POR LUANA TOLENTINO
Temos
assistido a manifestações de racismo cada vez mais violentas. Em parte, isso se
deve ao fato de nos últimos anos a população negra ter ascendido socialmente e
deixado de ocupar somente postos de trabalho com baixa remuneração e prestígio,
como o emprego doméstico, a portaria dos prédios, os serviços gerais e tantas
outras.
Ainda
em menor número, hoje já é possível ver mais negros ocupando posições de
destaque, em cursos de graduação, mestrado e doutorado. Cito a pergunta do antropólogo Kabengele Munanga: "Quem
vai limpar a Casa-Grande se agora os negros estão na universidade?" Por
essa as elites e a classe média não esperavam.
Essas
mudanças têm gerado ódio e revolta, disseminados sem o menor pudor nas redes
sociais. Os racistas saíram do armário. Maria Julia Monteiro, jornalista da
Globo, é a vítima da vez.
Por
mais que eu deteste/não suporte/tenha pavor-nojo-asco do JN, ele ainda é o
jornal de maior importância do país. Por mais que eu deteste/não suporte/tenha
pavor-nojo-asco da emissora dos Marinho, ela é a quarta maior rede de televisão
do mundo. Não há como negar a força e o poder da Globo.
E é
justamente esse espaço que Maju, com talento e competência, ocupa atualmente.
Todas as noites, Maria Julia adentra a casa de milhões de brasileiros. Não como
uma doméstica da novela das 6, 7 ou 8, que ao ser humilhada aceita tudo calada,
de forma resignada. Mas, sim, como a “moça do tempo”, posto jamais ocupado por
uma mulher negra ao longo dos 50 anos da Rede Globo. Para uma sociedade que
naturaliza as desigualdades raciais, isso é inaceitável.
Soube
através do Facebook, que na edição de sexta-feira, dia 3, Willian Bonner e
Renata Machado falaram sobre os ataques racistas de que Maria Julia Monteiro
foi alvo. Ao que parece, a palavra racismo não foi mencionada em nenhum
momento. O que era de se esperar. Sabemos que cada frase dita no telejornal
passa pela chancela de Ali Kamel, diretor de jornalismo e autor do livro
"Não Somos racistas".
Da
Globo não espero nada. Da Maju, torço para que ela tenha forças para lutar. Não
com um irônico "beijinho no ombro", como ela teria dito, mas com um
posicionamento firme. Racismo não é brincadeira. É uma ideologia forjada para negar
a humanidade de nós negras e negros.
Luana
Tolentino é professora e historiadora. É ativista dos movimentos Negro e
Feminista.
Você gosta do folheto Carta Capital, né querida?
ResponderExcluirSe Deus tem algum meteoro guardado para uma ocasião especial, acho que essa é a hora dele usar.
ResponderExcluirIncoerencias a parte...como condenar o racismo...mas ser simpatica ao ódio a Globo....e tudo q envolve as elites brancas...fica provado no seu texto...que ha mais sol em Marrakech ...do que em Copacabana..e assim continua o discurso da moda...DWF
ResponderExcluirPerfeito, anônimo 18:00.
ExcluirDigo o mesmo ao "discurso do ódio" que só vale para aqueles que criticam o governo.