POR JORDI CASTAN
Nestes dias, circula na rede um vídeo que mostra um conhecido político local ocupando o microfone durante horas a fio. A capacidade que este pessoal tem para falar durante horas sem dizer nada de novo é extraordinária. Mas a insanidade é tanta que por vezes fica difícil, para o espectador, separar a realidade da alucinação.
É um delírio. Na sua homilia, o pregador cita uma das epístolas de Mateus aos Corintianos (ou seria aos Coríntios?). Nem lembro direito, mas tenho memória de estar escrito que, caso o outro candidato fosse eleito, cairiam sobre Joinville todas as pragas bíblicas, de forma simultânea. Desde uma chuva de meteoritos até à conversão dos rios em sangue, passando pela pior de todas: a volta dos dois turnos na prefeitura.
Ante o olhar de estupor do público, o pregador se anima e cita outra epístola, esta de João aos Fluminenses (ou seria aos Filipenses?). Desculpem, mas tenho uma verdadeira dificuldade para lembrar alguns nomes. Brada o pregador, convertido de vez num charlatão messiânico, que se o nome do outro candidato fosse pronunciado de trás para frente representava em aramaico clássico o nome de Lúcifer. Quem o pronunciasse estaria convocando o demo em pessoa.
Chegando neste ponto uma senhora da terceira fileira desmaia e é rapidamente atendida. Os gritos de aleluia, proferidos ao uníssono por alguns membros da plateia, são o disparador para que todos simultaneamente iniciem a declamação do mesmo mantra: “aleluia, irmãos, aleluia”. E a plateia, formada principalmente por crédulos e fanáticos em transe, criam o momento propício para entrar na fase seguinte do discurso.
Qual a nova Joinville que surgiria caso o pregador fosse eleito? Seria a versão terrena do jardim do Éden. Frutas maduras cresceriam nas árvores de ruas e praças. Haveria um transporte público econômico e de qualidade. Quem não quisesse usar o ônibus, poderia usar o VLT, bicicletas ou simplesmente levitar. Elevados pipocariam como cogumelos e todos os gargalos do trânsito serão resolvidos como por milagre.
As filas na saúde iriam desaparecer, porque as pessoas nesta nova administração não adoeceriam mais. Nas creches, vagas disponíveis para todos. Os salários dos professores equiparados aos dos senadores da República e ainda com o décimo quarto e décimo quinto salário, para que não falte dinheiro no bolso. Nossas praças teriam mais flores e nossos rios mais peixes.
Uma nova Joinville surgiria desta administração que conta, desde já, com a proteção do Senhor, com a benção de Deus e com a colaboração dos anjos, dos arcanjos e até dos querubins. Seriam justamente os arcanjos os encarregados de fechar todos os buracos das ruas da cidade e de deixá-las horizontais como canchas de bolão.
Mas esta Joinville dos
milagres só seria possível se todos os participantes do culto, seus amigos e
parentes votarem no candidato que, tendo comunicação direta com o Senhor, poderia
operar o milagre de voltar a fazer de Joinville uma cidade próspera, feliz e dinâmica.
O problema é que há cada vez mais gente que acredita nesses milagreiros e estão dispostas a embrenhar-se de novo numa aventura de alto risco.
Fim.
Em tempo: a irrupção na política das chamadas bancadas evangélicas não é um fenômeno restrito ao Brasil. Nos Estados Unidos também é conhecida a força retrógrada da bancada pentecostal. A direita ultrarradical encontra nela seus maiores expoentes. Em nada divergem do radicalismo islâmico ou dos talibãs, porque os extremos radicais se unem em torno de um único objetivo. A tomada do poder político através do uso da religião e da exploração da ignorância e a crendice.
O problema é que há cada vez mais gente que acredita nesses milagreiros e estão dispostas a embrenhar-se de novo numa aventura de alto risco.
Fim.
Em tempo: a irrupção na política das chamadas bancadas evangélicas não é um fenômeno restrito ao Brasil. Nos Estados Unidos também é conhecida a força retrógrada da bancada pentecostal. A direita ultrarradical encontra nela seus maiores expoentes. Em nada divergem do radicalismo islâmico ou dos talibãs, porque os extremos radicais se unem em torno de um único objetivo. A tomada do poder político através do uso da religião e da exploração da ignorância e a crendice.