sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Quebrou barreiras








POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Quando o Blog Chuva Ácida foi criado, não imaginava que ele teria um poder tão grande para quebrar barreiras. Até 2011, poucos se aventuravam em debater ou emitir informações pela internet. As mídias tradicionais ainda dominavam a veiculação das notícias, dos debates e, principalmente, das opiniões.

O que nosso blog fez, a meu ver, foi uma democratização da opinião, fugindo da imprensa marrom ou das tradicionais bocas alugadas que ainda persistem e ocupam poderosos espaços no rádio, na TV e no jornal. Ouso dizer que ditou um novo modelo, tanto é que o investimento em internet aumentou por aqueles que viram (no Chuva Ácida) uma ameaça.


Assim, em 5 anos, muito foi discutido por aqui, e pouco passou pela tangente. Nossos blogueiros cumpriram um papel fundamental de denúncia, desconstrução ou relativização daquilo que é visível às margens do Rio Cachoeira.

Qual canalha você vai ajudar a eleger?

POR FELIPE SILVEIRA

Faltam apenas duas semanas para a eleição municipal e parece que a campanha mal começou para uma boa parte da população. Parte disso é culpa da contrarreforma promovida por Eduardo Cunha, que reduziu muito a discussão política. Mas também é culpa da TV, que demoniza a política, e nossa, que aceitamos essa demonização. Isso apenas beneficia aqueles que se valem da não-política para ganhar votos. Aqueles que se valem de demagogia são os maiores beneficiados da falta de discussão, como pastores verborrágicos e apresentadores de rádio e TV que se valem da fama.

Nos Estados Unidos, curiosamente, a campanha eleitoral começa muito antes da eleição, como todos nós pudemos acompanhar nas convenções Democrata e Republicana. Nelas, os pré-candidatos debateram, confrontaram ideias e escolheram os melhores entre os seus. Ops. Quer dizer, escolheram um dos seus, porque não há dúvidas que Trump representa o que há de mais podre na sociedade. Mas a discussão foi feita.

Aqui demonizamos esta discussão e ajudamos a eleger canalhas que desviam dinheiro que seria da compra de ambulâncias, empresários que mal conseguem falar em debates e governam para associações empresariais, gente que defende a violência e a ditadura, vereadores que compram votos, que se valem de concessões públicas comunitárias para ganhar dinheiro e poder e até, pasmem, deputados que já foram condenados à prisão pelo STF, mas que não estão em regime fechado porque o crime havia preescrito.

O que me surpreende é que pessoas, mesmo aqueles que geralmente são bem informadas sobre vários assuntos, desconhecem a regra eleitoral. As pessoas não sabem que seus votos vão para a soma total da coligação, elegendo os primeiros colocados. Assim, elas votam naquele amigão que só vai fazer 300 votos, mas que no fim ajudam a eleger o político canalha que já está há sete mandatos roubando ou desperdiçando dinheiro público.

O problema é que esse esquema todo afasta a população da política, que até vota em pessoas diferentes visando a renovação, mas, por não saber como funciona o processo, acaba reproduzindo o mesmo de sempre.

Porém, não existe alternativa que não seja política. Ou nos envolvemos e disputamos o rumo da sociedade ou deixamos na mão de quem só vai nos levar para o abismo. Por isso, não adianta ficar quatro anos batendo boca no facebook para chegar na hora da eleição e simplemente se esconder. Chegou a hora de decidir. Escolha um bom candidato, veja quem ele vai ajudar a eleger e vá para a rua convencer alguém.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"Que blog legal!"








POR FILIPE FERRARI


“Porra, que blog legal”. Eu, um curitibano perdido em terras joinvilenses achava isso do Chuva, pois oferecia uma visão diferenciada da grande mídia.

“Olha, quem será que escreve? Ah, esse eu conheço, esse não. Poxa, os caras são bons. Esse viajou. Ah meu Deus, o que será que o Tebaldi vai fazer? Cara, estão malhando o prefeito. Eu acho que esses caras curtem o PT. Pô, pegaram pesado com o Carlito. Ah, mas precisava. E essa zueira com o Udo?”

O Chuva Ácida sempre me pareceu literalmente um oásis, com informações e análises sobre uma Joinville que me acolheu. Vi amigos que escreveram e ainda escrevem, concordei, discordei, mas, de uma forma ou outra, me via participante (e nunca comentei como anônimo!).

Hoje, percebo que a seletividade para escritores não é o forte da casa, até porque eu estou aqui, rá! Pra mim, é um excelente exercício de escrita, de exposição de ideias, de estar jogado aos leões. Faz pouco tempo que escrevo, mas cada vez que me ponho a pensar, é um desafio. Nos relatos de outros colegas aqui do blog, vi que minhas dificuldades e impressões sobre esse exercício da escrita não são exclusividades.

É com prazer que quinzenalmente eu posto algo neste espaço. Como disse o caríssimo Felipe Silveira: “que venham mais cinco”!

E Lula foi, enfim, denunciado


POR CLÓVIS GRUNER

Um dos melhores comentários sobre a entrevista coletiva de ontem (14), em que o Ministério Público apresentou o teor das denúncias contra o ex-presidente Lula, e mais especificamente sobre o desempenho do procurador da República Deltan Dallagnol, veio do Facebook: “o cara anunciou os Rolling Stones e apresentou um Engenheiros do Hawaii”. Entre um discurso repleto de palavras e frases de efeito, em que se destaca o neologismo “propinocracia”, o procurador afirmou, aparentemente sem deixar margem para dúvidas, que Lula é o “comandante supremo”, “fundador” e “maestro” de uma “governabilidade corrompida”. 

O discurso de Dallagnol é, evidentemente, político, e seja na entrevista ou na denúncia apresentada pelo MPF, aquelas afirmações simplesmente não se sustentam – em linhas gerais, as 149  páginas da denúncia reiteram o que foi dito aos jornalistas durante a coletiva. De mais objetivo, há evidências para comprometer Lula como beneficiário das reformas no já famoso apartamento tríplex do Guarujá o que, do ponto de vista tanto jurídico como ético, deveria ser suficiente para os procuradores.

Obviamente não é o caso, e na ausência de provas abundam convicções. Não faltarão aqueles dispostos a acreditar nelas, convictos igualmente de que elas bastam para atestar a culpa de Lula. Mas não me parece tão simples. Primeiro porque, como resumiu o professor Pablo Ortellado, “não é verossímil que um esquema de corrupção da magnitude daquele apontado pela Lava Jato tenha como mentor e líder alguém cujo benefício sejam reformas num sítio e num apartamento. Não faz sentido roubar o equivalente ao PIB do Uruguai e a cota do chefe ser uns pedalinhos para os netos”. 

A essas alturas já é óbvio para muitos que os roubos bilionários na Petrobras são absurdamente escandalosos. Mas se o MPF pretende realmente implicar Lula como o principal beneficiário do esquema criminoso, deve ser capaz de apresentar mais que ilações ou, para voltar ao termo que desde ontem viralizou, “convicções”. Ele necessita de provas. Se não as possui, precisa se contentar em dar às coisas o tamanho que elas tem, para que se puna os responsáveis de forma coerente. A performance dos procuradores não oferece isso, e mesmo se fosse o caso de defende-la alegando tratar-se, os exageros, de “peça retórica”, a assimetria entre o discurso retórico e a peça jurídica é simplesmente gritante. 

Assimetria observada pelo insuspeito Reinaldo Azevedo, que há anos torce e se esforça para ver Lula na cadeia. Na sua coluna de ontem, o blogueiro da Veja reclamava que “a denúncia de Dallagnol serve para inflamar a opinião pública, mas constrange, na mesma medida, os meios jurídicos”. E o que provavelmente perturbará as noites de sono do colunista não é apenas a perspectiva de, ante uma peça tão frágil, Lula permanecer solto ou cumprir uma pena leve caso condenado pelo recebimento dos “mimos” da OAS. É que, em meio a uma verdadeira guerra de narrativas em curso no país, a denúncia contra Lula pode servir para reforçar, entre seus defensores, a tese de que o único objetivo da Lava Jato, a razão primeira de sua existência, é a criminalização e a destruição do PT e, consequentemente, das chances eleitorais de Lula em 2018. 

O espetáculo não pode parar – A depender da leitura que se faça dos eventos de ontem, as evidências disso podem ser ainda mais claras do que aquelas que ligam Lula ao tríplex do Guarujá. Até agora nada foi feito, por exemplo, em relação às gravações telefônicas entre Romero Jucá e Sérgio Machado, vazadas em maio. Corroboram a versão de que o impeachment foi orquestrado para prejudicar a Lava Jato a demissão, por telefone, do Advogado Geral da União, Fábio Medina Osório, que acusou o governo Temer de tentar obstruir as investigações que envolvam aliados. Sobre ambos os eventos reina um incômodo silêncio do Ministério Público, que sequer se pronunciou a respeito, o que poderia e deveria ter feito. 

Igualmente, provoca desconforto que a denúncia contra Lula use e abuse das delações premiadas como evidência de culpa, ignorando que essas mesmas delações implicam figuras graúdas do atual governo e de sua base aliada, que seguem sem serem perturbadas. A mesma tranquilidade de que parece gozar Michel Temer à medida que as possibilidades da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE se apresentam cada vez mais distantes. No governo, avalia-se que a denúncia contra Lula pode ter impacto, além de eleitoral, também nas ruas, fazendo recuar as manifestações pelo “Fora Temer”. Mas isso pode ser um engano.

Poucos negarão que a postura do MP, sua obsessão em transformar Lula em um capo, independente do que as provas – ou a ausência delas – dizem ou permitem dizer, reafirma a imagem de um líder criminoso que tem sido fartamente utilizada pelo anti-petismo. Mas ela igualmente dá ao PT e seus defensores um mártir. Lula sobreviveu ao Mensalão em parte recorrendo a sua habilidade em acionar afetos mais que a razão, a adesão imediata e entusiasmada, porque afetiva principalmente. Não tenho dúvidas que ele fará o mesmo, e a defesa apaixonada de sua imagem desde ontem, principalmente nas redes sociais, aponta justamente para isso. Vítimas ele e o PT, ambos se eximem, novamente, de reconhecer seus erros e assumir suas respectivas cotas de responsabilidade pela crise política. 

Líder supremo da “República de Curitiba”, Sérgio Moro é também um estudioso e profundo conhecer da Mãos Limpas, sobre a qual escreveu e publicou um artigo em 2004, “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”. Ler o acadêmico Moro é reconhecer, em cada linha, os passos e estratégias do juiz Moro, porque parte de sua conduta à frente da Lava Jato reproduz, ou tenta, as estratégias adotadas pelos magistrados italianos, entre elas o uso das delações premiadas e a crença de que a “opinião pública”, na impossibilidade de prevalecer a lei, poderia lhe servir como um substituto, ainda que simbólico.

Mas as virtudes da Mãos Limpas contribuíram também para sua fragilização. Acusada, entre outras coisas, de produzir um espetáculo midiático de resultados efetivos aquém do esperado, ela sucumbiu em parte porque perdeu o apoio da sociedade italiana, inicialmente uma entusiasta da operação. Muito próximos a Moro, com quem trabalham em um regime de franca e aberta cooperação, os procuradores da República precisam lembrar disso sempre que pretenderem protagonizar espetáculos midiáticos de consistência e resultados jurídicos duvidosos. Sob o risco de verem a Lava Jato reduzida a uma operação com potencial para inflamar ainda mais o país, mas desacreditada em sua capacidade de, efetivamente, desafiar a corrupção e seus agentes. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Uma casa de loucos













 POR JORDI CASTAN
O Chuva Ácida por dentro é o mais parecido que eu conheço com uma casa de loucos. Loucos divertidos, mas loucos. Loucos de amarrar. E não estou a falar só dos meus companheiros de blog, aos que a Gabriela me ensinou a chamar carinhosamente de “molhados”, porque quem está na chuva é para se molhar. Os loucos mais loucos são os anônimos. É verdade que sem eles o blog não teria tanta graça. É verdade que são parte indissociável desta empreitada divertida que muitas vezes duvidei que chegasse a este ponto. Juntar gentes tão diversas, com pontos de vista e opiniões muitas vezes antagônicas, só é possível desde o respeito e a tolerância, algo que não é muito comum e faz cada dia mais falta.

Escrever semanalmente é o meu compromisso com o Chuva Ácida e com os leitores. Aliás, o Google me informou que dobrei o número de leitores passando de dois para quatro. E só isso justifica o tempo que dedicamos todos nos a fazer deste blog um espaço de liberdade e diversidade, o jardim do Éden do contraditório, uma oficina de democracia.

Escrever quer dizer se expor, tirar a roupa. Ser lido representa desvestir-se diante de desconhecidos e encontrar nos lugares menos esperados alguém que diz: leio seus textos no Chuva Ácida e no jornal. Quando o leitor ainda acrescenta: você diz o que eu gostaria de dizer, mas não sei escrever como você. Aí estou obrigado a lembrar que eu tampouco sei escrever, mas quando temos algo a dizer as palavras surgem.

Os cinco anos de Chuva Ácida representam muito mais que os mais de 250 postagens que tenho compartilhado com vocês cada semana. Cinco anos de Chuva Ácida são um processo constante de aprendizado e por isso lhes estou muito agradecido.

Acordo pra boi dormir













POR RAQUEL MIGLIORINI

A Conferência do Clima – COP21 – em Paris colocou como principal objetivo a garantia de que, ao menos 55 dos 197 países participantes, trabalhem para que o aquecimento da Terra não ultrapasse 2°C até 2100. Cada país se comprometeu a elaborar uma Lei Federal, transformando em obrigação o acordo firmado em Paris. Esse processo, chamado de ratificação, foi assinado pelo Sr. Michel Fora Temer nesta segunda, dia 12 de setembro.

Na prática, quer dizer que o país se comprometeu a cortar quase 45% de emissão dos gases poluentes liberados na atmosfera, em comparação com 2005. O primeiro, e mais importante passo, seria o reflorestamento de grandes áreas desmatadas e cessar o desmatamento de florestas brasileiras. O segundo seria o investimento financeiro pesado em países em desenvolvimento para ajudá-los a gerar crescimento econômico e social sem devastação de suas reservas naturais.

Pois bem. Durante a cerimônia de ratificação, o senhor Temer disse que “preservação do meio ambiente é política de Estado e deve estar presente no programa de todos os governos”. E ainda que “o nosso governo está preocupado com o futuro e tudo o que fazemos, hoje, não visa ao dia de amanhã, mas visa a um futuro que preserve as condições de vida dos brasileiros no meio ambiente e em todos os demais setores, mesmo aqueles referentes a economia nacional”.

Toda essa fala é muito bonita. Mas demagógica. Não fosse o ministro da Agricultura escolhido pelo vice-presidente o senhor Blairo Maggi, mais conhecido como “Rei da Soja”, responsável pelo desmatamento da Floresta Amazônica em proporções nunca vistas. Outro ministro, o Sarney Filho, disse estar convicto ser possível aliar crescimento econômico e preservação ambiental. Já para José Serra, o país deve fortalecer os investimentos no setor energético, florestal e agropecuário.

Fica fácil perceber que o vice e os três ministros não conversaram antes dos pronunciamentos porque o que cada um espera é incompatível em conjunto. Eles esperam um milagre, assim como os governantes anteriores? Aonde estão os estudos e as propostas para que ocorra o crescimento econômico com preservação ambiental?

Para termos uma pequena amostra do quanto os governos se preocupam com isso, basta uma rápida espiadela nos planos de governo dos candidatos a prefeitos nas médias e grandes cidades. As soluções apresentadas para o meio ambiente são arcaicas e sabemos que a maioria nunca sairá do papel.

Aqui em Joinville não é diferente: dos cinco planos que li, nenhum traz novidades. Tratam com pouca relevância as invasões e desmatamentos em áreas de proteção ambiental e usam como solução ambiental a ampliação da ETA Cubatão, para aumentar o consumo, sem falar da manutenção de matas ciliares e da diminuição de impermeabilização das áreas urbanas.

O meio ambiente pode ser aliado ao desenvolvimento sustentável desde que haja seriedade e estudos antes de construções e emissão de alvarás; uso de tecnologia de ponta e novas formas de pensar antigos problemas antes de implantações de fábricas poluentes. Estou chovendo no molhado? Talvez sim. Mas é inadmissível que a pauta de meio ambiente seja colocada como menos importante que Saúde, Educação e Segurança.

Se os governos, Federal e Municipal, estivessem realmente preocupados com o futuro, teríamos as melhores cabeças nas secretarias de Meio Ambiente e planos de gestão que nos encheriam de esperança. E não teríamos que prometer nada de dedos cruzados em Paris.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Vamos ser justos.


Independência, a palavra-chave









POR CLÓVIS GRUNER

Entre as décadas de 1960 e 80, quatro jornais circularam em Joinville: o já tradicional “A Notícia”, o “Jornal de Joinville” (parte dos “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand, o famoso Chatô), o “Extra” e a “Folha Catarinense”. Três deles – “A Notícia”, “Extra” e “Folha Catarinense” – simultaneamente, entre fins dos anos de 1970 e início da década seguinte. Uma quantidade significativa para uma cidade que mal ultrapassara os 200 mil habitantes.

Curiosamente, ao crescimento da cidade nos anos subsequentes correspondeu não um aumento, mas o encolhimento do número de periódicos, e houve mesmo um período em que apenas “A Notícia” ostentava o título de “jornal 100% joinvilense”, antes de ser vendida ao grupo RBS e virar praticamente uma sucursal do Diário Catarinense. Aliás, esse é um dado interessante: mesmo que nos últimos anos outros títulos tenham aparecido, essa nova pluralidade comporta alguns problemas. 

O principal deles é justamente o caráter corporativo dessas novas publicações. Por serem braços impressos de grandes grupos de comunicação, tanto o repaginado “A Notícia” como seu mais recente concorrente, o “Notícias do Dia”, carecem de uma autonomia editorial, acredito, fundamental a um jornalismo que tenha por objetivo, além da informação, ser um instrumento que auxilie na formação de opinião do seu público leitor.

Há cinco anos o “Chuva Ácida” vem suprindo parte dessa lacuna, ciente de que “uma cidade moderna só pode ser considerada moderna se tiver uma mídia moderna. E a modernidade consiste na liberdade de opinião, na diversidade de ideias e no espaço para o contraditório.” Já são mais de 2.500 postagens e 1 milhão de visualizações e, acredito, esse objetivo permanece sendo o norte que orienta o blog: fazer da informação e da opinião uma ferramenta para a construção de uma cidade mais moderna, aberta e plural.

Nesses cinco anos o elenco de autores mudou, inúmeros convidados passaram pelo Chuva, que acompanhou e repercutiu eventos importantes para a cidade, tenham eles acontecidos ou não em Joinville. O que permanece é a vontade de independência, a autonomia e a convicção de que é preciso conectar Joinville ao mundo e o mundo a Joinville. Sigamos molhados por outros cinco anos. 

Udo versus Carlito: o que se passou com o PA do Vila Nova?



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O assunto parecia esquecido. Mas o ex-prefeito Carlito Merss, outra vez candidato à Prefeitura, abriu o baú das lembranças e reintroduziu o tema do PA do Vila Nova na agenda política. Num dos seus programas eleitorais, o petista diz que o terreno estava comprado e havia recursos do Governo Federal para iniciar a construção dessa unidade de saúde. Mas tudo mudou.

Carlito Merss aponta o dedo ao prefeito Udo Dohler, que interrompeu a execução do projeto e “devolveu o dinheiro” para o Ministério da Saúde. Em seu entender, a obra é necessária porque, entre outras coisas, o PA do Vila Nova permitiria diminuir a pressão sobre o hospital São José, que mostra sinais inequívocos de insuficiência. Diz  Carlito Merss:

“A verdade é que a atual administração disse que esse PA não era necessário. Ela simplesmente abriu mão e devolveu o dinheiro. Eles acharam que não era necessário e devolveram o dinheiro para Brasília. Todo mundo sabe que o São José vive superlotado. Não existe solução mágica, mas tem ações que vão diminuir esse problema. A construção do PA lá no Vila Nova atenderia a região de desafogaria um pouco o nosso São José”.

Pouco tempo depois, Udo Dohler divulgou uma nota nas redes sociais a esclarecer a opção pela não construção do PA do Vila Nova. Eis a explicação do atual prefeito:

- O Ministério da Saúde indica um PA a cada 200 mil habitantes;
- O Ministério da Saúde hoje subsidia apenas o PA Leste no município;
- Hoje Joinville possui três PAs, sendo que dois deles são custeados 100% pelo município;
- A obra orçada pelo governo Carlito havia previsto apenas os custos para a parte inicial da obra, desconsiderando os custos da totalidade da obra e sua manutenção;
- No local está em fase de finalização um novo projeto do Posto de Saúde Vila Nova II, que será o quinto da região.

A nota faz um esclarecimento formal. No entanto, não disfarça o fato de ser uma decisão economicista. É um terreno movediço para Udo Dohler. Afinal, as pessoas não olham para a própria saúde como quem está a olhar para números numa folha de Excel. No extremo, imaginem o prefeito numa fila a explicar aos doentes: “olha, eu não fiz a obra do Vila Nova porque os caras lá em Brasília dizem que um PA para cada 200 mil habitantes é suficiente”. Será que colava?

A explicação não cola para Antonia Grigol, secretária de Saúde na gestão de Carlitos Merss. Segundo ela, na época de análise do projeto a estimativa da população em Joinville para 2016 era de mais de 560 mil habitantes (o que se confirmou). E o dinheiro? “A primeira parcela foi depositada em 2012 com a finalidade de ajustes do terreno e projetos. À medida que o projeto fosse sendo concluído o MS ia liberando o dinheiro”, diz Antonia Grigol.

A decisão de Udo Dohler pode até ser entendida do ponto de vista da gestão de caixa da Prefeitura. Mas há custos políticos a contabilizar: nenhum prefeito é eleito para não fazer. Os eleitores têm dificuldade em conviver com expressões como “parar as obras” ou “devolver dinheiro”. A propósito, são notórios os comentários nas redes sociais sobre a imagem de “mãos limpas” usada na campanha. Muita gente diz que Udo Dohler é o prefeito que “não rouba, mas não faz”.

O que o eleitor espera de um eleito? Ora, a função de um prefeito é fazer acontecer. E correr atrás de recursos. Tentar, tentar, tentar. É uma fragilidade evidenciada no comunicado de Udo Dohler, porque passa a ideia de que desistiu mesmo antes de tentar fazer. Os eleitores olham os desistentes com desconfiança. E não podemos esquecer o timing. Falar na “finalização um novo projeto do posto de saúde” em tempos de eleições pode soar a banha da cobra.

Eis a questão política. O que o eleitor acha melhor: mãos limpas ou mãos à obra? 


É a dança da chuva.




segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Venham mais cinco








POR FELIPE SILVEIRA

Já imaginei, planejei e executei algumas dezenas de projetos nesta curta existência de 31 anos. Quase todos morreram na casca, outros tiveram curtíssima duração e alguns ainda estão em fase de planejamento. Dentre todos esses que falharam ou nem nasceram há uma exceção que muito me orgulha: o Chuva Ácida completa, em setembro, cinco anos.

Ok, cinco anos ainda é idade tenra, concordo. Mas para um blog coletivo, voluntário, que há cinco anos publica um texto novo diariamente (com raríssimas falhas, e eu assumo a culpa por 85% delas), é coisarada. É texto pra mais de metro. Pra mais de quilômetro.

São cinco anos propondo o debate, o pensamento crítico, o contraditório. Cinco anos fiscalizando o Executivo e a praticamente ignorada Câmara de Vereadores. Cinco anos valorizando os movimentos sociais e os direitos humanos. Divulgando as manifestações de rua e as lutas coletivas (mesmo que muitas vezes solitárias) pelas causas que valem a pena. Apontando a violência policial, o preconceito e a safadeza daqueles que só querem lucrar com a cidade-negócio. Cinco anos propondo ideias para construir uma cidade e uma sociedade diferente.

Dá trabalho. No meu caso, foram muitas madrugadas olhando a tela em branco sem ieia do que escrever, mesmo que há poucas horas do horário combinado para a publicação. Aliás, eu levantei da cama e liguei o computador há pouco, pois havia esquecido de escrever este texto que você está lendo. Dá trabalho, mas a gente faz com prazer e fica feliz quando tem alguém por aí.

A experiência de escrever para o Chuva Ácida implicou algumas renúncias e riscos. A inimizade de alguns, a vigilância de outros e estupidez dos anônimos que se apaixonam. Porém, essa experiência trouxe inúmeras coisas boas. Amizades, reflexões, aprendizados, alguma disciplina (embora não seja o meu forte) e o contato com centenas de pessoas que interagem com o blog, que comentam, que entraram para a equipe e que compartilham conosco do projeto Chuva Ácida.

Se chegamos aos cinco anos, é por causa desse tanto de gente que não nos deixa na mão. O mérito é coletivo, embora carregue alguns sotaques lá da Península Ibérica. Que venham mais cinco, que venham muitos anos pela frente e muitas gentes para compartilhar desta experiência. Parabéns pra nós e vida longa ao Chuva Ácida.