POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje vou fazer a minha homenagem a
um pessoal injustiçado: a esquerda festiva (que
alguns tolinhos chamam “caviar”). Aliás, quem acompanha o blog já viu que muitos leitores me acusam de ser dessa tal esquerda. Não sei se a intenção é
chatear, mas não chateia. É um elogio, porque esse é o meu time.
- As pessoas têm que ter um lado. Eu tenho.
Ora, o meu lugar foi e sempre será
onde está o pensamento humanista, que, não tenho dúvidas, só pode ser de esquerda. Mas, claro, não abro mão de um
clima de festa. Porque a festa é uma espécie de “espanta-reaças”, essa gente muito triste e amargurada. Aliás, há uma lição que aprendi desde que li Marx, o Groucho.
- Eu bebo para que as pessoas
fiquem interessantes.
Só há uma diferença. É que antes,
nos tempos mais inflamados, eu bebia cerveja e hoje prefiro vinhos de
qualidade. Sinal dos tempos. Ah... e eu sou daqueles socialistas que querem
socializar a riqueza, ao contrário dos caras que andam por aí a socializar a
pobreza. Os reaças me mandam para Cuba, mas eu vou mesmo é para a Noruega. Caviar... e champanhe.
- Desce um Moët & Chandon, companheiro.
Quem é da minha geração sabe
disso. A gente só podia ser da esquerda festiva. É que escapamos ao período
mais duro dos anos de chumbo. Eu só me vi com idade para a política ativa quando a
ditadura já estava a se esboroar. Então, com a milicada a deixar o poder e
a abertura a chegar, tínhamos motivos de sobra para comemorar.
- Tem gente que ficou triste e ainda hoje está em luto pelo fim da ditadura.
Outra coisa. Cá entre nós, sempre
achei meio chata a ideia de revolução armada. Não gosto de armas. Nunca dei um
tiro na vida. E não sou chegado em violência. É por isso que prefiro fazer
revoluções na mesa de bar (aqui em sentido figurado). Até porque a revolução
das pessoas e das ideias também é essencial. E não há ambiente mais
revolucionário do que uma mesa de bar, no sentido do que pretenderia Habermas.
- Ébrios do mundo, uni-vos!
Ah... e há injustiças que o mundo
precisa corrigir. A maioria das pessoas parece não reconhecer, mas ser de
esquerda é para lá de difícil. Vamos analisar: como é que um cara acaba
aderindo ao ideário da esquerda? Ora, é preciso ler muito. Ler, ler, ler. E olhe
que esses autores de esquerda escrevem feito loucos, com teorias cada vez mais
complexas. O leitor precisa de resistência de maratonista.
- E você, caro reaça, quantos livros a sério já leu na vida?
Outra coisa chata é o estereótipo
(que vem dos anos 60). Todo mundo vê os homens de esquerda como uns caras
barbudos que não tomam banho, usam sacolas a tiracolo e boinas estranhas. E as
mulheres são umas desgrenhadas, que não cuidam da aparência e não raspam os
sovacos. Mas, no que me diz respeito, o fato é que as mulheres de esquerda são
muito interessantes. Porque elas também se cuidam e, principalmente, têm o que dizer.
- E bom ter o que falar depois do sexo, nenão?
- E bom ter o que falar depois do sexo, nenão?
Outro troço engraçado é ser chamado de radical. Não me importo. Mas a palavra foi deturpada pela direita. Ser radical é ir à raiz dos problemas (o que é bom), mas alguém fez acreditar que os radicais são um monte de gente de turbante pronta a explodir tudo. Até houve um tempo em que éramos “xiitas”. O leitor lembra? Aliás, já perdi o bonde: hoje em dia os xiitas são bons ou maus? Antes, quando Saddam Hussein era amigo, os xiitas eram bandidões ferozes. Mas depois da queda e do cadafalso para o ditador, eles voltaram a ser pessoas simpáticas? Os maus são os sunitas? Ah... a história.
- Talibã bom é talibã morto?
E por fim, faz três anos que somos perseguidos pelos anônimos aqui do blog. Os coitados não sabem fazer um zero com o fundo de uma garrafa, mas estão sempre prontinhos para iniciar o xingamento? Com tanta pressão, preconceito e perseguição, eu fico estressado e bem que mereço uma festinha para compensar.
- Um brinde a la revolución... tchim tchim.
- Um brinde a la revolución... tchim tchim.