POR JORDI CASTAN
Não há prefeito que, na última década, não tenha visto a sua
gestão manchada por algum caso de corrupção. A sensação do joinvilense é de que
a corrupção está enquistada em alguns setores do serviço público municipal.
Quando algum caso vê a luz, logo se converte em notícia e ocupa as manchetes.
Não são poucos os que asseguram que o caso já era conhecido, que é uma
constante em outros setores e departamentos, que esta ou aquela empresa foi
achacada, que fulano ou sicrano pagou para obter uma determinada licença ou
alvará.
Na última eleição, Udo Dohler se apresentou como o
candidato das mãos limpas e fez da honestidade e da capacidade de gestão o mote
da sua campanha eleitoral. Eis a hora de provar que a tolerância zero com a
corrupção não era só um bordão. Agora é hora de mostrar que era para valer,
pois os fatos chegaram antes do que o prefeito poderia imaginar.
A prisão em flagrante de Gislaine dos Santos Machado Afonso,
fiscal da Seinfra, por receber dinheiro para liberar um alvará, foi a notícia da
semana, com direito a vídeo, transcrição de conversas e fotocópia dos bilhetes
de R$ 100 e R$ 50 encontrados com ela. A operação policial, conduzida pela
Polícia Federal, não deixou espaço para muitas dúvidas.
Os próximos passos permitirão identificar se há ou não verdadeira
vontade de combater a corrupção. Se acreditamos nas próprias gravações
divulgadas, não parece que a fiscal Gislaine tenha atuado sozinha. Há fortes
evidencias que pode haver mais gente envolvida no setor da fiscalização. A
primeira resposta do secretário Romualdo França foi política e protocolar: será
aberto um inquérito administrativo-disciplinar, com a funcionária podendo até
perder o cargo e ser demitida.
É bom lembrar que é obrigatório nestes casos que seja aberto um
inquérito, até para evitar que se possa cometer qualquer injustiça. Até
aí nenhuma novidade. O prefeito Udo Dohler tem a oportunidade de fazer uma
devassa tanto no setor de fiscalização, como na Unidade de Aprovação de
Projetos da Seinfra. Poderia até estender a ação para os outros órgãos e
fundações que, pelo perfil e atuação, se assemelham à própria secretária.
Não devem temer nada os funcionários honestos, que existem e não
são poucos. Mas permitiria mostrar à população que há um verdadeiro compromisso
contra a corrupção. É importante ir além dos discursos e das ações
pirotécnicas. Quem deve se preocupar são aqueles que não tenham cometido atos
em desacordo com a lei, a ética e a moral.
Um administrador com a experiência do prefeito deveria ter tomado
providências para perseguir os corruptos que estejam encastelados na sua
administração. No serviço público, os salários de todos os funcionários são
conhecidos. E é aconselhável ficar atento quando há funcionários que, recebendo
salários iguais, apresentam evidências de riqueza, aumento de patrimônio e bens
incompatíveis com o seu salário.
Particularmente carros esportivos, segunda residência, viagens e
festas deveriam levantar as suspeitas dos seus superiores. É praxe comum nas
empresas procurar identificar este tipo de situações. Compradores e fiscais são
alguns dos que correm maiores riscos. No poder público não parece haver ne
preocupação com esses casos e não há uma política sistêmica para identificar
casos suspeitos e investigá-los. A prática comum hoje é que os corruptos sejam
identificados por denúncias, mas não como resultado de um processo interno de
moralização do serviço público.
Uma administração honesta interessa a todos e, principalmente, aos
bons funcionários que correm o risco de ver seus nomes colocados lado a lado
com os de corruptos e corruptores. A atuação da administração neste caso
servirá de parâmetro para saber o quanto de verdade havia ou há no seu discurso
de campanha. Pode agir como sendo um caso isolado e colocar uma pá de cal,
contando que logo seja esquecido. Ou pode fazer deste caso uma oportunidade
para fazer o serviço público melhor, mais eficaz e mais transparente.
Estabelecendo prazos para atender cada procedimento e implantando ferramentas
de gestão pública modernas e ágeis. Nessa mesma empreitada ajudaria se a
prefeitura de uma vez por todas adotasse padrões de qualidade como, por
exemplo, as normas ISO ou equivalentes, seria o mínimo que se poderia esperar
de quem se elegeu vendendo a imagem de um administrador experiente e capaz.