sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O futuro de Joinville passa pela privatização?

POR GUILHERME GASSENFERTH


Com o pacote de concessões lançado pelo governo Dilma, reacenderam-se as discussões sobre privatização. Os fantasmas de Vale e das teles foram invocados pelos que odeiam a privatização, acompanhados de um discurso nada educado sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eu saúdo a presidente Dilma pela decisão que considero acertada e que espero ver estendida a aeroportos e portos, por exemplo.

Em Joinville, tivemos um recente exemplo de privatização que é motivo de aplauso. Embora o nome cause arrepios numa gestão petista, que tenta a todo custo afastar o rótulo “privatização” (esforçam-se para “desvilanizar” um inocente), é o que foi feito – entregar às mãos da iniciativa privada após reconhecimento da incapacidade. Felizmente.

Anuncia-se aos quatro cantos que Joinville é a cidade do turismo de eventos e negócios. Dá a impressão de que somos a Meca dos congressos, quando na verdade o que passamos é vergonha. Não foram um nem dois casos de organizações que após sediarem aqui seu evento disseram: Joinville, nunca mais.

Os camarins do Centreventos, a grande arena multiuso construída sem nenhum esmero técnico, são vergonhosos. Ano retrasado, ao participar da comissão organizadora de um evento da cidade, tive que ficar na porta do banheiro vigiando pra ninguém entrar enquanto um empresário de renome internacional defecava. Deu pra imaginar o constrangimento pra cidade? É só uma fechadurazinha de merda, gente. Literalmente. E aí temos acústica, logística, climatização e outros problemas bem maiores.

O teatro Juarez Machado é uma piada de mau gosto com Joinville. O Expocentro, em dias de chuva, não deixa os visitantes esquecerem da fama da cidade: goteiras por todos os cantos. E em dias de sol, o calor senegalês toma conta da atmosfera do pavilhão. E o que são as salas do “centro de convenções” Alfredo Salfer? Este é um equipamento de turismo de eventos, ainda nas mãos do governo – incapaz de reinvestir 1% do faturamento dos eventos ali sediados. Então, por que não repassar a uma empresa que consiga arrumar tudo isto?

Agora, volto a reconhecer o mérito da concessão da Expoville à iniciativa privada. Parabéns à Promotur e à Prefeitura. Em troca do direito de exploração por 25 anos, a empresa vencedora do edital terá que investir mais de 30 milhões de reais na construção de um centro de convenções decente (com auditório de 2.106 lugares, mais 8 salas para 204 lugares cada e ainda 6 salas de reunião com 12 lugares), ampliação do espaço para feiras (que será o maior do Sul do Brasil), readequação de todo o espaço e criação de um parque público utilizando a boa área verde existente por lá.

E talvez você se questione: e o que a Prefeitura e Joinville ganham com isto? Tudo! Com o modelo que foi proposto, a empresa deverá pagar uma comissão de 5% sobre o faturamento dos eventos (além dos tributos devidos) e devolver o equipamento (com todas as benfeitorias) após 25 anos. Por si, isto já seria motivo suficiente para ser um bom negócio. É importante ressaltar também que a Prefeitura não teria recursos para arcar com a obra, o que atrasaria ainda mais a superação desta demanda tão importante pra cidade.

Mas indo mais além, a expectativa é de triplicar o número de eventos atraídos à cidade, além de qualificar os que já existem por aqui. Isto significa que, numa conta rasteira, triplicaremos o ISS proveniente da prestação de serviços de eventos. Também os restaurantes, bares, taxistas, lojas, hotéis e prestadores de serviços ganharão mais e precisarão gerar empregos para dar conta da demanda. E se fizermos a lição de casa e mostrarmos nosso potencial e criarmos infraestrutura, o turista volta com a família pra conhecer a cidade outro dia. O turismo, se bem aproveitado, gera um ciclo virtuoso. E todos ganham.

Em sendo assim, e tendo a Prefeitura tido a coragem de iniciar este processo (também porque não lhe restavam muitas saídas), não ofende perguntar: por que não vão na mesma onda Centreventos Cau Hansen (e equipamentos anexos) e Arena Joinville? E o que dizer de ampliar a rede de saneamento básico com parceria público-privada? E mais um hospital na Zona Sul? Eu incluiria a BR-280 e o Aeroporto de Joinville, mas aí a alçada não é nossa.

E você, concorda que passa pela iniciativa privada a solução de muitos de nossos problemas?

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Noel Rosa e o candidato a prefeito

POR ET BARTHES
Noel Rosa foi um exímio artista, um dos maiores da história da música brasileira. Em sua curta vida (morreu em 1937, aos 26 anos), compôs várias dezenas de sambas, alguns até hoje cantarolados e batucados Brasil afora. O leitor Christian Duarte Maia publicou em seu Facebook uma canção de Noel Rosa que chama muito a atenção pela contemporaneidade com o cenário político joinvilense, em especial pela similaridade com a situação de um candidato a prefeito cujo nome não diremos. Seria o cantor um vidente? Cantou Noel, lá no início do século passado:

"No tribunal da minha consciência,
O teu crime não tem apelação,
DEBALDE tu alegas inocência,
Mas não terás minha absolvição..."

Percebam como o cantor pronuncia a palavra destacada acima.


Os vários "brasis" da educação: relatos a partir do IDEB

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

O Ministério da Educação anunciou nesta semana os índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) relativos a 2011, e, infelizmente, o cenário não mudou:  estamos longe da média ideal, em comparação com países desenvolvidos e que possuem bons índices educacionais (média 6). E o pior aparece quando aprofundamos os dados: a discrepância entre os estados brasileiros é enorme, retrato de um país debilitado.

O único fato positivo é que todos os estados melhoraram seus índices no ensino de base (1ª a 4ª séries), colaborando com a maior média (4,7) dentre os setores avaliados. Entretanto, doze estados ainda se encontram abaixo da média, e dentre estes, todos são da região norte (Acre, Amazonas, Pará e Amapá) ou da região nordeste (Piauí, Paraíba, Pernambuco, Bahia,  Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas).


A média cai absurdamente na avaliação sobre o ensino de 5ª a 8ª séries, passando para 3,9 e novamente com doze estados abaixo dessa média. Mudam-se os estados, mas todos os piores índices estão no norte ou nordeste brasileiro. Para o ensino médio, outro dado alarmante (além da queda do índice para 3,4): nove estados pioraram seus índices em relação a 2009 e doze estados não atingiram suas metas, ficando abaixo do planejado. Doze estados da região norte e nordeste novamente são os piores e abaixo da média.

À medida que o ensino vai avançando, ele vai ficando cada vez mais desqualificado, dando margem à evasão escolar e aumento da criminalidade. Se o jovem (o qual já não teve um ensino de base qualificado) perceber que a educação não lhe permite colher melhores frutos no futuro, ele irá procurar outros meios para sua subsistência. Empregos que não permitem fazer o jovem estudar, ou a ilusão de dinheiro fácil advindo da criminalidade são alguns dos caminhos possíveis que a própria educação pública proporciona.

Apesar do ensino de base estar melhorando, não adianta apenas dar atenção a este setor e acompanhar de camarote a piora dos outros níveis de ensino. No Brasil, infelizmente, os melhores professores – e mais bem remunerados - dão aula no ensino superior, enquanto que nos anos iniciais geralmente encontram-se os professores menos qualificados e mais mal remunerados. Precisamos implantar como política pública, em todo o país, o ensino integral, com atenção igual a todos os níveis de ensino e a valorização da categoria docente. Porém, é difícil pensarmos desta maneira, pois cada estado e cada município têm suas políticas, seus orçamentos e suas prioridades, por isso tantos “brasis” dentro do mesmo Brasil. E ainda há quem diga que o sistema de cotas vai resolver todos os problemas da educação... ou dizer que os professores não gostam do que fazem (sic!).

Estamos, enquanto país, equivocados  a ponto de melhorar um índice e piorar outro, acreditando que, melhorando o índice geral, qualificaremos toda a educação brasileira. Por mais que nossa cidade e nosso estado liderem os rankings, somos cegos perante a realidade nacional (44% das escolas públicas não atingiram suas metas). Com esses índices, me desculpem os sonhadores, mas estamos longe de sermos o país do futuro. Somos o país dos debilitados de conhecimento.

PS: Relatos da imprensa e complementares a esta temática:








quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Evolução das espécies


Joinville em cinco sentidos


 POR AMANDA WERNER

AUDIÇÃO 
O dia mal amanhece e não é preciso despertador. O silêncio de uma longa noite de sono é quebrado pelo canto estridente, quase metálico, da Aracuã, anunciando o novo início.  Em seguida, ouve-se o barulho de algum cortador de grama e o zumbido quase ininterrupto dos Vaps, funcionando a todo o vapor.
Cabrum! Alguém corre para dentro de casa, não sem antes recolher a roupa que está no varal.  É a chuva que chega forte, escorrendo pelas calhas, e, logo, alguém exclama: Éééééégua! Meu Senhor! Deste jeito vamos virar sapos!
Para o alento de todos, a chuva torrencial passa, e seu som é suavemente substituído pelo canto dos canários-da-terra e sabiás.

OLFATO
Emerge o cheiro de terra molhada, de ar fresco pós-tempestade e a sensação de conforto ocupa seu espaço.  É hora de arejar a casa, pois tudo cheira a mofo. Ao colocar as almofadas pra fora, alguém machuca o dedo com uma farpa de madeira do sofá, ou, um pai, acidentalmente se corta ao fazer a barba. E a mãe recomenda: passa Minâncora! O agradável odor canforado inebria e, imediatamente, remete à adolescência, quando a tradicional pomada era usada para secar espinhas. Ou à infância, quando aplicada em assaduras. Mas há um odor, nada agradável que predomina e faz plano de fundo para quem mora perto: o do Rio Cachoeira. E quando ouço os antigos dizerem que nem sempre foi assim, alimento a esperança de que mais agradáveis ares virão.

TATO
O pé está molhado dentro do sapato. E há também um pouco de lama. Os desavisados, que desconhecem o efeito das marés altas em dias de chuva, têm água até os joelhos. Em pleno centro da cidade! Não há como desviar de tantas poças d’água no caminho. Uma toalha é oferecida para secá-los. Úmida. Se o calor asfixiante do verão traz as picadas de butucas e maruins, e também dos borrachudos (haja repelente!). Abre a temporada dos refrescantes banhos de rio, nos Quiriris e Piraís deste pedacinho de Mata Atlântica.

PALADAR
Em uma casa, alguém está comendo bolachas de melado. Em outra, o café da tarde é reforçado. Com bolinhos de banana ou pão de batata com nata e schmier.  Nas noites de verão tem caranguejo. Nas de inverno sopa preta. Em todas as estações têm chope, rollmops e hackepeter. E nada como um Mayerle Boonekamp para ajudar a digerir tudo isso!

VISÃO
Com os olhos fechados, enxergo. Para quem só acredita olhando, esta é a cidade das orquídeas, das bromélias e da florada do jacatirão em novembro. Onde se veem  mangues e sambaquis. Contornada e protegida pelos morros. E, de cima de um mirante, pode-se avistar o mar. Cidade das casas com estilo enxaimel. E também das bicicletas. Para o regozijo de todos os meus sentidos, já sei onde estou. Posso sentir. Estou em Joinville.