terça-feira, 27 de maio de 2014

O desumano e desenvolvido Iririú

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

O Bairro Iririú, em Joinville, possui aproximadamente 24 mil moradores e é um dos bairros surgidos na década de 1970 graças à horizontalização da cidade, oriunda de um modelo de planejamento urbano selvagem (segregação, áreas de ocupação irregular, desmatamento e aterro de manguezais). O bairro se desenvolveu, e com o passar dos anos, é uma prova viva de que o desenvolvimento, se não for construído em uma harmonia entre sociedade, meio ambiente e economia, é qualquer coisa, menos desenvolvimento.

Tudo começou quando o Iririú se tornou uma espécie de "portal" para a zona leste de Joinville, pois todo o sistema viário passava a ligar, direta ou indiretamente, os bairros da região ao centro da cidade, cortando o núcleo urbano do Iririú. Este fato deu muitas vantagens à região, como a valorização imobiliária, a grande quantidade de serviços especializados (todas as grandes redes bancárias possuem uma agência no bairro, por exemplo), um terminal de ônibus, alta rotatividade de pessoas e veículos e uma economia forte. Segundo dados do IBGE de 2013, o bairro possui 6,3% de todos os estabelecimentos comerciais da cidade, 5% das indústrias e 4,2% das empresas de serviços. Além disto, possui uma grande área verde, pois está "cravado" entre o Morro do Boa Vista e o Morro do Finder. É, de fato, uma das maiores subcentralidades da cidade.

Analisando friamente estes dados, é um ótimo bairro para se habitar. Entretanto, o cenário está mudando rapidamente, pois as vantagens estão se tornando deficiências, devido à má administração e planejamento da região.

O sistema viário está se tornando o grande problema do Iririú, apesar de parecer o contrário. A inauguração do "Binário do Iririú" por LHS nos anos 1990, junto ao incentivo que a política do automóvel obteve na cidade e no país nos anos posteriores, gerou um caos: como é passagem do centro para a zona leste, e vice-versa, o bairro foi tomado por congestionamentos, acidentes, e um lugar intransitável para pedestres porque a velocidade dos automóveis é muito acima do normal. Adiciona-se o fato de não haver uma sinalização eficiente (faixas de pedestres semi-apagadas, ciclofaixas que não se conectam entre si...), ciclovias, calçadas adequadas, e um sistema de monitoramento por radar (cadê a licitação, Prefeitura?).

Segundo estudos do setor de Mobilidade e Acessibilidade do IPPUJ, a Rua Iririú, a principal do bairro, é a que mais recebe fluxo de automóveis nos horários de pico, considerando toda a cidade de Joinville. E os carros andam por verdadeiras pistas de motocross, digo, remendos feitos pela Cia. Águas de Joinville nas obras de esgotamento sanitário.

O Morro do Finder deixou de ser parque faz tempo. O projeto do Fonplata parece estar longe de contemplar o local, mesmo que no papel recursos estejam garantidos há mais de 10 anos. Em toda a extensão do bairro, não há nenhuma área de lazer (não considero a pequena "Praça da Santa" como tal), enquanto a área verde em abundância poderia ser melhor aproveitada.

Para piorar, as escolas estaduais do bairro constantemente aparecem nas páginas dos jornais como interditadas (obrigado, LHS e Colombo!) e deixam os jovens com uma educação pobre e de pouca qualidade. É um bairro com pouco espírito crítico, formador de poucas lideranças (o último vereador morador do Iririú foi eleito em 2000) e as associações comunitárias revezam os Presidentes entre si (pois não há espaço para renovação) - que geralmente são cooptados por políticos "caciques". E a LOT pretende tornar "Faixas Viárias" as já saturadas ruas que ano após ano abrigam mais prédios, mais carros, e mais problemas.

O bairro, enfim, pede socorro. Pede por algo que caminhe no sentido de uma humanização do território, com áreas verdes utilizáveis, menos carros nas ruas e um maior incentivo ao transporte coletivo; uma urbanização menos agressiva perante as áreas de encosta dos morros e uma oxigenação das lideranças. Ou seja, algo que o dito "desenvolvimento", tão propagandeado na cidade, não trouxe. Os representantes e gestores devem olhar para o Iririú desprovidos dos números, pois estes são enganosos e não mostram a realidade dos moradores locais.

10 comentários:

  1. Faltou informar que o transporte coletivo na região é um lixo. A Transtusa simplesmente não cumpre horários e os pseudo-ônibus, a maioria umas tranqueiras com 10-15 anos de uso, vão sempre lotados. Pegar um Iririú-Centro é sempre um horror, e ou sai lotado ou simplesmente demora até meia hora pra aparecer um.

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  2. Moradores do Espinheiros que usam a Papa João XXIII estão preocupados com as mudanças que vão ocorrer na Albano Schmidt no Comasa. Hoje já está completamente parados e vão transferir os carros da Albano para lá, vai literalmente parar....

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  3. Putz. Quando mudei para Joinville o Iririú era longe pra cacete.

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  4. Obrigado Charles! Gostei muito do texto. Me fez lembrar que um dia existiu a AMABI... onde foram as pessoas com força e liderança do bairro? Acho q tudo girou em torno do lado financeiro, o Iririu tem muita coisa em torno da Estação de Onibus e de modo geral no bairro todo. E parece que os "lideres" ja se deram por satisfeitos. Agora eu queria um pouco mais de qualidade de vida. Onde coloca as sugestões... (?) Quem vai ouvir?

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  5. Engraçado ler um texto cheio de números e dados e ver o autor, ao fim do texto sugerir que "Os representantes e gestores devem olhar para o Iririú desprovidos dos números, ..."

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  6. Recentemente o Ippuj fez modificações no trânsito da região. A mobilidade piorou e muito. É impressionante como estes pseudo técnicos conseguem piorar uma coisa que já estava terrível. São uns genios.

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    1. O IPPUJ consegue ter em torno de 50 arquitetos e engenheiros, a maioria são chefes de sí mesmo e ganham acima do restante da PMJ, e não conseguem nem mesmo projetar uma ciclovia de 200 m de extensão como vimos recentemente, sem falar nas praças e parques concretados. E ainda vão acabar com a FUNDEMA....

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  7. Sérgio, qual é o problema de engenheiros e arquitetos ganharem a acima do restante da PMJ? Você acha que um médico da prefeitura ganha muito? Infelizmente eles ganham muito abaixo do que deveriam ganhar, os pisos salariais não são respeitados pela prefeitura, mas não é exclusividade da PMJ e nem do setor público. Você já pensou em fazer uma faculdade de engenharia ou medicina? É fácil? Diploma é importante sim e qualifica o trabalho, mesmo que a eficiência não seja medida pelo diploma. O fato de ganharem abaixo do que deveriam não é justificativa para fazer um serviço de qualidade ruim. Quem tem que fiscalizar e incentivar os servidores são os presidentes dos órgãos públicos como Ittran, estes são homens de confiança do prefeito, comissionados, não concursados como os engenheiros e arquitetos citados. Se são feitas obras ruins, a culpa é de quem aprovou estas obras ruins, com claras intenções políticas por trás de obras de enfeite, como as ciclovias.

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  8. O alvorada não pode ser mais antigo que o Iririú

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