segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O rotativo, o blackmail e outras “cositas”


POR JORDI CASTAN
Depois de anos adormecida, a licitação do estacionamento rotativo decidiu sair apressadamente da gaveta num dia para, praticamente no dia seguinte, ser colocada sob suspeição, com o deflagrar da Operação Blackmail. Joinville parece ter uma dificuldade patológica para lidar com certas coisas. 

A mesma Prefeitura que ficou quatro anos sem resolver o problema do estacionamento rotativo, de um dia para outro, inebriada com a vitória no segundo turno, lançou a seguinte pérola:
- “O estacionamento rotativo regulamentado pago é um poderoso instrumento de gestão de trânsito, enquanto ordenador do uso moderado e racional do solo viário urbano. É uma das melhores opções de que dispõem as cidades que desejam minimizar o problema da carência de vagas de estacionamento em regiões comerciais e de serviços”.


Este é um dos trechos da justificativa da Prefeitura de Joinville para relançar o estacionamento rotativo, suspenso desde 2013.  Tempo atrás o município não era tão simpático ao rotativo. Mudou o governo? O que mudou para termos essa mudança tão repentina?
Quem não fosse daqui até poderia acreditar nessa parolagem dos tagarelas do Executivo. Mas quem é daqui não demorou muito para sacar que o jabuti tinha subido no toco. Toda essa pressa e esse ativismo devem ter endereço certo. E para ajudar a achar o caminho das pedras, o Gaeco apresenta a pontinha do novelo que permite achar o caminho para sair do labirinto.

Desenrolando o novelo, ficamos sabendo que há empresário interessado na licitação e que há vereador interessado em que a licitação saia. E, claro, tudo isso feito por amor a Joinville, por puro desinteresse. Não fosse por umas gravações telefônicas, umas fotos e pela investigação feita, toda esta história nunca veria a luz. 
Como as investigações se estenderam por vários meses e neste tempo houve outros projetos importantes sendo debatidos na Câmara, é provável que possam aparecer dados que levem a novas linhas de investigação. Quem sabe se aí não fica mais claro o protagonismo e a veemente defesa que alguns vereadores fizeram das suas emendas na LOT. Aquelas que casualmente não apresentam os estudos técnicos adequados, por dizer alguma coisa, porque não apresentam nem os adequados, nem os mínimos. Ou aquelas emendas que quando questionadas pelos próprios assessores e técnicos foram defendidas no grito e não com argumentos. 


Essa história dos assessores da Câmara e seu posicionamento técnico deve merecer mais atenção da população. Porque frente aos interesses exclusivamente políticos e politiqueiros é bom que a sociedade possa contar com um corpo técnico qualificado que ponha freio a algumas das aberrações contidas em muitas das leis em debate.
As coisas aqui não andam. Quando andam, preferem atalhos, veredas e outros caminhos que não os certos. Quando uma licitação não anda é porque há alguém que não quer que ande, quando anda é porque há alguém que quer muito que ande. 

Licitação para instalar um crematório? Não houve. Por que não houve? Essa é uma boa pergunta. Licitação para aluguel de bicicletas e instalação de bicicletários? Era para ontem, já faz mais de seis anos e até agora nada da dita licitação. Vai ver que os interessados desistiram quando souberam de todos os penduricalhos que estavam sendo propostos. Licitação para o transporte coletivo? Essa está mais enrolada que um nó górdio e, a menos que apareça na vila um novo Alexandre, O Grande, tudo vai continuar enrolado. Até porque é mais fácil não fazer, não resolver, deixar como esta que enfrentar os problemas e resolvê-los. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Salários de 400 mil reais? Não acredito...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes vi, nas redes sociais, um documento (que me garantiram ser verdadeiro, mas parece invenção) sobre os salários de desembargadores federais no patropi. Fiquei de queixo caído. Segundo a lista, tem um cara que ganha 215 mil reais (o corresponde a 60 mil euros). Gente... isso tem que ser mentira. Casos como esse não existem em democracia e no mundo civilizado.

Mesmo não acreditando (é uma maneira de não desenvolver úlceras nervosas), arrisco uma comparação. Um dos temas mais recentes na imprensa portuguesa, por exemplo, é o fato de o banco estatal de Portugal ter contratado um CEO por 30 mil euros. Todo mundo acha um exagero, apesar de ser um valor dentro dos valores de mercado pagos para a função no setor bancário. Santa ironia, Batman, são poucos os desembargadores da lista "mentirosa" que ganham menos. Muito poucos.

Pensei em comparar os salários dos tais desembargadores (da lista que só pode ser inventada) com cargos semelhantes na Europa. Mas é covardia. Um juiz em Portugal, por exemplo, ganha 3 mil euros (cerca de 11 mil reais). Então, opto pelo salário de alguns governantes da União Europeia, a partir de dados de algum tempo atrás, mas que pouco se alteraram.

Eis os exemplos. Os primeiros-ministros de Portugal e Polónia recebem 15,8 e 12 mil reais de base. Prestem atenção: é menos do que recebe o mais baratinho dos desembargadores, que são 28 mil reais. É claro que há outros políticos europeus que ganham bem mais, como o caso da primeira-ministra britânica e da chanceler alemã, cujo salário anda por volta dos 60 mil reais. Mas ainda assim ficariam abaixo dos bambambans da tal lista (tão inacreditável que suponho mentirosa).

Salários de 150 ou 215 mil reais são coisa que não entra na cabeça de nenhum europeu, ainda mais porque estamos a falar de funcionários públicos. Não resisto ao clichê: no Brasil tem gente que, mais que servir o Estado se serve dele. Seria imoral, cisa inaceitável em civilização. Ainda mais num momento em que a imagem dessa gente do Judiciário - nas suas mais altas instâncias - anda mais suja do que pau de galinheiro.

Ah... esqueçam tudo. Acabo de receber a informação de que no Rio de Janeiro um magistrado pode ganhar até 400 mil reais. Nem vale a pena continuar a discussão. A vaca já está no brejo, com badalo e tudo...

É a dança da chuva.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Este não é um texto sobre o Trump
















POR FILIPE FERRARI


Eric Hobsbawn, um dos maiores historiadores do século XX, certa vez falou que o tempo mais difícil para um historiador é escrever, é aquela na qual ele vive. Afinal, ele está imerso em seu próprio tempo, sem a distância que muitas vezes o objeto científico demanda, e o sujeito histórico, que escreve sua própria história e de seus contemporâneos está sujeito a um bombardeio de opiniões, sejam ela dos pares, da mídia ou de qualquer outro meio. E nesse ponto, Hobsbawn brilhou ao descrever o seu século, o século XX, na obra A Era dos Extremos.

Senti isso na pele ao querer escrever um texto sobre a eleição do Donald Trump, e no processo, me deparei com mais de dez abas abertas no meu navegador com os mais diversos textos. Desde a análise apocalíptica de John Carlin para o El País, até o ponderamento ao avesso do filósofo Slavoj Žižek. Tanta gente melhor do que eu estava tendo dificuldades para entender o fenômeno, então por que eu conseguiria? O Clóvis Gruner colocou essa semana em sua conta no Facebook uma fala que traduz exatamente o que eu senti:
“Quer dizer, a gente não consegue serenidade pra tentar entender o que "realmente aconteceu" nas nossas eleições municipais, e acha que vai conseguir fazer análise sensata das eleições estadunidenses?”

Já que eu não sou nenhum Hobsbawn, e não tenho essa pretensão, vou discorrer sobre o uso de termos. O Felipe Silveira foi brilhante ao pedir que “Melhoremos” a algumas semanas atrás, especialmente quando falamos. Nessas eleições estadunidenses, o que muito se viu foi a comparação de Trump a Hitler, e muitos chamando o estadunidense de fascista. Esse é um excelente exemplo. O termo “fascista” não pode ser usado levianamente. Senão, acaba que nem no conto do menino que gritava “lobo! Lobo!”. Quando aparecer o fascismo, ninguém mais vai acreditar. Trump é racista, misógino, sexista, e insulta sempre que pode mexicanos, muçulmanos, negros, emigrantes e mulheres (e fala fino com o Putin). Obviamente Trump é um problema, mas ainda creio que ele vai ser mais um problema para os próprios estadunidenses (e para os mexicanos) do que para o resto do mundo. E agora, pensar que a maioria do eleitorado estadunidense concorda cegamente com esse discurso de ódio, é fazer uma análise tão rasa quanto falar que o Rio de Janeiro é em sua maioria fundamentalista religioso. Os problemas são outros.

Os Estados Unidos jamais se tornarão um país fascista, no sentido histórico-sociológico da palavra, pois as próprias instituições da democracia norte-americana impedem esse movimento. A história do Grande Irmão do norte é construída obviamente na exclusão social dos negros, do genocídio indígena e outras problemáticas, mas é lá também que surgiu um Martin Luther King, um Harvey Milk, um Muhammed Ali, e várias outras figuras que lutaram pela liberdade e pela justiça social. Como eu sou um otimista, e gosto das simbologias, ouso dizer que os Estados Unidos são maior do que Trump. A América (o continente, óbvio), é maior que Trump. Que nossos irmãos americanos do norte lembrem-se sempre das suas palavras fundadoras, escritas por Thomas Jefferson (com uma grande pitada de John Locke): “que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estas são a vida, liberdade e busca pela felicidade”.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O inverno logo ali: o que fazer para parar Bolsonaro 2018?

POR FELIPE SILVEIRA

A perspectiva é a pior de todas: Bolsonaro 2018. Se não é isso que se desenha, algo muito diferente disso não vai ser. Alckmin, Aécio ou até mesmo alguma surpresa por aí. Embora estes sejam mais civilizados do que o Bolsa, seus governos e posicionamentos não deixam que nos enganemos.

Eu nunca acreditei nas chances de Bolsonaro presidente, mas até a primeira hora deste 9 de novembro eu não acreditava na possibilidade de Trump ser presidente dos Estados Unidos. Aí temos Crivella, Dória, Sartori, Greca, ACM Neto, Brexit, Le Pen, Putin e tantos outros com discursos semelhantes que não temos como fingir que o perigo não existe. Por isso, deixo aqui minha sugestão para tentar parar o pior que está por vir.

1) Assuma sua responsabilidade e organize-se
Você é um sujeito ou uma sujeita política. Exerça essa competência, faça a sua parte. Não finja que você não é parte responsável pelos rumos do mundo. Não diga “eles”, diga “nós”. Queira ou não você está nesse jogo chamado democracia. Organize-se, faça algo, busque alguma atividade coletiva ou crie a própria trincheira individual. Não estou dizendo que é preciso entrar em um partido político, embora eu recomendo, mas que apenas não se engane achando que já está fazendo algo com compartilhamentos ou no seu trabalho. Por outro lado, não menospreze o trabalho dos outros. Aliás, a quantidade de votos nulos no Brasil e o baixo índice de votação nos EUA mostram que a apatia política tem sido uma das grandes armas dos conservadores.

2) Pare de queimar a esquerda
Uma coisa é fazer a crítica honesta e justa, outra é essa queimação geral em que se meteu o campo progressista. A busca por vilões, por culpados, por erros entre a própria esquerda demanda quase toda a energia que precisamos para frear o retrocesso que se desenha ali na frente.

3) Crie pontes
Em algum momento da história nós tivemos a capacidade de dialogar com o outro. De, a partir dos fatos, ouvir, argumentar, contrapor, explicar e chegar a alguns acordos. Dessa maneira, nós refinavamos os argumentos. Infelizmente, fomos substituindo essa conversa pelo desprezo ao outro, pela lacração e coisas similares. Só que isso gerou um problema mais grave ainda: nós passamos a ter tantas certezas que já não sabemos a razão pra isso. Por não fazer esse exercício de dialogar, de ouvir e de responder, nós não sabemos mais os argumentos. Afinal, eles não são mais necessários quando desprezamos o outro. Estou convencido de que o caminho é outro.

4) Estude e refine seu argumento
Uma onda de anti-intelectualismo varre o mundo ao lado da onda conservadora, se é que se pode dizer que são ondas diferentes. É preciso estudar para ter algo a dizer sobre o mundo e se posicionar nele com algumas bases. Comece pelas suas certezas. Questione a razão pela qual você acha que algo é certo. Leia alguns textos sobre o assunto. Preste atenção nos argumentos de quem pensa diferente de você e reflita sobre eles. Construa a sua própria argumentação.

5) Pare de torcer na política
A ideia de torcer pelo seu time político é tentadora, mas a razão nos obriga a ter outra postura. Ultimamente a esquerda tem feito algo que a direita é especialista, que é compartilhar conteúdos altamente bizarros de blogs e sites travestidos de jornalismo. Sem ler o texto, saímos espalhando mentiras sobre adversários porque isso nos favorece politicamente. É um erro grave do ponto de vista pragmático, pois nos tira a credibilidade, mas é acima de tudo um erro no campo da ética, algo que não podemos nos permitir. Nossa postura crítica tem que ser constante.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Quantos leitos de UTI? Os mesmos que nos anos 90...












POR JORDI CASTAN

Você acreditou que a saúde estava bem e que tinha melhorado nesta gestão? Meu conselho é que não acredite em mitômanos e não fique doente até finais de 2018. E torça para não precisar da UTI porque pode descobrir, da pior maneira, que foi iludido pela propaganda eleitoral. Eis o fato: Joinville tem hoje o mesmo número de leitos que 25 anos atrás. 

No primeiro mandato, Udo Dohler foi eleito com o discurso de seu perfil e experiência como gestor e seu conhecimento da área da saúde. O eleitor acreditou e votou nele. Nem a saúde está melhor, nem a sua gestão pode ser considerada modelo ou referência. No tema da saúde, um bom exemplo das mentiras contumazes é o numero de leitos de UTI. Alguém sabe ao certo quantos novos leitos foram criados entre 2012 e 2016? Foram 14, 16 ou 18? Na gestão Udo Dohler, o Ministério Público cobrou o aumento de leitos de UTI e a romaria de secretários de saúde teve muito a ver com a pressão do MP por melhoras numa área crítica da gestão municipal. 

Com sorte só em 2018 aumentará o numero de leitos de UTI. A realidade hoje é que tanto no São José, HMSJ como no Regional HRHDS há o mesmo número de leitos de UTI que na década de 90. Isso mesmo. Uma situação vergonhosa e que escancara a série de péssimas administrações municipais que temos sofrido. Está prevista, para a próxima semana, o lançamento da licitação para aumentar de 10 para 20 o número de leitos de UTI no regional, uma obra que está prometida desde 2012.  

No Hospital São José, o prazo para passar dos 14 leitos de UTI atuais para os 29 previstos venceu no ano passado. A administração municipal tem dificuldade em cumprir prazos. Entregar obras na data prevista é algo que não se vê por aqui. Apesar da pressão do MP, o edital só será lançado na próxima semana e a obra deve se estender por todo o ano de 2017, com entrega prevista só para 2018. Ainda bem que o prefeito entende de saúde e de gestão. Já imaginou se não fosse esse seu forte? Administração do tempo deve ter sido outra das aulas que o prefeito gazeteou.

Os mentirosos contam com uma ferramenta formidável para espalhar as suas mentiras: a credulidade dos inocentes. Tivemos um show de mentiras na campanha eleitoral e o resultado foi que o mais mentirosos venceram. A culpa não é só dos mentirosos profissionais, porque o eleitor gosta de ser enganado. Prefere acreditar no que quer acreditar, do que na verdade. Aqui nenhum político se elegeria falando a verdade. A verdade é desconfortável e preferimos mentiras piedosas, desde que bem contadas.

Se analisarmos a campanha vencedora em Joinville teríamos uma longa lista de mentiras repetidas até ser convertidas em verdades. No melhor estilo Goebels, o gênio da propaganda nazista que levou Hitler ao poder e o povo alemão a acreditar piamente na sua máquina de propaganda.