segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A meritocracia é uma questão de cultura

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes vi um documentário onde era feita uma comparação entre as expectativas de vida dos jovens nos Estados Unidos e na Dinamarca. O filme procurava mostrar as aspirações, projetos e desejos em cada um dos países. Lembro especialmente de uma comparação entre dois jovens universitários. As diferenças eram gritantes e põem em questão o conceito de meritocracia.

O estudante dinamarquês, que parecia encarar a vida de forma mais tranquila, tinha a sua própria noção de sucesso. Queria um emprego legal, mas não um emprego qualquer. Disse não estar disposto a ser um workaholic, porque valorizava muito a vida para além do trabalho. Em resumo, queria viver bem mas sem que a obsessão de ser rico ou milionário – coisa que não rejeitava – lhe desviasse o olhar.

O universitário norte-americano era água de outra pipa. Para começar, a entrevista foi feita numa marina, onde ele dizia que sonhava ter um daqueles barcos luxuosos. O objetivo de vida era ganhar o primeiro milhão de dólares. Parece que a coisa do primeiro milhão é uma espécie de milestone do sucesso lá por aquelas bandas. E ao contrário do europeu, para ele não isso de ter uma vidinha tranquila era roubada.

Esta pequena descrição é apenas para mostrar que também o sucesso é uma coisa relativa. Para uns é um objetivo, para outros é consequência. Imagino que no Brasil a maioria esteja das pessoas esteja mais inclinada para a fórmula norte-americana. Porque em sociedades como a brasileira – ainda muito marcada pelo apartheid social – o sucesso parece ter um padrão: é ter coisas que o dinheiro pode comprar. E que os outros possam ver, claro. É a tal meritocracia.

É uma questão cultural. Tem gente que confunde sucesso com dinheiro. Ou seja, você só será considerado um sucesso se isso estiver traduzido num casarão, um carrão ou viagens. O importante é ter a grana. O problema é que para muitos importam os fins e não os meios. E esse um campo fértil para aquilo que Richard Sennet chama corrosão do caráter (e que também gera o fenômeno da corrupção).

Mas para outros, como o jovem dinamarquês, o mérito reside em viver de forma tranquila. E isso faz com que a Dinamarca seja um dos países com menores índices de corrupção no planeta (o fenômeno quase inexiste) e tenha uma das melhores posições nos índices de desenvolvimento humano. Uma coisa que muitos brasileiros – em especial os defensores da tal meritocracia – têm muita dificuldade em entender.

É a dança da chuva.

15 comentários:

  1. Ambos os países passam longe de ser desgraças socialistas, pois ambos valorizam o mérito, ao invés de ajoelhar o povo diante de um governo corrupto.

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    1. Véi, com esse nível de literacia, se estivesses na Dinamarca a esta hora estavas a esbravejar e a chamar o governo de "comunista", "socialista"...

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  2. Meritocracia é uma tese criada em meados do século passado por um esquerdista britânico que, como a maioria das teses e neologismos esquerdistas, não quer dizer absolutamente nada, ou melhor, tenta responder qual a cor do vestido vermelho da mocinha.
    O que vale é o mérito.

    Quanto à entrevista, estranho generalizar a população de universitários de dois países pela entrevista de UM estudante de cada país.

    Por fim, Dinamarca e EUA têm mais semelhanças que diferenças: ambos são países CAPITALISTAS, de economia LIBERAL e com INSTITUIÇÕES RESPEITÁVEIS (na educação, por exemplo, 7 das 10 melhores universidades do mundo são estadunidenses).A diferença é que a Dinamarca é uma monarquia parlamentar governada por partidos SOCIAL-DEMOCRATAS (NÃO-CONFUNDIR-COM-SOCIALISMO) e os EUA são uma federação presidencialista LIBERAL.

    Em qual país eu gostaria de viver?
    Não quero ser vigiado pelo governo, quero acessar qualquer site na internet e, principalmente, não quero bancar um governo burocrático com 50% do meu salário em imposto de renda.

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    1. E estudar Ciências Políticas? Não é uma boa ideia para 2018? Aposto que tens tempo de sobra. Aproveita.

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    2. Não, de política já entendo o suficiente, mas siga o teu concelho.
      Confundir socialismo com social-democracia é uó!

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    3. Opa! Um Ph.d em Ciências Políticas. Ainda bem, porque se fosses ganhar a vida como professor de português acabavas no çufoco.

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    4. O cara quer acessar a internet livremente sem ser vigiado pelo governo e não quer bancar um governo com 50% do imposto de renda. Amigo...um concelho..rs. Vá pra Beta Pictoris b, q é um planeta fora do sistema solar...pq aqui por perto tá tudo dominado!! P.S. NASA é estatal, ou seja, é o contribuinte que banca todas as pesquisas e os consequentes avanços tecnológicos..que depois serão repassados graciosamente à iniciativa privada.

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  3. Boa matéria, e feliz 2018, Baço, 1 ano de muita saúde, sucesso, sabedoria, sorrisos, sorte e sinceramente, sem Temer!

    Realmente procede muito o que dizes, e as pessoas aqui no Brasil, com essa busca de sucesso como riqueza, acabam querendo, tentando enriquecer à qualquer custo (lembro do Eike, querendo ser o homem mais rico do Brasil, não um dos, nem mais rico, mas o mais rico de todos no país, e agora vemos o que fez pra isso, pois por meios honestos e éticos é que ele não chegaria onde chegou, pra depois despencar...)
    Vemos juízes querendo não apenas credibilidade, mas apoio da mídia (que tem 1 preço, e não é 1 preço honesto nem justo), querem mais que credibilidade, querem popularidade, o que não cabe eticamente na lisura desse cargo, aí começam cedo ou tarde a desabar em suas mentiras, conduções coercitivas, falta de provas, relações, subterrâneas, suspeitas, sinceramente, sórdidas, sujas com os donos da mídia e do poder.
    O filme O Advogado do Diabo, de 1997, com o Keanu Reeves, Charlize Theron e o Al Pacino demonstra aquela frase que se encaixa muito bem com certo juiz desMOROnado de nosso país: "a vaidade sempre foi o meu pecado predileto", diz o diabo ao advogado que diz nunca perder.
    Saudações, feliz ano novo!

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  4. População da Dinamarca: 6.000.000 de habitantes.
    População de Santa Catarina: 7.000.000 de habitantes.

    Se nosso estado fosse um País, onde cada catarinense ganhasse em média 34.000 dólares por ano, a saúde e educação perfeita, as estradas seguras, índice de corrupção beirasse 0%, 90% da população Luterana (leia-se controle planejado da natalidade), tenho absoluta certeza que eu seria um Catarinense mais feliz!!!!

    Mas voltando ao texto: Meritocracia é ruim?

    O sujeito estes dias que falou que veio de baixo, estudou, tem uma família legal, sua casa, seu carro, suas contas em dia, está errado???

    Deu tilt agora!!!

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  5. E a conclusão é que meritocracia gera corrupção... macacos me mordam...

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    1. Uau! Concluíste isto? Nem eu, que escrevi o texto, tinha chegado lá. Obrigado por ver coisas eu próprio não tinha visto.

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  6. Ah, sim, claro! A Dinamarca é um exemplo de sociedade que almeja o desapego aos bens materiais e tals...
    É engraçada essa visão ingênua do autor sobre um país que cobra altíssimos impostos dos seus cidadãos e confisca os bens pessoais (jóias, relógios e até equipamentos de valor) de refugiados que adentram no seu território em busca de ajuda.
    Diga-nos mais sobre esse "Éden" nórdico.

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