terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Um buraco na reeleição de Udo Dohler
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um ciclista
cai num buraco, bate a cabeça e morre. Um motorista tenta se desviar de um
buraco e atropela três pessoas. No bairro Petrópolis, um carro é parcialmente
engolido por um buraco na rua. Não dá para dizer que o prefeito Udo Dohler seja
diretamente responsável por este tipo de episódios (apesar de muitos já terem
feito essa afirmação), mas ele não está isento de responsabilidades.
Udo Dohler
é culpado, sobretudo, pela inação do seu governo. Os fatos ocorridos nestes
últimos dias são apenas o corolário de situações que têm se repetido ao longo
da atual administração, sem que tenha havido uma resposta efetiva. E não pode
dizer que não houve avisos. Apesar de não gostar de autocitações, eu próprio
lembro de ter escrito sobre isso no jornal A Notícia (“A Semiologia dos Buracos
na Rua”) há dois anos.
- - “Dizem que
o diabo está nos detalhes. E os buracos das ruas, parecendo detalhe, na verdade
são essenciais para detonar a imagem de qualquer administração pública. E não
adianta dizer que o material de pavimentação é bom e que o trabalho é feito de
forma diária. Porque enquanto estiver lá, o buraco está a comunicar contra o
prefeito”, dizia o texto.
Os fatos
impõem uma reflexão. Udo Dohler deve tentar a reeleição? É certo que os
políticos contam com a fraca memória dos eleitores, mas o futuro não parece
animador para o atual prefeito. Se conseguir manter o cargo, vai enfrentar os
mesmos problemas dos últimos três anos (problemas para os quais não conseguiu
encontrar soluções). Se for derrotado, pode ter que enfrentar um ocaso sem prestígio.
O
co-blogger Jordi Castan lembra a escolha feita pelo atual prefeito ao concorrer
em 2012. “A vida é feita de
escolhas. Udo Dohler quis ser prefeito de Joinville. Se empenhou nisso”. E está a pagar o preço. Mas qual
será a escolha a 2016? Ora, todos sabemos que o prefeito é uma pessoa
determinada e que não é de fugir à luta. E já que gosta de usar a linguagem da
gestão, como será que avalia a relação custo-benefício de uma candidatura?
O custo é elevado. Os benefícios são mínimos. E para nós, comuns
mortais, fica a pergunta: “se eu estou com a vida ganha e posso viver uma
aposentadoria dourada, por que vou voltar a me enfiar nesse buraco?”. Vamos aguardar para ver.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Morte na Santos Dumont. E agora, Udo?
POR JORDI CASTAN
Saudade é o que vai deixar o pedreiro Romário Gonçalves, morto ao cair num buraco na avenida Santos Dumont. “Nós ficamos
indignados com a promessa da Prefeitura de asfaltar quilômetros e deixar esses
buracos na Santos Dumont. Agora, vai ficar a saudade”, desabafou o cunhado
Roberto Rivelino de Oliveira a um jornal local.
Saudade é raiva. Porque este é o sentimento que provoca o
descaso, a desídia e a inépcia com que é tratado o joinvilense. O buraco que
provocou a morte de Romário Gonçalves não é um mais dos milhares que pululam
por toda a cidade. Um buraco de um metro de comprimento e 20 centímetros de profundidade, numa avenida onde há anos se alastra uma
obra pública inacabada, mal sinalizada e que já tem sido responsabilizada por
outras mortes.
As mortes da irresponsabilidade. As mortes do dinheiro que não chega, do projeto que muda de novo. As mortes do desprezo pelos direitos do cidadão. A mal chamada duplicação da Santos Dumont (mal chamada porque é uma remendo) é uma obra medíocre, um remendo, uma sem-vergonhice a quatro mãos, as do governo do Estado de um lado e as do município pelo outro.
As mortes da irresponsabilidade. As mortes do dinheiro que não chega, do projeto que muda de novo. As mortes do desprezo pelos direitos do cidadão. A mal chamada duplicação da Santos Dumont (mal chamada porque é uma remendo) é uma obra medíocre, um remendo, uma sem-vergonhice a quatro mãos, as do governo do Estado de um lado e as do município pelo outro.
Trafegar pela Santos Dumont representa colocar em risco a própria
vida. Uma rua em obras por anos a fio, com desníveis, restos de material, com
pouca ou nenhuma sinalização, sem iluminação adequada. Sem que ninguém tome as
medidas necessárias para exigir que a obra seja executada dentro das normas de
segurança mínimas exigidas por lei.
Neste momento lamentável, o governo municipal lembra que a obra é estadual. Assim, o mesmo prefeito que fez discursos, acompanhou foguetório e que capitalizou o bônus da obra estadual agora olha para o outro lado e faz de conta que não tem nada a ver com o tema. Que não tem nenhuma responsabilidade. Tem sim.
Obras públicas executadas em Joinville são responsabilidade da Prefeitura. Ainda que pelo padrão de segurança que a Prefeitura pratica nas obras públicas é provável que não tenha achado nada de errado, nada que precisasse ser melhorado na Santos Dumont.
Neste momento lamentável, o governo municipal lembra que a obra é estadual. Assim, o mesmo prefeito que fez discursos, acompanhou foguetório e que capitalizou o bônus da obra estadual agora olha para o outro lado e faz de conta que não tem nada a ver com o tema. Que não tem nenhuma responsabilidade. Tem sim.
Obras públicas executadas em Joinville são responsabilidade da Prefeitura. Ainda que pelo padrão de segurança que a Prefeitura pratica nas obras públicas é provável que não tenha achado nada de errado, nada que precisasse ser melhorado na Santos Dumont.
É hora de dar um basta em toda esta incompetência, em toda esta irresponsabilidade. É hora de ficar com raiva. Passou da hora de aceitar mais
desculpas esfarrapadas. Os prejuízos não são mais só os pneus, ou os
amortecedores. Agora também são vidas humanas. Pior ainda a covarde resposta do
poder público:
- “A prefeitura informou que não vai se manifestar sobre o acidente enquanto não receber o laudo do Instituto-geral de Perícia (IGP), que apontará a causa da morte do pedreiro Romário Gonçalves".
É hora de cada um assumir as suas responsabilidades. O governo do Estado tem as suas, e não são poucas, o município e a empreiteira que executa a obra também tem e não podem fugir delas.
Para ajudar a identificar os responsáveis é útil dar uma olhada no Código Brasileiro de Trânsito e no que estabelece a CET, para quem tiver interesse em se aprofundar no tema e em exigir responsabilidades há bom material.
- “A prefeitura informou que não vai se manifestar sobre o acidente enquanto não receber o laudo do Instituto-geral de Perícia (IGP), que apontará a causa da morte do pedreiro Romário Gonçalves".
É hora de cada um assumir as suas responsabilidades. O governo do Estado tem as suas, e não são poucas, o município e a empreiteira que executa a obra também tem e não podem fugir delas.
Para ajudar a identificar os responsáveis é útil dar uma olhada no Código Brasileiro de Trânsito e no que estabelece a CET, para quem tiver interesse em se aprofundar no tema e em exigir responsabilidades há bom material.
CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO LEI Nº 9.503
Art. 1º O
trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional,
abertas à circulação, rege-se por este Código. § 3º Os órgãos e entidades
componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das
respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em
virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas,
projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro.
Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após
sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de
manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e
horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na
circulação.
Parágrafo único. Nas vias ou trechos de vias em obras deverá
ser afixada sinalização específica e adequada.
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou
interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua
segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito
com circunscrição sobre a via. § 4º Ao servidor público responsável pela inobservância
de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, a autoridade de
trânsito aplicará multa diária na base de cinqüenta por cento do dia de
vencimento ou remuneração devida enquanto permanecer a irregularidade.
Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstáculo à livre
circulação, à segurança de veículo e pedestres, tanto no leito da via terrestre
como na calçada, ou obstaculizar a via indevidamente:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa, agravada em até cinco vezes, a critério
da autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança.
Parágrafo único. A penalidade será aplicada à pessoa física
ou jurídica responsável pela obstrução, devendo a autoridade com circunscrição
sobre a via providenciar a sinalização de emergência, às expensas do
responsável, ou, se possível, promover a desobstrução.
A CET (Companhia de Engenharia de Transito) estabelece como devem estar sinalizadas as obras em vias públicas.
A sinalização de obras consiste
num conjunto de placas e dispositivos com características visuais próprias,
cuja função principal é garantir segurança dos usuários e trabalhadores e a
fluidez do tráfego nas áreas afetadas por intervenções temporárias tais como:
realização de obras, serviços de pavimentação, sinalização, topografia, remoção
de interferências e situações de emergência como rompimento de dutos, de
pavimentos, etc. Esta sinalização tem por finalidade:
• advertir corretamente
todos os usuários sobre a intervenção;
• fornecer informações
precisas, claras e padronizadas;
• regulamentar a
circulação e outros movimentos para reduzir os riscos de acidentes e
congestionamentos;
• assegurar a continuidade
dos caminhos e os acessos às edificações lindeiras;
• orientar sobre novos
caminhos;
• proteger a obra, os
trabalhadores e os usuários da via em geral;
• diminuir o desconforto,
causado aos moradores e à população em geral, da área afetada pela intervenção.
É oportuno verificar se as outras obras públicas cumprem também a legislação nacional.
sábado, 9 de janeiro de 2016
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Assim não verás cidade nenhuma
POR SALVADOR NETO
Em 1981 o jornalista e escritor
Ignácio de Loyola Brandão lançou o romance Não
verás país nenhum, uma obra mais atual que nunca. A história conta sobre um
lugar onde tudo era controlado pelo Esquema, um tipo de governo totalitário do
futuro. O cenário é de águas poluídas, avanço do deserto, doenças estranhas,
miséria crescente, comidas artificiais com aditivos químicos que injetam tranquilidade
direto no sangue, urina reciclada para beber (para os menos privilegiados), o
nordeste do país vendido para transnacionais, aquecimento solar...
Passados 35 anos dessa
surpreendente antevisão do que poderia vir a ser o país – e porque não o mundo?
– em que viveríamos, proporcionada por Loyola, vemos com olhar complacente que
nos encaminhamos para esse fim. Após o pretenso fim da guerra fria – acabou mesmo?
– nos deparamos hoje com ameaças de bomba de hidrogênio pela Coréia da Norte,
guerras sem fim no Oriente Médio que causam um êxodo de populações inteiras,
todas fugindo da insanidade humana, que só aumenta. Catástrofes ambientais como
a de Mariana (MG) se sucedem aqui e acolá, acabando com a fauna, a flora, e com
o homem que não pode mais beber a água limpa, cuidar do seu gado e das suas plantações,
e sequer casa pode ter.
Não vou me alongar nos exemplos que
temos, pois faltariam linhas e espaço para tantos desastres socioambientais.
Mas é claro que avançamos para ter esse mundo do Souza, de Loyola, batendo à
nossa porta. O que temos feito para evitar que o Esquema continue a nos pilhar,
controlar, envolver e aceitar suas imposições? Quase nada. Souza precisou de um
buraco em sua mão para sair da inércia. Em Joinville mais de 600 mil pessoas
caem em buracos todos os dias nas ruas, e acreditam que não podem fazer nada
para reverter tal abandono. Quantos buracos em ruas, calçadas, precisaremos ter
a frente dos olhos para contrapor esse esquema perverso que empurra a cidade em
que moramos para ser a cidade do romance de Loyola?
"BOM SENSO" - O esquema do governo atual da
Prefeitura de Joinville tem feito muito mal aos cidadãos que acreditam em um
lugar adequado para se viver. Com muita publicidade, propaganda em meios de comunicação
de massa, tenta impor uma cidade moderna, perfeita, que não existe na prática. A
receita oferecida, um empresário com fama de bom gestor construída na mídia ao
longo de muitos anos, se mostra um parco arrazoado de boas intenções, mas sem
verdade e sem indicações claras para atacar os problemas. Andar pela cidade
mostra isso. A última ação, o aumento “bom senso” na tarifa de transporte
coletivo, abusivo, mostra o lado para o qual o Esquema atua. E não é o da
maioria da população.

A maioria da população está
enfrentando os buracos que já fazem parte da geografia da cidade, pois proliferam
tal quais os mosquitos da dengue. Continuam a buscar remédios que também
continuam a faltar na rede publica de saúde, assim como leitos para que seus
doentes sejam bem tratados. Somente nesta gestão de Udo Döhler a saúde já teve três
secretários, cujos afastamentos se deram pela ameaça da Justiça à porta.
Mobilidade urbana continua a mesma imobilidade, com avanços rápidos para a paralisação
da cidade, pois obras de vulto só existem nas entrevistas, promessas. Vagas
para as crianças nas creches? Eles resolvem facilmente: cortam o turno integral
de pais carentes e – vupt! – lá aparecem mais vagas... Os pais e as crianças?
Ah... se virem por aí.
Para piorar, enquanto a incompetência
na gestão só cresce e joga a cidade para trás, o Prefeito segue um receituário
proposto por algum Goebbels de plantão. Cria histórias para que o povo esqueça
as anteriores. É o caso do bordão de campanha – não falta dinheiro, falta
gestão -, que tentam esconder agora com Biervilles (qual foi o prejuízo?),
cortes de gastos (?), apontando o dedo para a corrupção que grassava na
Prefeitura (onde, quando, quanto, quem, valores?), sem mostrar dados concretos.
A mais nova é que as prioridades são educação, saúde e salários. Novidade? Não é
mais que a obrigação determinada na Constituição Federal. Esse Esquema não é
novo, mas continuou na gestão atual, e já vem de muitos anos na cidade.
PODER PELO PODER - Como enfrentar isso? Bem, comecemos
por participar mais da política. Comparecer à Câmara e ver o que e como votam
nossos vereadores em casos como aumentos, etc. Ver se fiscalizam a Prefeitura,
ou somente dizem amém a tudo que vem de lá. E usar o voto, a ferramenta da democracia
que sempre pode pelo menos oxigenar a gestão pública. Com consciência, participação
e fiscalização. Sim gente, é no legislativo que se legitimam muitas das ações do executivo. E olhem que o atual governo Udo tem maioria absoluta.
E, claro, é preciso prestar muita atenção nos nomes
que virão este ano para concorrer à Prefeitura. Há muitos, ou quase todos, que
gostam do mesmo que o atual alcaide: o poder pelo poder. Uma cidade como
Joinville precisa de um Prefeito que tenha de fato liderança, que inspire e
motive a população, que mostre trabalho, intensidade, propostas e ações que
engajem as pessoas a crer em um futuro melhor. Precisamos nos empoderar da
cidade, ou não veremos cidade nenhuma para nossos filhos e netos. Pessimista,
catastrófico? Não, apenas realista. Ignácio de Loyola Brandão anteviu em sua
obra muito do que vemos hoje. Nós podemos mudar.
Finalizando, completo um ano de participação
neste coletivo Chuva Ácida agradecendo aos colegas do blog, aos leitores de
todas as semanas, aos comentaristas e a todos os que apoiam um jornalismo
independente. Sigamos em frente, obrigado!
É assim nas teias do poder...
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