximo que podemos chegar
disso.