POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A palavra bolsa entrou de forma definitiva para o léxico
comum dos brasileiros. Aliás, foram os opositores do Bolsa Família a dar um
enorme impulso para a coisa, ao chamarem o programa do governo de bolsa-esmola
(programa que, vale dizer, na hora das eleições a oposição começa a amar de paixão). A coisa foi tão séria que até o velho ditado ficou desatualizado: “jacaré que dorme de touca vira bolsa”.
Não serve mais. No patropi hoje tudo vira bolsa.
O pessoal foi com tanta sede ao pote que escorregou na maionese. E saiu aí pelas redes sociais inventar coisas como bolsa-prostituta,
bolsa-bandido ou bolsa-crack. É estranho ver pessoas adultas e aparentemente
"instruídas" a levarem esse tipo de patacoada a sério. Parafraseando La Boétie, é o
discurso da boçalidade voluntária. E não adianta tentar repor a verdade com fatos. A lógica é simploriazinha: não venha com a verdade, porque
eu não acredito.
Bolsa para cá, bolsa para lá: este é o Brasil da política
nos últimos tempos. Mas de tanto insistir no tema, agora esse pessoal abriu a guarda e permite uma ironia. Eis que me sinto autorizado a introduzir o termo “bolsa-mortadela” na semântica das eleições.
Atenção, não vamos matar o mensageiro, porque não estou a inventar (não adianta a
escrever comentários mal-educados). A coisa saiu no insuspeito "Estadão".
Leio, no jornalão, um interessante título sobre a
convenção que confirmou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da
República: “Ato reúne 5 mil pessoas, entre filiados e militância paga”. Informa
ainda o texto que participantes – alguns sem título de eleitor – admitiram
receber 25 reais pela presença. Uma coordenadora desmentiu e disse que eles
teriam direito apenas ao “lanche”. É pura ousadia política. Ainda nem ganharam as eleições e já estão a inovar: o primeiro ato foi criar essa bolsa-mortadela. Isso promete.
Sei que é difícil agradar a todos. Mas mesmo sendo fã
confesso e incondicional da mortadela (a que chamo carinhosamente
“mortandela”), eu esperava algo mais arrojado. Parece que o budget não anda
muito alto (25 real é mal – pus no singular para rimar), mas mortadela é coisa
de pobre. Parece coisa do PT. O pessoal devia seguir aquele antigo conselho
político: “chega de realidade, façam promessas”. Ou seja, chega de mortadela,
eu quero é caviar.
P.S.: Por falar em sanduíche, não adianta escrever a xingar. Hoje não tem pão para maluco. Nem mortadela.
P.S.: Por falar em sanduíche, não adianta escrever a xingar. Hoje não tem pão para maluco. Nem mortadela.