segunda-feira, 12 de maio de 2014

A sociedade dos operativos

POR  JORDI CASTAN



Temos nos acostumado a avançar de forma espasmódica, a saltos. Se fosse bom, alguns poderiam dizer que avançamos a orgasmos. Mas não são orgasmos, porque não há gozo, só frustração. Temos desenvolvido a cultura do operativo e feito dela um modelo de gestão, que em Joinville cunhou o neologismo “geston”. Quem é daqui entende.

Aumentaram os assaltos no centro da cidade? Durante uns dias se monta um operativo e com grande movimentação de policiais, automóveis com sirenes e giroflex ligadas, motocicletas para cima e para baixo em alta velocidade e, se for preciso, até a cavalaria é colocada nas ruas para criar a impressão que se esta fazendo alguma coisa. Resolve? Provavelmente não muito, mas a impressão que fica é a de que se esta fazendo alguma coisa.

As ruas estão esburacadas, há mais remendo que asfalto original e a maioria delas não tem mais de 10 anos de asfaltadas. Será que não deveríamos prestar mais atenção à qualidade do asfalto? Quanto tempo deveria durar um asfalto sem começar a se desintegrar? Melhor não fazer muitas perguntas. Não seja que acabemos averiguando que o asfalto, esse que não dura e que recebeu o apelido de “casca de ovo”, foi executado na gestão de um futuro aliado político. Nada que não possa ser resolvido com uma nova “Operação Tapa-Buracos”.

O mato toma conta de parques e praças? Pois chegou a hora de pedir ajuda aos apenados e roçar tudo. Em poucos dias fica tudo roçadinho e com cara de limpo, o que não vai durar muito. E na roçada também foram cortados os canteiros de flor e arrancada a metade dos arbustos. Não é importante o operativo: “apenados contra o mato” foi um sucesso e, no próximo mês, teremos uma nova edição do mesmo operativo em outra praça.

A escola tem goteiras, os banheiros estão em péssimo estado e precisando uma mão de pintura? Nada de fazer manutenção preventiva, nada de ir reparando aos poucos. O certo é contratar um grande programa de reforma de todas as escolas e assim poder lançar um pomposo operativo, seja o "Pacto por Santa Catarina", os famosos PAC ou o "1, 2, 3 ou 4 tanto faz". Vivemos a base de choques de gestão. E o paciente depois de levar tanto choque não está reagindo mais.

A ideia do operativo está enquistada na nossa cultura. Somos levados a acreditar nos discursos marqueteiros e fantasiosos dos políticos candidatos, que falam de milhares de escolas, de centenas de creches ou de dezenas de novas ambulâncias para melhorar a saúde. E não verificamos o quanto há de verdadeiro.  Abominamos a manutenção preventiva, o cuidado diário, o fazer bem feito sempre e substituímos por esses pirotécnicos e custosos operativos que custam fortunas e são pouco eficazes. E nos levam a acreditar que uma boa manutenção que dizer que quando algo estraga é trocado rapidamente. 

Não ocorre a ninguém e que a boa manutenção é aquela que faz com que as ruas se mantenham sem buracos, seguras, os canteiros floridos, as lâmpadas acessas, as faixas de pedestres pintadas e os telhados das escolas, os PAs e dos demais edifícios públicos sem goteiras e os corredores livres de baldes a cada trovoada?

4 comentários:

  1. Pra fazer isso precisaria criar um órgão apenas para cuidar da manutençon de todo o aparelho municipal. Claro que ia ser terceirizado. E o melhor seria pulverizar em cada subprefeitura. E quando alguém impugnasse os editais devido ao excesso de irregularidades, reclamar da burocracia e propor outro choque de geston!

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  2. A gente era feliz e não sabia. Sim, me refiro ao período Carlito Merss. Todo mundo batia no coitado dia e noite, tinha um pessoal despreparado, a maioria estreantes em gestão pública, mas mesmo assim em um ano e meio fez muito mais que o poder constituído há décadas nesta cidade e Estado.
    Um dos famosos radialistas e colunistas da cidade, daqueles que cobram muitos $ por linha de puxa-saquismo ao Coronel, simplesmente agora nada fala em relação à buraqueira, à falta do estacionamento rotativo e dos radares, à situação das praças, escolas e hospitais; e chega ao cúmulo de criticar o Dep. Mariani por não aceitar a "democracia" do PMDB, e também os poucos vereadores que não compactuam com aqueles que são pagos pelos nossos impostos para diariamente homologar o que o Executivo impõe.
    Numa situação como esta o impeachment já estaria sendo pedido há muito pelo saltitante lider do governo....

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  3. Acho que isso mudaria se não utilizássemos um sistema presidencialista/ditatorial/monárquico de governo.

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  4. E a frustração
    Tomando espaço.
    Infelizmente o reboliço e alvoroço
    É grande ...rsssssssss
    Nada como um formigueiro cutucado
    Só construindo-se outro...

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