POR EGON ZEK
Saímos de casa no domingo de tarde eu, meus amigos e amigas. Estávamos arrumados à nossa maneira: jovens, coloridos, ousados, livres. Ali por perto do Museu do Sambaqui, Casa da Cultura, caminhávamos na calçada, conversando para chegar ao nosso destino, quando fomos chamados.
Um carro grande, lindo, preto, bem rico, encostou perto de nós. Abaixou o vidro elétrico uma mulher de uns 40 anos, acompanhada de outra no lugar do carona, perguntou:
- Oi, vocês são daqui?
Paramos, simpaticamente, porque somos educados, gentis e tratamos bem qualquer tipo de pessoa. Uma das amigas falou: “ah, eu vim de Brasília”. E outros de nós que não tinham ouvido a primeira pergunta foram parando e perguntando o que estava rolando. Ela continuou:
- Vocês são de Joinville?
Nesse momento eu fiquei encabulado porque ela não estava sendo simpática como nós. Pensamos que ela queria alguma informação. Então me aproximei mais um pouco do carro e respondi parando de sorrir. Eu senti uma arrogância no olhar dela.
- Somos de várias cidades, mas sim, moramos tudo aqui.
- Ah, eu logo percebi.
- Por que, moça, algum problema?
- As pessoas da nossa cidade não são assim. O que aquela moça tá fazendo não fazemos aqui, vocês vêm de fora difamar a nossa cidade.
O que "aquela moça" estava fazendo era usar uma camisa sem sutiã. O que não mostra nada, apenas a deixa livre. Uma mulher se escandalizar com o seio da outra não é coisa desse século, gente. Na nossa turma tinha gays, lésbicas, negros, gordos e isso pra uma joinvilense branca, loira e rica é difamação pra cidade perfeita, respeitosa e germânica dela.
Só no seu mundinho de ouro amiga. Acorda.
Assim, gente, os coxinhas estão tomando coragem, fazendo merda (não é de hoje) e tendo coragem de falar (falar merda e não saber argumentar). Gritamos para ela #foratemer, sim. Ela ficou puta da cara, fechou seu vidro elétrico e foi embora com ar condicionado ligado.