segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Morte na Santos Dumont. E agora, Udo?


POR JORDI CASTAN
Saudade é o que vai deixar o pedreiro Romário Gonçalves, morto ao cair num buraco na avenida Santos Dumont. “Nós ficamos indignados com a promessa da Prefeitura de asfaltar quilômetros e deixar esses buracos na Santos Dumont. Agora, vai ficar a saudade”, desabafou o cunhado Roberto Rivelino de Oliveira a um jornal local. 

Saudade é raiva. Porque este é o sentimento que provoca o descaso, a desídia e a inépcia com que é tratado o joinvilense. O buraco que provocou a morte de Romário Gonçalves não é um mais dos milhares que pululam por toda a cidade. Um buraco de um metro de comprimento e 20 centímetros de profundidade, numa avenida onde há anos se alastra uma obra pública inacabada, mal sinalizada e que já tem sido responsabilizada por outras mortes.

As mortes da irresponsabilidade. As mortes do dinheiro que não chega, do projeto que muda de novo. As mortes do desprezo pelos direitos do cidadão. A mal chamada duplicação da Santos Dumont (mal chamada porque é uma remendo) é uma obra medíocre, um remendo, uma sem-vergonhice a quatro mãos, as do governo do Estado de um lado e as do município pelo outro.

Trafegar pela Santos Dumont representa colocar em risco a própria vida. Uma rua em obras por anos a fio, com desníveis, restos de material, com pouca ou nenhuma sinalização, sem iluminação adequada. Sem que ninguém tome as medidas necessárias para exigir que a obra seja executada dentro das normas de segurança mínimas exigidas por lei.

Neste momento lamentável, o governo municipal lembra que a obra é estadual. Assim, o mesmo prefeito que fez discursos, acompanhou foguetório e que capitalizou o bônus da obra estadual agora olha para o outro lado e faz de conta que não tem nada a ver com o tema. Que não tem nenhuma responsabilidade. Tem sim.

Obras públicas executadas em Joinville são responsabilidade da Prefeitura. Ainda que pelo padrão de segurança que a Prefeitura pratica nas obras públicas é provável que não tenha achado nada de errado, nada que precisasse ser melhorado na Santos Dumont.

É hora de dar um basta em toda esta incompetência, em toda esta irresponsabilidade. É hora de ficar com raiva. Passou da hora de aceitar mais desculpas esfarrapadas. Os prejuízos não são mais só os pneus, ou os amortecedores. Agora também são vidas humanas. Pior ainda a covarde resposta do poder público:

- “A prefeitura informou que não vai se manifestar sobre o acidente enquanto não receber o laudo do Instituto-geral de Perícia (IGP), que apontará a causa da morte do pedreiro Romário Gonçalves".

É hora de cada um assumir as suas responsabilidades. O governo do Estado tem as suas, e não são poucas, o município e a empreiteira que executa a obra também tem e não podem fugir delas. 

Para ajudar a identificar os responsáveis é útil dar uma olhada no Código Brasileiro de Trânsito e no que estabelece a CET, para quem tiver interesse em se aprofundar no tema e em exigir responsabilidades há bom material. 


CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO LEI Nº 9.503 

Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. § 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro.

Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação.
Parágrafo único. Nas vias ou trechos de vias em obras deverá ser afixada sinalização específica e adequada.

Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via. § 4º Ao servidor público responsável pela inobservância de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, a autoridade de trânsito aplicará multa diária na base de cinqüenta por cento do dia de vencimento ou remuneração devida enquanto permanecer a irregularidade.

Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstáculo à livre circulação, à segurança de veículo e pedestres, tanto no leito da via terrestre como na calçada, ou obstaculizar a via indevidamente:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa, agravada em até cinco vezes, a critério da autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança.
Parágrafo único. A penalidade será aplicada à pessoa física ou jurídica responsável pela obstrução, devendo a autoridade com circunscrição sobre a via providenciar a sinalização de emergência, às expensas do responsável, ou, se possível, promover a desobstrução.

A CET (Companhia de Engenharia de Transito) estabelece como devem estar sinalizadas as obras em vias  públicas.

A sinalização de obras consiste num conjunto de placas e dispositivos com características visuais próprias, cuja função principal é garantir segurança dos usuários e trabalhadores e a fluidez do tráfego nas áreas afetadas por intervenções temporárias tais como: realização de obras, serviços de pavimentação, sinalização, topografia, remoção de interferências e situações de emergência como rompimento de dutos, de pavimentos, etc. Esta sinalização tem por finalidade:
• advertir corretamente todos os usuários sobre a intervenção;
• fornecer informações precisas, claras e padronizadas;
• regulamentar a circulação e outros movimentos para reduzir os riscos de acidentes e congestionamentos;
• assegurar a continuidade dos caminhos e os acessos às edificações lindeiras;
• orientar sobre novos caminhos;
• proteger a obra, os trabalhadores e os usuários da via em geral;

• diminuir o desconforto, causado aos moradores e à população em geral, da área afetada pela intervenção.

É oportuno verificar se as outras obras públicas cumprem também a legislação nacional.


12 comentários:

  1. Não estavam anunciando como obra da prefeitura esta duplicação?
    Não estava no Plano 15? Então os louros são de todos, mas o prejuízo é do estado ou da união. O que ocorreu foi um acidente fatal, e outros infelizmente poderão ocorrer, já que a água "esconde" o tamanho (profundidade) dos buracos, além do risco de atropelamento quando se tenta desviar dos buracos. Precisamos saber o que está acontecendo na Prefeitura de Joinville - SC. Os buracos não estão sendo tapados? Falta apenas dinheiro ou os reparos são muito caros. Se são muito caros, será que há cartel, há combinação de preços, há boicote nos processos licitatórios de empresas de outras cidades, há loteamento entre empreiteiras (cada uma atua em uma cidade/regiã), há superfaturamento, a qualidade dos reparos é ruim? Transparência seria ótimo, usar os espaços que possui nos rádios, jornais e TV e explicar o que está acontecendo. E a antiga usina de asfalto da Prefeitura no bairro Anita Garibaldi, não poderia ser reativada? Será que o simples anúncio desta reativação não faria, como num passe de mágica, reduzir o preço dos reparos em nossas ruas? Ao termos uma alternativa de realizar pequenos reparos não ocorreria automaticamente uma redução nos preços? Isso se chama concorrência, muito conhecida da administração na área privada (gestão), e geralmente leva a uma redução das margens de lucro, baixando os custos das obras e economizando os parcos recursos públicos municipais.

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  2. Foi basicamente o que ocorreu na Rua Guanabara em frente ao Cei Botão de Rosa. Houve pedidos e reclamações à prefeitura, mas só fizeram algo, e meia boca, depois que uma mãe morreu atropelada.

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  3. Primeiro lamentamos que um cidadão tenha que ir a óbito para que se verifique o absurdo e demandos desta obra.
    Nossas Condolênscias a família !

    Gostaria de acrescentar: qual a importância desta obra para a cidade ?
    porque duplicar a Santos Dumont quando outras entradas da cidade estão mais sobrecarregadas ? por exemplo a Ottokar.
    É pra deixar ao visitante que vem de avião a falsa impressão que está entrando numa grande cidade ?
    Qual a importância de um elevado na Rua Tuiuti ? sim esta rua é congestionada mais temos avenidas muito mais importantes !

    Diversas perguntas devem ser feitas !!!

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  4. Com as gestões municipais passadas, aprendemos que brinquedos de escola podem matar. Com esta XESTON estamos apreendendo que quando se brinca de cidade...ela pode matar.

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  5. Para o desgraçado do UDO, o ciclista PODE TER SOFRIDO UM MAL SÚBITO... Pode isso? O descaso, mau-caratismo e sem-vergonhice da prefeitura e seus agentes, NÃO CONTA. A culpa É SEMPRE DO CIDADÃO...Ainda que seja ele que mantém esta súcia alimentada e empregada. Uma vergonha esta classe política!

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  6. Santos Dumont é Estadual ou Municipal?

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    1. Depende, para fazer auê na imprensa para ganhar os louros pela obra, é uma parceria entre a cidade e o estado, para assumir os ônus quando uma tragédia acontece, aí é estadual. Simples assim.

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    2. É MUNICIPAL!!!! Não é rodovia, é uma avenida que liga um bairro a outro da cidade. Uma coisa é origem de recursos, outra territorialidade.

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    3. Pelo jeito, a regra citada pelo Sérgio só não é válida na capital. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_rodovias_de_Santa_Catarina

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  7. Engraçado é que as leis estão listadas acima no texto, nos códigos de Transito. Mas se os órgão públicos responsáveis não cumprem, os primeiros a descumprir com os determinados nas leis quem vai obedecer? É preciso acionar a defensoria pública.

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  8. Udo é um péssimo prefeito, mas a categoria dos comentaristas deste blog, especialmente quando estamos próximos a eleição, também não deixa muito a desejar.

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