Por Salvador Neto
A última trapalhada da gestão (?!) Udo
Döhler (PMDB) em Joinville (SC), com a divulgação de cortes de vagas para
médicos residentes que causaria ainda mais caos na combalida saúde pública da
maior cidade catarinense para economizar – dizem eles... vai saber... – R$ 1,3
milhão por ano me motivou a escrever este artigo.
Em várias palestras que
proferi não canso de responder à demonização dos gastos em publicidade do
governo. Deste e de outros que já passaram. Afinal, diante de previsão de
gastos em propaganda e publicidade da ordem de R$ 15 milhões em 2016, anunciar
corte ínfimo como esse só podia gerar desgaste, polemica e muita briga
política. Merecida, por sinal.
Assim como o tempo todo há um movimento
pensado, articulado e bem executado de negação da política, e assim da
demonização dos agentes políticos eleitos – “todo político é ladrão, safado”,
etc – que é péssimo para o fortalecimento da cidadania e da democracia, a
demonização dos “investimentos” em comunicação social também são nocivos à
sociedade.
Como sempre repete o filósofo, mestre e educador Mario Sergio
Cortella, um ponto de vista é a vista a partir de um ponto, o ponto de vista
colocado por esses interesses, via mídias de massa e alguns movimentos sociais,
tenta reduzir o interesse da população por essas áreas, e até gera nojo,
indiferença, descrença. Tudo para manter as coisas do mesmo jeito que hoje e
sempre.
Enquanto a política partidária serve para
debatermos ideias, projetos, horizontes para as cidades, estados e o país, e
logicamente produzir lideranças politicas para a população escolher pelo voto
popular para os mais diversos cargos, e tem leis para isso, a comunicação
social é fundamental para encurtar distancias entre os poderes executivo,
legislativo e judiciário visando “informar” a população sobre atos do governo,
campanhas educativas permanentes, transparência dos gastos e outros.
Portanto,
o setor de comunicação social em qualquer lugar é essencial. Sem comunicação não
somos nada, não sabemos nada, não avançamos para outros patamares. Agora, é
lógico que usar a comunicação social como “meio” apenas para propaganda, e
irrigar conglomerados de comunicação e mídia sem qualquer norte, é reprovável.
O povo reclama, e com razão no caso do
governo municipal, porque é incoerente a mensagem enviada (economia) com a
realidade percebida (corte na saúde), causando confusão, enquanto deveria comunicar
de fato. Comunicação Social é coisa séria por isso. Há que se ter preparo, experiência,
dominar técnicas de gestão, ter uma equipe preparada, planejamento, etc, etc,
etc.
E o fundamental para evitar um processo que acontece em todas as
secretarias de comunicação em todos os níveis de governo, a pressão por verbas
publicitárias por parte da mídia. Não é segredo para ninguém que a quase
totalidade das empresas de mídia sobrevivem de fato das verbas públicas. Não é
fácil aguentar os sinais velados de retaliações.
O remédio para isso? Criar um Marco Legal Municipal da Comunicação Social, ouvindo todos os atores envolvidos –
proprietários de grandes grupos de comunicação, rádios, tevês, portais,
blogueiros, jornais de bairros, e debater amplamente o tema.
Afinal, qual seria
realmente o tamanho do orçamento da comunicação social (publicidade,
propaganda, relações publicas, etc) para publicizar e realizar os eventos e ações
necessárias ao bom andamento das atividades do governo, em porcentagem? Quais
as regras para partilhar o bolo entre os atores, já que entre eles há gigantes,
médios, pequenos, nacionais, regionais, locais? Que documentação seria
necessária para receber os recursos? Quais os tipos de campanhas podem ser
feitas com dinheiro público, evitando assim anúncios sem qualquer utilidade
pública? Cito apenas estes, podem ser muitos outros.
Discutir o tema, debater a exaustão com a
sociedade, certamente produzirá um marco legal forte, transparente, depois
votado por vereadores e vereadoras, gerando credibilidade ao uso de dinheiro
público para publicidade. Porque isso não é feito se temos há quase 20 anos uma
faculdade de jornalismo, sindicatos, movimentos sociais, MP, e tantos outros?
Porque falta criatividade, vontade política e imaginação, talvez. Joinville
precisa sair do marasmo das discussões inúteis, e passar a outro patamar: o de
verdadeiramente ser uma cidade inovadora, moderna e sustentável.
Agora, tudo isso feito certamente não
salvaria um governo que se elege com propostas mirabolantes, imagem de gestor
testado, que resolveria a saúde em um toque de mágica, as ruas seriam todas
perfeitas, sem buracos (?!), remédio não faltaria jamais, enfim, um governo
como o de Udo Döhler (PMDB) que chega ao seu ano final sendo avaliado como o
pior prefeito da história da cidade.
Está ganhando do falecido Luiz Gomes, o
Lula, que é lembrado pelo povão como um governo ruim, e de Carlito Merss, guindado a essa
má fama mais por seus erros de comunicação e campanha difamatória do que pelo
trabalho feito. Comunicação Social é coisa séria, mas não faz milagres.
É assim nas teias do poder...