POR CECÍLIA SANTOS
Ontem abri no meu computador do escritório uma receita que eu queria reproduzir na cozinha. Mas em vez de anotar num papelzinho, tirei uma foto do monitor com meu celular. E enquanto cozinhava, fiquei tentando lembrar em que situações eu ainda escrevo à mão. Bem poucas. Até a lista de compras é feita num app de celular.
Será que um dia nós vamos perder totalmente o hábito de escrever à mão? Conheço gente que acha o fim da picada os alunos fotografarem a lousa em vez de tomar nota da matéria no caderno. É a lei do menor esforço. Certeza que teve gente que protestou quando inventaram o fogão a gás.
Creio que a maioria de nós é bastante entusiasta dos avanços tecnológicos, porque tornam nossa vida mais fácil, ou nos liberam para coisas inúteis como tretar no grupo de whatsapp da família.
A gente se apega um pouco a hábitos e processos que parecem essenciais, sofre com saudosismo, mas depois se acostuma.
Mas tem coisas que não mudam. Como as relações sociais e o papel da mulher. Como a desigual e insuficiente participação das mulheres nas instâncias de poder ou dos homens no trabalho doméstico.
A verdade é que somos uma sociedade muito atrasada nas questões de gênero, que ainda não consegue enfrentar os altíssimos índices de violência contra as mulheres e combater o assédio nos espaços públicos. Quando nos calamos, somos coniventes.
Estamos no período de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, de 25 de novembro, declarado Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher a 10 de dezembro, Dia Mundial dos Direitos Humanos.
Como membro do Fórum de Mulheres da Zona Oeste de São Paulo, uma instância de participação popular territorial destinada a fazer a interlocução entre a sociedade civil e o governo sobre políticas para mulheres, realizo rodas de conversa e bordado para falar sobre situações de violência.
Numa dessas rodas, uma senhora idosa nos perguntou: “mas por que o governo não dá um treinamento aos homens para que eles respeitem as mulheres?”
Na sua simplicidade, ela quer que a sociedade se torne um lugar mais seguro para as mulheres. Mas mudar isso não está apenas nas mãos dos governos. Compete também a cada um de nós transformar a sociedade.
Em tempos de "empodeiramento" feminino, seria politicamente incorreto afirmar que a mullher é responsável pelo distino da humanidade, afinal ela quem dá a luz, amamenta e reproduz aos seus filhos aquilo que aprendeu com sua mãe. O homem não vai mudar nada, as mulheres é que precisam reciclar esse tipo de pensamento conservador.
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