quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A mulher, o amante, o marido e as redes sociais

POR CECÍLIA SANTOS

A evolução da sociedade é realmente algo bizarro e contraditório. Nos últimos 100 anos, a tecnologia mudou radicalmente as formas como as pessoas se relacionam.

Na infância da minha mãe, meu avô levou os filhos de uma cidade de interior ao litoral de São Paulo num Fordinho a manivela, numa viagem de pouco mais de 300 km que levou 3 dias.


Pensar em se comunicar instantaneamente por voz e imagem com uma pessoa em qualquer parte do globo a um custo irrisório era, naquela época, uma fantasia improvável da ficção científica. E ainda assim o comportamento social parece ter evoluído muito pouco desde então. As pessoas continuam a ser quase tão moralistas quanto há 100 anos. 

A gente percebe que os papeis de gênero não mudaram quase nada quando um caso de traição vira assunto público e a mulher é o foco de todo escárnio e humilhação. A diferença é que, se antes era em praça pública, agora é nas redes sociais e no aplicativo Whatsapp.

A grande fofoca do dia aconteceu em Belo Horizonte. Um sujeito flagrou a própria mulher com um amigo seu entrando em um motel. O irmão do marido traído gravou um vídeo, alternando a função de videomaker improvisado com a de juiz da cunhada, a quem ofendeu com uma série de impropérios.

A cena toda é de um constrangimento absurdo. E aí a coisa toda se transforma numa espécie de festival de quem faz a piada mais engraçada e compartilhada, mesmo às custas da vida pessoal de uma mulher que está sendo destruída, que vai ser apontada na rua, pode perder o emprego, os amigos, a liberdade, e muitas vezes a coragem de seguir vivendo. 

Mas o importante é acumular seguidores às custas da dignidade alheia. Tristemente, já prevejo que dirão que ela será a culpada e merecedora de tudo de ruim que lhe acontecer, como castigo por ter traído o marido. Ao mesmo tempo, a traição masculina é prática comum e amplamente entendida e até tolerada.

Não é o caso aqui de discutir fidelidade e o contrato entre um casal. O problema é a diferença de tratamento dado ao homem e à mulher. Parece que, essencialmente, na nossa sociedade, o lugar do prazer não pertence à mulher. Muda a tecnologia, mas não muda a mentalidade.

7 comentários:

  1. Pois é, depois do deferimento de alguma juíza de São Bernardo do Campo sobre o cancelamento do WhatsApp por 48 horas em todo o país, o precedente está aberto para que o mesmo ocorra com todas as baixarias lançadas pelo aplicativo por gente mal-intencionada. Acontece que este aplicativo não é Facebook! É o aplicativo mais utilizado no país: usado por taxistas, jornalistas, plantonistas de hospitais... O acolhimento da barbárie de cancelar o uso do WhatsApp por 48 horas é feito por alguém totalmente alheio as consequências e que provavelmente nunca ouviu falar no aplicativo.

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  2. Esse caso de traição foi emblemático porque a esposa traidora saía de casa e dizia ir a “manicure”, mas não ia. De qualquer forma as unhas dela estão perfeitas, se alguém perguntar qual o segredo, a resposta é: pinto todo o dia!

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    1. Eu sei da história da manicure, mas achei totalmente desnecessário comentar no texto. Primeiro, porque essa "piada" é muito babaca, bem nível "tio do pavê". E segundo porque, e talvez isso não tenha ficado claro pra você, a questão da traição é um problema de foro íntimo e ninguém tem nada com isso.
      Fazer piada com mulheres expostas é fácil. Difícil é resistir ao prazer sádico de se juntar à turba.

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    2. Mas você riu da piada. Aposto!

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    3. A gente ri pra não chorar de babacas que por serem babacas se escondem na anonimidade.

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  3. Precisamos conversar sobre amizade. Não se faz isso com amigo!

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