sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

30 anos sem Henfil: o humor ajudou a derrubar a ditadura


POR DOMINGOS MIRANDA
Há momentos em que o humor é a única arma contra a opressão. O mineiro Henrique Souza Filho, o Henfil, foi quem encarnou isto de forma mais apurada. Numa época de controle absoluto da imprensa, durante a ditadura militar, ele conseguiu driblar a censura e passar para os leitores, através de seus personagens, aquilo que estava engasgado na boca dos brasileiros. Os fradinhos Cumprido e Baixinho, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo, o paranóico, são alguns dos seus personagens mais marcantes. Infelizmente, no dia 4 de janeiro de 1988, Henfil morreu, aos 43 anos de idade.

Até na morte ele contribuiu para denunciar o descaso do governo para com a saúde. Henfil e seus dois irmãos, o sociólogo Betinho e o músico Francisco Mário, eram hemofílicos. Nas transfusões de sangue, os três foram contaminados pela Aids, numa época em que não havia tratamento para a doença. A vontade de viver era enorme, mas a doença foi implacável com os irmãos. Chico Mário morreu em 14 de março de 1988 e Betinho em 9 de agosto de 1997.  Diante da repercussão destes casos, a coleta de sangue passou a ser mais rigorosa.

Henfil era cartunista, jornalista e escritor. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país, mas se sobressaiu no jornal alternativo O Pasquim. Numa entrevista com o senador Teotônio Vilela ele perguntou: “E as eleições diretas, quando?” A resposta “diretas já” transformou-se no nome da maior campanha popular da história do Brasil e título de um de seus livros. O cartunista sempre usava uma crítica ácida para denunciar os abusos das autoridades, a fome, a hipocrisia e a falta de liberdade.

Como escritor também angariou fervorosos leitores, principalmente com a coluna “Cartas da mãe”. Ao escrever para a tradicional matriarca mineira sofredora, que tinha um filho no exílio e o outro correndo o risco de ser preso por causa de suas diabruras na imprensa, falava de assuntos que continuavam na penumbra. Foi através destes escritos que a maior parte da população tomou conhecimento que 10 mil brasileiros estavam exilados e proibidos de retornar ao país. Com a anistia, lá estava toda a família para receber Betinho, que iria criar a Ação da Cidadania contra a Fome, Miséria e pela Vida, sendo indicado para o prêmio Nobel da Paz.

Um gênio da literatura, Guimarães Rosa, que entendeu como ninguém a alma humana, disse: “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Henfil nos trouxe alegria misturada com denúncia e conscientização. Ficou pouco tempo entre nós, mas nos ajudou a ter esperança em um dos momentos mais trágicos da vida política nacional. Por causa deste seu belo trabalho ele continua presente na nossa mente, não morreu. Mas, faz uma enorme falta para todos aqueles que amam a liberdade e a justiça. 



4 comentários:

  1. "Fervorosos leitores", entenda-se idiotas úteis simpáticos à ditadura do proletariado que acabou assassinando 140 milhões de inocentes.

    Não faz falta.

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    1. Concordo. Quem gosta que henfil a tromba no toba e assopre..

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  2. Não acho legal a tortura, a ditadura. Mas questão de não demonizar de maneira ostensiva este período, como faz esquerda. É sim por um conhecimento histórico. As revoluções da francesa até os dias de hoje tem uma conta de morte por dia maior que os anos de ditadura.

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  3. Os Fradinhos são de uma humanidade desconcertante.

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