quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Alunos sem partido
















POR FILIPE FERRARI

O projeto da “Escola sem Partido” continua com suas safadezas. Apesar de meio sumido da mídia, sabemos que as discussões ainda estão nos espaços públicos, e nas redes sociais há diversos incautos que continuam a defender o mesmo. A maioria desses, provavelmente nunca entrou numa sala de aula.

O projeto apresenta uma série de furos e bobagens. Há professores que fazem propaganda partidária? Sim. Há professores que tendem à esquerda? Sim. Entretanto, há professores que defendem a Ditadura Militar? Sim. Há professores que se comportam de maneira homofóbica, sexista, misógina e machista? Tem também! A sala de aula talvez hoje seja um dos ambientes mais plurais da sociedade, onde perfilam todos os tipos de ideologias. A questão principal é: quais discursos a “Escola sem Partido” cerceará?

Entretanto, não é do professor que quero falar, mas dos alunos. Os proponentes do projeto devem enxergar os alunos como meros receptáculos vazios, como se o professor fosse capaz de moldar os estudantes com as suas ideias e eles as aceitassem sem nenhum tipo de crítica. Bom, saibam que não é assim. O mais gratificante da vida de um professor é conseguir também aprender com os alunos. Certamente o professor molda, mas também é moldado. O que falta compreender nesse “projeto”, é que a educação é um processo dialético, onde há a troca de saberes em diferentes graduações.

Existem sim professores que entram em sala, despejam seu conteúdo e não ouvem os alunos (e são professores assim que a “Escola sem Partido” quer), mas esses são professores mortos, que entendem o educar como um fardo. Não vou ser romântico e dizer que ser professor é um mar de rosas. É cansativo, é pesado (especialmente pelas condições de trabalho e reconhecimento), mas em algum lugar reside a “cachacinha da educação”, que uma vez provada, vicia. 

Tenho um exemplo prático disso. Durante toda minha adolescência e parte da vida adulta, execrei o Rap. Carregava comigo esse preconceito cultural e musical. Agora, fazem algumas semanas, tenho ouvido, por influência e insistência de alguns alunos, e hoje percebo o quanto tempo perdi ao não conhecer as rimas pesadas e poderosas de Brown, Criolo e Emicida. Estou me aventurando pelos latinos, e em breve quero chegar no Sabotage. 

Parece bobagem, mas é um exemplo de como a transformação tem duas vias. Como querer professores “neutros”, se os alunos, graças a Deus, não o são? Que cada um tenha os seus partidos (e quem acha que eu estou falando de partido político, que vá procurar um dicionário), e que as transformações diárias estejam em todos os lugares.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Melhoremos

Será?
POR FELIPE SILVEIRA

Nós, pessoas de esquerda, acreditamos que os problemas do debate com a direita são três: 1) desonestidade intelectual; 2) dificuldades cognitivas e; 3) imersão em um sistema hegemônico que influencia fortemente a opinião. Nós, de esquerda, sempre acreditamos estar um passo à frente nestes quesitos, tornando o debate mais qualificado. Vem daí a ideia de que é nosso o monopólio das virtudes. Este texto é sobre a vertiginosa queda de qualidade do debate na esquerda.

De uns tempos pra cá, talvez por causa das redes sociais, é cada vez mais evidente o descuidado de parte das pessoas de esquerda para lidar com os fatos. Nossa preocupação sempre foi discutir a partir dos fatos, o que nos dá uma vantagem enorme, levando em consideração o tamanho da injustiça social do mundo. Bastava falar a verdade que a verdade vos libertaria.

Um exemplo banal: circula nas redes de esquerda um texto com o número de escola ocupadas e que aponta a falta dessa informação na imprensa, sugerindo não haver cobertura jornalística de um tema tão importante. Não é verdade. Essa é uma informação que está na imprensa todos os dias, mas quem não vê e não lê jornal acaba reproduzindo, já que acredita que a imprensa hegemônica está a serviço do capital e consequentemente não cobre algo popular.

Repare que não estou defendendo a imprensa hegemônica, a qual acredito estar mesmo a serviço do capital. Mas a discussão precisa ser feita a partir dos fatos, e não dos dogmas que cada vez mais se cristalizam à esquerda. Os fatos são cheios de nuances, tons de cinza, que precisam ser analisados com profundidade. A discussão tem ficado cada vez mais binária, preto no branco.

Uma das consequências disso é que os veículos com viés de esquerda têm perdido qualidade, falando com este leitor cada vez menos preparado para o debate. Não à toa que as “barrigadas” (notícias anunciadas como verdadeiras que se mostram falsas depois da apuração) tenham se tornado mais frequentes nestes canais.

Dessa forma, vamos nos igualando à direita, que continua com os mesmos problemas citados no primeiro parágrafo, mas que, com o capital ao seu lado, vence as batalhas. O diferencial da esquerda sempre foi um apuro maior do debate, coisa que tem cada vez mais se perdido. É preciso recuperar. Melhoremos.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Eleição em Joinville virou guerra de bugio: um joga merda no outro
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O segundo turno das eleições para a Prefeitura de Joinville entrou no lodaçal. O nível do “debate” baixou tanto que já é possível prever o resultado: os dois candidatos sairão perdedores. A coisa virou uma autêntica guerra de bugio, na qual um joga merda no outro. O ponto alto do bang-bang foi na semana passada, quando as redes sociais se transformaram num campo de batalha, com tiros para todos os lados. Só não houve dedo no olho porque a coisa é virtual.

Teve soco abaixo da cintura, claro. Os acólitos de Udo Dohler fizeram circular um grampo no qual Darci de Matos é apanhado em claro tráfico de influência, a pedir um favor para uma amiga. Na outra trincheira, a trupe do deputado estadual ressuscitou uma história antiga, mas que colide com a imagem de mãos limpas de Udo Dohler: problemas no hospital Dona Helena, ao qual o prefeito é ligado, por suspeita de compra de ouro para esconder lucros. Quem sacou primeiro? Não importa. O estrago está feito.

Em termos de propostas a narrativa da propaganda eleitoral atingiu o nível “Belíndia”. Udo Dohler pinta a cidade com cores tão bonitas que Joinville fica a parecer uma Bélgica. Na versão do atual prefeito, os joinvilenses estão a viver num paraíso tropical com padrão de vida europeu. Darci de Matos mostra o lado Índia e insiste em bater nos pontos fracos do prefeito. Aliás, o deputado nem precisaria fazer promessas. É só deixar o microfone na mão do povo. O programa ideal é deixar as pessoas a falarem por 10 minutos... e a mensagem está passada.

A coisa respingou até para Raimundo Colombo, que saiu em defesa de Darci de Matos. Entrou com cara de quem queira pôr água na fervura, mas acabou jogar gasolina na fogueira. O verniz estalou entre o prefeito e o governador. Coisas desagradáveis foram ditas. Fica a dúvida: caso reeleito, como Udo Dohler vai pedir recursos a Raimundo Colombo? Só com muita cara de pau, claro. Mas o atual prefeito já está mais escolado nas manigâncias políticas e isso não deve causar engulhos.

Guerra é guerra. E não há que ter medo de torturar os números. Os dois candidatos divulgaram resultados de pesquisas e, com base nos números apresentados, só há uma conclusão possível: Joinville vai ter dois prefeitos. Darci de Matos apresentou números que o põem quase 10 pontos à frente do seu adversário. E Udo Dohler apresentou números que o põem quase 10 pontos à frente do seu adversário. É o Instituto Mandrake de Pesquisas a fazer escola?

Talvez o embate mais agressivo seja o que envolve os atuais comissionados, em defesa de Udo Dohler, e aspirantes a comissionados, que apostam o futuro na eleição de Darci de Matos. A coisa pega. Mas também revela. Se tomarmos as redes sociais como referência, a defesa do atual prefeito fica circunscrita ao núcleo de funcionários com cargos de confiança. Darci de Matos tem o seu próprio time, mas a sua comunicação recebe apoios em outros quadrantes. E isso quer dizer alguma coisa. 

Faz. Não faz. Muda. Não muda. Enfim, o próximo prefeito não será eleito pelos seus méritos, mas pelos defeitos do outro. Ah... seo Baço. É merda para todo lado e o senhor posando de moralista. Que nada. Até me divirto com o que está acontecendo. Porque a alegria do circo é ver o palhaço pegar fogo.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Ânimos incendiados, nervos à flor da pele. Quem sofre é a verdade...













POR JORDI CASTAN
Na reta final da campanha, quando os ânimos estão incendidos e os nervos à flor de pele, a verdade é a primeira vítima. Surpreendentemente o mais “honesto” é o que esta sofrendo maior desgaste a couraça da honestidade e das mãos limpas não é suficientemente forte para protegê-lo de todas as meias verdades. São essas meias verdades a maior fraqueza de uma gestão que tem se destacado por não fazer, por fazer pela metade ou por fazer mal feito. Há um desgaste natural em quem podendo fazer não fez.

A sensação que o eleitor começa a ter e de que há uma versão da verdade diferente da própria verdade. Se os candidatos tivessem que jurar dizer a verdade, poucos poderiam cumprir. E só o fariam se o texto fosse este:

“ Juro solenemente dizer a verdade como a conheço, toda a verdade como acredito que seja, e nada mais que aquilo que eu acho que vocês precisam saber.”

Só assim é possível entender a quantidade de informações desencontradas a que o eleitor esta sometido cada dia.
- Foram entregues tablets para todos os alunos ou só para alguns?
- As filas na saúde acabaram ou continuam?
- As pessoas que fazem fila de madrugada para conseguir um atendimento são insones que não tem outra coisa para fazer ou só assim que se consegue agendar?
- O restaurante popular, que foi fechado para transferir os móveis e utensílios para o outro e seria reaberto poucos meses depois, depois de três anos ainda segue fechado. Reabrirá algum dia?
- Teremos algum dia 70% da rede de saneamento básico implantada?
- O Parque Rolf Colin foi mais uma quimera?
- Existe o projeto da ponte do Ademar Garcia? Alguém viu?
- A Praça Dario Sales vai seguir com tapume quantos anos mais?
- Há vagas suficientes nos CEIs para todos ou é outra patranha?
- O ar condicionado das escolas que não tem instalação elétrica capaz de comportar a carga adicional?
- Todas as escolas tem internet?
- Há uma indústria da multa?
- Há razões técnicas que justifiquem a colocação de 2 pardais em menos de 200 metros na rua Albano Schmidt?

A lista é longa. As respostas poucas vezes respondem o que o eleitor quer saber e o resultado é que cada vez a distância entre a Joinville idílica das propagandas e a Joinville real se agiganta e hoje é intransponível.

A maioria do eleitorado de Joinville não sabe o que é uma boa gestão municipal. Não sabe porque ainda não conheceu uma. Qual foi o ultimo bom prefeito que Joinville já teve? Nas últimas décadas a cidade tem sido mal administrada o resultado é que temos nos acostumado a esta mediocridade a esta inépcia que tem se convertido no referente de quem não conhece outra coisa.

Qualidade, obra bem feita, praças bem cuidadas, aquilo que comumente se denomina zelo não existe mais. Chegamos a um ponto em que aceitamos qualquer coisa. Até acreditar que ter mãos limpas seria o motivo para eleger o próximo prefeito. As nossas expectativas são tão rasas, que estamos até concordando em aceitar quatro anos mais de nada. E já somaremos mais de 20.

Não há cidade que resista a tanta incompetência. Nem a mais resiliente das sociedades pode aceitar bovinamente calada uma praga como esta por tanto tempo.