quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Sheron Menezzes e um discurso preciso


POR FELIPE CARDOSO

Recentemente, a atriz e apresentadora Sheron Menezes foi a vítima da vez dos ataques racistas na internet. Essa onda que vem se propagando nas mídias sociais já foi tema em diversos veículos, inclusive aqui no blog, pela Andressa Karoline, no projeto Chuva Negra, na semana da Consciência Negra.

Em resposta ao ataque, Sheron publicou uma mensagem corajosa e tocou em um assunto necessário:

“Desprezíveis Racistas

Não adianta entrar na minha página e escrever absurdos, xingamentos e agressões pois vão ter que engolir a mim e a tantas outras pessoas negras em nosso país! Já esperava por isso depois do que fizeram com minhas amigas e colegas, então quero lhes dizer que saiam da frente com sua inveja, pois estamos passando com o nosso cabelo maravilhoso, com a nossa linda cor, nossa beleza, nossa educação e nossa inteligência. Não adianta colocar uma máscara de macaco no meu rosto ou tentar me ofender porque isto não me atinge! Fui treinada desde criança, e sei o meu valor! Mas atinge milhões de pessoas no Brasil que sofrem essa discriminação todos os dias! E é por elas que resolvi me manifestar. Tomarei as providências cabíveis. Acho melhor tirarem as suas máscaras e se revelarem publicamente, pois se não o fizerem a Polícia Federal o fará. Um a um vocês vão atacando e um a um vocês vão sendo identificados. Racismo e intolerância mataram e continuam matando milhares de pessoas, e quem pratica esse crime deve ir para o seu lugar, a cadeia.”

Primeiramente, ela reconheceu a sua força, que foi ensinada desde pequena a resistir, isso já nos chama a atenção para a questão da educação, a importância do empoderamento negro dentro de casa e na escola. Mesmo assim, Sheron reconheceu que milhares de pessoas “anônimas” sofrem com isso diariamente e ela, como pessoa pública, resolveu se manifestar para encorajar mais pessoas a denunciarem o racismo em nosso país.

Mas mais importante que isso, Sheron afirma que “racismo e intolerância mataram e continuam matando milhares de pessoas”. Isso é o que devemos reforçar sempre. O último e mais perigoso estágio do racismo. Devemos entender que o racismo é estrutural e está presente em todos os setores da sociedade. Nossa educação é eurocêntrica e nos é passado a visão dos colonizadores. Temos ainda um olhar eurocêntrico sobre África que precisa ser desconstruído.

O racismo, muitas vezes, não é perceptível a muitos olhos, pois é visto de maneira fragmentada. A invisibilidade, o silenciamento, a marginalização do corpo negro, sua cultura e toda sua intelectualidade é forte e se manifesta de diversas formas, de várias maneiras, explícita ou não. Na saúde, na mídia, na moda, na educação, no mercado de trabalho, nas moradias, nas representações, nos estereótipos. São pequenas violências que nos atingem cotidianamente.

Cultura escravista.

Todos esses fragmentos, quando unidos, contribuem para o estágio final, o último estágio da violência, fruto da marginalização, que termina nos assassinatos, nas chacinas e no genocídio da população negra. Que sofre calada, pois o racismo diminui e silencia a voz do negro, que quando resolve falar, tem seu discurso desprezado e é acusado de violento, extremista, exagerado.

Racismo mata!

Jovens negros são fuzilados por policiais. Mulher negra é arrastada pelo camburão da polícia. Corpos negros somem da favela. Aumentam os casos de “autos de resistência” relatados pela polícia. São diversos casos que mostram que o que Sheron falou precisa ser analisado e discutido diariamente e medidas precisam ser tomadas para reverter esse quadro. Por isso, a luta é válida e, por isso, os movimentos negros organizados são necessários. Resistir para mudar!

No mais, “saiam da frente com sua inveja, pois estamos passando com o nosso cabelo maravilhoso, com a nossa linda cor, nossa beleza, nossa educação e nossa inteligência” (MENEZZES, Sheron).

Segura a marimba aí, “monamu”!

3 comentários:

  1. Estranho... De repente várias atrizes e apresentadoras negras de alto prestígio são atacadas por internautas na grande rede. Fico aqui pensando com os meus botões: o que faz alguém perder o seu preciso tempo atacando gratuitamente uma famosa pela cor da pele dela? Não seria estranho para a ex-apresentadora do tempo no Jornal Nacional, até então pouco conhecida, Maria Júlia Coutinho (a Majú). Mas ataques contra atrizes globais “um tanto apagadinhas”, como a Tais Araújo e a Cris Viana, e agora a belíssima Sheron Menezzes? Estranho...

    Mudando um pouco de assunto... Sabem aquelas fotos de paparazzi com flagras de artistas em praias ou boates badalas? Pois é, não são flagras, mas fotografias de profissionais contratados pelos próprios artistas para serem lançadas na web ou entregues às revistas de fofocas.

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    1. Nossa, cara, como você é um demente, na moral mesmo. Você quer dizer que as minas tão pagando para sofrer racismo para aparecer na mídia. Filho, a Maju estava no JN que ainda é considerado uns dos maiores jornais do Brasil. Outra coisa, não é só pq não estão aparecendo na sua TV que elas não estão com trabalhando! Dá uma pesquisadinha antes de falar! O que eu acho estranho mesmo é terem poucas atrizes negras na televisão. Beijas.

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    2. Sharon Menezes e Thais Araújo fazem uma novela atrás da outra, e Thais nunca é menos que a protagonista. Sharon também tem conseguido papeis bem diversos e importantes, e a criatura vem aqui dizer que elas estão "apagadinhas". Definitivamente, esse comentário anônimo (pq será?) só servem para comprovar a necessidade da resposta da Sharon, do texto do Felipe e de toda a luta que é irreversível.

      p.s. Eu estou morando atualmente em Cachoeira, BA. Tipo, 90% da população é negra. Mesmo aqui, eu sendo minoria, vejo os privilégios que o racismo estrutural me dá :(

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