sexta-feira, 1 de abril de 2016
quinta-feira, 31 de março de 2016
Partido de Trabalhadores versus Partido de Colaboradores
POR JOSÉ
ANTÓNIO BAÇO
Tem uma coisa divertida aqui no blog. Sempre que
alguém discorda das minhas posições – nas “raras” vezes em que isso acontece –
apela para aquilo que em língua morta alguém decidiu chamar argumentum ad hominem. Ou seja, em vez
de contra-argumentar, a pessoa parte logo para a porrada: “petralha”, “comuna”,
“esquerdista”. E não faltam acusações de uma suposta ligação ao Partido dos
Trabalhadores.
Apressadas conclusões, vagarosa resposta. Há uma
diferença entre integrar um partido e estar do lado dos trabalhadores. É uma opção
de classe. E isso causa desconforto nos neopolitizados, essa gente intelectuamente moldada
pelas redes sociais e pela velha e marota imprensa. Não se sentem “trabalhadores”, pois rejeitam a carga ideológica da palavra. A existência de incomodados entre
os acomodados provoca comichão.
Aliás, a palavra “ideologia” também foi amaldiçoada, porque,
entendem, indicia uma consciência de classe. Não é aceitável, portanto. Porque o trabalhador morreu. Ou
melhor, foi assassinado pelo sistema de economia linguística do capitalismo. Os donos do capital extirparam a
palavra do dicionário, primeiro das empresas e depois da sociedade,
substituindo-a por essa forma abjeta chamada “colaborador”.
Não é
preciso grande exercício mental para entender a lógica. Trabalhador é
uma expressão que vem do discurso de classes. É o cara incômodo, que luta pelos
seus direitos, que se organiza, faz greve. O colaborador colabora. Numa
economia de mercado, nada mais natural que exista um mercado linguístico. Quem detém o poder económico, comunicacional e político pode impor
o seu logos.
É um
fenômeno que me atrevi a chamar “logocracia”. O poder da palavra. O poder pela
palavra. O governo pela palavra. É célebre o diálogo entre Alice e Humpty Dumpty, no texto "Alice do Outro Lado do Espelho", em que o escritor
Lewis Carrol sintetiza, de forma despretensiosa mas acutilante, a questão da
relação entre linguagem e poder:
- Quando
eu emprego uma palavra, ela quer dizer exactamente o que me apetecer... nem
mais nem menos – retorquiu Humpty Dumpty
- A
questão é se você pode fazer com que as palavras queiram dizer tantas coisas
diferentes.
- A
questão é quem é que tem o poder... é tudo – replicou Humpty Dumpty.
A
conclusão é óbvia. Os donos do poder têm a capacidade de fundar o vocabulário
das sociedades. Se linguagem e pensamento são indissociáveis, então a manipulação da
linguagem será a manipulação do pensamento. O “colaborador” é filhote dessa
contrafação linguística. Parece um pequeno detalhe, mas é muito relevante. Afinal, como referiu Cassirer, “linguagem e pensamento são inseparáveis e... uma doença da linguagem é portanto o mesmo que uma doença do pensamento”.
O
processo é muito eficaz. Tanto que a expressão foi assimilada pelo próprio
trabalhador, que já se autodefine orgulhosamente como colaborador. E colabora, claro.
Isso facilitou sobremaneira a vida dos donos do poder. Se em tempos era preciso
baixar o cacete para submeter os trabalhadores, agora a utilização de truques
linguísticos ajuda a atingir esse objetivo. Ou acha que não?
A morte do trabalhador pressupõe a morte dos seus partidos. É a gênese dos problemas que temos acompanhado nos tempos mais recentes. Os partidos dos trabalhadores (que não são apenas um) provocam cagaços de morte nos conservadores. Um Partido de Trabalhadores que preserve a consciência de classe
sempre poderá fazer muito barulho. Mas um Partido de Colaboradores seria
dócil, fácil de manipular, um autêntico paraíso para os fundamentalistas do
mercado. Ironia.
É a
dança da chuva.
quarta-feira, 30 de março de 2016
Gramado, Blumenau e Joinville
POR VANDERSON SOARES
Dias atrás
fui a Gramado a lazer e me encantei com esta cidade. Não tem semáforos, tem
muitas rotatórias, o trânsito para alguns segundos, mas logo flui novamente.
É
uma cidade altamente turística. Quase tudo ali gira em torno de turismo. As
construções são muito bem planejadas, a maioria em estilo alpino, lembram muito
a Suíça. O clima frio, os jardins floridos, as ruas bem cuidadas, os atrativos
turísticos, a proximidade com Canela, tudo ajuda na atração de turistas para
aquela região. Durante o ano todo há turistas, mas a grande ênfase é na Páscoa
e no Natal.
O
mais interessante em Gramado é que, com exceção do clima, nada do que existe
ali é privilégio natural da cidade. Tudo foi construído, pensado e planejado
para ser um polo turístico. O MiniMundo, a Aldeia do Papai Noel, as fábricas de
chocolate, o SnowLand, nada precisaria existir exatamente ali. E é nesse ponto
que quero chegar.
Joinville
tem privilégios que Gramado não tem. Temos uma área rural, estamos próximos da
Serra, estamos próximos do mar, temos história bem mais rica, temos gastronomia
e cultura alimentar próprios, temos o maior Festival de Dança do mundo e mesmo
assim o nosso turismo não deslancha, é pífio.
Quando
falo de turismo em Joinville, gosto sempre de citar Blumenau que, resguardadas
as devidas peculiaridades, é semelhante à Joinville. Blumenau, se não me engano
em 2003, começou a planejar o seu turismo. Não tenho conhecimento de meta ou
objetivo que traçaram, mas é fato que o turismo na cidade tem se desenvolvido
de vento em popa. A Vila Germânica é um grande Centro Turístico, o pessoal
vai lá para comer, beber, comprar souvernirs, para visitar os festivais, é um
local de encontro da cidade. Todo mês promovem um evento ou festival típico,
OktoberFest, SommerFest, Festival de Botecos, FestItália, FoodTruck Festival, e
sempre enche. Ao lado da Vila, estrategicamente, existe o Parque Ramiro Ruedger
que lota quase todos os dias com pessoas correndo, caminhando, pedalando ou
apenas passeando.
Joinville,
por sua vez, tem a Expoville e o Centro Comercial que formam a nossa “Vila
Germânica”. A Expoville recebe formaturas e congressos, estes últimos
contribuem para o turismo de negócios, mas ainda é pouco. Nossa cidade
“explora” 3 frentes de turismo: Rural, Cultural e de Negócios. Creio que
estamos falhando miseravelmente nos dois primeiros. Todos os anos, as
reclamações aumentam sobre o Festival de Dança, o incentivo ao Turismo Rural é
baixíssimo, o turista vem pra cá por algum motivo, mas não é incentivado a
desfrutar as belezas de Joinville.
Joinville
precisa planejar o seu turismo, investir em rotas, divulgação e trazer mais
gente que queira vir pra cá apenas por turismo, para aproveitar e conhecer a
cidade durante alguns dias. Joinville tem potencial para ser a capital nacional
do turismo, mas precisa deixar de focar apenas na indústria e investir em
formas de atrair o turista, desenvolver a economia criativa na região e,
principalmente, fazer a própria população joinvilense ir e restaurantes, querer
conhecer a sua cidade, seus pontos turísticos e históricos.
Você,
que mora em Joinville, já visitou o Museu Nacional de Imigração que fica aqui,
na frente da Rua das Palmeiras? Nossos cidadãos não tem o hábito de viver a
cidade. É preciso que nós mesmos valorizemos nossa riqueza.
terça-feira, 29 de março de 2016
É golpe, sim senhor!
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há um movimento que tenta dar um ar de legitimidade ao golpe.
Os articuladores do impeachment já entenderam que Dilma Rousseff não vai
renunciar – o que faria o golpe parecer legítimo – e agora tentam construir
uma narrativa própria. A intenção é criar um discurso que inocente a palavra
“golpe”. Não adianta. Golpe é golpe. Quem adere ao golpe é golpista. E
golpistas odeiam a democracia.
Nos últimos dias, surgiu uma meia dúzia de juristas pingados
a defender a tese de que impeachment sem crime não é golpe. Traduzindo o
palavrório: é conversa para boi dormir. Por mais gente togada que apareça a
dizer o contrário, golpe é golpe. Essa gente quer esculhambar o estado de
direito. A construção da tal narrativa em juridiquês só tem um objetivo: dar um
álibi moral para os sacripantas cívicos. “Não é golpe, é legal”, dirão aliviados.
A “gente de bem” que adere ao golpe vive numa espécie de
terceiro mundo mental. Não importa se o impeachment está a ser articulado pela
pandilha Temer-Cunha-Aécio-Serra, políticos de caráter
duvidoso (para ser simpático) e sobre os quais recaem indícios mais que suficientes
para serem investigados. Mas se for para apear Dilma Rousseff do poder, os
adesistas do golpe não se importam de chafurdar na mesma lama. É o grau zero da
moralidade.
Os golpistas se esforçam por construir uma narrativa
auto-indulgente. Mas é gato escondido com o rabo de fora. Não dá para disfarçar, apesar da ajuda sentenciosa de velha imprensa nacional. Em sentido contrário, no
exterior a comunicação social despertou para o tema e denuncia
a existência de golpe. A palavra começa a aparecer cada vez com maior
frequência nas manchetes dos jornais. A opinião pública mundial também começa a
acompanhar essa tendência.
E, por fim, que tal um exercício de imaginação? Se Dilma
Rousseff for impedida, como será o dia seguinte? Os políticos articuladores do
golpe, por terem uma agenda própria, já sabem o que vão fazer. Tremei,
incautos! Mas e a tal “gente de bem” que se deixou manipular e aderiu à narrativa
golpista? Terá noção do que aconteceria no dia a seguir ao golpe? Pensem. Porque se pensarem vão perceber que a agulha da bússola não está a apontar para o Norte.
É a dança da chuva.
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A imprensa internacional chama o golpe de golpe |
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