quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Nós, bolsonarinhos
Imagem: Conselho Nacional de Justiça (CNJ) |
POR FELIPE SILVEIRA
Tive uma das experiências mais fascinantes da minha vida na semana passada, quando passei dois dias com cerca de vinte detentas do Presídio Regional de Joinville, durante o 6º Seminário de Gestão Prisional, Segurança Pública e Cidadania. Eu estava a trabalho.
Foram momentos de intenso aprendizado e de oscilação das emoções. Uma tristeza imensa que se faz presente naquele lugar era quebrada por alguns momentos de alegria, descontração e confraternização. Elementos, creio, que funcionam como escape para enfrentar aquela dura realidade.
O seminário, que ocorreu em um hotel da região central, foi transmitido ao vivo para o complexo prisional. Minha tarefa era acompanhar o seminário com as internas, organizando a participação delas no evento.
Entre uma palestra e outra, ouvi dezenas de histórias, que, somadas às falas dos palestrantes, me deixavam chocado e com vergonha por não fazer nada para mudar essa realidade do sistema prisional.
Um sistema que desrespeita a lei de execução penal em inúmeros aspectos e afronta a dignidade da pessoa humana de maneira absurda. Que coloca vidas em risco cotidianamente. Que não presta assistência médica necessária, deixando que doenças se agravem de maneira irreversível. Que mantém crianças longe das suas mães e sem amparo algum. Que prende e mantém presos injustamente. Que aumenta a pressão sobre agentes penitenciários. Que dificulta e não respeita as visitas. Que não dá satisfação a ninguém.
E não dá satisfação porque a sociedade não se interessa. Qualquer um que se aproxime minimamente do sistema prisional vai perceber e reconhecer os problemas apontados aqui e muitos outros. Qualquer um que não seja um verme fascista, é claro.
“Execução penal no Brasil é uma terra sem lei”, afirmou o advogado criminalista Leandro Gornicki, durante um painel da OAB-SC realizado recentemente. E eu trago o link pra cá apenas para engrossar a reflexão. Uma reflexão que nem discute quem estamos prendendo. Negros, pobres, crianças...
Parte dessa discussão pode ser encontrada neste link, em uma entrevista com o juiz de execução penal de Joinville, João Marcos Buch, que tem enfrentado o sistema (por dentro) diariamente. Desde que assumiu a função, o juiz busca solucionar os problemas. Dessa maneira, e com resultados objetivos e subjetivos, conquistou o respeito dos detentos e da sociedade.
Mas o juiz é um só. Os defensores públicos nem existiam em SC até pouco tempo, e hoje estão longe do número ideal. Os ativistas são poucos. Fundamentais, mas poucos.
Tudo isso poderia ser diferente. Se não fôssemos um bando de bolsonarinhos tão preocupados com as nossas panças e cartões de crédito. Mas somos.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Marina Silva tem cacife para vencer?
Foto que circula na internet |
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Qual é a margem de
erro de uma pesquisa de opinião pública feita quando o velório ainda nem
acabou? Não vou fazer contas – é coisa para os especialistas -, mas todos
sabemos que os fatores emocionais interferem nas respostas dos eleitores. E a
comoção nacional pela morte de Eduardo Campos produziu um efeito instantâneo:
alçou Marina Silva para o segundo lugar nas preferências do eleitorado, com 21%
das intenções de voto.
Então, qual é a
validade da pesquisa? Ora, é um bom método para tomar a temperatura política
num momento específico, em que a memória do acidente ainda está fresca.
Mas nos próximos dias, assim que esse clima de consternação passar (e,
acreditem, passa rápido) a tarefa de Marina Silva começará a ficar difícil,
caso o seu nome venha a ser confirmado pelo PSB, como tudo indica que será.
Vamos começar
pelo óbvio. Marina Silva é problema de Aécio Neves. A correr o risco de não ir
para o segundo turno, o candidato do PSDB vai gastar o seu tempo (inclusive os seus preciosos minutos de
televisão) a atacar a ex-senadora. Aliás, os inomináveis chiens de garde aecistas já começaram a
disparar sobre a adversária, como pudemos acompanhar em textos publicados ontem
nos lugares do costume. É esperar para ver até que ponto a imagem de Marina
Silva resiste.
Outro aspecto importante
é a imagem da candidata. Marina Silva pode ser alternativa para um voto de
protesto, mas não tem estatura para ser presidente de um país tão complexo como
o Brasil. De fato, ela é desprovida de conteúdo e cheia de contradições, fato
que não escapará aos eleitores. Aliás, tenho a intuição de que quando começar a
falar, Marina Silva só tem a perder porque vai revelar as suas fragilidades.
E vai dar munição para os adversários.
Exemplo? Mesmo que
fruto de um acaso, aparecer a sorrir ao lado do caixão de Eduardo Campos é um
azar colossal. A imagem pode atrapalhar as suas pretensões. E vou explicar,
para que fique claro: não acredito que ela estivesse em regozijo, mas a imagem
é um prato feito para os assessores de qualquer dos outros candidatos. Nada os
impede de usar a foto ad nauseum como forma de atacar a sua imagem e
estancar o crescimento da candidatura.
A foto tem uma
história plausível – até já houve uma explicação – e é óbvio que a ex-senadora
não estava feliz. No entanto, há um fato em política: boa parte dos eleitores
não entende a complexidade do cargo de presidente, mas entende a simplicidade
de um sorriso (que parece matreiro) numa foto. Pessoalmente,
lamentaria que ele fosse alijada do processo por causa de uma foto (que ilustra
este texto), mas quem está na chuva é para se queimar...
Marina Silva tem
fragilidades que ganharão evidência quando ela puser a candidatura na rua. Não vamos esquecer que ela é acusada de ser contumaz em roer a corda dos seus parceiros políticos, o que cria uma imagem pouco aceitável. Ou seja, ela pode até dar uma
embolada na disputa, mas com o tempo as suas deficiências irão ficar tão
indisfarçáveis que muita gente ainda vai achar Aécio Neves um candidato
aceitável.
Enfim, essa conversa de reinício do processo eleitoral, como se tudo fosse recomeçar do zero, é apenas o
desejo de alguns. Porque com o andar da carroça as melancias se ajeitam.
É
como diz o velho deitado: “previsões só no final”.
P.S. Este texto foi escrito antes da entrevista de Dilma Rousseff ao JN. Tendo corrido bem ou mal (as opiniões divergem), é provável que a entrevista nada vá alterar nas intenções de voto.
P.S. Este texto foi escrito antes da entrevista de Dilma Rousseff ao JN. Tendo corrido bem ou mal (as opiniões divergem), é provável que a entrevista nada vá alterar nas intenções de voto.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Suicídio eleitoral [1]
POR JORDI CASTAN
Não é segredo que a política e o bom senso não andam de mãos dadas. Tanto é assim que quando alguém diz “é uma decisão política”, todos
entendemos imediatamente, sem necessidade de maiores esclarecimentos, que será
uma decisão que não segue a lógica ou o senso comum.
Assim não deve causar estranheza que em alguns dicionários em breve possa aparecer “decisão política” como sinônimo de burrice, estupidez, estultícia ou má fé. No mesmo sentido poderíamos falar de chamada “vontade política”, que pode ser interpretada também como sinônimo de “porque sim” ou “porque eu quero”, nas suas versões mais comedidas.
Assim não deve causar estranheza que em alguns dicionários em breve possa aparecer “decisão política” como sinônimo de burrice, estupidez, estultícia ou má fé. No mesmo sentido poderíamos falar de chamada “vontade política”, que pode ser interpretada também como sinônimo de “porque sim” ou “porque eu quero”, nas suas versões mais comedidas.
Joinville tem uma pobre representação política. E não é de
hoje. A sua pobreza é dupla: uma pelo número de representantes, que já foi pior, e também pela péssima qualidade dos nossos deputados. É difícil poder
se sentir representado por qualquer dos nossos deputados estaduais. E no caso
dos federais a situação não é melhor. Se alguém acreditava que agora teria
possibilidade de mudar alguma coisa, minha sugestão é que podem tirar o pônei do
sereno, porque nada deve mudar.
A matemática partidária funciona numa lógica
estranha e o resultado é que mais serão menos. Quantos mais candidatos se lancem,
menos possibilidades de eleger algum e, pior, mais chances de reeleger esses que
aí estão. Que gente que nem se elegeria sindico de prédio - e olha que é fácil se
eleger síndico na maioria dos prédios -, se lança a aventura de querer se eleger
deputado estadual, alguma coisa está errada.
Tem casos de candidatos que na eleição municipal não tiveram votos nem para ser vigésimo segundo suplente de um partido que não elegeu nenhum vereador e agora se lançam numa campanha para se eleger deputado. Será que alguém toma estes nomes seriamente? E se objetivamente não têm nenhuma possibilidade, porque se lançam? O que está por trás destas candidaturas natimortas?
Tem casos de candidatos que na eleição municipal não tiveram votos nem para ser vigésimo segundo suplente de um partido que não elegeu nenhum vereador e agora se lançam numa campanha para se eleger deputado. Será que alguém toma estes nomes seriamente? E se objetivamente não têm nenhuma possibilidade, porque se lançam? O que está por trás destas candidaturas natimortas?
Não tenho bola de cristal, mas o bom senso diz que dos 40 candidatos a deputado estadual com domicilio eleitoral em Joinville, com “sorte” elegeremos três. Como não há nada tão
ruim que não possa piorar, o mais provável é que sejam os mesmos três que já
temos hoje . Para deputado federal, dos 21 candidatos da cidade, dificilmente elegeremos
três. O mais provável é que sejam só dois e nenhum de novo chegue a se eleger.
Assim devemos continuar sendo representados por essa casta de políticos profissionais, que sem competência para se estabelecer profissionalmente, encontram na política o caminho para fazer fortuna. As declarações de bens, de gente que nunca tem ganhado um único centavo com o resultado do seu trabalho e do seu esforço, são um estímulo para que a cada eleição nuvens de novos candidatos se aventurem na busca do dinheiro fácil e do prazer de dispor do dinheiro dos outros.
Assim devemos continuar sendo representados por essa casta de políticos profissionais, que sem competência para se estabelecer profissionalmente, encontram na política o caminho para fazer fortuna. As declarações de bens, de gente que nunca tem ganhado um único centavo com o resultado do seu trabalho e do seu esforço, são um estímulo para que a cada eleição nuvens de novos candidatos se aventurem na busca do dinheiro fácil e do prazer de dispor do dinheiro dos outros.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
O caso UFSC Joinville é a maior vergonha desta cidade
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
O projeto, diga-se de passagem, já começou muito errado. Além da localização do terreno na curva do arroz ser péssimo em vários aspectos, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou a venda do terreno como abusiva, pois estaria muito acima do valor de mercado. Na mesma ação, o órgão alegou que a escolha dos cursos havia acontecido de forma unilateral para atender as demandas dos empresários locais, e não da sociedade joinvilense como um todo (já escrevemos muito sobre isso aqui no Chuva, nos jornais locais e na audiência pública que a Câmara de Vereadores fez em 2009). Enquanto a necessidade da cidade é por cursos na área de humanas, biomédicas e sociais aplicadas, temos mais engenharias "goela abaixo".
O segundo erro, ao meu ver, foi o de deixar o projeto a cargo da UFSC ao invés de torná-lo independente, com a criação de uma nova Universidade Federal. O exemplo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) explica muito bem, pois, neste caso, a UFSC foi a organizadora do processo de criação da nova Universidade, mas a autonomia da nova instituição agilizou - e muito - o processo. Todos os campi da UFFS operam atualmente com uma grande diversidade de cursos. E tudo isto aconteceu no meio tempo entre o lançamento da pedra fundamental da UFSC Joinville e o dia de hoje. Para piorar, a UFSC parece não fazer esforço algum para que o campus de Joinville saia do papel, e se contenta com aulas improvisadas em espaços alugados (começou na Univille, depois foi para o antigo
Por fim, é espantosa a omissão da classe política local neste assunto. Dificilmente vi, nestes anos de militância na questão, algum deputado (federal ou estadual) cobrar agilidade no processo, ou investigar o porquê disto estar acontecendo em Joinville. Nenhum senador. Três prefeitos diferentes e nada. Nem a própria ACIJ, tão interessada na instalação de mais cursos de engenharia em Joinville (fez um lobby enorme para tal fim), faz declarações firmes pedindo maior cuidado com a UFSC Joinville.
Além de ser vergonhoso, estamos falando do perfeito retrato de como a educação pública superior é tratada em Joinville: sempre no segundo escalão, longe das pautas principais, pois o que importa nesta cidade não é a construção do conhecimento, do debate, da crítica, do desenvolvimento social através da educação. O que importa nas terras da Dona Francisca é o trabalho, a reprodução massiva de moldes sociais, o discurso acéfalo, vazio.
Vazio como o meu sentimento de esperança sobre a breve mudança desta situação.
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