quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A meritocracia é uma utopia


POR CLÓVIS GRUNER

Há algumas semanas, José António Baço escreveu aqui no blog sobre meritocracia. Volto ao assunto, mas para abordá-lo sob outro prisma e motivado por um comentário ao texto do Murilo Cleto, publicado no final de semana. Eis o comentário, reproduzido apenas parcialmente:

(...)

Na sociedade de mercado não há essa utopia, há diferenças de classes (como também há nas ditaduras ditas comunistas), porém, quando a sociedade aceita meritocracia e a enxerga com bons olhos, TODOS têm condições de alcançar uma qualidade de vida.
A ideia de que a riqueza se resume a um bolo fatiado é estapafúrdia! Riqueza produz mais riqueza, a população não tem de se contentar com aquele pedaço do bolo, pois ele se multiplica, basta o cidadão estudar, se qualificar, trabalhar... mas isso poucos querem, então, para muitos, sobra a utopia do comunismo.

Se o autor realmente acredita no que escreveu, e a seguir seu raciocínio, os milhões de corpos que diariamente agonizam de fome são, não em última, mas em primeira instância, os responsáveis pela sua própria miséria. Se “TODOS têm condições de alcançar uma qualidade de vida”, bastaria ao indivíduo “estudar, se qualificar, trabalhar” e melhorar de vida. Afinal, se a meritocracia provou que “TODOS tem condições” de viver dignamente, é óbvio que o gajo só continua a fuçar no lixão ou a viver em um campo de refugiados porque quer – e porque, no fim das contas, ainda lhe “sobra a utopia do comunismo” a compensar o mau cheiro e a condição degradante de refugiado.

Minha fé na humanidade anda quase no negativo, mas mesmo assim me choca a ideia de alguém expressar em tão poucas linhas tanto desprezo e insensibilidade pelo sofrimento alheio. Quero acreditar que não foi intencional: ele apenas repetiu o que deve ter lido em algum lugar – uma página do Facebook, algum blog de direita, talvez um artigo assinado por um dos profetas do neoliberalismo que pipocam nas colunas de opinião. Nesse caso, o problema não é a indiferença, ou não só ela, mas a ignorância conceitual e histórica. E para isso há chance de cura: basta o cidadão estudar e se qualificar. O que, no fim das contas, dá sempre um pouco de trabalho.

MÉRITO PARA QUEM? – A ideia de “meritocracia” tem sua história, e ela é mais ou menos recente. Filha dileta e direta do liberalismo iluminista, ela surge em um contexto onde imperavam o privilégio dinástico e hereditário, em detrimento dos valores e qualidades individuais. Falo das chamadas “sociedades de corte”, com sua hierarquia social no limite da imobilidade e onde se decidia, desde o berço, quais as posições e funções sociais a serem ocupadas e exercidas. No Antigo Regime, e quem passou por um banco escolar sabe disso, imperava o “privilégio” em detrimento do “mérito”.

Os liberais dos séculos XVII e XVIII teceram severas críticas a uma sociedade que produzia permanentemente as condições – culturais, sociais, políticas, econômicas – de sua própria reprodução, privilegiando sempre os já privilegiados. Um dos alicerces dos seguidos ataques desferidos contra a aristocracia e a nobreza, a meritocracia surge radicalmente subversiva: por meio dela, não apenas se defendia o valor individual em detrimento das posições nobiliárquicas, como ao fazê-lo se asseverava a possibilidade de mobilidade e ascensão daqueles indivíduos dispostos a fazer um bom uso de sua inteligência (a expressão é kantiana) para ascender e conquistar, por merecimento, melhores e mais vantajosas posições sociais e econômicas.

Mas há um elemento fundamental que não escapou à sensibilidade dos primeiros liberais: o mérito, por individual que seja, não aflora senão em uma sociedade de igualdade; igualdade não ontológica, mas de condições e de oportunidades para todos os homens diferentes entre si. A meritocracia, noção tão castigada pelos liberais de internet, é produto de uma utopia, a do liberalismo, que opõem a uma sociedade atravessada por muitas desigualdades, a promessa de uma isonomia necessária para que os indivíduos pudessem exercer seus talentos sem que as condições desiguais entre eles favorecessem uns em detrimento de outros.

ASPIRAR A IGUALDADE – Diferente do comentário que motivou esse texto, a meritocracia não é uma panaceia a justificar a desigualdade social apelando à competência de alguns poucos enquanto acusa, irresponsavelmente, a indolência da maioria. Ela contém, desde o berço, a possibilidade utópica de que as condições objetivas mínimas de igualdade serão asseguradas para que os indivíduos possam, livremente, exercer seus talentos. Daí o projeto, acalentado pelos iluministas do setecentos, de uma educação universal, entendida como condição primária à aquisição das habilidades necessárias para que se pudesse, efetivamente, falar em uma sociedade baseada no mérito.

E não é preciso devorar tratados filosóficos, porque tudo isso está nos documentos fundadores do liberalismo político e da noção moderna de democracia: a Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789; e as Constituições americana e francesa, ambas de 1791. Em que pese as diferenças, há neles alguns conceitos chaves firmemente reiterados: todos os homens nascem e são iguais, e a cada um deles deve ser assegurado o direito à liberdade, a propriedade e a busca da felicidade.

Poucas ideias trazem uma energia tão utópica quanto essas. E poucas doutrinas aspiraram tanto à igualdade quanto o liberalismo. E é lamentável que o que sobrou foi pouco, tão pouco, ao ponto de poder-se  hoje resumir ideias e projetos políticos tão engenhosa e criativamente urdidos em meia dúzia de sentenças doutrinárias infelizes, que cabem na caixa de comentários de um blog.


57 comentários:

  1. Essa utopia da sociedade burguesa virou pesadelo das minorias. Pra todo mundo que ainda não entendeu, o princípio da equidade tem tentado equilibrar um pouco da selvageria que o espaço público virou. Mais uma vez, grande texto! Lamento apenas que já prevejo a enxurrada de mal leitores que vêm a seguir.

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    1. Como assim? Só quando concordarmos com você que seremos bons leitores? A esquerda e o seu monopólio da bondade.

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    2. 11:27, eu poderia responder-lhe dizendo que o dissenso e o contraditório são parte do debate público. Ou eu posso simplesmente inverter seu argumento: só quando concordamos com vocês é que seremos bons autores? A direita e seu monopólio da bondade.

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    3. Mas eu não prevejo leitores ruins. A pecha foi levantada pelo amigo de esquerda. Sua inversão não cabe, caro Gruner. O colega que pisou na bola. Além do mais, uma pergunta, o senhor é da defensoria pública?

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  2. Sinto muito pelos canadenses, neozelandeses, australianos, irlandeses, dinamarqueses, japoneses, alemães, etc, que são acometidos pelo liberalismo todo santo dia, afinal, nesses países a discrepância entre as classes sociais é altíssima e a meritocracia passa longe.

    Sem mais.

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    1. Dá uma olhadinha no quanto de impostos alguns desses países pagam pro Estado ("mínimo" da sua categoria Liberalismo)

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    2. Marcos, um pouco de livros de História neste feriado que se aproxima pode te dar a chance de não falar bobagem na próxima vez.

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    3. "Dá uma olhadinha no quanto de impostos alguns desses países pagam pro Estado ("mínimo" da sua categoria Liberalismo)"

      Eu ri alto, agora.

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    4. Bons tempos quando você tinha as Histórias antiga, medieval, moderna e contemporânea, essas eu leio até hoje. Na América Latina (e especialmente no Brasil) a História se resumiu num palanque ideológico, infelizmente.

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  3. Em ambientes hostis aos mercados, ceifado, o mérito é. Com ambientes favoráveis, o mérito é a regra, e os indivíduos que não adentrarem nesse eficaz sistema, temos o Estado para ampará-los. Essa utopia fez, por exemplo, em um espaço de 60 anos, com que Hong Kong saltasse de 750,000 para 7,1 milhões pessoas com uma renda per capita 264% maior que a média mundial. Veja só, a renda per capita dos EUA é de US$ 50,700 e a de Hong Kong é de US$ 52,300, em 2012. Os EUA vivem em um solo gigante e fértil, ao contrário de Hong Kong que tem um território minúsculo e uma densidade populacional gigante. Se o povo brasileiro soubesse disso, jamais viveríamos nesse ambiente hostil ao empreendedorismo, num modelo estatista falido e desigual, no qual só os amigos do partido ganham benefícios.

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    1. Perfeita análise, o mérito é realidade quando criamos um ambiente favorável e tornamos as condições de atingimento acessíveis para todos...

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    2. O mérito concorre com um ambiente favorável para todos, mas é difícil para os carolas compreenderem isso.

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    3. Na visão distorcida dos esquerdistas, se você é pobre só pode alcançar uma qualidade de vida através de “ambiente favorável para todos”, providenciado por um Estado de bem-estar social emulando um ambiente mais igualitário possível. O Mérito é uma qualidade concedida apenas aos bem nascidos.

      Eduardo

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    4. Ninguém aqui é contra o mérito no sentido conceitual, só achamos que ele deveria valer nas populações em que todos indivíduos usufruam das mesmas condições e oportunidades. Acho que não precisa desenhar, né Marcos?

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    5. 17:53, em se tratando do Marcos, nem desenho.

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    6. Eduardo, não são os esquerdistas que defendem a ideia de um “ambiente favorável para todos” como condição mínima para o exercício da meritocracia. São os liberais. Aliás, muita coisa que é atribuída aos "esquerdistas" foi, antes, bandeira liberal, e algumas ainda são. Se você não tinha como saber disso antes, agora tem.

      Então, caso você queira, ainda dá tempo de ler o texto e apagar o seu comentário clichezão e infeliz, que é pra você não ficar aqui passando vergonha.

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    7. Não, Anônimo 17:53, não é preciso desenhar, apenas esperar sentado.

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    8. Mas 17:53, se desenhar bem desenhadinho, ajuda.

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  4. O pessoal que defende a meritocracia no serviço público poderia explicar como ela é possível dentro das instituições públicas se o salário do servidor é fixado por lei e divulgado amplamente e é aumentado por sanção do executivo e para todos os funcionários. E a ascensão interna (concurso interno) é proibida pela constituição (inciso II art. 37). Será que a única alternativa é a bajulação política pra virar comissionado?

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    1. Perfeito, você foi no ponto certo, como haver meritocracia se não há um ambiente favorável, nem na iniciativa privada e nem na pública.

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    2. Rudimar, a única alternativa na prefeitura de ser valorizado é realmente ser amigo do rei (ou amigo do amigo do amigo...). Trabalho há muitos anos lá e sou modéstia à parte competente, pois exerço forçosamente uma segunda jornada após as 14 horas e meu clientes da área privada sempre me elogiam e continuam me contratando. Do lado de lá do balcão o que vejo são pessoas acomodadas e cada vez mais medíocres mandando.

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    3. A vontade de crescer na vida pertence a todo o ser humano, num local onde todos ganham a mesma coisa, não há vontade de fazer o melhor e vontade de subir de cargo... o que reclamo é ver políticos tentarem enganar a população prometendo coisas que são inconstitucionais ou ilegais. Toda hora aparece um vereador com uma proposta de lei que é inconstitucional. Este ano vai ter um monte. Mas ainda gostaria de saber como o Udo pretende implementar algo que pode ser ilegal. Alguém que defende ele poderia compartilhar algum link, de alguma prefeitura que deu certo a implantação da meritocracia. No sistema atual brasileiro não vejo como pode dar certo.

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    4. Uma dica, privatizar; passar a competência p/ a iniciat. privada, enxugar a máquina pública... Isso já é um grande passo. Além disso, pode-se desregulamentar as leis municipais, começando pelo setor de transporte coletivo.

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    5. O transporte coletivo de Joinville é operado por uma empresa privada sob concessão da prefeitura. Deixar livre de controle do transporte coletivo tende a aumentar o valor da passagem e piorar o serviço. Os bairros mais afastados do centro terão um serviço pior, pois a empresa tenderá a reduzir custos ou aumentará o valor da passagem para estes bairros ou seja quem mais precisa sofrerá mais. Privatizar, tem seus prós e contras, por exemplo: a privatização das teles está dando dor de cabeça aos usuários até hoje, o serviço é caro e ruim. Privatizar os hospitais ou escolas irá prejudicar quem não tem pode pagar pelo serviço, o EUA é exemplo de privatização da saúde que deu errado. Se todo mundo tivesse as mesmas condições iniciais de recursos, a proposta de meritocracia na sociedade seria mais viável, como não é, infelizmente o assistencialismo do governo deve continuar por muito tempo.

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    6. No Serviço Público de Joinville, apenas os médicos possuem uma espécie de bônus por fazer seu trabalho. Se eles vem trabalhar e ainda por cima atendem aos pacientes, ganham um adicional por isso! Se não fizerem nada disso, se contentam com seu pobre salário sem mérito.

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    7. Rudimar, vc não sabe o que eram as teles antes da privatização. Vai por mim, deixa como está...

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    8. Eu não acho que privatizar seja a solução pra tudo mas, nesse ponto, sou tenho de concordar com o 15:53.

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    9. "O transporte coletivo de Joinville é operado por uma empresa privada sob concessão da prefeitura." Veja bem o que você escreveu. O transporte coletivo é operado por UMA empresa e ainda sob CONCESSÃO da prefeitura. Isso significa que não há nem de longe livre mercado no setor de transporte coletivo. Entenda que se há apenas "UMA" empresa que presta o serviço de transp. coletivo, não há concorrência, bem dizer, o que existe é um monopólio concebido pelas próprias mãos da prefeitura, e assim temos os conluios entre as empresas e governo, nada mais que um dos fatores mais nefastos para uma economia de livre mercado, pois fere a concorrência, que, sem ela, não há busca pela excelência, não há comprometimento com o cliente e finanças, pois o governo ajuda quando precisa, e tampouco investimentos no setor. Ou seja, não há incentivo para o mérito. Se o ambiente fosse favorável, com um mercado desregulado, livre de concessões, licenças etc... sem dúvida, as empresas iriam disputar a tapa os clientes e as tarifas iriam ser mais condizentes. Quanto aos bairros mais afastados do centro, não se preocupe que as empresas iriam atender essas demandas, e com certeza, muito melhor da maneira que é realizada hoje, no qual o efetivo de ônibus circulando é o mínimo. Com uma economia de livre mercado as economias se reinventam, até mesmo as locais, fora dos grandes centros. Basta pegar os cantões do Brasil e veja até onde as empresas intermunicipais vão para auxiliar e lucrar com o povo, passando por estradas precárias, perigosas etc... A iniciativa privada, mesmo em ambientes hostis são responsáveis, com suas deficiências, mas são. Deixe um ambiente favorável e verás o serviço que teremos.

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    10. Olha se formos falar do setor de telefonia, não há dúvidas que houve um sucesso com as privatizações. Em pouco mais de 20 anos saímos do atraso para o futuro. Temos hoje no Brasil mais celulares do que habitantes, além do mais os aparelhos custam preços irrisórios comparáveis à época estatal. Naquela época das estatais, o telefone de linha fixa já era um luxo. Hoje o celular já faz parte de qualquer família brasileira, desde a mais simples à mais abonada. Para comprar um celular na época estatista era um parto, precisava fazer uma inscrição, participar de um sorteio e depois ainda seriam analisadas as ordens de atendimento, isso sem falar do preço, inviável, para a maioria da população brasileira. Feito as privatizações, é claro, a esquerda foi contra, como sempre, ama o atraso e a ineficiência. Quem lembra do Lula criticando? Hoje ele, com certeza, é um dos donos dos mais 50 milhões de aparelhos de internet móvel rápida(3G) do Brasil. A esquerda que diz que adora melhorar a vida das pessoas não pode ainda ser contra, né? Veja que as pessoas utilizam a conexão de internet, independente do dispositivo de acesso, segundo estudo da FGV, para: lazer 29%, leituras de jornais, revistas e busca de informação 28%, educação e aprendizado 28%(...), ou seja, isso que eu chamo democratização, igualdade e benefícios sociais. Quem não privatizou seus mercados ficou para trás, basta olhar para a África do Sul, país que ainda possui a estatal Telkon. Lá os indicadores da comunicação são péssimos. Já os nossos indicadores são ótimos, crescemos tanto e tão rápido que talvez esse seja um dos indicadores por termos tantas reclamações, no entanto, ao menos, parece que reclamar ainda é positivo. Nos tempos da Telebrás, adiantava alguma coisa? Eu não tenho dúvidas de que o que precisamos é de mais concorrência nesse setor e menos burocratização para favorecer o mercado. Sinal de celular bom depende da quantidade de estações/antenas, porém, escreva no google sobre a dificuldade que as empresas possuem em instalar essas bases. É um parto, e por quê? Porque simplesmente há muita burocracia, o que emperra o investimento e o progresso. No entanto, veja que só nos primeiros 10 anos da privatização foram investidos R$180 bi, ou seja, é inimaginável um governo tentar fazer um investimento desse porte em um curto espaço de tempo, não há recursos pra isso, tão logo competência, responsabilidade e caráter. Portanto, o caminho a trilhar é o livre mercado, privatizações e concorrência. O governo deve ficar com o mínimo necessário para dar amparo aos desfavoráveis e também aos que vieram a ficar em situação de vulnerabilidade social. Caso nosso governo continue nessa política estatista, de regulamentações, pode esquecer, pura embromação e fracassos inomináveis serão a regra. É já o que estamos vendo, não é?

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    11. Concordo em parte anonimo da 19:58 quando diz que a entrega de alguns setores para a livre concorrencia desonerou o governo destas áreas e agilizou o mercado, favorecendo os consumidores. Mas ficar na mesma paranóia sempre que o governo federal é bolivariano, é estatizante, é comunista já encheu o saco mesmo. Abrimos concessões de telefonia, de estradas, de portos, de aeroportos, de ferrovias, saúde, etc, etc e vcs vêm sempre com este mesmo papinho de desentendidos e vítimas?

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    12. A privatização das telecomunicações proporcionou o acesso. Ótimo, agora é visível que falta fiscalização por parte do governo. As operadoras no Brasil se aproveitam de uma fiscalização ineficiente para sugar os clientes sem medo de uma retaliação. Vendem serviços que não entregam ou entregam com baixa qualidade.
      Privatizar é entregar a operação a terceiros, porém ainda é responsabilidade do estado proteger o cliente, que é o ente mais frágil dessa relação. E quanto a isso creio que ainda temos que melhorar muito.

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    13. Há fiscalização demais, tanto é que emperra o bom andamento da iniciativa privada com essa gigantesca burocracia. Por exemplo, o sinal do celular, veja o problema que é para instalar uma antena. Quem cria esse problema? O Estado, esse mesmo que você diz que quer proteger o cliente.

      Fazendo pouco caso do risco bolivariano? O Brasil apoia declaradamente eles, são parceiros econômicos e ideológicos. Não sejamos tão ingênuos. Esse papinho de desentendidos e vítimas ainda? Não enxergar o risco bolivariano, vai, eu até entendo dependendo da linha ideológica do cidadão, mas não considerar o estatismo no Brasil só pode ser cinismo. O governo brasileiro interfere a todo momento na economia e criou uma série de instrumentos(legislação, efetivo, empresas pub, autarquias-ag...) para se manter encrustado no mercado ditando as regras. Há quem diga que fizeram concessões, com uma série de defeitos como no caso dos portos, petróleo..., mas ao menos fizeram. Porém só fizeram depois de 12 anos. Precisou de 3 mandatos para entender que era necessário fazer isso? É o mínimo que se tinha que fazer. Lembrando que enquanto não faziam por aqui, faziam infraestrutura em Cuba, Venezuela, Bolívia... Olha os bolivarianos aí gente.

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    14. Quanta imbecilidade, a sua paranoia pelo comunismo é a mesma de alguns atiradores americanos que matam dezenas em universidades.

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  5. Muitos dos que rejeitam a meritocracia vieram de famílias abastadas ou de classe média, estudaram em bons colégios, tiveram/têm “QI”, então para eles a meritocracia torna-se uma palavra extraterrestre. Ou seja, quem refuta a meritocracia de fato nunca precisou de mérito para ascender socialmente e profissionalmente.

    Eduardo

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    1. Talvez no mundo em que você vive - sei lá, Marte - isso seja verdade. Aqui, é o contrário: quem vomita "meritocracia" a cada dois arrotos são, justamente, os que vieram de família abastadas ou de classe média, e não precisaram de muito esforço para ascender ou, no mínimo, manter a posição social que herdaram.

      Ou seja: meritocracia no dos outros é refresco.

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  6. Clóvis, esse trecho de comentário que você usou é um tipo de argumento muito presente na literatura de empreendedorismo. De forma simplória, reduzem o ato de empreender a simples questões de apetência e competência, sem nenhuma referência a outros aspectos da desigualdade entre pessoas. Isso me deixa muito angustiado com o nível das discussões acadêmicas sobre o assunto. Obrigado pelo texto.

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  7. Clóvis, o trecho de comentário que você usou é a base de um argumento muito presente na literatura sobre empreendedorismo. Tratam a questão como se fosse relacionada apenas a apetência e competência do indivíduo, sem nenhuma discussão sobre outros aspectos da desigualdade entre as pessoas. Isso me deixa angustiado com o nível da discussão acadêmica sobre empreendedorismo. Obrigado pelo texto.

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  8. Espero que este ano na Copa do Mundo a Fifa acabe com o negócio de meritocracia e distribua medalhas de participação a todas as seleções com os jogos terminando em 0 x 0.

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    1. Esse o Clóvis não conseguiu rebater... kkkk Dirk, Gênio!!!!

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    2. Pensei que fosse algum tipo de piada. E confesso que achei engraçada.

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  9. Caríssimo, sou o Jonas e meu e-mail é jonas.sst@yahoo.com.br, mas
    na atual conjuntura da sociedade o que se pode fazer, então? O serviço público não permite se ascender a carreira como dito anteriormente. O ambiente corporativo faz-se, ou toma-se, qualquer atitude para se conseguir as benesses de cargos e posição social e está diretamente atrelado à competência, a meritocracia.
    Desculpe, mas que rumo tomar? Que rumo tomar AGORA, não em uma sociedade hipoteticamente perfeita e igual. Agora...o que fazer agora?

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  10. Poderíamos iniciar a meritocracia ao nascimento. Os bebês que procurem sozinhos seu próprio sustento. Que se alimentem, estudem, trabalhem e conquistem tudo por conta própria. Teríamos uma espécie muito melhor, dentro desse raciocínio.

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  11. Já discutimos algumas vezes aqui. Em alguns casos quase partimos prá ofensa.
    E embora eu ache que a vontade pessoal também deva ser considerada nessa discussão esse texto está muito bom. Parabéns. Pra mostrar pra a filha se o assunto for tratado na escola.

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    1. Sim, eu também acho que esforço e vontade pessoal devem ser levados em conta. O que tentei mostrar, recorrendo justamente aos "pais fundadores" da meritocracia, que só esforço e vontade pessoal não bastam.

      E obrigado pelo comentário. É sempre bom saber que em meio à barbárie algo generalizada das caixas de comentário ainda existe a possibilidade de civilização e civilidade.

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  12. A meritocracia existe, ponto. Se ela necessita de um principio de igualdade, no decorrer do tempo afloraria a desigualdade novamente. Ela existe em toda competição em ideias empreendedoras que premiam os indivíduos que souberam gerar valor. Nos últimos dez anos um dos pontos fortes da administração petista foi o BF, com injeção de renda na base e abertura de créditos, com incentivo ao consumo resultando na inclusão pela classe de renda. Isso quer dizer economia de mercado na base e no macro-econômico intervenção em alguns setores para criar as campeãs nacionais e forte concentração(nota-se aumento de concentração). O próximo passo seria criar a dinâmica desse mercado que cresceu com o aumento da competitividade e meritocracia que cria toda a dinâmica para gerar riqueza. Nesse sentido sou sim a favor da meritocracia, mas ela é melhor aplicada na esfera privada.

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    1. Marco, eu estava pensando em escrever meu próximo texto articulando a discussão sobre meritocracia que proponho nesse às políticas sociais como o BF. Seu comentário me animou a continuar. Obrigado.

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  13. Agora estão “burguetizando” o mérito.

    Brasil: o último que sair apaga a luz!

    Irene

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  14. Po, estava justamente lendo o livro do historiador Cristophe Charle "As Elites da República", quando venho no chuva e me deparo com esse texto do Clovis. Também historiador e questionando a legitimação republicana da meritocracia. Abraços

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    1. Icaro, você conhece "A gênese da sociedade do espetáculo", também do Christophe Charle? Belíssima e estimulante leitura. E obrigado pela visita.

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  15. Clovis gostei muito do seu texto, . Sempre acreditei que a meritocracia era a melhor forma de se ter menos favoritismo e mais igualdades de condições. Hoje percebo que longe de ser a inteligência e o esforço um definidor de sucesso pessoal, e vejo que ter uma formação acadêmica e até mesmo uma formação literalmente e sentido amplo está mais relacionada (com algumas ressalvas) a uma tragetoria de oportunidades e de influências do individuo do que mesmo a sua competência profissional.

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    1. Obrigado pelo comentário.

      Acho que a noção de "mérito" ou "meritocracia", tal como compreendida por alguns dos comentadores daqui - a começar pelo rapaz que escreveu a bobagem que originou meu texto - tem sido extrema e irresponsavelmente banalizada. Assumindo o risco de parecer simplista: o problema não é o conceito, mas o extremo mau uso que se tem feito dele. Meu texto só tentou colocar alguns pingos nos is.

      Mas é claro que o rapaz que escreveu o tal comentário infeliz segue sem entender nada.

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  16. No "frigir dos ovos"... a verdade é uma só... seja em que nível for.

    “Quando você perceber que, para produzir, precisa pedir autorização de quem não produz nada; Quando comprovar que o dinheiro fui para quem negocia não com bens, mas com favores; Quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; Quando perceber que corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício; Então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.” (Filósofa russo-americana Any Rand)

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  17. Caro Clóvis, parabéns pelo texto. Não compartilho da mesma opinião mas ele me serviu bastante para pensar sobre o assunto.

    Após ler o texto e os comentários, tive algumas dúvidas:

    1) Segundo entendi, você não é contra o conceito do mérito, mas afirma que a meritocracia é uma utopia basicamente porque para ser efetiva depende de uma sociedade igualitária e, portanto, utópica. Se, por este motivo, o liberalismo meritocrático é utópico, o socialismo e o comunismo também não o seriam, em vista que tem como objetivo final a mesma sociedade igualitária?

    2) Já que a meritocracia é uma utopia, uma vez que excluído o mérito qual seria a forma justa de valorizar as contribuições individuais numa sociedade?

    3) Pensando em uma sociedade utópica e plena para o exercício da meritocracia, em que todos os indivíduos tenham e-xa-ta-men-te as sonhadas mesmas condições de aprendizado e oportunidades sociais... Tal situação garantiria por si um equilíbrio social e a eliminação das diferenças? O emprego do mérito numa sociedade assim, por si só, não causaria um desequilíbrio social, já que teria mais destaque (e, certamente, riqueza) aquele que merecesse mais? Seria justo este desequilíbrio?

    Parabéns, mais uma vez. Obrigado pelo texto e pelas reflexões.
    Um abraço.

    Júlio

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  18. Você usou a arma certa, mas no alvo errado!
    O que o sujeito comentou sobre a meritocracia foi de modo comparativo ao comunismo, o qual "defende" que a busca pela igualdade social passa exclusivamente pelas ações do Estado e não pelo esforço individual.
    Eu sou totalmente à favor da meritocracia e totalmente contrário às políticas de cotas raciais (essa é outra questão). Concordo com cota social desde que restrita a um critério mínimo de mérito/desempenho.
    Dentro daquilo que eu defendo eu não encontrei nada no seu texto que seja contrário. Nem acredito que qualquer liberal esclarecido discorde do que você falou.
    O Estado deveria ser encarado como um mal necessário e não como a solução de todos os males. Quanto menos presença do Estado, onde ela pode ser dispensada, melhor. E quanto mais ausência de políticas públicas onde são necessárias, pior. Sobra uma margem imensa de subjetividade para cada um defender maior ou menor presença do Estado na vida das pessoas, conforme o caso. Naturalmente, os acomodados ou desonestos terão espaço de sobra para se vitimizar e exigir apoio estatal. Assim como os realmente marginalizados e dependentes do Estado não terão o apoio público naquilo que necessitam. As políticas de cotas, da forma como são aplicadas (critérios raciais) só estão atendendo ao primeiro grupo.

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