segunda-feira, 23 de junho de 2014
A praia de Joinville
POR JORDI CASTAN
Joinville não pode ficar atrás e o prefeito anunciou, na
semana passada, que há um projeto para construir uma praia artificial no Espinheiros.
Joinville redescobre o mar. A cidade, que estava de costas para o mar, descobre
a sua vocação marítima e propõe construir uma praia.
O discurso do prefeito Udo
Dohler me lembrou o daquele político em campanha que, ao chegar a uma
cidadezinha do interior, antes de descer do carro com pressa pergunta ao seu
assessor o que deve prometer aos eleitores? O assessor responde que a cidade
precisa de “um posto”. O candidato no seu inflamado discurso promete construir “uma
ponte”, o assessor esbaforido, corre pra informar que a cidade não tem nem um
rio sequer e que não precisa de nenhuma ponte. O candidato não deixa por menos
e promete que colocara um rio em baixo da nova ponte.
Me ocorrem duas possibilidades para que o prefeito
proponha esta praia. Neste momento, a primeira é que o prefeito tenha
ouvido outra coisa e entendido errado. Quem sabe algum assessor tenha
sugerido uma praça, ainda que se fosse uma praça aqui em Joinville, teria dito
um parque. Pode ser que tenham sugerido um palco, ou até
um posto. E do jeito que os postos de saúde andam incomodando o prefeito, talvez ele
tenha preferido propor uma praia, achando que construir uma praia no
Espinheiros será mas fácil que construir e equipar um posto de saúde.
A segunda possibilidade é que da forma que o prefeito anda
fascinado pelo desenvolvimento imobiliário de Joinville e pensando em quanto
aumentaria a arrecadação do IPTU com a construção de mais prédios. O prefeito, com inveja de Florianópolis ou de Balneário Camboriú, talvez tenha pensado em construir
uma praia para poder implantar uma faixa viária a que porá o nome de Beiramar e
poderá autorizar a construção de espigões de mais de 15 pavimentos, assim
Joinville também terá a sua Avenida Atlântica, ou a sua Copacabana sambaquiana.
Mas imaginemos, por um instante, que o prefeito acredite
mesmo que é possível construir uma praia artificial nos manguezais das margens
da Lagoa de Saguaçu. Não seria bom que alguém o avisasse antes que pode estar se metendo numa bela encrenca? Primeiro precisaria despoluir a lagoa,
que há décadas sofre com o esgoto doméstico e metais pesados, depositadas no lodo. Que ainda falta muito investimento para que Joinville chegue a ter metade do seu
esgoto tratado e que enquanto isso não aconteça a Lagoa de Saguaçu é um esgoto
a céu aberto. Que Joinville tem outras prioridades mais urgentes e mais
importantes que essa praia. Mas se alguém lhe disse-se seria que ele escutaria?
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Joinville passou longe da Copa
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Em segundo lugar, a estrutura de Joinville para receber grandes eventos, como uma Copa do Mundo, é muito pequena. Por mais que três hotéis da cidade fossem chancelados pela FIFA, o Aeroporto é insuficiente e precário (a novela ILS se arrasta há anos) e não havia condições, nem em meados dos anos 2000, nem hoje, da cidade se envolver nestes eventos. Não é a toa que somente grandes capitais foram escolhidas como sedes dos jogos, as quais fizeram parte do combo especulação-flexibilização-lucro que uma cidade do porte de Joinville não poderia oferecer, perante o tamanho dos negócios gerados em torno da Copa.
Esta euforia de cidade-sede dos jogos acabou cedo, quando a FIFA anunciou as cidades pré-selecionadas, e Joinville estava de fora. Os agentes locais não se davam conta de que a estrutura local era infinitamente inferior às outras, por mais que, dentro de Santa Catarina, Joinville se sobressaia. A luta então passou para abrigar alguma seleção, como cidade de treinamento. As falácias continuaram, como a atração de seleções européias, pela ligação da colonização germânica da região, etc. Até a Rússia foi sondada, graças ao Bolshoi. Vale lembrar que a Rússia joga em Curitiba, aqui pertinho, mas mesmo assim escolheu o interior de São Paulo. Os alemães, por exemplo, montaram uma enorme estrutura no interior da Bahia.
Alguns imaginavam, como último suspiro, que a cidade estaria cheia de turistas atraídos pela Copa do Mundo. Infelizmente Joinville não é uma cidade turística, ainda mais se for para "gringo" ver. Para piorar, o Aeroporto que poderia receber os voos excedentes de Curitiba, não teve registros de receber voos extras criados pela demanda da Copa. Restou à cidade de Joinville assistir os jogos pela TV.
Está claro que, desde o começo, não houve um planejamento sério para a atração de alguma seleção, ou até mesmo uma maior inserção da cidade neste evento de proporções mundiais que é a Copa do Mundo. Desde a "invenção" de que a Arena Joinville poderia receber jogos (para esconder os problemas estruturais de seu nascimento) até as negociações políticas para hospedar alguma seleção, nada de sério aconteceu. Apenas uma viagem no "oba-oba" que a Copa provoca, dando margem à interpretações de que "há trabalho", ou algo do gênero.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Enfim, o bolsa-mortadela
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A palavra bolsa entrou de forma definitiva para o léxico
comum dos brasileiros. Aliás, foram os opositores do Bolsa Família a dar um
enorme impulso para a coisa, ao chamarem o programa do governo de bolsa-esmola
(programa que, vale dizer, na hora das eleições a oposição começa a amar de paixão). A coisa foi tão séria que até o velho ditado ficou desatualizado: “jacaré que dorme de touca vira bolsa”.
Não serve mais. No patropi hoje tudo vira bolsa.
O pessoal foi com tanta sede ao pote que escorregou na maionese. E saiu aí pelas redes sociais inventar coisas como bolsa-prostituta,
bolsa-bandido ou bolsa-crack. É estranho ver pessoas adultas e aparentemente
"instruídas" a levarem esse tipo de patacoada a sério. Parafraseando La Boétie, é o
discurso da boçalidade voluntária. E não adianta tentar repor a verdade com fatos. A lógica é simploriazinha: não venha com a verdade, porque
eu não acredito.
Bolsa para cá, bolsa para lá: este é o Brasil da política
nos últimos tempos. Mas de tanto insistir no tema, agora esse pessoal abriu a guarda e permite uma ironia. Eis que me sinto autorizado a introduzir o termo “bolsa-mortadela” na semântica das eleições.
Atenção, não vamos matar o mensageiro, porque não estou a inventar (não adianta a
escrever comentários mal-educados). A coisa saiu no insuspeito "Estadão".
Leio, no jornalão, um interessante título sobre a
convenção que confirmou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da
República: “Ato reúne 5 mil pessoas, entre filiados e militância paga”. Informa
ainda o texto que participantes – alguns sem título de eleitor – admitiram
receber 25 reais pela presença. Uma coordenadora desmentiu e disse que eles
teriam direito apenas ao “lanche”. É pura ousadia política. Ainda nem ganharam as eleições e já estão a inovar: o primeiro ato foi criar essa bolsa-mortadela. Isso promete.
Sei que é difícil agradar a todos. Mas mesmo sendo fã
confesso e incondicional da mortadela (a que chamo carinhosamente
“mortandela”), eu esperava algo mais arrojado. Parece que o budget não anda
muito alto (25 real é mal – pus no singular para rimar), mas mortadela é coisa
de pobre. Parece coisa do PT. O pessoal devia seguir aquele antigo conselho
político: “chega de realidade, façam promessas”. Ou seja, chega de mortadela,
eu quero é caviar.
P.S.: Por falar em sanduíche, não adianta escrever a xingar. Hoje não tem pão para maluco. Nem mortadela.
P.S.: Por falar em sanduíche, não adianta escrever a xingar. Hoje não tem pão para maluco. Nem mortadela.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Pós-copa
POR FELIPE SILVEIRA
Já é hora de pensar o pós-copa. Para quem interpretou literalmente o #NãoVaiTerCopa (dizem que teve estrangeiro que deixou de vir por causa disso), para quem achou que haveria um caos nos aeroportos, para quem achou que os estádios não ficariam prontos, para quem falou que o Brasil passaria “vergonha internacional”, bom, a dita cuja está aí. Sai de cena o “imagina na copa” para a entrada da pergunta: e agora, passada a copa, o que vamos fazer?
Não sou daqueles que acham que o resultado da copa vai influenciar as eleições, embora não descarte a possibilidade, e muito menos estou falando de eleições aqui. A questão que importa – e aí respinga nas eleições – é o que aprendemos com a batalha encerrada ao apito final do evento.
Já escrevi por aqui que a copa expôs as contradições do capitalismo ao povo brasileiro, mesmo que não se tenha plena consciência disso. Ao mesmo tempo que foi agente, a copa foi uma espécie de bode expiatório. Toda revolta – do black bloc ao coxinha (sem comparar) – tinha a copa como alvo bem claro. Passado o evento, é preciso ajustar a mira.
Olavetes, azedevetes e constantinetes continuarão a apontar para Dilma, que por sua vez poderá se defender com os resultados de uma copa até então espetacular, que é o que boa parte dos fãs do esporte mais popular do planeta estão achando.
A esquerda, por sua vez, tem um desafio, que é mostrar as consequências e continuidades do evento a partir daquilo que ele foi e tem sido: a subserviência ao sistema capitalista.
Tem, também, que pensar no novo. Um novo projeto, uma nova alternativa. Popular, comunitária, com promoção da igualdade e dos direitos humanos. Isso é o básico, o óbvio. O encerramento deste ciclo da copa parece um bom momento para reforçar.
Obs.: Não digo nem acho que se deve esperar a copa acabar para dar continuidade às lutas. Tem bastante gente dizendo isso, por isso ressalto que não disse.
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