POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A febre da
segurança contagiou os candidatos à Prefeitura de Joinville. Primeiro foram Udo
Dohler e Dr. Xuxo, que escolheram dois oficiais da PM, Nelson Coelho e Adilson Moreira, como candidatos a
vice-prefeito. E há poucos dias Marco Tebaldi anunciou a ex-delegada Marilisa
Boehm como o segundo nome na sua chapa. Há lógica nessa guinada para o tema da
segurança pública? Sim. A coisa faz sentido no plano das manigâncias políticas. A escolha não é inocente.
Não é
preciso ler muitas sondagens para saber que a segurança é uma das áreas que mais
preocupa os eleitores. É aí que entram em campo os “gênios” da engenharia política:
se o povo está preocupado com a segurança, vamos dar o que eles querem. E
faturar uns votos, claro. O problema é que qualquer pessoa com dois dedinhos de
testa sabe que é um tiro n’água. Não há como cumprir essa “promessa”.
É frustante ter que dizer o óbvio. Mas imagine, leitor e leitora, que um desse três
candidatos acabe eleito. O que pode um “xerife” fazer a partir da sua
confortável cadeira de vice-prefeito? Pegar em armas e sair por aí a prender
malfeitores? Claro que não. Isso não faz parte das atribuições de uma
administração municipal. Aliás, se os prefeitos cumprissem o que prometem já seria uma
vitória de valor inestimável. É ficção, claro.
Resta a
artimanha. Haverá eleitores dispostos a votar nesses três candidatos por
causa da segurança? Sim. E se dividirão entre os conservadores (alguns com
saudades dos anos de chumbo) e os que, em termos políticos, não veem um palmo à frente do nariz. Mas há um problema: é muito papagaio para o mesmo poleiro. Com três candidatos a disputar o mesmo campo, um anula o outro... e lá se foi o diferencial eleitoral.
A escolha de Marco Tebaldi parece ser a mais bem enquadrada, no quadro dessa febre securitária.
Ao escolher uma mulher também delegada, ele pisca o olho a pelo menos dois
eleitorados: o feminino e o do medo. A escolha do Dr. Xuxo desponta como a mais
neutra. O seu candidato a vice-prefeito não parece ter um capital político
capaz de cativar grande número de eleitores, mas também não faz perder votos.
UDO DOHLER - O caso de
Udo Dohler é o mais intrigante. Apesar de uma administração pouco convincente,
o atual prefeito mantém a vantagem de ter a máquina administrativa da
Prefeitura nas mãos. Ou seja, mesmo com uma indisfarçável rejeição, Udo Dohler ainda
consegue manter uma posição que lhe permite pensar na reeleição. E
fica a questão: qual o cacife político trazido pelo seu candidato a
vice-prefeito?
Udo Dohler parece empreender uma fuga
para a frente. O insucesso da sua administração matou a figura do “gestor”. É
preciso uma nova roupa para um velho estilo. As pesquisas apontam, de forma
recorrente, a “honestidade” como fator preferencial para os eleitores. Importante salientar que o apelo da honestidade não é inocente, já que resulta de informações obtidas em pesquisas de opinião. Quem não notou, nos
últimos tempos, o matraquear da comunicação do prefeito nesse sentido?
O eleitor quer um síndico
– e de preferência honesto. Ou mais: alguém de pulso forte que ponha ordem na casa. Sob esse aspecto, a figura de um
vice-prefeito austero e durão tem muita utilidade para a semântica das eleições. Talvez Udo Dohler
seja uma raposa política e veja vantagens em ter um vice ultraconservador e anti-intelectualista, entre outras “virtudes”. Mas não será exagero acreditar que a totalidade dos eleitores é conservadora?
Questões de
direitos civis não decidem eleições municipais, mas podem criar anticorpos. Dohler tem os seus próprios índices
de rejeição. E trazer um candidato de extrema direita, que também cria rejeição em
parte do eleitorado, pode gerar contratempos. É esperar para ver. Aliás, tudo vai depender do que os seus
adversários estão dispostos a fazer. Há muito material para trabalhar.
É a dança da chuva.