quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Fidel Castro e a patologia do ódio


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A morte de Fidel Castro motivou acesas discussões, como era de esperar. E quem acompanhou as reações mundo afora percebeu algo flagrante: nas democracias consolidadas, o tom do debate aqueceu, mas raramente ultrapassou os limites do aceitável; no patropi a coisa degringolou. A reacionaria não pretendeu falar na vida ou na morte do líder revolucionário cubano. Afinal, era uma oportunidade única espalhar aquele ódio pestilento que está a tornar o Brasil um lugar pouco recomendável.

Dispensável dizer que muita gente comemorou – e ainda comemora – a morte de Fidel Castro. Os suspeitos do costume. As primeiras pedras até foram lançadas pelo previsível Jair Bolsonaro, arquétipo-mor dos que pensam com o fígado. Foi de rir. O homem acusa o líder cubano de ser um "exterminador de liberdades". Eis um exemplo da insanidade endêmica que tomou conta do Brasil. Um defensor da ditadura militar acusa outro de não respeitar as liberdades individuais. Muito louco, né?

E tinha que sobrar para os “comunistas”, “socialistas” ou “esquerdistas”, seja lá isso o que for. Para os bovinos odiadores uma coisa leva a outra. As comemorações pela morte do líder cubano permitiram introduzir um “morra Lula” na semântica defunteira dessa gente doente. O ódio leva à barbárie. O Brasil está a ser asfixiado por esse desejo insano de extermínio do Outro. Quem olha para a História sabe que coisa boa nunca vem dos irracionalismos. Aliás, o ódio é tanto que teve até fogo amigo.

Muito já foi dito sobre o episódio, mas deixo esta opinião. “A morte de Fidel faz recordar, especialmente à minha geração, o papel que ele e a revolução cubana tiveram na difusão do sentimento latino-americano e na importância para os países da região de se sentirem capazes de afirmar seus interesses. A luta simbolizada por Fidel dos ‘pequenos’ contra os poderosos teve uma função dinamizadora na vida política no Continente”. Quem é o autor? Ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, claro, sentiu o gostinho do ódio da patuleia nas redes sociais. 

Vamos trazer a análise para um patamar mais chão? Eu, por exemplo, fui abalroado por uma criatura que tinha um argumento irretorquível. “Conheces Cuba? Eu infelizmente conheci. Os carros mais novos são dos anos 50. Vai morar lá e ver que bom para a tosse”. Agora tente entender de onde veio a autoridade deste especialista em temas caribenhos. Um estudioso? Um jornalista? Um diplomata? Não. É um cara que passou pela ilha durante um cruzeiro. E é com esse o nível de inteligência que temos que lidar no quotidiano.

Enfim, o que essa gente tem a dizer sobre Fidel Castro e sobre a sua morte? Nada. Os odiadores querem apenas odiar. Esse é o único “argumento” que eles entendem. O ódio não é um meio, mas um fim. É patológico e produz um paradoxo social interessante: quanto mais o ódio obscurece a mente, mais essas pessoas pensam ver com clareza. 

É a dança da chuva.




14 comentários:

  1. Tá com pena do facínora, vai pra Cuba visitá-lo no mausoléu, e já fique por lá.

    Quanto a extrema direita, ao menos são coerentes e não vestem a camisa do Pinochet cobrando por direitos humanos como faz o gado esquerdista com o facínora Che-Guevara.

    Vocês, esquerdistas, são uma piada de mau gosto.

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    1. Anônimo das 8h37min, fale um pouco sobre o sistema construído em cima do trabalho de crianças de 8,9 e 10 anos em minas de carvão durante 12, 14 ou mais horas diárias, deve ser muito humano. Um sistema em que uma minoria vive como reis e uma maioria passa fome. A menos que você seja um milionário, és apenas mais um manipulado a favor deste sistema excludente e desumano.

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  2. vai, conta aí um comentário

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  3. Parabéns, um dos melhores textos que eu já li !

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  4. Excelente texto. Direto no ponto da patologia social reinante. Esta, inclusive ratificada pelos comentários anônimos.

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  5. Quando se trata de Fidel Castro, é "Patologia do Ódio"! Ok.
    Há "Patologia do Ódio" quando se trata da ditadura brasileira e seus torturadores?

    "Dois pesos, duas medidas" ????

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    1. Anônimo segundo o dicionário: algo ou alguém que omite seu nome, que é obscuro, desconhecido, .......ou seja, nada, talvez uma ameba, bactéria quem sabe,rsrsrsrsrs

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    2. Tens alguma dúvida de que há ódio de classe, anônimo? Putz. Onde foi que o teu professor errou que não "fez a tua cabeça"?

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  6. Pq insistência que isso manisfetado pela direita seja ódio? É apenas histrionismo facebokiano. Ódio é que Che Guevara dizia manisfestar em seus guerrilheiros/companheiros, para lhes produzir coragem. E falando em irracionalismo, pq deram um jeito de mandar o Che para fora de cuba?

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    1. É a mesma insistência pelo "discurso do ódio" que a esquerda burra insiste em imprimir naqueles que pensam diferente ou quando os cessam os contra-argumentos. Não vejo a direita cerceando o acesso às escolas, incendiando automóveis ou quebrando vidraças, e quem tem ódio é a direita...

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    2. É a mesma insistência pelo "discurso do ódio" que a "esquerda burra"... I rest my case.

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  7. "Cremado, finalmente Fidel conheceu uma urna!" KKKKKK

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    1. Ele foi eleito deputado e primeiro-ministro, antes de ser presidente.

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