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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Comunicação Social é coisa séria e precisa marco legal para ser transparente












Por Salvador Neto

A última trapalhada da gestão (?!) Udo Döhler (PMDB) em Joinville (SC), com a divulgação de cortes de vagas para médicos residentes que causaria ainda mais caos na combalida saúde pública da maior cidade catarinense para economizar – dizem eles... vai saber... – R$ 1,3 milhão por ano me motivou a escrever este artigo.

Em várias palestras que proferi não canso de responder à demonização dos gastos em publicidade do governo. Deste e de outros que já passaram. Afinal, diante de previsão de gastos em propaganda e publicidade da ordem de R$ 15 milhões em 2016, anunciar corte ínfimo como esse só podia gerar desgaste, polemica e muita briga política. Merecida, por sinal.

Assim como o tempo todo há um movimento pensado, articulado e bem executado de negação da política, e assim da demonização dos agentes políticos eleitos – “todo político é ladrão, safado”, etc – que é péssimo para o fortalecimento da cidadania e da democracia, a demonização dos “investimentos” em comunicação social também são nocivos à sociedade.

Como sempre repete o filósofo, mestre e educador Mario Sergio Cortella, um ponto de vista é a vista a partir de um ponto, o ponto de vista colocado por esses interesses, via mídias de massa e alguns movimentos sociais, tenta reduzir o interesse da população por essas áreas, e até gera nojo, indiferença, descrença. Tudo para manter as coisas do mesmo jeito que hoje e sempre.

Enquanto a política partidária serve para debatermos ideias, projetos, horizontes para as cidades, estados e o país, e logicamente produzir lideranças politicas para a população escolher pelo voto popular para os mais diversos cargos, e tem leis para isso, a comunicação social é fundamental para encurtar distancias entre os poderes executivo, legislativo e judiciário visando “informar” a população sobre atos do governo, campanhas educativas permanentes, transparência dos gastos e outros.

Portanto, o setor de comunicação social em qualquer lugar é essencial. Sem comunicação não somos nada, não sabemos nada, não avançamos para outros patamares. Agora, é lógico que usar a comunicação social como “meio” apenas para propaganda, e irrigar conglomerados de comunicação e mídia sem qualquer norte, é reprovável.

O povo reclama, e com razão no caso do governo municipal, porque é incoerente a mensagem enviada (economia) com a realidade percebida (corte na saúde), causando confusão, enquanto deveria comunicar de fato. Comunicação Social é coisa séria por isso. Há que se ter preparo, experiência, dominar técnicas de gestão, ter uma equipe preparada, planejamento, etc, etc, etc.

E o fundamental para evitar um processo que acontece em todas as secretarias de comunicação em todos os níveis de governo, a pressão por verbas publicitárias por parte da mídia. Não é segredo para ninguém que a quase totalidade das empresas de mídia sobrevivem de fato das verbas públicas. Não é fácil aguentar os sinais velados de retaliações.

O remédio para isso? Criar um Marco Legal Municipal da Comunicação Social, ouvindo todos os atores envolvidos – proprietários de grandes grupos de comunicação, rádios, tevês, portais, blogueiros, jornais de bairros, e debater amplamente o tema.

Afinal, qual seria realmente o tamanho do orçamento da comunicação social (publicidade, propaganda, relações publicas, etc) para publicizar e realizar os eventos e ações necessárias ao bom andamento das atividades do governo, em porcentagem? Quais as regras para partilhar o bolo entre os atores, já que entre eles há gigantes, médios, pequenos, nacionais, regionais, locais? Que documentação seria necessária para receber os recursos? Quais os tipos de campanhas podem ser feitas com dinheiro público, evitando assim anúncios sem qualquer utilidade pública? Cito apenas estes, podem ser muitos outros.

Discutir o tema, debater a exaustão com a sociedade, certamente produzirá um marco legal forte, transparente, depois votado por vereadores e vereadoras, gerando credibilidade ao uso de dinheiro público para publicidade. Porque isso não é feito se temos há quase 20 anos uma faculdade de jornalismo, sindicatos, movimentos sociais, MP, e tantos outros? Porque falta criatividade, vontade política e imaginação, talvez. Joinville precisa sair do marasmo das discussões inúteis, e passar a outro patamar: o de verdadeiramente ser uma cidade inovadora, moderna e sustentável.

Agora, tudo isso feito certamente não salvaria um governo que se elege com propostas mirabolantes, imagem de gestor testado, que resolveria a saúde em um toque de mágica, as ruas seriam todas perfeitas, sem buracos (?!), remédio não faltaria jamais, enfim, um governo como o de Udo Döhler (PMDB) que chega ao seu ano final sendo avaliado como o pior prefeito da história da cidade.

Está ganhando do falecido Luiz Gomes, o Lula, que é lembrado pelo povão como um governo ruim, e de Carlito Merss, guindado a essa má fama mais por seus erros de comunicação e campanha difamatória do que pelo trabalho feito. Comunicação Social é coisa séria, mas não faz milagres.


É assim nas teias do poder...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A culpa é das estrelas?

POR SALVADOR NETO




Talvez você ria, talvez você chore, talvez você queira saber mais, estudar mais. Mas é possível também que atire meu texto na lixeira, imediatamente.  Ou, quem sabe, faça uma marca no jornalista para que seja rapidamente identificado como um "diferente". Veremos em breve. Comecemos por Goebbels. Não, este artigo não tem nada a ver com o livro de John Green, tampouco com o filme. Mas tem a ver com duas estrelas famosas, conhecidíssimas da nossa sociedade. 


Joseph Goebbels foi o ministro da propaganda de Hitler, o responsável pela criação do mito “Führer”. Cineasta, jornalista, literato e filósofo, possuía uma retórica única. Produzia filmes emocionantes divulgando o nazismo. Seus filmes estimulavam o preconceito étnico, a xenofobia, o patriotismo e o heroísmo e condenavam os judeus, alegando que eram culpados de acumular riquezas, explorando o povo. Junto a isso, o governo nazista decidiu que todos os judeus deveriam andar com a estrela de David em suas roupas, no peito ou no braço esquerdo.

A propaganda de Goebbels surtiu efeito. Milhares de alemães filiaram-se ao partido e contribuíram para o Holocausto de Hitler, torturando e matando seus próprios compatriotas, e entre eles cerca de seis milhões de judeus. A repetição da mentira várias vezes a torna verdade, dizia o propagandista preferido de muita gente até hoje, como políticos, líderes de partidos políticos, e até em muitos meios de comunicação. Afinal, a receita surtiu os efeitos desejados. Judeus foram marcados e podiam ser humilhados e agredidos em público. Seus bens eram confiscados, e ao final, foram escravizados e mortos em campos de concentração. Só não chegaram à solução final porque os aliados acordaram a tempo.

Processo de propaganda parecido, mas velado, tem se dado com o PT, partido político brasileiro nascido no meio do operariado no final da década de 1970 no ABC paulista. Antes identificado com lutas da esquerda e ao socialismo, foi tachado por várias vezes como sendo um criadouro de comunistas. Após conquistar o poder central a partir de 2003, sua estrela, marca que chegou até os jardins do Palácio da Alvorada, está lentamente sendo alinhada via investigações e noticiários à marca da corrupção, do banditismo, dos desvios de conduta que a sociedade contesta com os escândalos midiáticos do Mensalão e agora o chamado Petrolão. Não há aqui nenhum juízo de valor sobre se os fatos são realidade ou não. Há sim uma análise comunicacional.

Está em andamento um novo modelo de propaganda, com requintes do ideólogo nazista Goebbels. A ideia ao que parece é criminalizar a estrela petista, e por consequência quem a utilize ou faça parte deste grupo. A luta pelo poder tem resvalado no limite da insensatez, buscando pregar os sentidos da antiga estrela de David para os nazistas, à estrela petista do século 21. Não deixa de ser uma estratégia de comunicação visando o poder, mas que ao assumir proporções em alta escala levam ao perigo de voltarmos às atitudes violentas e antidemocráticas nas ruas. Vimos isso entre 1933 e 1945. Vimos isso nas eleições de 2014.

Para os incautos e não afeitos ao acompanhamento da grande e poderosa mídia tupiniquim, francamente aliada às forças conservadoras, ao capital internacional, e controlada por poucas famílias ligadas às forças políticas e empresariais, isso pode ser imperceptível. Sim, este movimento, esta mensagem, dirigida, pensada pacientemente, e executada parcimoniosamente. Mas é fato. Lembre: o nazismo levou 10 longos anos para se tornar forte e matar milhões na Segunda Guerra mundial. Repetição, massificação. Lenta, gradual, mas firme.


Não amigos, a culpa não é das estrelas. A culpa é da luta dos homens pelo poder, o controle das riquezas nacionais, seja aqui ou no outro lado do mundo. Cabe a nós como seres pensantes acompanharmos os fatos, aprendermos com a história, antes que ela nos leve novamente ao absurdo da violência. Nada pior do que ser estigmatizado por suas escolhas, e pior, ser perseguido, agredido e impedido de uma vida normal. Não podemos e nem devemos repetir os erros do passado, que aqui e acolá teimam em reaparecer. Tenhamos muita cautela, pois a democracia é o nosso bem maior.



terça-feira, 8 de abril de 2014

Fetiche, objeto e mercadoria

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Até o futebol americano feminino tem que ser "sexy"
O julgamento do caso Victoria Schier, a pesquisa do IPEA sobre o estupro e comportamento feminino, e a notícia recente de que ocorrem, em Joinville, quatro estupros por semana, chamaram-me muito a atenção nas últimas semanas. É notório que a questão de gênero no Brasil necessita ser debatida, visando uma equidade entre homens e mulheres.

Apesar do tema ser corriqueiramente tratado aqui no Chuva Ácida, sob vários aspectos, o assunto nunca cessa, pois o cenário ainda é desanimador. Há alguns meses tenho reparado com maior cuidado o jeito que a mídia trata a mulher, bem como o comportamento da sociedade nesta questão.

Ao passar pela BR-101 no Norte do Estado (caminho que percorro toda semana), verifiquei os outdoors espalhados pelas margens da rodovia. A quantidade de mulheres seminuas, em poses dignas dos melhores programas pornográficos da TV, exibindo um sexy appeal chega até a ser constrangedor. O mesmo ocorre nos comerciais de automóveis ou nos programas de auditório, com muitas, mas muitas mulheres exibindo seus corpos, produzindo na sociedade em geral (homens e mulheres) uma imagem fetichizada sobre o que é o corpo feminino: um reduto de satisfação e prazer a qualquer momento para uns, e modelo de perfeição impossível para outros (é só ver as capas das revistas).

Em consequência disto, a mulher vira um objeto. Objeto manipulável pela mídia, pela indústria do consumo e também pelas entrelinhas das relações de gênero. Mesmo que o IPEA relate um erro na pesquisa, ainda é assustador saber que 26% dos entrevistados culpam as mulheres pelo estupro. A culpa por este pensamento não deve ser dirigido somente às pessoas de maneira geral, mas também a quem as leva pensar assim O corpo da mulher é dela, e não deve se submeter à manipulação de nada e nem ninguém.

Por fim, o fetiche que virou objeto é uma boa mercadoria porque está impregnada na cabeça das pessoas. As marcas que se utilizam deste artifício usam e abusam do fetiche (à la Marx), colocando a mulher como um objeto a bel-prazer de quem puder consumir não somente o produto, mas também a ideia platônica de conquista da mulher perfeita, fechando, desta maneira, o ciclo.

Não é à toa que estupros sejam cada vez mais denunciados ou evidentes. Não é à toa que muitos culpam a mulher estuprada por “mostrar demais”. Não é à toa que as relações de gênero sejam iguais às de consumo, onde prevalece aquele que tem o poder de consumir os melhores objetos, e os mais apetitosos para seus fetiches. Se a mulher “mostra demais”, e é um “bom produto” que atende “o meu fetiche”, a culpa é dela que fez a “propaganda”, como nas centenas de outdoors, canais de TV, revistas, internet, etc.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Publicidade e a questão de gênero

POR FERNANDA POMPERMAIER

Existe uma ligação, pouco sutil por sinal, entre a forma como educamos crianças e seus comportamentos no futuro como adultos. A falta de igualdade entre os gêneros é uma realidade indiscutível no Brasil. Mulheres ainda ganham menos tendo as mesmas funções, sofrem mais com violência doméstica, são reprimidas por seu comportamento sexual (vê-se ofensas como puta, vadia, vagabunda, todas relacionadas à quantidade de parceiros), sofrem pressão social para serem bonitas, magras, terem filhos, não abortar, enfim. Estamos longe de viver numa sociedade que proporcione o mesmo tratamento à homens e mulheres.

A Suécia há muitos anos discute essa questão e nota-se no dia a dia a diferença. Os homens não tem o hábito de olhar para as mulheres de forma maliciosa, sabe aquela secada? Não existe. Mesmo que a mulher esteja de míni-saia. E isso acontece porque para ele, ela é uma igual e não um objeto de desejo que precisa ser apreciado. É muito comum ver homens empurrando carrinhos de bebês, fazendo sua parte nos afazeres domésticos, conversando ou negociando com a mulheres com respeito e igualdade. Esses são apenas alguns exemplos, eu poderia continuar On and On. Há 3 semanas, por exemplo, meu marido teve na empresa, uma palestra com todos os funcionários sobre a igualdade de gêneros. As iniciativas estão em todos os espaços, toda a cultura da sociedade tem essa questão em pensamento. E é claro que isso reflete na publicidade.

Aqui vou abrir um parêntese, em algum momento da minha vida eu achei que a televisão aberta brasileira era essa porcaria porque era isso que a maioria das pessoas queriam ver e claro, dá audiência. Hoje penso que a televisão é responsável pela construção intelectual do seu público.   Por exemplo, algumas pessoas, como eu, acham absurda a quantidade excessiva de mulheres semi-nuas na nossa tv. Você quase não consegue assistir um programa sem que apareça alguém sem roupa, um estímulo sexual que eu preferiria guardar para um momento a dois e não assistir com a família inteira no sofá da sala. Mas quem nasceu após os anos 80 ou 90 está tão habituado a essas imagens que nem as percebe mais. Que tipo de exigência tem esse telespectador? Se boa parte da sua formação cultural esta relacionada a nossa tv, estamos ferrados.

Voltando à publicidade.

Podemos achar que o anúncio que ponho a seguir é um resultado da cultura sueca ou ele foi elaborado com o objetivo de colaborar com a igualdade entre os gêneros dentro da cultura sueca?

Para quem acha estranho ver menino brincar de boneca, como pedagoga te digo que a criança brinca para compreender o mundo adulto. Se ela vê o pai cuidando de um bebê, ela vai querer repetir o gesto e experimentar essa sensação. Se você como pai quer participar de verdade da vida do filho tem que estar presente em todos os momentos, não só quando está limpo e alimentado. Então compreenda que essa é uma brincadeira importante e inofensiva.

O anúncio é atual e certeza, tem o objetivo de vender para pais conscientes de que seus filhos tem o direito de brincar sem repressão.

http://laughingsquid.com/swedish-toy-company-publishes-a-gender-neutral-holiday-toy-catalog/

Fernanda é joinvilense, professora de educação infantil e mora na Suécia há quase 2 anos. Escreve o http://vivernasuecia.blogspot.com.br/