quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Em defesa do binário da Santos Dumont

O "Minhocão" de Boston foi
transformado em parque público
POR FELIPE SILVEIRA

Parece loucura defender o binário da Santos Dumont com a Tenente Antônio João hoje, dia em que narrativas do caos instalado chegam de lá. Mas Arquitetura e Urbanismo é uma área que muito me interessa e o pitaco social deve ser sempre bem-vindo às obras públicas.

Quem acompanha a discussão urbanística sabe que há pelo menos duas visões em disputa. A primeira, tradicional, é o desenho de uma cidade para os carros, cheia de vias, cada vez mais largas, viadutos e elevados. Nessa cidade, todos têm carros, mais de um de preferência, e a cidade está a mil por hora. A outra é uma cidade para pessoas, com menos vias, mas mais opções de modais. Nesta cidade, andar a pé, de bicicleta e de transporte público são boas opções. Você ainda pode usar o carro, mas somente se for a opção mais adequada para a sua necessidade. A cidade é mais calma, tranquila e leve. O urbanismo, na minha visão, atua na construção dessas duas cidades a partir da visão política e da força dos agentes que atuam no desenvolvimento da cidade.

Chegamos, então, ao debate sobre o binário. A obra já estava planejada no governo Carlito, quando foram contra por causa do tesão em elevados, duplicações e viadutos. Um prefeito se elegeu e outro candidato foi ao segundo turno com essas promessas. Mas, conforme previsto, a duplicação da avenida se tornou inviável. Caríssima e impossível (fosse possível tava feita), tornou a região um inferno por mais de três anos, quando sobrecarregou duas vias que já estavam nos seus limites (Dona Francisca e Tenente).

Volta o binário à cena. Eu realmente não sei o que está emperrando o trânsito no local, se é apenas a mudança que leva tempo para adaptação ou se há de fato algum problema estrutural que precisa ser resolvido. Creio que não podia haver um semáforo no final da Tenente, quando chega na Santos Dumont. Na obrigação de existir, precisa ficar mais tempo aberto pro pessoal que vem da Tenente. Ali que precisa fluir. Ah, uma observação: o caos que era a volta para o centro pela Dona Francisca e pela Tenente foi praticamente esquecido.

A palavra que importa aqui é fluir. O que precisa ser resolvido são gargalos, cruzamentos, saídas, entradas. Você não precisa de muito mais espaço para carros nas vias, mas precisa resolver os cruzamentos das mesmas. E isso se faz com rótula, binário, mão inglesa. Obras relativamente baratas e eficazes.

Por isso que a duplicação do trecho entre a Univille e a Tuiuti é um erro. O trânsito é fluído neste trecho, mas para justamente nas cruzas. Uma boa rótula seria muito melhor do que o trambolhão do elevado da Tuiuti, assim como seria ótima no cruzamento que envolve o início (agora fina?) da Santos Dumont, a saída da João Colin, o começo da Blumenau e da General Câmara e o meio da Dona Francisca.

Não é de bobeira que as cidades mais modernas do mundo, como Boston, estão derrubando seus elevados e construindo parques no lugar. Tudo isso sem falar da superioridade do transporte coletivo e das potencialidades da mobilidade cujo corpo é o próprio motor.

4 comentários:

  1. Excelente texto, Felipe.

    Espero mesmo que o caos instalado no binário seja só até passar o tempo de se acostumar com a mudança. Por enquanto, eu estou reclamando, mas espero que isso passe logo.

    Quanto ao final do seu texto, não espero tão cedo uma mudança na cultura do carro que o joinvilense possui. Aqui, andar de carro é status e ônibus é só pra pobre, estudantes e peão da Tupy.

    Abraços.

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  2. Sobre os gargalos do binário:

    O cruzamento das ruas João Colin, Dona Francisca, Santos Dumont e Blumenau é um dos maiores problema, ao meu ver. A solução encontrada foi colocar um novo semáforo no cruzamento da Dona Chica com a Blumenau, no meio da "rótula". Com o fluxo de veículos intenso, principalmente nos horários de pico, somado ao "sincronismo" adotado pelos semáforos, a galera que segue pela Dona Francisca se livra do primeiro sinaleiro e pára no segundo, trancando a passagem daqueles que querem entrar no binário, seja os que estão na própria Dona Chica ou quem vem pela João Colin.
    Esse semáforo também é o responsável pelas filas no início (ou final?) da Santos Dumont. Para tentar remediar esse gargalo, entram as sugestões:

    - refazer a rótula, como é sua sugestão;
    - criar um elevado;
    - alterar o sincronismo dos semáforos e também o tempo que ficam abertos e fechados.

    É importante lembrar que a rótula nem sempre pode ser utilizada como solução. Basta olhar a da Dohler e a do Eixo Indistrial (que é triste chamar de rótula, mas está lá), onde o "roda roda" acaba dando um "migué", mas nem sempre resulta em fluidez.

    Sobre o fluxo da Dona Francisca, ele se inverteu. Aquele movimento louco no trecho entre a Dohler e a rua Blumenau, que tinha sentido bairro-centro, agora ocorre no sentido centro-bairro. Muitos preferem seguir por ali ao invés de pegar o binário, fazendo com que aquilo pare de andar já na altura da Blumenau, logo após o novo semáforo.

    De início, o binário se mostra ineficiente. Antes tínhamos:

    - Fila na Tenente, entre a Santos Dumont e a Piratuba (bairro-centro e centro-bairro);
    - Fila na Santos Dumont, até a rótula das Universidades (centro-bairro);
    - Fila na Dona Francisca, entre Dohler e a rua Blumenau (bairro-centro);
    - Fila na Arno Dohler (sentido Dona Chica).

    Agora temos:

    - Fila na Tenente, acesso a Santos Dumont (centro-bairro);
    - Fila na Tenente, entre as ruas Ouro Verde e General Câmara (centro-bairro);
    - Fila na Santos Dumont, acesso a rua Blumenau (bairro-centro);
    - Fila na Dona Francisca, próximo ao Dom Bosco (centro-bairro);
    - Fila na Dona Francisca, entre a rua Blumenau e a Dohler (centro-bairro);
    - Fila na João Colin (no fim) (centro-bairro).

    É a dança das ruas.

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    1. Concordo contigo meu xará, binários se mostram muitas vezes ineficientes, assim como rótulas. No caso da esquina da Santos Dumont com a Tuiuti, o elevado se mostra muito mais útil que uma rotatória, até mesmo a geografia do local se mostra favorável à isso.

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