sexta-feira, 11 de abril de 2014
Ser liberal
Como acabar com
a pobreza? Essa é
uma pergunta de difícil
resposta e que
move muitas pessoas na
tentativa de respondê-la.
Muitos dizem que o problema está na desigualdade
social e colocam na
má distribuição de
renda a culpa da
pobreza que ainda
existe mundo afora. Outros
argumentam que a dificuldade são
as barreiras impostas pelos
governos, o que
faz com que elas
não possam ser livres
o suficiente para conseguirem
sair da situação de
miséria em que se
encontram.
São duas respostas
para a mesma pergunta
(obviamente que extremamente
condensadas aqui), a mostrar que
os dois lados estão
buscando uma solução
para um problema que
ambos admitem existir. Mas
o que se observa quando
estes dois grupos discutem
é que não há
diálogo, apenas desconhecimento
e clichês repetidos
de um lado para
outro, além de um domínio de uma discussão partidária que não tem fundo
ideológico nenhum e que está mais preocupado em responder outra questão: “como
conseguir mais poder?”
É preciso haver diálogos e não monólogos e xingamentos, que
em grande parte ocorrem porque não há conhecimento suficiente sobre o que o
outro está defendendo. Há aparentemente uma preguiça em diferenciar as diversas
vertentes que cada ideologia tem e um vício em querer colocar todos num rótulo
só. Eu sou liberal porque acredito que a maneira mais fácil e eficaz de se
acabar com a pobreza, e assim garantir uma melhor qualidade de vida para as
pessoas, é através do livre mercado, dando liberdade para as pessoas, o bem
mais precioso na vida de um ser humano, pois só ela pode fazer com que todos
possam alcançar a felicidade, algo subjetivo e individual. O liberalismo
mostrou isso no decorrer da história, em inúmeras situações em que a liberdade
de uma população se converteu em uma qualidade de vida melhor. É no mínimo
curioso ver que essa ideia de liberdade pode ser considerada por muitos aqui no
Brasil como a de alguém que “não se importa com os pobres”. Aliás, defender a
liberdade no Brasil, é correr o risco de ser chamado de comunista, fascista e
conservador na mesma discussão; e isso mostra como há um total desconhecimento
do liberalismo.
UM MOVIMENTO DIVERSO - Hoje o movimento liberal é extremamente heterogêneo.
Libertários de direita, libertários de esquerda, anarcocapitalistas,
minarquistas, bleeding hearts, liberais conservadores entre outros grupos,
discutem os problemas da nossa sociedade sob diversos pontos de vista, e a
produção é constante e de grande qualidade. Blogs como o do Instituto Mises
Brasil (IMB), o Portal Libertarianismo, o Mercado Popular, o Capitalismo para
os Pobres, e institutos como o próprio IMB, o Instituto Liberal do Nordeste
(ILIN), o Estudantes Pela Liberdade (EPL), o Ordem Livre, o Instituto Liberal,
além de iniciativas como a do Partido Libertários, propagam ideias de liberdade
das mais diversas vertentes. Eu mesmo participei da fundação de um instituto em
Curitiba, o Instituto Bastiat, que hoje se encontra desativado, mas no pouco
tempo em que existiu me mostrou que o liberalismo é muito pouco conhecido, mas
tem uma boa aceitação.
O que se pode perceber nessa produção atual é que há sim uma
preocupação e – principalmente – respostas para os problemas sociais atuais que
são baseados na filosofia liberal. No entanto, no cenário de guerra criado por
muitos articulistas (sejam eles sakamotianos contra os “coxinhas” ou
constatinianos contra os “caviares”), é difícil ver esse discurso chegar a ser
discutido por não liberais. Parte da culpa é dos próprios liberais, que acabam
perpetuando posições que não respondem aos problemas e apenas se apoiam em
muletas teóricas.
Três casos mostram isso mais claramente: o posicionamento
quanto a ditadura militar, que mostra como muitas pessoas que se dizem liberais
não são: afinal de contas, como alguém que defende a liberdade pode apoiar uma
ditadura? É a mesma incoerência de ser contra a violência e ter Che Guevara
como ídolo. A questão das cotas raciais mostra também como muitos liberais se
preocupam mais em se posicionar do que em oferecer respostas às questões, pois
apenas dizers que é contra não resolve os problemas que as cotas se propõem a
responder – e o liberalismo tem respostas para isso, como, por exemplo, a
educação livre. E talvez a questão mais emblemática, a meritocracia, que mostra
uma incoerência por parte de quem a invoca em uma discussão e se diz liberal,
pois, se apenas o mérito importa, o que fazer então com aquela lista embaraçosa
de “ranking de liberdade econômica” que mostra como países mais livres tem
qualidade de vida melhor? Além de que é bem visível que não é apenas o mérito
que conta na hora de alguém conseguir alcançar seus desejos; vários fatores
externos também contribuem, e a liberdade é um deles.
O que eu pretendi dizer com esse texto é que o pensamento
liberal ainda é pouco estudado e lido no Brasil e para que haja um verdadeiro
debate para melhorarmos as condições de vida da população em geral, é
necessário que esse discurso seja melhor debatido, e que não seja confundido
com outros pensamentos ou sofra com preconceitos. Além disso, também é visível
que os próprios liberais tem que entender melhor a ideologia que defendem, para
não receberem alguma alcunha que não mereçam. Todos ganharemos se começarmos a
nos preocupar mais em melhorar a vida dos outros e menos com qual partido está
no poder.
Rikardo Santana da Silva é jornalista e historiador.
quinta-feira, 10 de abril de 2014
O monstro é real
POR ET BARTHES
Nos Estados Unidos, o desenho animado de uma campanha a alertar para o acesso das crianças às armas fala mais para os adultos. Vale a pena ver...Mulheres não merecem ser estupradas
POR CLÓVIS GRUNER
A estas alturas todo mundo já sabe do erro crasso do IPEA na
divulgação dos resultados da pesquisa, segundo a qual 65% dos brasileiros consideram que a mulher, a depender do tipo de roupa que usa ou de seu comportamento em público, merece ser estuprada. O equívoco, que entre outras coisas resultou na demissão do diretor do Instituto, provocou reações muitas e variadas. No
seu texto de segunda, Jordi Castan sugere interesses escusos por detrás
da pesquisa: “Por que divulgá-la justo agora?”, questiona. A pulga não incomodou apenas atrás da orelha do meu colega de blog: aqui e
acolá, e antes mesmo do IPEA assumir o erro, li gente questionando sobre as “razões
ocultas” do estudo.
É verdade que poucos foram tão longe quanto o delirante comentarista que, por falta de respeito, coragem ou os dois, preferiu manter-se anônimo: truculento como a maioria dos inominados, acusou Fernanda Pompermaier de “inocente útil” no grande plano petista de dominar a vida, o Universo e tudo mais. Segundo nosso leitor, que além de anônimo assume-se preguiçoso, a pesquisa foi “uma manobra bem urdida pelos porões pestistas (sic) para alavancar a anta deles, afinal, a poucos meses da eleição, que tal reforçar a visão de que as mulheres são vítimas dos machistas, assim, sempre que um candidato opositor, por acaso todos machos, falar mal da anta deles será visto como um monstro do lago Ness”. Certo, certo, sabemos que o machismo, o racismo, a homofobia e as diferenças e conflitos de classe são invenções do governo do PT e inexistiam antes de 2002.
É verdade que poucos foram tão longe quanto o delirante comentarista que, por falta de respeito, coragem ou os dois, preferiu manter-se anônimo: truculento como a maioria dos inominados, acusou Fernanda Pompermaier de “inocente útil” no grande plano petista de dominar a vida, o Universo e tudo mais. Segundo nosso leitor, que além de anônimo assume-se preguiçoso, a pesquisa foi “uma manobra bem urdida pelos porões pestistas (sic) para alavancar a anta deles, afinal, a poucos meses da eleição, que tal reforçar a visão de que as mulheres são vítimas dos machistas, assim, sempre que um candidato opositor, por acaso todos machos, falar mal da anta deles será visto como um monstro do lago Ness”. Certo, certo, sabemos que o machismo, o racismo, a homofobia e as diferenças e conflitos de classe são invenções do governo do PT e inexistiam antes de 2002.
Também é óbvio que não há distinção entre críticas à
presidente e violência contra a mulher, dois eventos que devem ser tratados
como absolutamente simétricos. Assim, durante a campanha, sempre que a
candidata Dilma Rousseff for pressionada pelos concorrentes, “todos machos”, poderá
erguer os braços e gritar: “estupro!”. Mas se a pesquisa foi uma “manobra bem
urdida pelos porões pestistas (sic)” com fins eminentemente eleitoreiros, por
que divulgar o erro e expor governo e candidata, submetendo-os à crítica sempre
refinada da oposição, e nos obrigar a ler estultices como o comentário do nosso
preguiçoso leitor? Afinal, a tal maquinação só surtiria efeito se
continuássemos a acreditar nos primeiros resultados divulgados, não é mesmo? Ah,
a preguiça...
CULTURA DO ESTUPRO – Estupro é coisa séria, e é sempre
temerário quando um assunto dessa gravidade é tratado com irresponsabilidade – e pouco importa se o irresponsável é um Instituto ligado
ao governo ou um leitor, anônimo, preguiçoso, paranoico e pouco capacitado intelectualmente.
E não há motivo algum para comemorar o erro: é uma vergonha que 26% dos
brasileiros considerem a mulher responsável pelo estupro. É uma infâmia que 26%
dos brasileiros acreditem que o tipo de roupa ou o comportamento feminino induz
ao ou facilita o estupro.
Os números reais não nos colocam numa posição confortável. Como
se não bastasse, eles tem servido nesses dias para a propagação de um discurso
que minimiza ou simplesmente nega as muitas violências, simbólicas e físicas,
perpetradas diariamente contra a mulher. Os exemplos são muitos, a começar pela
ignomínia que é equiparar o feminismo a um regime totalitário e genocida,
presente na denominação “feminazi”, esse neologismo grosseiro tão ao sabor dos
conservadores brasileiros. Nos ônibus, no metrô (e na campanha do metrô), nas
ruas, no ambiente de trabalho, em casa: em que pese as mudanças percebidas
principalmente nas últimas décadas, ainda há muito por fazer e mudar para
tornar menos desigual (e eu não falo de diferença, mas de desigualdade) as
relações de gênero.
No caso específico do estupro, entre nós o tema é ainda
muitas vezes banalizado, motivo de piada e tratado com arrogância e desdém,
como no episódio do humorista Rafinha Bastos, para quem mulheres feias devem
não acusar, mas agradecer seu estuprador. Ou na indiferença do Conar à campanha
da Nova Schin, mantida no ar pelos marmanjos que comandam o órgão sob a
alegação de ser “baseada em uma situação absurda”: afinal, na peça
publicitária, o homem que constrange mulheres e invade seu vestiário,
provocando visível horror e medo, é invisível. Para alguns, se a mulher for
feia ou homem, anônimo, o estupro é válido e, em alguns casos, pode ser até divertido.
AS ESTATÍSTICAS DO HORROR – Os índices de violência física não
minimizam, agravam a sensação de que vivemos em uma cultura que tem feito pouco
das agressões contra mulheres. O Mapa da Violência de 2012, estudo
conduzido há anos pelo sociólogo Julio
Jacobo Waiselfisz, dedicou um apêndice para tratar exclusivamente da violência
de gênero. E anota uma tendência ao crescimento nas taxas de homicídio ao longo
das últimas três décadas, chegando a quase 4.500 em 2010 (4,6 homicídios por
100 mil habitantes). Há uma breve interrupção na curva ascendente em 2007, que
os pesquisadores atribuem à aprovação da Lei Maria da Penha no ano anterior. Breve,
porque dos 3,9 por 100 mil habitantes registrados naquele ano, o número volta a
crescer nos subsequentes (respectivamente, por 100 mil/hab.: 4,2 em 2008;
4,4 em 2009; e 4,6 em 2010). Importante registrar que os índices se referem exclusivamente a homicídios motivados por questões de gênero e
exclui aqueles em que mulheres foram vítimas de assassinatos “comuns”.
Razão pela qual a violência contra a mulher
não pode ser jogada na vala comum dos índices de criminalidade, porque se trata
de um fenômeno específico, não raro praticada nos limites de ambientes como o trabalho e a
casa e perpetrada por homens conhecidos, em muitos casos colegas e membros da
própria família, pais e maridos inclusive. Como é o caso do estupro: em 2012,
foram mais de 51 mil casos registrados, uma taxa de 26,3 por 100 mil
habitantes, segundo o Anuário de Segurança de 2013.
Como a qualidade dos registros varia entre os estados, e muitos casos sequer
chegam a ser denunciados, é bastante provável que os números, já altos, sejam
ainda maiores: sabe-se que muitas vezes as vítimas, por vergonha ou porque ameaçadas,
optam pelo silêncio.
Como se vê, não há muito que comemorar com o equívoco do IPEA. Mesmo com e apesar dele, os índices de violência contra a mulher deveriam ser
motivo de preocupação: estamos entre os 10 países mais violentos do mundo, distante e à frente inclusive de nações vizinhas como a Argentina e o Chile. Lamentavelmente, vivemos uma realidade onde alguns preferem cruzar os braços, indiferentes à barbárie. Uma
das coisas mais abjetas que li sobre o assunto nesses últimos dias foi
assinada por Rodrigo Constantino, um dos blogueiros do conservadorismo de
boutique tão em voga no país: para ele, “moças direitas” tem menos chance de
serem vítimas de violência porque “não se faz um banquete diante de famintos”. Alguém
precisa avisar o menino que mulheres não são um pedaço de carne, e que estupro é um ato de força e poder: não é sobre sexo, é sobre violência.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Machista?
POR ET BARTHES
Mulheres com problemas de pelos. Se não escolher o produto certo fica assim? É machismo?
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