sexta-feira, 17 de julho de 2015

O feminismo e a fundamental, incrível e despretensiosa explicação masculina

POR EMANUELLE CARVALHO

O feminismo usa uma série de termos para dialogar sobre fenômenos muito conhecidos em nossa sociedade. Entre tantos termos e definições, vou focar hoje (mais pra frente explico outros) em dois comportamentos bem típicos de homens que corroboram para uma sociedade machista. O motivo? Para que você, mulher, consiga perceber e se proteger destes comportamentos e para que os camaradas homens parem de bater o pé para fazer valer suas ideias e vontades.

O primeiro chama-se mansplaining. É talvez a mais clássica, mais conhecida e, na minha visão, uma das armas mais perigosas do machismo. É aquele velho hábito que homens tem de querer explicar tudo, absolutamente tudo, para as mulheres, mesmo quando elas dominam o assunto, mesmo quando eles não entendem nada do que estão falando. 

O mansplaining ou "ozomexplicanismo", como brincam várias feministas, não precisa ser grosseiro. Aliás, ele geralmente vem cheio de boa vontade para tentar explicar o que é e o que não é feminismo, para tentar justificar que "não foi machista". Ora, imagina só que você mulher,  como eu, que vive 20, 30, 50 anos nesse corpo, não tenha mais propriedade e vivência para explicar do que aquele seu camarada de esquerda que começou a ler Alex Castro e se acha o salvador de mulheres. Você vive e se defende do machismo diariamente mas seu amiguinho de esquerda, de direita, ou Marina Silva mesmo, se acha mais conhecedor de causa. Claro né? Ele é homem. Como assim ele não pode opinar sobre absolutamente TUDO?

O blog da Lola fez um texto sobre mainsplaining (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2014/09/pare-de-me-interromper-cara.html?m=1)  apontando uma série de casos e estudos específicos onde homens fazem um esforço descomunal para explicar tentar fazer com que mulheres entendam assunto que elas já dominam. O termo surgiu de um artigo da escritora Rebecca Solnit, traduzido e publicado por Lola:
"A experiência de Solnit realmente foi um exemplo perfeito. Ela estava conversando com um homem em um coquetel quando ele lhe perguntou com o que ela trabalhava. Ela respondeu que escrevia livros e descreveu o mais recente deles, River of Shadows: Eadweard Muybridge and the Technological Wild West (Rio de Sombras: E.M. e a Tecnologia do Velho Oeste). O homem a interrompeu logo que ela mencionou Muybridge e perguntou, 'Você ouviu falar sobre o livro importantíssimo sobre Muybridge que foi publicado este ano?' E prosseguiu, baseando-se em uma resenha que leu sobre o livro, sem mesmo ter lido o livro, até que por fim uma amiga disse, 'É o livro dela.' Ele ignorou a amiga e ela teve que repetir mais três vezes até que 'ele ficou pálido'e saiu andando".

O mansplaing abre sempre espaço para um outro comportamento conhecido como mantererrupting, que é a interrupção as mulheres. Há uma série de estudos de interrupção com recorte em gênero, ainda não conclusivos mas que apontam para uma interrupção expressivamente focada em gênero. 

Além da experiência de Solnit, outras interrupções famosas tiveram visibilidade midiática (http://www.revistaforum.com.br/outrofobia/2014/08/28/sou-mulher-deixe-falar/) como as entrevistas de presidenciáveis mulheres nas últimas eleições. Se compararmos a interrupção de Willian Bonner durante a entrevista de presidenciáveis em 2013, fazendo o recorte por gênero, o âncora interrompe mulheres 40 vezes e homens 10. Um absurdo, uma discrepância que dispensa qualquer mansplaining masculino.

Há muitas outras expressões e termos que nos ajudam a perceber e consequentemente combater o machismo diário, especialmente aquelas opressões em doses homeopáticas que nos oferecem em nossos empregos, em nossas casas, nos espaços públicos, nas lutas e em todos os lugares. Aos poucos a gente se empodera mulheres. E homens: parem com seus comportamentos abusivos e de falsa tutela.

4 comentários:

  1. "The hand that rocks the cradle, Is the hand that rules the world"

    Caríssima (acho que a autora é uma mulher), já ouviu a famosa frase de William Ross Wallace?

    O mundo não é machista, o mundo é o que é. A sociedade não é machista porque o homem é mais forte ou supostamente mais inteligente, a sociedade é supostamente machista (na visão dos/das feministas) porque as mulheres assim a deseja. Vejamos. Uma criança do sexo masculino nasce, com quem ela tem o primeiro contato? O menino cresce e quem inicia os valores dele senão a irmã mais velha, a tia, a avó? E depois, na sala de aula, a maioria dos docentes de pedagogia é do sexo feminino. Será que a influência do pai, do irmão, do tio, do avô é maior do que a extensa convivência feminina durante o desenvolvimento do garoto? Lembro que esse pai, irmão, tio e avô também conviveram mais com os entes femininos do que com os masculinos.

    Nos últimos cem anos a mulher provou ao mundo sua competência na política, na ciência e nos esportes, porém, na sociedade ocidental, a mulher prefere ser conduzida e essa atitude poder soar para alguns como de subserviência. Contudo a mesma atitude protagonizada por um homem pode ser encarada como cavalheiresca para alguns ou misógina para outros. Para a cultura feminista o homem tem que se mostrar inteligente (mesmo quando não é), tem que ser viril, tem que escolher o restaurante, tem que conduzir e tem que fazer e acontecer na relação sexual (se é que me entende!).

    Se o papel da mulher é difícil, o do homem também não é fácil.

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  2. Ah, essa vontade de dizer que só as mulheres podem falar sobre feminismo, sendo vida um bem jurídico coletivo, já esgotou. Há uma tentativa muito grande em mostrar-se dona da verdade sobre o tema (e de fato, aonde está a verdade? A quem pertence? É muito pretensioso dizer o que é certo e errado do comportamento humano. Só lembrar a morte de Sócrates). De qualquer forma, o exemplo dado sobre Willian Bonner não é lá tão válido por razões de gênero. Houve um abismo de preparação entre os dois profissionais, que se evidenciou na entrevista. Fosse isso, Fátima Bernardes não teria tido o protagonismo que teve no Jornal Nacional durante diversos anos, e em várias copas.

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  3. a lá, uzomi comprovando mais uma vez a teoria do mansplaining. não deu outra, a mulher se manifestou e uzominho vieram dizer que não é bem assim...

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    1. Quer dizer que os homens tem calar a boca ?

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