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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os vereadores estão solidários com os grevistas? Diminuam os próprios salários!

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Tem vereador levantando bandeira no Twitter à favor dos grevistas porque, claro, pensa na qualidade de vida dos funcionários públicos joinvilenses. Não existe nenhum interesse obscuro nesse apoio. É uma solidariedade genuína. Muito nobre.

Mas vindo de uma pessoa que recebe mais de 10 mil reais por mês de dinheiro dos nossos impostos para manter seu alto padrão de vida. Dinheiro este que deveria estar indo para a saúde, educação, cultura etc.  Lamento, isso não é justo.

Vereadores joinvilenses recebem demais sim! Sabe que parcela da população recebe mais de 10 mil reais por mês? Uma minúscula minoria. Nem professores universitários que estudam e pesquisam a vida toda recebem perto disso. Esses são os bem intencionados que se puseram a serviço da população? Que deveriam estar trabalhando para o bom uso do dinheiro público?


Eu não tenho absolutamente nada contra a greve. Considero uma forma legítima de conquista de direitos, muitas vezes necessária. Claro que deve-se levar em conta que as formas de negociações pacíficas já foram esgotadas e não existe mais possibilidade de diálogo. Assim, naturalmente, parte-se para a pressão.

É triste, é.
Prejudica os usuários? Prejudica. Mas não é motivo para colocar a população contra os grevistas. Eles têm o direito de lutar pelo que acham certo, e a população deveria cobrar de quem pode resolver e ajudá-los a mudar esse quadro.

Se o prefeito pegou o caixa quebrado, o que não é novidade na nossa cidade, e se 60% da arrecadação vai para folha de pagamento, que resolvam os vereadores e seus assessores. Vamos cortar.

É justo que alguns funcionários fixos ganhem aproximadamente 2 mil reais e vereadores que estarão na câmara por apenas 4 anos (oi?) ganhem 5x mais?

Não é.

Impostos servem para garantir a qualidade de vida do morador da cidade, a longo prazo, nada mais.

O Udo doou o seu salário. Se os vereadores estão tão preocupados com Joinville, que façam o mesmo, diminuam seus custos.

Na Suécia os vereadores não recebem salário e não tem nenhum benefício.
Nem carro, nem diárias, nem celulares ou assessores como fazem os ricos vereadores de Joinville. E olha que as cidades aqui estão muito melhor cuidadas e organizadas.

Os vereadores suecos uma vez eleitos, saem de licença dos seus trabalhos e continuam recebendo o mesmo valor de suas funções anteriores, mas agora pagos pelo governo. Isso faz com que eles tenham realmente uma carreira profissional fora da vida pública. E é óbvio, o governo não gasta horrores porque os salários, claro, não são altos. As pessoas que se candidatam, de forma geral, querem realmente trabalhar pela cidade e não garantir o pé de meia.

Então, queridos vereadores, não fiquem de hipocrisia, fazendo de conta que estão apoiando o reajuste da inflação para os funcionários, quando o seu já está garantido. Nos últimos 10 anos seus salários dobraram, e não acredito que isto tenha sido só a inflação. De acordo com essa reportagem a maioria está muito satisfeita com o valor. Shame on you!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hábito de ler

Parque em frente a biblioteca central em Helsingborg

POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Na Suécia não existe televisão em salas de espera, existem livros, revistas, jornais e até livros infantis.
Consultórios médicos, de dentistas, clínicas, órgãos do governo, nada de televisão. 

Uma amiga passou uma semana no maior hospital da cidade, internada por ter tirado o apêndice e outras complicações.  Fiquei impressionada, não tem televisão nos quartos. À princípio, me indignei, como assim? E o tédio? Como as pessoas fazem para passar o tempo? Simples, eles lêem.

Um parêntese: o hospital é público, e parecido, digamos assim, com o Da. Helena. Todos na cidade frequentam o mesmo hospital, as pessoas não costumam ter plano de saúde, não tem necessidade.

Sala de televisão no hospital
Os únicos espaços onde tinham televisões, eram as salas reservadas para elas. Uma sala com café, chá, poltronas e uma tv num canto, num espaço pouco privilegiado (como aparece na foto). Haviam ainda outras salas para receber as visitas, sem televisão.

Nas paredes muitas obras de arte, e os pacientes, a maioria, com um livro na mão.

Isso demonstra como a leitura é presente na sociedade sueca.

Educação aqui é coisa séria e não se mede esforços quando o assunto são livros, informação, estudo.

Nas bibliotecas você pode pegar até 50 livros por mês e 30 dias é o prazo para devolver. Vencido o prazo, no próprio site da biblioteca (link abaixo), você pode renová-lo para mais 30 dias, e mais, e mais, desde que o livro não esteja reservado por alguém. As reservas também podem ser feitas pelo site, na sua página pessoal. Se a biblioteca não tiver o livro, eles consideram a possibilidade de comprar. A maioria dos livros são em sueco, claro, mas tem um acervo grande em outras línguas, inclusive em potuguês, com obras de Machado de Assim ou José de Alencar. É possível reservar e-books, dvds, audio-books, cds, ou livros infantis.

As bibliotecas são pontos de encontro.
Na central existe um café sempre bastante movimentado que serve almoço, lanches e doces. No inverno eles servem uma sopa que é a melhor que já comi na vida.

Além da biblioteca central, existem algumas em bairros, também com estrutura para receber bem os leitores e seus filhos. Em todas, espaço para a criança ler ou brincar.

Nas estações mais quentes é possível pegar uma rede e pendurar nas árvores do parque que fica em torno da biblioteca como mostra a primeira foto do post.

Eu nem vou discutir os hábitos de leitura da maioria dos brasileiros, nem a frequencia, nem as escolhas, apesar do nome, eu não acho que auto-ajuda, ajuda muita coisa. Não estamos mesmo acostumados com horas e horas de estudo e leitura no Brasil. Tive uma professora que dizia que qualquer professora que não lê 1 livro por mês devia ter vergonha de ser educador. Eu confesso que não consigo tanto, mas tento.

O que eu queria mesmo era que alguém me dissesse que a principal biblioteca pública de Joinville não está ainda assim:  


Eu realmente espero que o prefeito consiga mudar o quadro e dar o incentivo literário que nosso povo merece.

Fonte: http://biblioteksnv.se/web/arena/startsida;jsessionid=8C4407A3FC26A2938844213A791907C1


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Escola pública não é lugar de oração



POR FERNANDA M. POMPERMAIER



O estado brasileiro é laico. Ponto.


A educação pública brasileira é laica. Ponto.

Laico = secular, por oposição a eclesiástico.
Secular = Relativo ou pertencente ao Estado, em contraposição ao que se refere ou pertence à Igreja. - dicionário Michaelis.

Na prática, isso significa:
1. Neutralidade = os professores não podem influenciar nenhum aluno no sentido da sua religião, em hipótese alguma.

2. Reza = Absolutamente inadmissível realizar orações de qualquer que seja o clero dentro da instituição educacional (mesmo sob o argumento de que é a religião da maioria, até porque não existe propósito em saber a religião da maioria, o que leva ao próximo ítem).

3. É uma afronta à liberdade pessoal e religiosa questionar no momento da inscrição, qual a religião do aluno. Esse é um assunto pessoal que não importa a mais ninguém, assim como a orientação sexual.

4.  A presença de símbolos religiosos, como crucifixos ou imagens, também é um desrespeito à diversidade religiosa, pois induz os alunos a pensar que apenas aquela religião é aceita. Exclui as outras denominações.

5. A instituição educacional é, por excelência, o espaço da ciência e do aprendizado, não pode dar margem à perpetuação de dogmas religiosos.

6. O objetivo da escola é incluir TODOS, não importando o credo. Todas as crianças devem se sentir bem vindas e acolhidas, por isso o ambiente deve ser neutro, de respeito e não de julgamentos.

7. A igreja, o templo, a mesquita, o terreiro, o centro,... são os espaços para as expressões religiosas (nem a escola, nem o facebook, nem o campo de futebol).

8. No início do texto eu escrevi educação pública.

Mas eu não preciso dizer nada disso aos colegas de profissão: professores, diretoras, secretário da educação,...porque são conceitos muito básicos aprendidos na faculdade e respeitados em muitos centros de educação infantil que conheci em Joinville.

Escrevi mesmo foi pra quem não é da área e talvez esteja se equivocando e misturando religião e estado, um erro que prejudica a todos.

Aliás, feliz dia do trabalhador, Sr. Udo!

Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues
Foto-http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1409899
PS.: o Projeto de Lei 5.598/2009 estabelece, em seu artigo 11, que o ensino religioso, de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de proselitismo.

Grifo meu. Ensino religioso não é catequese.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

As leis acompanham a cultura ou vice-versa?


POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Uma das experiências mais difíceis da minha vida foi voltar a trabalhar depois da maternidade. 


A descoberta de si mesma como mãe, esse novo relacionamento, essa sensação de responsabilidade, de cuidar, esse amor sem limites, fazem com que reorganizemos as prioridades. E não estou querendo superestimar a experiência de ser mãe.  
Eu vejo que a maternidade é tratada de forma bastante deslumbrante  na mídia brasileira. Vê-se as propagandas de margarina, de produtos para bebês ou os finais felizes de quase 100% das comédias românticas. Sem contar a forte influência da igreja e a própria tradição passada por gerações. É difícil para muitos encarar com naturalidade as famílias compostas com outros arranjos: 2 pais, 2 mães, pais separados....enfim. Uma realidade diversa e crescente na sociedade. 
É possível visualizar a confusão mental de algumas pessoas quando escutam uma mulher afirmar que não deseja ter filhos, tão forte a lavagem cerebral pela qual passamos todos nas últimas décadas. Acreditamos que para alcançar a felicidade precisamos de papai, mamãe e filhinhos, de preferência 2, um menino e uma menina. 

Eu também comprei esse sonho da felicidade, por determinismo ou não, agora não dá de saber, fiz a escolha de ter um filho. Mas o que a propaganda não te conta é o choque de realidade que vem depois e apesar de todo o deslumbramento inicial, um pensamento recorrente era: por que eu fiz isso com a minha vida?! 
No sentido de que, até poucos dias antes se eu quisesse viajar, eu ia, se quisesse me separar, me separaria, se eu morresse, não tinha problema, ninguém dependia de mim. Claro que tudo isso ainda pode acontecer mas com as devidas adaptações e consequências. 
Não me entendam mal, é óbvio que eu amo a minha filha e não me arrependo. O que me pergunto é: será que noutra cultura eu teria feito a mesma escolha? Não há como saber. 

Com o tempo fui percebendo que eu não deveria encarar a maternidade como um impeditivo para nada. Uma criança é um ser humano em crescimento que merece as melhores condições para crescer de maneira saudável. Eu percebi que não fazia bem para a nossa relação desejar que ela se adaptasse à nossa rotina, mas sim, o contrário, e é por isso que, com ela aos 3 anos, eu ainda não voltei a trabalhar 100% do tempo. Felizmente, eu posso fazer essa escolha hoje de trabalhar apenas 60%, buscá-lá mais cedo do centro de ed.infantil e me oferecer nesse momento só para ela. 

Mas quantas mães/pais tem essa oportunidade ou até o desejo de adaptar sua rotina à criança? É necessário algumas concessões que nem todos estão dispostos a fazer, e apesar de saber que o centro de educação infantil é a melhor opção para a sua educação institucional, eu não abro mão de educar a minha própria filha com os nossos valores. E para isso é preciso tempo, disposição, criar oportunidades para longas e calmas conversas, descobertas e experiências. Sem pressa, sem o stress do dia-a-dia.
A verdade é que a experiência é gratificante mesmo. É felicidade pura, é aprendizado de todos os lados, é crescimento pessoal,  é muito amor. 

A Suécia já entendeu a importância desses momentos e oferece 1 ano e 4 meses de licença parental*, que podem ser divididas 1/2 a 1/2 entre os dois cuidadores. Cada um deve pegar no mínimo 90 dias. Essa é uma característica de muitos países com altos índices de qualidade de vida. E aí, aparece a questão de gênero, amplamente discutida na Suécia desde antes dos anos 70, e a ativa participação do pai. Os homens que hoje são pais aqui, já viram seus pais participando ativamente nas atividades da casa e educação dos filhos. É tudo muito natural para e as empresas/governo compreendem. Ninguém faz cara feia se o homem dia que vai pegar 6 meses de licença. 

Eu não sei se as leis mudam conforme as mudanças culturais ou se a cultura acaba mudando por causa de novas leis. 
Podem ser ambos. 
Mas que mensagem está passando um estado/empresa que oferece 5 dias de licença ao pai quando nasce um bebê e 4 meses, ou em alguns casos 6 meses, de licença para a mãe?

Está dizendo: pai, esse nascimento não tem nada a ver com você. 
Essa experiência é, no máximo, da mãe, e olhe lá, que 6 meses não é tanto assim.

O que é totalmente incompatível com a realidade. Conheço inúmeros homens que esperaram a vida inteira pela experiência de ser pai, e que, infelizmente não tem o amparo das leis, para passar por esse periodo com o mínimo de dignidade.
Incrível que sejamos um país que luta tanto pela família: nos moldes papai, mamãe e filhinho, e não priorizemos essa forma de funcionar da sociedade que oferece à criança o básico, a presença dos pais.

Não é fácil se adaptar ao fim da licença maternidade, mas é diferente quando a criança já tem 1 ano e 4 meses. Fica mais tranquilo educar os filhos quando se trabalha, no máximo, das 8h às 17h. E é muito mais agradável se dedicar à vida profissional quando se sabe que a criança está bem cuidada num centro de educação infantil** de qualidade e próximo de casa. 

Deveríamos poder contar com o suporte do estado para conseguir oferecer melhores experiências diárias às nossas crianças. 

*A licença é paga pelo estado e não pelo empregador.
** Existem na Suécia centros de educação infantil públicos e privados, ambos recebem o mesmo valor do estado por cada criança. Os pais também pagam uma mensalidade que varia conforme o salário dos dois e pode chegar a até no máximo 1250 coroas, o que significa aproximadamente 400 reais. O auxílio econômico do estado recebido pela família é de 1050 coroas para cada criança. Sem distinção entre famílias.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

É possível viver sem empregadas domésticas!

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Uma das minhas preocupações antes de vir morar na Suécia era com o fato de ficar sem diarista.
Depois de 5 anos casada eu sabia que em alguns momentos a divisão de tarefas era motivo de discussões. Ele demorava muito para lavar a louça ou levar o lixo, eu detestava varrer/passar aspirador, enfim,... Chegamos a passar alguns períodos sem esse serviço, e noutros com uma pessoa que vinha 1 vez por semana fazer uma faxina. Mas essas questões desgastavam a nossa relação. (oi?) - Minha opinião de brasileira, classe média, mimada.

Mas uma das grandes vantagens de mudar de país é o choque cultural. E eu aprendi que a minha preocupação, além de ser estúpida e egoísta era responsável por uma situação de quase escravatura no Brasil.

O Brasil tem uma das maiores populações de empregadas domésticas do mundo, são aproximadamente 7 milhões de pessoas e 92% dessas, são mulheres. Ou seja, resquícios tanto de machismo quanto da escravatura. Do machismo porque as mulheres ainda são, na visão de muitos, os seres mais "apropriados" para lidar com as tarefas da casa e os filhos, o que não tem nenhuma lógica. E da escravatura porque muitas dessas empregadas não tem garantidos direitos mínimos trabalhistas. Existem as que "dormem no serviço", muitas vezes mal instaladas e com trabalho que vai noite adentro; As que só podem ir embora quando tudo estiver pronto, mesmo que isso ultrapasse as 8h diárias, As que não recolhem FGTS, não tem plano de saúde ou indenização em caso de demissão e outros casos. E se isso não é escravidão, eu não sei o que é.

É apenas isso que a PEC das empregadas domésticas quer aprovar: direitos básicos.

Fácil agora ouvir de todo lado o mimimi da classe média que vai ter que começar a limpar o próprio banheiro porque empregada doméstica irá virar artigo de luxo.
Acho ótimo. Elas são trabalhadoras como qualquer outra e merecem o mínimo de respeito.

Eu aprendi na Suécia que é possível e até saudável fazer a divisão do trabalho doméstico, já que a prática imprime um maior senso de responsabilidade. Se somos nós que limpamos, acabamos cuidando mais na hora da sujeira, não é?! E esse conceito se estende para toda a sociedade que sabe que o governo deverá pagar alguém para limpar a sujeira que eu deixar nas ruas, dinheiro que poderia ser mais bem aplicado. Existe uma relação direta entre limpar a própria sujeira e ter responsabilidade.
Além disso, quando são os próprios donos que limpam, eles se preocupam mais com a qualidade do material usado e o tempo economizado o que faz com que invistam em facilitadores do trabalho. A maior parte das casas aqui tem máquina de lavar louça, secadora de roupas, lenços descartáveis para banheiro e janelas, entre outros recursos.

E não que contratar o serviço de uma diarista seja impossível. Se estiver disposto a pagar aproximadamente 120kr/hora, algo como 40 reais por uma hora de trabalho, tudo devidamente registrado, pagando imposto, vai poder.
A vantagem nisso tudo é saber que a pessoa que está limpando a sua casa tem as mesmas condiçöes de comprar roupas e ir ao cinema, que você tem. Considerando que educação é de graça e de qualidade, ela pode até ter mais formação acadêmica e falar mais línguas que você. Gera uma sociedade mais igualitária, com menos criminalidade e mais segurança, o que eu não troco por nada.

Se limpar nossos banheiros for uma das responsabilidades que devemos assumir para muitas pessoas viverem com mais dignidade, podemos fazer, não é?!

PS.: A foto que ilustra o post vem de um artigo do jornal local sobre a possibilidade de jovens estudarem e completarem sua renda com trabalhos de limpeza, que muitos idosos contratam.

http://www.aftonbladet.se/minekonomi/article11286306.ab

domingo, 24 de março de 2013

Uma cidade machista


POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Existem pessoas que realmente acreditam que machismo não existe. 

A verdade é que essas pessoas não percebem as sutis atitudes machistas presentes no nosso dia-a-dia. 


Falta de informação, de percepção e um mínimo de empatia são alguns dos motivos.

Tem quem não veja o tratamento diferenciado que dedicam ao filho homem e à filha mulher; a estúpida idéia de que existe mulher para casar e mulher para sei-lá-o-que; o pensamento ultrapassado de que a mulher é que deve ser responsável pelos filhos e pela casa; que mulher tem que ser magra e bonita para mostrar para aos amigos; que mulher deve "se comportar, ser feminina" ou seja, não protestar, ficar quieta e aceitar; que mulher não tem o direito de se irritar ou reclamar que "já está de tpm" ou é "mal amada" (ninguém fala isso de um homem, não é?!); que vivemos numa cultura que legitimiza o estupro em "certas ocasiões" e até culpabiliza a mulher citando a roupa que estava usando ou o lugar onde estava na hora do crime.  Para ficar claro, isso não existe. Estupro é sempre um crime e se a mulher disse Não! apenas uma vez, é motivo suficiente para o parceiro párar tudo. 

Esses julgamentos ignorantes e machistas dão suporte para homens ciumentos e possessivos agredirem suas parceiras todos os dias no Brasil, essa semana, infelizmente, em Joinville. 


Uma mulher de 28 anos, que deixa 2 filhos, assassinada pelo marido, por ciúme, alimentado pelo machismo. 


E o mais revoltante, desculpa a família enlutada, é saber que a tragédia foi anunciada e as pessoas não reagiram. Sabe por que? Porque em briga de marido e mulher não se mete a colher.  Mete sim! Principalmente quando você vê sua filha, cunhada, irmã, sobrinha ou vizinha levando empurrões e pontapés do marido. ISSO NÃO É ACEITÁVEL! Em nenhum tipo de relacionamento. Nunca. Quem cala é conivente. 

Ele era um homem bom e perdeu a cabeça? Me poupe. Ele sempre foi um doce de marido respeitador e amável mas de repente solta o braço na mulher? Como assim?
Alguns trechos da reportagem do Anotícia do dia 20/03:

"Andreza morreu na madrugada de terça. Ela havia sido vítima de agressões do marido na tarde de segunda-feira. Como o casal estava na casa do pai dela, João Cardoso Amaral, 63 anos, a cena foi presenciada por outras pessoas da família. (...)

 Em depoimento, Luís confessou que agrediu a mulher, porém sem a intenção de matá-la. Ele contou que tinha bom relacionamento com a esposa, mas que perdeu a cabeça depois de descobrir uma traição." 

Na frente da família! Na casa do pai! E o cara nunca demonstrou nenhum comportamento de ciúmes, possessividade e agressividade? Ele era super bonzinho e de repente, do nada, ele chuta a mulher.


"À polícia, Luís Carlos Mellies admitiu que chegou a agredir Andreza, mas que teria agido apenas para controlar a mulher, supostamente agitada. Conforme o delegado Wanderson, o marido reconheceu que as discussões começaram por causa de mensagens trocadas pela mulher com outras pessoas na internet. (...) Investigadores levaram Luís Carlos até a casa dele na manhã de terça-feira para recolher o computador e vistoriar a suposta cena do crime. Andreza deixa dois filhos. O pai de Andreza, João Carlos Amaral, diz ter se surpreendido com o desfecho da briga porque considerava o genro um segundo filho. — Era um homem bom. Não pude mais ver o que aconteceu depois da briga na minha casa, mas acredito que ele tenha perdido a cabeça —, lamenta."


Ou seja, o pai da vitima sente compaixão pelo cara, que, coitado, deve ter perdido a cabeça. O comportamento do genro não foi reprimido pelo sogro, que deve ter pensado: Quem nunca, né.?! Quem nunca bateu na mulher? Eu lembro muito bem da polêmica quando o Bruno (ex goleiro do flamengo, lembra?) fez uma declaração apoiando o amigo Adriano que tinha batido na mulher, dizendo o famoso mantra dos machistas extremos:"quem nunca, né". Deu no que deu. 


O machismo mata!


E ele começa a plantar seus fundamentos dentro das nossas casas, quando reprimimos as meninas e mandamos os meninos às casas de mulheres (famosas Marlennes) para ele aprender direitinho que mulher é objeto pra gente usar. Que algumas merecem respeito e outras não, e a distância entre essas duas podem ser algumas mensagens na internet. 


Reportagem: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/03/marido-que-agrediu-companheira-e-indiciado-por-homicidio-em-joinville-4080470.html


Foto: http://juntos.org.br/2012/11/25-de-novembro-dia-internacional-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/combate-violencia-domestica/

quarta-feira, 20 de março de 2013

O governo vai virar igreja e a igreja virar governo

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Menores de 18 anos, atenção, contém palavrões.

Eu fico emputecida com as declarações homofóbicas e preconceituosas que tem aparecido. Incrível. Olha a controvérsia, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias no Brasil. Não precisa contextualizar porque todos sabemos do que se trata: do nojento Marco Feliciano e seus comparsas, incluindo os retrógrados Bolsonaro e Silas Malafaia.

E que não venham religiosos defender porque o cara é pastor e por isso merece adoração inquestionável. Foda-se que ele é pastor, ele pode ser pastor, padre, macumbeiro, o que ele quiser, na vida PARTICULAR. As religiões que as pessoas seguem não interessam a ninguém, exceto quando suas crenças religiosas influenciam nas decisões  de uma comissão que justamente tem o objetivo de defender minorias. Minorias essas atacadas com o ódio e a ignorância desses mesmos senhores em declarações nos seus perfis nas redes sociais.

Eu não tenho nada contra pessoas religiosas que tem bom senso, respeitam o diferente e pregam o amor. A essas todo o meu respeito. Meu problema é com essa gente que acha que todos devem pensar como eles e não conseguem enxergar o mundo cheio de diversidade em que vivemos. Meu problema é com gente que deveria reconhecer o estado/governo com um espaço para todos. O estado como responsável por garantir direitos iguais à TODOS os cidadãos, sejam eles heterossexuais, homossexuais, transsexuais, religiosos ou não.

O estado brasileiro é laico, ou pelo menos deveria ser. Na prática não é, se fosse, casamento homoafetivo seria legalizado, aborto também, e não haveria crucifixos em repartições públicas. Não importa se a maioria é católica, não importa a religião da maioria, eu como atéia, ou budista, ou muçulmana, quero ser respeitada no meu direito de não ter nenhuma religião aparecendo na escola pública que minha filha frequenta ou no fórum da cidade. Religião é uma opção pessoal, guarde para si. Existem espaços apropriados para expressões religiosas: igrejas, templos, mesquitas, lá os pastores podem dizer o que pensam estando entre os seus. Não tragam isso para a esfera pública porque aí teremos um problema.

É como disse o Charles Henrique no texto "Não basta apenas deixar de ser machista", é preciso pelo menos falar sobre o assunto. Não basta não concordar com o preconceito desses homens, é preciso combatê-los, questionar, argumentar, protestar. Eles são representantes de um grupo que ainda acha que homossexualidade é doença, que casamento homoafetivo foge do objetivo de Deus de procriar. Como se precisássemos tanto assim de mais gente no mundo. A bancada evangélica está forte no Brasil e tentando promover retrocessos gigantescos nos minúsculos avanços que tínhamos. (Vê-se reportagem no Estadão). Eles lutam forte por isso e nós devemos também lutar. (Aliás, estou orgulhosa com os protestos que acontecem no Brasil todo. Decepcionada com os colegas que votaram no nojento, mas esperançosa pelo povo que foi às ruas de verdade.)

Agora, me diz, como alguém pode ser contra o casamento homossexual? Quem é que está casando? Não é a favor do casamento gay, simples, não case com um gay. Que que a vida sexual do cara tem a ver com você? E essa pessoa tem que passar a vida toda ao lado do outro, dividindo sofrimentos e alegrias, para no final não poder ser acompanhante do parceiro no hospital porque a lei não garantiu seus direitos? Isso é justo? Não é.

Não podemos julgar alguns países muçulmanos que permitem que a religião influencie no governo, nós fazemos o mesmo.

Em tempos, o casamento homoafetivo é legalizado na Suécia há 12 anos e a lei do aborto livre existe desde 1975. A Suécia é um dos países menos religiosos do mundo, mais de 60% da população se auto-denomina ateu ou agnóstica. Um país com nível de pobreza e corrupção zero. Com uma administração pública eficiente, na qual vereadores não tem salário, e políticos não tem benefícios. Com fortes programas sociais, altos impostos: quanto mais ganha mais paga, forma de garantir a igualdade. Excelente educação e sistema de saúde gratuita e igual para todos. Algumas coisas a ensinar ao nosso país religioso.

O que você LEU nesse texto:

- Que declarações homofóbicas me deixam emputecida,
- Que o estado é laico e religião não pode influenciar importantes tomadas de decisões,
- Que é preciso protestar,
- Que sou à favor da união homoafetiva,
- Que devemos tomar como exemplo países mais avançados em direitos humanos,

O que você NÃO LEU nesse texto:

- Que eu odeio todos os religiosos,
- Que deputados não devem ter religião,
- Que todas as pessoas deveriam ser gays e casarem entre si,
- Que todas as mulheres devem fazer aborto,
- Que o mundo está perdido e nada mais tem jeito,
- Que a Suécia é melhor que o Brasil.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sobre aborto

Eu sou a favor da legalização do aborto. 
Não faria. Acho que tem muitas formas de evitar uma gravidez.
Interrompê-la com aborto gera uma série de procedimentos médicos que exigem uma delicada recuperação, e eu não gostaria de passar por isso.
Mas essa sou eu, Fernanda.

Penso que em muitas outras situações as mulheres devem, sim, ter o direito de decidir se querem ou não levar uma gravidez adiante. Afinal, no momento em que ela estiver com os filhos nos braços, não é o Estado que vai arcar com suas responsabilidades. Ela vai criar o filho com quê? Bolsa família?

Aqui na Suécia existe a lei do aborto livre existe desde 1975.
As mulheres tem o direito de interromper a gravidez até a 18ª semana sem ter que justificar o motivo.
Após a 18ª semana apenas se o feto ou a mulher apresentar alguma condição médica séria, a ser analisada. Depois da semana 22 é proibido.
Esse direito não é considerado um problema de saúde pública, mas sim, uma questão de direito humano. Direito da mulher sobre o seu corpo.

Na cartilha do sistema de saúde sueco existe uma explicação detalhada de como o processo acontece. Aconselha-se a mulher para que pense bem antes, converse com pessoas de confiança, com médicos e tome uma decisão bem informada e bem pensada.


Eu compreendo que algumas religiões entendem que o aborto é um assassinato.

Mas o estado brasileiro é laico, e deve abranger em suas leis pessoas de todas as religiões ou de nenhuma religião. Não deve levar específicas crenças religiosas em consideração, mesmo que represente "a maioria". A lei trata do direito de TODOS.

Para as mulheres religiosas existe uma solução prática e simples: não abortem.
Não é porque o aborto pode ser liberado que as mulheres serão obrigadas a fazê-lo.
Fará quem quiser.

Todos os anos 40 a 50 milhões de mulheres fazem aborto.
Aproximadamente 20 milhões desses são ilegais. Em 16% desses casos, as mulheres morrem.

Do Wikipedia:
"Em janeiro de 2012 uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde revelou que a prática do aborto é maior nos países em que ele é proibido e quase metade de todos os abortos feitos no mundo é realizada com altos riscos para a mulher. Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões tiveram consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto. Quase todas as interrupções de gravidez intencionais realizadas de maneira insegura, aconteceram em nações em desenvolvimento, na América Latina e África. "O aborto é um procedimento muito simples. Todas essas mortes e complicações poderiam ter sido facilmente evitadas", disse Gilda Sedgh, pesquisadora-sênior do Instituto norte-americano Guttmacher, autora do estudo.

Não vale a pena legalizar? 


"“E se o bebê que você abortou pudesse ter encontrado a cura do câncer?”
E se a pessoa transexual espancada até à morte pudesse ter encontrado a cura do câncer?
E se o adolescente gay que se suicidou por causa de bullying pudesse ter encontrado a cura do câncer?
E se aquela jovem menina vendida pro tráfico sexual e morta por doenças sexualmente transmissíveis que não foram tratadas pudesse ter encontrado a cura do câncer?
E se um desses centenas de milhares de civis que foram mortos durante a guerra pudesse ter encontrado a cura do câncer?
E se aquela mulher que foi estuprada e depois morreu de complicações internas pudesse ter encontrado a cura do câncer?
E se todas as pessoas do planeta que não têm acesso ao ensino superior e viverão e morrerão na pobreza pudessem ter encontrado a cura do câncer?"
(Original em inglês: http://jenerally.tumblr.com/post/13110577934/what-if-the-baby-you-abort-could-have-cured-cancer)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A minha estreia no Chuva Ácida

POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Recebi nesta semana o convite oficial, vindo do Baço, para começar a escrever quinzenalmente no Chuva Ácida, revezando as quartas -feiras com a Fabiana Vieira. Preciso confessar que fiquei ligeiramente, aliás, extremamente lisonjeada com o convite. Não sou jornalista, nem sou formada em letras, e isso me deixa bastante insegura. Gosto de escrever e gosto da língua portuguesa, portanto não desejo assassiná-la. Serei criteriosa mas não garanto nota 10 na gramática, infelizmente, sejam tolerantes comigo.

Honestamente essa é uma característica que me atrai em blogs: a liberdade do escritor de não estar preso à uma forma. De não precisar ser assim, 100% preciso e correto o tempo todo. Penso que o blog é um tipo de veículo que deseja ser sincero, expressar opiniões pessoais e ficar mais próximo do leitor que uma revista ou um jornal. Num tom mais leve, ou às vezes até mais pesado, os textos estão mais comprometidos com a interação escritores/leitores do que com a comunicação como um simples repasse de  informações, não é?
O blog tem esse dinamismo que o jornal impresso não tem. Tem a caixa de comentários que é um espaço riquíssimo de discussão, aprimoramento e aprendizado para todos. Ele cria relações entre as pessoas, discussões acaloradas e reposicionamentos que não são possíveis se você somente lesse a versão do autor. Apesar de eu gostar muito dos comentários que concordam com as minhas opiniões, eu me empolgo muito mais com os que discordam. Uma porque eles me dão a oportunidade de repensar, de me questionar e talvez de reformular meus pensamentos ou seja, aprendizado.

Outra porque, se não existirem bons argumentos do lado de lá, posso quem sabe convencer o leitor do meu ponto de vista. E aí será mais um para o lado negro da força, hahahahaha! Espero mesmo que minha contribuição nesse espaço seja motivo de reflexões e novas construções de pensamento de ambas (e todas) as partes. Acredito mesmo que vá ser, porque o Baço me explicou que devo falar sobre sex toys, relacionamentos abertos e novas posições na cama. Brincadeirinha... Pretendo falar um pouco sobre a Suécia, país onde moro há 2 anos, sobre algumas das suas políticas, tradições e cultura.
Talvez relacionar as soluções que encontraram para alguns problemas, com problemas que temos em Joinville. Cidade onde nasci e morei por 28 anos, onde tenho uma grande família e bons amigos, por isso também torço por ela. Outros temas podem aparecer e se eu tiver sorte poderemos conversar sobre eles. Em tempo, inicio nosso relacionamento desejando um ótimo 2013 à todos, com mais tolerância, mais compreensão e mais seriedade no nosso país.
Beijos, amigos! Não somos novela mas nos acompanhe!

Eu já participei do Chuva como convidada na seção brainstorming, seguem os links abaixo:
Sobre as famosas cesáreas eletivas no Brasil - http://www.chuvaacida.info/2012/12/e-uma-cesaria-realmente-necessaria.html?m=0

PS.: Gostaria de expressar a minha gratidão e de outras colegas de trabalho à ex-coordenadora da ed. Infantil de Joinville, Solange Coral, que deixou o cargo nesta semana. Sua visão moderna de educação infantil, sua diplomacia e sua dedicação ajudaram a construir a história da educação infantil joinvilense elevando-a ao patamar de referência pela qualidade no Brasil  por que não dizer, no mundo. Sinto muito orgulho por ter feito parte da sua equipe, aprendido e compartilhado conhecimento por tantos anos. O sentimento no momento é de perda, mas que o foco continue sendo a qualidade do atendimento oferecido e o bem-estar das crianças. Sucesso para a próxima gestão.