O impacto da entrevista concedida pelo prefeito Udo Dohler
ao jornal "A Notícia" tem sido maior que o esperado. Dificilmente poderia haver pior momento e a mensagem tem sido recebida pelos leitores do jornal com
preocupação. É bom lembrar que uma boa parte do eleitorado natural do prefeito
é composta por leitores do maior jornal de Joinville. Os marqueteiros políticos e os bombeiros de plantão tiveram que agir depressa para evitar que o desgaste fosse maior. Mas o estrago já foi feito.
Por que a entrevista repercutiu tão mal entre o joinvilense? Primeiro porque o eleitor está começando a ficar preocupado com o dia a dia da cidade.
Nada parece andar e o proposto choque de gestão continua sem chegar ao cidadão.
Os que deveriam ser os pontos fortes da gestão Udo não são visíveis. E o tempo passa: praticamente um terço da gestão já se foi e não há sinais no
horizonte que prevejam mudanças a curto prazo.
Corrupção – O prefeito diz que há corrupção na sua gestão. É
bom lembrar que quando uma fiscal da Seinfra foi detida pela Polícia Federal
por corrupção, o prefeito já usou este discurso, mas nada foi feito que mostrasse
uma vontade de mudança. Agora volta a falar de corrupção, mas não dá
nomes, não diz em que setores e não apresenta alternativas concretas para combatê-la.
Lembrando ainda que recentemente veio à luz uma denúncia envolvendo a licitação
em andamento da manutenção da iluminação
pública e que envolvia um super-secretário municipal.
O tema tem levantado
ainda mais dúvidas sobre a imagem de um candidato que fez durante a campanha da
honestidade o seu diferencial, quando todos sabemos que honestidade para um
homem público deve ser um pré-requisito e não um diferencial. O resultado é descrédito
sobre a sua verdadeira vontade de resolver o problema e a animosidade dos funcionários
públicos honestos, que se veem colocados na vala comum dos corruptos.
Gestão
– Definitivamente a gestão municipal patina, patina e
não sai do lugar. Sem entrar na discussão das diferenças entre a
administração
pública e a praticada pela iniciativa privada, o fato é que ambas têm as suas
diferenças, mas também seus pontos em comum: a busca da eficiência, os
princípios da economicidade
e da eficácia, unidos à planificação, controle e a gestão devem ser
comuns a
ambas. Na administração pública só pode ser feito o que a lei permite,
na
iniciativa privada o que a lei não proíbe está permitido. Está aí uma
grande
diferença, não é perceptível ainda a diferença entre uma gestão política
e a
gestão com uma visão empresarial. Transcorreu tempo suficiente para que
as
diferenças pudessem ser percebidas pela sociedade. Sem choque de gestão
toda a
proposta apresentada pelo prefeito na sua campanha é posta em cheque e o
custo político
é evidente.
Política – Quando eleito o prefeito teve a oportunidade e o
crédito para poder fazer uma gestão diferente; para isso precisava tomar
algumas decisões que evidenciassem a vontade de fazer um governo técnico e que
se diferenciasse das gestões anteriores. Não o fez e optou por uma abordagem
mais política. Um empresário que tenha administrado uma empresa com um
faturamento superior aos R$ 100 milhões tem melhores condições de entender e
administrar uma cidade com um orçamento 10 vezes maior. Saberá ler um balanço e tomar
decisões baseadas em critérios técnicos e administrativos.
O problema é quando alguém
tenta compatibilizar este perfil com um perfil político. O resultado é que
mesmo com uma maioria absoluta na Câmara de Vereadores, o prefeito ainda não está satisfeito e preferiria um legislativo mais submisso e obediente, sem
compreender o papel de cada um dos poderes no modelo republicano. Como político,
Udo tem ainda muito por aprender. Os seis mandatos como presidente da ACIJ e os
quase 20 anos à frente do Sindicato da Indústria Têxtil não proporcionaram o aprendizado político de que tanto precisa neste momento.
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Foto: A Notícia |
Clientelismo – Por favor, que alguém explique com urgência ao
prefeito o que é clientelismo. Porque afirmar que há clientelismo e que esse é
um entrave à gestão municipal - em especial vindo dele - parece um contrassenso. A impressão
que ficou depois da entrevista é que o clientelismo pernicioso é o dos outros;
quando o clientelismo tem como objetivo atender as demandas dos amigos do rei
ou dos apoiadores da campanha, além de ser normal, deve ser visto exclusivamente
de defender o que é bom para Joinville.
O prefeito parece atolado no tempo em
que na ACIJ se dizia em voz alta que “o que é bom para ACIJ é bom para
Joinville”. Nos dias de hoje a frase deveria ter outra sintaxe: “o que é bom
para Joinville é bom para a ACIJ”, pois assim a frase ganharia um significado e repercussão
muito diferentes. É provável, contudo, que o prefeito não tenha deixado ainda de pensar como presidente da ACIJ.
Democracia e participação popular – O perfil do prefeito Udo Dohler não é e nunca
tem sido o de um democrata; pois é conhecido pelo seu perfil autoritário. A frase que
melhor o define é a de que é alguém que ouve, mas não escuta. Acostumado a
mandar e a ser obedecido, não faz parte do seu quotidiano escutar,
reconsiderar, lidar com vozes e opiniões dissonantes ou simplesmente distintas
das suas. Quem o conhece melhor sabe o quanto de esforço pessoal deve
representar para o prefeito ter de lidar com minorias que, como parte do processo democrático
e utilizando-se dos espaços de participação democrática, discordem da sua visão
da cidade e do mundo.
Há duas possibilidades: a primeira é que o desgaste político
continue aumentando e a sociedade como um todo pague o preço da teimosia ou então que
se produza uma mudança radical na forma de ver e entender o papel da sociedade
organizada na tomada de decisão. A segunda parece improvável e deveremos ter
até o final do mandato uma fase conturbada. O curioso disso tudo é que boa
parte dos eleitores do Udo votou nele acreditando nessa imagem de
turrão, no seu perfil autoritário, pois imaginavam que Joinville precisava de um
prefeito com este perfil. Assim, o futuro das cidades como Joinville, que não
podem ser administradas mais no grito ou na vontade, vão precisar
de administradores que reúnam ao mesmo tempo a capacidade política de negociar com
o conjunto da sociedade e integrá-la num projeto de cidade e capacidade de
administrar uma máquina complexa com milhares de funcionários e orçamentos bilionários.
Judicialização - O Prefeito Udo Döhler apontou a
“judicialização” como a causa do que chama de problema da tramitação da
LOT. Disse ainda que, além de terem refeito tudo ao longo de 2013, estavam em
contato permanente com o Ministério Público, a fim de não cometer nenhum
descuido. Tais declarações são de causar espanto. O verdadeiro problema não é a
“judicialização”, mas, ao contrário, o atropelo implícito ao planejamento do
IPPUJ para execução – em rito sumário – de audiências públicas para debater
tema fundamental para a vida dos cidadãos, verdadeira maratona de eventos em
dias consecutivos e com duração, pasmem, de meras duas horas cada uma.
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Foto A Notícia |
Essa pretensão provocou reação dos munícipes, que não
tiveram outra opção senão recorrer – por meio de oito associações de moradores – ao
Ministério Público. Deste receberam apoio, sob a forma de recomendações para que o IPPUJ atue em consonância com a lei, propiciando aos cidadãos, com a
devida antecedência, elementos necessários para que formem convicção abalizada
sobre as implicações das propostas da nova LOT sobre suas vidas social,
econômica e patrimonial.
O prefeito inverte, assim, a ordem das coisas: não foi a
Prefeitura/IPPUJ que se coordenou ativamente com o Ministério Público, a fim de
não cometer erros. Foi a partir de um erro que estava, sabe-se lá por que
razões, prestes a ser cometido pelo IPPUJ, que o Ministério Público, a pedido
de alguns moradores de Joinville, devolveu o assunto aos trilhos, determinando
ao Poder Executivo que atue da forma que se espera do administrador público. Ou seja, agindo com transparência e cumprindo o que determina a lei aplicável ao
assunto.
E se o Prefeito está insatisfeito com a velocidade de
tramitação da LOT, só precisaria comandar seus subordinados do IPPUJ para que
ajam nesses termos. Afinal, o cidadão está apenas se defendendo contra a
incompetência de uma entidade que se tem mostrado incapaz de cumprir seu papel,
abdicando de discussões educativas, abertas e cristalinas com a população, em
nome do verdadeiro rolo compressor que até este momento tentou passar sobre
pessoas cujo conhecimento sobre o tema beira a inocência. A
judicialização é hoje o caminho encontrado pela sociedade para se
proteger das arbitrariedades e da falta de participação democrática.
Em resumo, a entrevista do prefeito não foi um tiro no pé. Foi uma rajada. No pé, na perna, no joelho e nas costas. A pergunta que fica é se o
prefeito sabia o que ia encontrar? Pessoas próximas a ele asseguram que foi
avisado. O próprio ex-prefeito Carlito afirma que o avisou. O prefeito como
sempre ouviu, mas não escutou.
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Reprodução A Notícia |