sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Salários de 400 mil reais? Não acredito...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes vi, nas redes sociais, um documento (que me garantiram ser verdadeiro, mas parece invenção) sobre os salários de desembargadores federais no patropi. Fiquei de queixo caído. Segundo a lista, tem um cara que ganha 215 mil reais (o corresponde a 60 mil euros). Gente... isso tem que ser mentira. Casos como esse não existem em democracia e no mundo civilizado.

Mesmo não acreditando (é uma maneira de não desenvolver úlceras nervosas), arrisco uma comparação. Um dos temas mais recentes na imprensa portuguesa, por exemplo, é o fato de o banco estatal de Portugal ter contratado um CEO por 30 mil euros. Todo mundo acha um exagero, apesar de ser um valor dentro dos valores de mercado pagos para a função no setor bancário. Santa ironia, Batman, são poucos os desembargadores da lista "mentirosa" que ganham menos. Muito poucos.

Pensei em comparar os salários dos tais desembargadores (da lista que só pode ser inventada) com cargos semelhantes na Europa. Mas é covardia. Um juiz em Portugal, por exemplo, ganha 3 mil euros (cerca de 11 mil reais). Então, opto pelo salário de alguns governantes da União Europeia, a partir de dados de algum tempo atrás, mas que pouco se alteraram.

Eis os exemplos. Os primeiros-ministros de Portugal e Polónia recebem 15,8 e 12 mil reais de base. Prestem atenção: é menos do que recebe o mais baratinho dos desembargadores, que são 28 mil reais. É claro que há outros políticos europeus que ganham bem mais, como o caso da primeira-ministra britânica e da chanceler alemã, cujo salário anda por volta dos 60 mil reais. Mas ainda assim ficariam abaixo dos bambambans da tal lista (tão inacreditável que suponho mentirosa).

Salários de 150 ou 215 mil reais são coisa que não entra na cabeça de nenhum europeu, ainda mais porque estamos a falar de funcionários públicos. Não resisto ao clichê: no Brasil tem gente que, mais que servir o Estado se serve dele. Seria imoral, cisa inaceitável em civilização. Ainda mais num momento em que a imagem dessa gente do Judiciário - nas suas mais altas instâncias - anda mais suja do que pau de galinheiro.

Ah... esqueçam tudo. Acabo de receber a informação de que no Rio de Janeiro um magistrado pode ganhar até 400 mil reais. Nem vale a pena continuar a discussão. A vaca já está no brejo, com badalo e tudo...

É a dança da chuva.

10 comentários:

  1. Não vejo problema no salário,em sí. Mas a questão é que se paga caro por um serviço ruim. Não a nada pior que a justiça no Brasil, que acaba afetando por reaçao em cadeia todos os outros serviços publicos e privados.A responsabilidade de um desembargador é infinitamente maior que a de um CEO de uma instituição financeira.

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    1. Não há parâmetros fixos para dizer que o desembargador tem mais responsabilidades que um CEO ou um governante. Mas para os primeiros existe um parâmetro, que é o mercado. E pelas regras de mercado os CEOs ganham muito mais que um servidor público (pelo menos nas democracias). E já que falas em responsabilidades, não faz sentido um desembargador ganhar mais que Angela Merkel, por exemplo.

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  2. Contra hollerits não há argumentos

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    1. A casta dos hollerits (é assim que escreve?) é quem manda...

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  3. É um absurdo pensar num país em desenvolvimento, o qual a grande maioria dos assalariados vivem com média de dois salários mínimos ao mesmo tempo que há funcionários públicos recebendo 400 mil reais por mês, lembrei do caso da guarda de trânsito que disse que juiz não é Deus e foi processada. Não são mesmo, mas pelo visto estão querendo chegar lá. Outro absurdo além de termos um dos judiciários mais caros do planeta, ele ser um dos mais lentos.

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    1. Pois é. Além de altos salários ainda são divindades...

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  4. Estatais...
    Em tempo, com a PEC do limite de gastos não há espaço para esse tipo de aberração (se é que ela existe). Será que é por isso que o alto escalão do judiciário, incluindo o MPF estão do lado daqueles que querem sabotar o plano de controle dos gastos?

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    1. Não entendi. O Judiciário devia ser privado?

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    2. Não deve ser privado. Citei as estatais como exemplo da péssima administração do governo com supersalários pagos por um péssimo serviço. Voltando a PEC, com o limite dos gastos, os supersalários nesses setores, incluindo o judiciário, cessarão.

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    3. O "plano de controle de gastos" onera apenas quem depende de serviço público, porque congela os investimentos chamados primários do governo, ou seja, basicamente educação, saúde e segurança. Ele não ameaça os privilégios, nem do judiciário, nem do mercado, nem dos banqueiros, nem dos sonegadores bilionários.

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