Desde já peço desculpas aos não crentes e as pessoas de outras religiões. Mas creio que esse questionamento seja o mais preciso para o momento, para a nossa reflexão.
Depois de muito tempo pensando sobre e após uma conversa com um amigo, decidi refletir um pouco sobre algo que sempre me incomodou.
Criado desde a infância na Igreja Católica, não havia período mais tenebroso e angustiante para mim do que a Semana Santa. Não por causa do desfecho trágico da história, mas sim por não entender o motivo de tanto ódio contra uma só pessoa.
Durante toda a minha permanência na igreja sempre quis entender uma coisa: por que mataram Jesus?
Várias teses surgiam e desapareciam. Depois de algumas leituras e um pouco mais de vivência no mundo pude perceber o motivo para matarem uma pessoa que hoje é cultuada e vista como boa, mas que na época causou a ira de muitas pessoas.
Por que causou a ira?
Porque era um revolucionário, mudava a estrutura da sociedade da época, mexia no status quo. Confrontava a tudo e a todos que tinham interesses individuais e não coletivo. Tinha coragem, defendia os mais pobres, lutava por justiça e igualdade.
E isso lhe custou a vida, pois desde aquela época as pessoas não se conformavam em perder privilégios para que outras pessoas tivessem oportunidades e direito de sobreviver. Desde aquela época o que importava era o ter e não o ser.
Após toda essa análise, cheguei a conclusão de que o que matou Jesus Cristo foi a hipocrisia do povo.
A mesma hipocrisia que vemos e vivenciamos hoje e, na maioria das vezes, em “defesa” do Seu santo nome.
Lennon, morto. Zumbi, morto. Luther King, morto. Malcolm X, morto. Amarildo, morto...
Perceba, matamos milhares de Jesus a todo o momento. Todos os que tentaram, de alguma maneira, lutar por paz, igualdade e respeito, tiveram suas vidas ceifadas. Mesma luta que Jesus teve séculos atrás.
Jesus nada mais é do que um socialista. Basta ler a Bíblia para perceber. Mas após a sua morte, conseguiram colocar no imaginário popular que o tal socialismo é utopia, é coisa ruim.
Porém, todos os dias têm missa ou culto para você aprender a desapegar dos bens materiais, amar o próximo e lutar por paz, amor, justiça, igualdade e tudo de melhor para o universo.
Perceba como a hipocrisia nos cerca, a mesma que matou Jesus.
Fico imaginando como Jesus Cristo reagiria a tudo isso se estivesse vivo.
Se Jesus fosse vivo hoje, certamente, entraria no Templo de Salomão e tantas outras igrejas para expulsar os cambistas, como fez no Templo de Jerusalém.
Visitaria cada igreja e aconselharia os pastores pararem de berrar e lhes ensinaria a não fazer como os hipócritas que oram de pé e em voz alta para serem vistos pelos homens. E pediria para não tirarem mais dinheiro dos fiéis, aproveitando para lembrar a todos para dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Se fosse vivo, mandaria os membros do exército de Jesus abaixar “suas espadas”, igual fez com Pedro, advertindo e lembrando-os de que seu reino não é esse.
Se estivesse vivo, Jesus Cristo andaria com os homossexuais, com os negros, com as mulheres e ensinaria a todos a perdoarem os corruptos e a lutarem por justiça.
Mas Jesus não está vivo. E não venha com o seu fanatismo tentar me dizer que ele está, porque NÃO, ele não está. Ele está morto e fazemos questão de matá-lo diariamente.
Ajudamos a matá-lo quando negamos a existência de um problema, quando negamos ajuda, quando vamos contra a mudança para o melhor. Ajudamos a matar com o nosso silêncio diante as atrocidades, com a nossa justiça seletiva, com os nossos falsos profetas, com a vingança, com o ódio, a ganância, a ignorância, a violência e tantas outras maldades que estão presentes em nossa sociedade.
Ajudamos a matá-lo fazendo tudo aquilo que Ele nos orientou a nunca fazer.
Hoje em dia, igreja virou sinônimo de clube de futebol e seus seguidores, fiéis e discípulos, viraram apenas torcedores. E nesse mercado gospel e sacro disputam para ver quem é a melhor e a maior, propagando a intolerância e o ódio de gênero, classe, etnia. Enquanto os interesses de Jesus são descartados.
Acho que alguns socialistas e comunistas continuam lutando pelos mesmos ideias Dele, mesmo alguns não acreditando na Sua existência, mas são condenados e crucificados diariamente.
Até mesmo o Papa Francisco assumiu isso.
Se hoje estivesse vivo, Jesus morreria levantando as bandeiras do MST. Ou o espancariam até a morte por andar com homossexuais e prostitutas, ou simplesmente por ser negro. E, certamente, não teria chance de ressuscitar, pois sumiriam com o seu corpo, assim como fizeram com Amarildo.
Jesus está tentando voltar, não fisicamente, mas um pouco em cada pessoa que luta pela igualdade e pelo amor ao próximo. Mas na verdade, aqueles que se dizem seus discípulos estão crucificando milhares Dele diariamente.
Não amamos Jesus, fingimos amar. Amar vai além de palavras. O amor se demonstra com atitudes e nós sabemos que não estamos agindo... Não da maneira correta.
Enfim, apenas uma reflexão para quem está cansado de tanta hipocrisia e de tantos falsos profetas.