segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Minha granja,Minha vida.


Em quem não votar?


POR JORDI CASTAN


Se está esperando uma lista com os nomes e os números dos candidatos em quem seria melhor não votar, pode parar por aqui. Não encontrará essa informação nesse post. Pior ainda se você precisa passar pelo Chuva Ácida para saber em quem não votar. Então você tem um problema grave. Você não é um eleitor informado, você é um eleitor opinionado e isso é perigoso. É perigoso para sua saúde, é perigoso para sua educação, é perigoso para sua segurança e, pior, é muito ruim para o Brasil.

Nesta altura, você já deveria conhecer os nomes dos deputados que enriqueceram depois que entraram na política. Você sabe que esse patrimônio todo não veio do seu trabalho, nem de seu esforço e eles também sabem. Tanto sabem que a maioria esta em nome de laranjas. Que você não sabe? Viu como já intuí que você tem um problema grave? Esses caras são tão caras de pau, os deputados, que nem tem mais vergonha de fazer declarações de bens em que informam patrimônios médios e moderados, carros velhos, imóveis de pouco valor. Em outras palavras, patrimônio de classe média- média.

Eles fazem isso por dois motivos. Primeiro, porque se declarassem todo o seu patrimônio, poderiam ter algum problema com as suas declarações do imposto de renda. O segundo é porque no fundo acham que você eleitor é um trouxa e vai acreditar que eles não tem outro patrimônio que aquele. É uma forma de dizer que eles são iguais a você. Cuidado. Não se deixe iludir, eles não são. Não deixe que se comparem a você. Ainda que se você vai votar neles, pode ser mesmo que eles tenham razão é você tenha muito mais em comum com eles do que imaginava.

Você não sabe quando custa um apartamento naquele prédio da Rua Orestes Guimarães ou na Otto Bohem? Ou quanto custa uma chácara em Campo Alegre ou na Estrada da Ilha? Ou quanto custa um apartamento em Balneário Camboriú ou em Itapema na frente para o mar? Quanto custa um carro é mais fácil, é só dar uma olhada nas revistas especializadas. Mas gostamos de ser enganados. E fechamos primeiro um olho e depois os dois para estes patrimônios milionários, para as festas frequentes com bebidas e comidas importadas e garçons engravatados. Afinal, vemos o candidato comendo pastel ou pão com margarina uma vez a cada quatro anos.

Eleitor, deixe de ser trouxa. Pare de ser cúmplice desses caras, eles não merecem seu voto. Eles estão enganando você.



Outro grupo de candidatos surge entre os atuais vereadores, que aproveitam as verbas partidárias e tiram umas férias legislativas para sair a fazer campanha. A maioria deles não tem nenhuma chance de se eleger, mas topam servir de escada, inclusive a candidatos de fora, com o único objetivo de reforçar o seu nome entre o eleitorado. O objetivo real é unicamente fazer que seja mais fácil a sua reeleição daqui a dois anos. Assim podem esvaziar as sessões do Legislativo Municipal. Ao final das contas, não há em Joinville qualquer tema urgente ou importante que requeira sua presença na Câmara de Vereadores. Analise cada um destes candidatos e diga seriamente qual você acha que de verdade esta em campanha para deputado estadual e qual esta só fazendo de conta que concorre?

Aqui neste mesmo post, você pode dar os nomes deles. Em quem você acha que não devemos votar?
Nem vou dedicar mais de três ou quatro linhas aos candidatos que, tendo participado na última eleição como candidatos à Camara de Vereadores e tendo feito menos votos que na eleição a síndico de prédio, se lançam agora a uma aventura, com pouquíssimas possibilidades de sucesso. Você deveria saber que eles são só comparsas de uma encenação. Não desperdice seu voto com eles. Vote com responsabilidade. Seu voto é a única possibilidade de mudar este país. Comece com aqueles que estão mais perto de você. Conheça-os.

Fica a sugestão. Poste, como comentário, quem você acha que não deveria merecer o nosso voto. Ajude a desmascarar os políticos que devem ser erradicados da vida pública. Vamos ver como anda nosso conhecimento da política estadual. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Marinando

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Reservei-me de comentar as eleições deste ano aqui no blog, pois considerava que a morte de Eduardo Campos não geraria cenários sólidos, e a espera seria necessária. Por um lado, a comoção nacional em torno do ocorrido geraria um cenário favorável para a ecocapitalista Marina (com seu natural crescimento nas pesquisas) e, por outro, um ataque direto de Dilma e Aécio, temendo perder espaço.

Quando um candidato ganha notoriedade, sua vida é revirada por partidos, imprensa e população. Foi isto que aconteceu com a socialista. Sua atuação como Ministra foi posta em xeque juntamente com suas relações com os banqueiros e mega empresários do país. O vice escolhido, Beto Albuquerque, tem estreitas ligações com o agronegócio e contraria tudo aquilo que Marina fala. Contrariedade, digamos, é a marca registrada dela: o escândalo sobre as políticas LGBT no plano de governo fala por si só.

Em um trocadilho tosco, sempre pensei que as intenções de voto para Marina estavam "marinando" em torno do que aconteceu com o jatinho lá em Santos. E a tendência, após as semanas passarem, seria a acomodação para perto do cenário "normal", com Aécio e Marina se aproximando, e Dilma mantendo a ponta, principalmente pela força da máquina estatal e as alianças que ela possibilita. As últimas pesquisas mostram isto. Até a tão badalada vantagem de Marina no segundo turno vem diminuindo.

Quanto aos demais candidatos, outro cenário de acomodação em direção ao natural: Pastor Everaldo desce de seu posto de surpresa, e dá lugar para candidatos com propostas mais densas, como Luciana Genro e Eduardo Jorge. E o resto vira meme na internet ou é motivo de piada.

No segundo turno o jogo é outro, claro, mas a comoção acabou e a fidelidade em torno de Marina está chegando ao fim. É consenso que candidato que sobe rápido demais nas pesquisas e na hora errada, não leva. É esperar para ver.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Feios, pobres e temidos


 POR CLÓVIS GRUNER

Na semana passada a Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG) foi notícia nacional. Mas não por causa da pujança econômica dos campos gerais paranaenses: a entidade, que reúne parte da elite pontagrossense, publicou uma cartilha de orientação aos candidatos da região onde defende, literal e textualmente, a “suspensão do direito ao voto para beneficiados de qualquer programa de transferência direta de renda, nas esferas municipal, estadual ou federal”. O presidente da associação, Nilton Fiori, defendeu a iniciativa apelando a uma pretendida “lisura” nas eleições. Ecoando uma ideia distorcida, que circula principalmente pelas redes sociais, o empresário teme que programas de distribuição de renda acabem por favorecer principalmente os candidatos governistas, que teriam assegurado o voto dos beneficiados.

É claro que, apesar da menção às “esferas municipal, estadual ou federal”, a proposta da ACIPG mira, principalmente, o Bolsa Família e seus milhões de beneficiários que, a depender dos empresários e, parece, também de alguns candidatos locais, dispostos a bancar a sugestão da entidade de classe, teriam suspensos parte de seus direitos políticos. A proposta reverberou no Twitter e no Facebook do deputado estadual carioca Carlos Bolsonaro, filho do deputado federal Jair Bolsonaro, que a repercutiu em suas redes sociais. Mas, não satisfeito, ele decidiu expandir a ideia original, acrescentando a ela um adendo.

Em um tweet, o deputado defendeu condicionar a inclusão no programa “às cirurgias de laqueadura e vasectomia”; em sua página no Facebook, livre das amarras dos 140 toques, ele explicou melhor: “Defendo a liberdade de escolha, normatizando, orientando e condicionando o recebimento de bolsa-família à realização de cirurgias de laqueadura e vasectomia”. E arremata: “em certo tempo estancaríamos a ferida econômica aberta no Brasil e ainda estaríamos ajudando à curar a fome, a miséria e a violência no país.” A uma seguidora que defende também a criação de uma “lei do filho único” ele replica: “A diferença é que com nossa proposta a cirurgia é uma escolha do cidadão, respeitando assim a sua liberdade individual!”. Não, você não leu errado: segundo Bolsonaro, apesar do Estado normatizar, orientar e condicionar o recebimento de um benefício à esterilização dos futuros beneficiados, tudo será feito em “defesa da liberdade de escolha” e da “liberdade individual”. Mais que um contrassenso, um horror.

GUERRA CONTRA OS FRACOS – Já não me surpreende, mas continua a incomodar, a maneira como as tímidas políticas de inclusão social vem sendo tratadas por muita gente. Normalmente fruto da desinformação e do preconceito, tem proliferado com assustadora rapidez um discurso que insiste em condenar parcelas da população a uma espécie de sub-cidadania, justamente quando há um esforço republicano por arrancá-las de lá. Mas ainda não tinha lido nada parecido com a proposta de Carlos Bolsnaro, nem tão preocupante. Mas a “guerra contra os fracos” não é um fenômeno novo. E tem um nome: eugenia.

Impulsionadas pelas teses naturalistas surgidas ainda nas primeiras décadas do século XIX, as teorias eugênicas se desenvolvem ao longo da segunda metade do oitocentos. Em seu cerne, a concepção da evolução humana como resultado imediato de leis biológicas e naturais que determinam o comportamento humano. As raças se constituiriam como o fenômeno final e resultado irredutível do processo evolutivo, no interior do qual se configuraram e cristalizaram as desigualdades. Esta naturalização das diferenças legitimou um conjunto de proposições com desdobramentos políticos bastante significativos: se as desigualdades são racialmente determinadas e estruturadas na natureza das populações, é possível asseverar a superioridade de uma raça sobre outras, mesmo a um nível mais cotidiano, afirmando a continuidade entre os caracteres racialmente determinados e a conduta moral dos indivíduos, por exemplo.

Amplamente aceita pela comunidade científica, a eugenia orientou igualmente ações políticas e governamentais já nas primeiras décadas do século XX. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que pelo menos 70 mil americanos foram esterilizados compulsoriamente, a maioria mulheres. A política de esterilização em massa seduziu também cientistas e políticos brasileiros. Uma das principais bandeiras da Sociedade Brasileira de Eugenia, criada pelo médico paulista Renato Kehl, era a revisão do Código Civil, no sentido de autorizar o Estado a proibir o casamento entre indivíduos que apresentassem o risco da geração de filhos que pudessem apresentar alguma tendência à degenerescência, exigindo como garantia de uma boa prole a esterilização do casal.

Mas ninguém levou a eugenia tão longe quanto a Alemanha nazista. Os esforços americanos chamaram a atenção de Hitler, que tratou de aprimorar as tecnologias de eliminação dos indesejados, elevando-as a parâmetros industriais. E não é demais lembrar que, antes da guerra e dos campos de concentração, os nazistas a praticaram com a aprovação invejosa dos americanos. Superintendente de um hospital na Virgínia, o Western State Hospital, Joseph DeJarnette declarou, em 1934, que “Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo”. Os anos seguintes mostrariam os resultados trágicos e bárbaros deste placar.

DO BIOLÓGICO AO SOCIAL – Não faltarão comentaristas, provavelmente anônimos, a me acusar de “exagero” no trato da questão. Pouco importa o que pensam, principalmente se o que pensam justamente legitima esse rebaixamento dos já subalternos a uma subalternidade ainda mais aterradora. A ausência do componente biológico, fundamental às doutrinas de pouco mais de um século atrás, não ameniza o conteúdo dos discursos da ACIPG e de Carlos Bolsonaro. Ambos direcionam seu arsenal exatamente para os mesmos grupos e indivíduos que estavam na mira das políticas eugenistas de há um século: pobres e despossuídos sejam de recursos econômicos ou políticos. 

E como ontem, encontram um ambiente e interlocutores dispostos a respaldar e legitimar o ressentimento e o ódio, sentimentos que estruturam suas propostas, como os principais afetos políticos. Homens e mulheres que assistiram, em uma conivência silenciosa, a ofensiva das forças conservadoras e fascistas, o fizeram em parte movidos por um medo e um temor diuturnamente tecidos e alimentados justamente pelas forças conservadoras e fascistas que tinham todo o interesse em produzi-los e alimentá-los: fundamentalmente, o medo e o temor do outro em suas múltiplas mas sempre estranhas e desconhecidas facetas. No passado, apenas depois de testemunhar o horror muitos perceberam as implicações do monstro que ajudaram a nutrir. Hoje, a serpente continua a chocar seus ovos. Me pergunto até onde continuaremos a alimentá-la, coniventes e, graças principalmente às redes sociais, já nem tão silenciosos.