sexta-feira, 3 de junho de 2016

Uma caixa preta chamada CVJ


POR THIAGO LUIZ CORRÊA


Nesta segunda feira, acessando o Chuva Ácida, fui surpreendido pelo post do José António Baço sobre o tal "escola sem partido". Apesar de já ter ouvido falar deste tipo de projeto de lei rodando por aí não tinha ideia de que esta sandice já tivesse embarcado aqui em Joinville.

Bateu a curiosidade de saber mais detalhes sobre o projeto e, sobretudo, saber se esta iniciativa da Vereadora Léia (na verdade Pastora Léia, mas me recuso a chamá-la de pastora quando ela toma decisões que não afetam apenas a sua comunidade religiosa mas a toda a sociedade) tem alguma novidade ou invenção sua ou não passa de uma cópia do projeto já apresentado em outras esferas públicas Brasil afora.


Pois bem, na minha busca pela íntegra do projeto acessei a notícia que o projeto havia passado pela Comissão de Legislação formada pelos vereadores Maurício Peixer, Claudio Aragão, James Schroeder, Manoel Francisco Bento e Sidney Sabel. Na mesma matéria há um link que redirecionaria o cidadão ao documento em questão para apreciação. Qual a minha surpresa quando ao acessar este link me deparo com a informação de que o site está em manutenção (imagem no início do texto).

Em uma época em que pensamentos complexos são reduzidos a memes com imagens fora de contexto e um texto com não mais de três linhas, esta página resume como o poder público de Joinville não tem interesse algum em prestar contas de sua atuação à sociedade agindo como uma caixa preta para defender os seus próprios interesses.

Eu realmente ainda estou avaliando o que mais me revolta nesta imagem, se o fato de parecer que o site foi feito por uma criança de 7 anos que acabou de sair da terceira aula de programação web, se a imagem no canto direito de uma pessoa dormindo em uma cadeira de escritório, se o fato que esta página exibe ao centro, quase que como a se orgulhar de não servir o seu propósito há mais de um ano ou se a imagem de uma mesa de reunião em que todos estão olhando pra mim, como se fossem os próprios vereadores constrangidos por terem sido pegos depois de tanto tempo de pernas pro ar.

O conjunto da obra debocha da minha cara como que dizendo "cuide da sua vida" ou "não pense em críticas, trabalhe".

quinta-feira, 2 de junho de 2016

PMDB usa estrutura da educação pública para chamar reunião em Joinville

POR IVAN ROCHA*

Na manhã da última quarta-feira (1º), quando fui buscar minha filha no CEI onde ela estuda, no bairro Vila Nova, recebi um convite inesperado. Por ordem da diretora da unidade, todos os pais receberam o convite para participar de uma reunião, pasmem, do PMDB (imagem no fim do texto). Sim, isso mesmo: o partido do prefeito Udo Döhler está usando a estrutura da educação pública para divulgar suas reuniões abertas ao público.

É provável que a alta cúpula do governo municipal não saiba do enorme erro cometido pelo partido, pois saberia do grave problema que isso acarretará junto à Justiça Eleitoral, a qual esperamos que faça a sua parte no rápido julgamento e punição ao partido e ao governo municipal. A saber, o uso descarado da máquina pública em benefício do partido do prefeito.

O ato, que será denunciado à Justiça Eleitoral, fere a lei 9.504, no artigo 73:

III - ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado (aqui).


Escola sem ideologia, com exceção da minha

Coincidentemente, na mesma manhã, recebi um vídeo falando sobre a lei da mordaça, no qual um professor de Joinville explica o projeto que foi aprovado no estado de Alagoas e está tramitando em vários estados do país. Em resumo, a lei vai proibir que professores tratem em sala de aula de temas como gênero, política e religião. Em Joinville, a ideia é encampada pela Pastora Léia (PSD), com amplo apoio dos políticos com ideologia de direita.

A ideia é estapafúrdia. Com base em um discurso ideológico, políticos de direita afirmam que professores de esquerda, a partir de orientação do Ministério da Educação (MEC), estariam “contaminando” as crianças do país - a tal da “doutrinação marxista” e por isso há a necessidade da proibição. Na prática, essa censura visa omitir as teorias e personagens da História que são identificados com a esquerda, reescrevendo a história da maneira que a direita quer, sem respeitar o método científico e a construção milenar do conhecimento.

O objetivo deste projeto é bastante ideológico. É o de (de)formar crianças, adolescente e jovens para trabalhar sem pensar, sem questionar. Em Joinville esta já é a ideologia predominante, formando mão-de-obra para trabalhar nas grandes empresas locais.

Retrocesso Nacional

O projeto escola sem partido é um retrocesso em âmbito nacional. Já aprovado em Alagoas, está em tramitação em outros estados, como o Rio Grande do Sul, e sempre defendido por políticos de direita que flertam com o fascismo.

O governo golpista de Michel Temer (PMDB) recebeu os defensores desse projeto por meio do MEC, em episódio que chocou o país, quando o ministro Mendonça Filho, do Democratas, recebeu Alexandre Frota e o movimento Revoltados Online para ouvir propostas para a área da educação. Estuprador confesso e defensor do ideário de direita, Frota também defende o projeto, que estava entre as propostas apresentadas. O encontro foi uma forma de retribuição pelo apoio dado ao golpe no governo Dilma, mas não é de se duvidar que o PMDB leve a cabo as ideias retrógradas para a educação do povo brasileiro.

* Ivan Rocha é pré-candidato a prefeito de Joinville pelo PSOL.


O Facebook lembrou do racismo e do machismo de Joinville

POR FELIPE CARDOSO

Nesta semana, a foto de uma matéria publicada em 2013, do jornal A Notícia, voltou a ser compartilhada. Acompanhado de muitos comentários indignados, a foto serviu para acender o debate sobre as questões raciais aqui na cidade e também no Brasil.

A matéria informava que “o perfil ideal de trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos de idade”. Além do racismo e do machismo, a matéria também deixa evidente o recorte e o preconceito com a idade.

Uma informação como essa é necessária para mostrar a qualquer pessoa que defenda a meritocracia que vivemos em um sistema desigual, que não oferece as mesmas oportunidades para todos.

Mais adiante o texto diz que “em parte, as vagas não são preenchidas porque os candidatos não têm as habilidades e competências necessárias”. Oras, de 7 mil vagas, dizer que não há gente qualificada é de uma injustiça sem tamanho, talvez devessem se atentar as exigências que fazem e não imputar aos trabalhadores a falta de qualificação. Se procurassem por mulheres, negros e pessoas com idades abaixo de 25 e acima de 35 anos, talvez pudessem encontrar com maior facilidade pessoas para preencherem as vagas. Mas, pelo visto, é melhor deixar 7 mil vagas abertas do que empregar pessoas fora do “padrão ideal”.

Prova do racismo são os tratamentos e os empregos ofertados aos imigrantes haitianos, grande parte com formação acadêmica, mas que não conseguem validar seus certificados por conta de ter que desembolsar uma quantia aproximada de 15 mil reais para ter um tradutor juramentado que realize os processos necessários. Para sobreviver, muitos aceitam subempregos que nem sempre oferecem a garantia de segurança ou muito menos de pagamento pelo serviço.

O que devemos nos atentar é que, segundo os dados nacionais, a taxa de desemprego é maior entre a população negra, principalmente entre as mulheres negras. Agora imagine a chance de uma mulher negra, com 45 anos, estrangeira em conseguir um emprego na área que estudou.

Mulheres negras além do machismo enfrentam também o racismo e estão na base da pirâmide social, muitas vezes sustentando suas famílias sozinhas. Em época de crise, são as mais propensas a serem demitidas, voltando a sofrer para serem reinseridas no mercado de trabalho novamente.

E tem gente que chama isso tudo de vitimismo.

Não é tão simples falar em meritocracia quando os dados insistem em nos mostrar a realidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Questão de tempo

Olha o tipo dos caras. E eles acham que podem com a gente.
POR FELIPE SILVEIRA

A queda de Michel Temer, o Fraco, é questão de tempo. A qualquer dia acordaremos com a notícia da renúncia, prisão ou afastamento das cabeças do golpe, que já tem perdido braços e pernas dia sim outro também. Jucá, Renan, MBL, Fabiano Silveira… É o governo Temer, confiável como um bate-papo informal do Sérgio Machado.

O erro da classe dominante é achar que conhece o adversário quando não o conhece de fato. Acham que a esquerda é petista, que os votos de Dilma vêm de dependentes do Bolsa Família (que eles julgam como coitados), que a televisão constrói a narrativa predominante e que os toda aquela massa verde e amarela que encheu as ruas vai simplesmente fechar com eles. Essa massa não é militância, não é politizada e tem interesses difusos. Não dá pra esperar mais deles do que já foi tirado.

O que eles não perceberam é o tanto que o país mudou. O povo não aceita o retrocesso e está mostrando isso nas ruas e nas redes. Universidade pública, acesso universal à saúde, políticas de inclusão e de direitos para minorias só podem crescer, pois o povo não vai aceitar menos. Pode haver tentativas de retrocessos, mas Temer, o Fraco, não aguenta a pressão.

Nos últimos anos, o que se formou no Brasil foi a multidão. É o termo usado pelos filósofos Michael Hardt e Antonio Negri para descrever o sujeito histórico que vai fazer a história acontecer. Somos nós, os movimentos sociais, as feministas, o movimento negro, os secundaristas, os lgbts, os artistas e intelectuais em defesa da democracia, as organizações comunitárias das favelas e dos bairros, os quilombolas e os indígenas. A classe dominante não pode com essa multidão. A opção fascista, muito menos. Não passarão.

Aproveite as horas no poder, Temer. Estão acabando.

terça-feira, 31 de maio de 2016

A escola sem partido ensina até dedo-durismo


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO 

O aparecimento da tal “escola sem partido” (em minúsculas) deve ser um dos episódios mais sombrios da história recente do Brasil. E olhem que o páreo é duro, porque nos últimos tempos o país tem caminhado a galope para o obscurantismo. Os conservadores alegam a existência de uma suposta “doutrinação ideológica” de esquerda nas escolas. E o que propõem em substituição? Ora, uma doutrinação ideológica da direita mais atrasada.

Os conservadores vivem um transe que os leva rejeitar tudo o que aponte para a razão, para as luzes, para o esclarecimento (por iliteracia política, confundem pensamento racional com “esquerda”). Não vamos esquecer que os modelos de ensino atuais são, em grande medida, herdeiros do ideário do Iluminismo, que, no seu momento original, falava no uso da razão para fazer evoluir a vida das pessoas. “Tem coragem para fazer uso da tua própria razão”, disse Kant.

Há muita gente a rejeitar a proposta de “escola sem partido”, sob o argumento de que é uma tentativa de impor o pensamento único. Discordo. O que está em jogo é a simples rejeição do pensamento. Ou, passe o trocadilho, a tentativa impor um único pensamento: atacar o que consideram ser a tal doutrinação de esquerda. Mas não estamos a falar da esquerda corporificada num conjunto de ideias. A esquerda dos conservadores é apenas um monstro criado pelas suas mentes supersticiosas.

O “escola sem partido” tem um site muito completo. Não é preciso aprofundar a navegação porque as coisas saltam aos olhos. Há uma rubrica chamada “flagrando o doutrinador” que, com quase duas dezenas de “ensinamentos”, estimula o espírito delator dos estudantes. Ou seja, ensina a ser dedo-duro. Mas quem pode criticar algo que está em plena sintonia com a realidade brasileira? A delação é premiada e os delatores viram heróis nacionais. Faz sentido. É quase um ensinamento de carreira.

Mas não estamos a falar de dedos-duros quaisquer. O site tem outro link chamado “planeje sua denúncia”, onde ensina uns truquezinhos que permitem aos alunos denunciar professores com método. E o mais importante: em segurança e sem correr riscos de passar por um acareamento. “Esperem, se necessário, até sair da escola ou da faculdade. Não há pressa”, ensina o site. O dedo-durismo é um prato que se come frio. Enfim, a “escola sem partido” parece propor uma versão tupiniquim da Caça às Bruxas.

Mas o ponto alto do site é mesmo o filme apresentado como o “tema musical da educação brasileira” (no final do texto). E qual é a música? Uma paródia de “A Banda”, de Chico Buarque (ironia das ironias). Mas a coisa fica ainda mais emocionante. Porque o argumento é de autoria do grande pedagogo Danilo Gentili. O refrão é suficiente para mostrar o que se passa pela cabeça desses grandes intelectuais: “estava à toa na classe o professor me chamou, pra me lobotomizar, me transformar num robô”.

A coisa continua, com frases que servem apenas para ironizar – e rejeitar – nomes como Marilena Chauí, Mikhail Bakunin, Michel Foucault, Paulo Freire ou o próprio Chico Buarque, que não levou nada de direitos autorais (“o autor da paródia se isenta de qualquer remuneração sobre os direitos autorais da mesma”, explica o texto). Enfim, é um daqueles casos em que só cabe uma definição: é a ignorância petulante em ação. O problema é que muita gente leva a sério.

O CASO FROTA  - A desgraça nunca acaba. Eis uma prova factual – e cabal – da rejeição do pensamento no Brasil. Em que sociedade civilizada Alexandre Frota poderia ser considerado conselheiro para a área da Educação? É uma descarada tentativa de doutrinação. Só que a doutrina é o que há de mais atrasado.


É a dança da chuva.