quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O PT aprendeu com a última eleição?



POR CLÓVIS GRUNER

Os temas políticos pautaram o Chuva Ácida ao longo da semana. Um bom sinal, pois mostra que o blog está a cumprir seu papel, consolidando-se como um espaço alternativo de informação e discussão em uma cidade onde o debate de ideias sempre foi irritantemente frágil e a circulação de notícias está praticamente monopolizada por um único grupo empresarial. O texto do presidente do PT, Írio Correa, comprova isso. Houve choros e ranger de dentes, comme d'habitude. Bobagem: o Chuva nasceu plural e aberto, princípio claramente descrito no post que o inaugurou. Além disso, as ressalvas a Udo Döhler são justificadas e necessárias, embora não cheguem a me surpreender: não aprendemos ainda que um sobrenome alemão e uma carreira como empresário não fazem necessariamente um bom prefeito. 

Dos mais de 50 comentários contabilizados, o da Maria Elisa Máximo – ex-colaboradora do Chuva – se destaca. Lúcida, ela cobra do presidente petista – e, por extensão, do partido – aquilo que o título prometeu, mas não entregou: autocrítica. Além de apontar a necessidade de uma avaliação crítica do governo Carlito ainda a ser feita pelos petistas, lista alguns dos muitos equívocos cometidos ao longo dos últimos quatro anos. Subscrevo todos. O que ela cobra provavelmente já foi feito internamente, e quem já militou no PT – como eu – sabe que as tais “autocríticas” podem ser tensas e mesmo traumáticas. Mas o momento é outro, e uma discussão interna, por exaustiva que tenha sido, não basta.

Desta vez o PT não está a tratar apenas de mais uma derrota eleitoral. No pleito de 2012 perderam-se quatro anos de governo certamente por conta de inúmeros fatores externos – que vão da falta de uma maioria sólida no legislativo à oposição hostil de boa parte dos meios de comunicação. Mas uma avaliação séria e madura não poderia deixar de levar em conta os equívocos do próprio governo e de sua base aliada. O PT tinha a obrigação de dialogar com a sociedade e especialmente com seus eleitores, e o presidente do partido perdeu uma ótima oportunidade de começar a fazê-lo.

ASSUMIR OS ERROS – Sei que não é usual políticos criticarem a si e suas gestões. Se fosse, não teríamos o senador Luiz Henrique ocupando há anos um espaço privilegiado nas edições dominicais de A Notícia apenas e tão somente para desfilar seu monumental ego. Mas não é demais lembrar que no caso do PT joinvilense e de Carlito foram mais de duas décadas de oposição, pleiteando a oportunidade de governar a cidade. Responsabilizar a oposição e os meios de comunicação pelo fracasso não é o suficiente – aliás, o partido esperava o que por parte de uma oposição orquestrada pelo maior inimigo político do ex-prefeito? E dos comunicadores e veículos locais, historicamente hostis ao partido? Condescendência e simpatia?

A dificuldade em assumir a cota de responsabilidade já aparecia na entrevista que Carlito concedeu no final do ano passado. Segundo ele, seu único erro foi não ter obtido maioria na Câmara de Vereadores. E chega a responsabilizar Adilson Mariano pela rejeição ao governo. Mas há de se perguntar: os vereadores da oposição, os meios de comunicação ou Adilson Marino podem ser responsabilizados pela falta de transparência e pela dificuldade de diálogo com os movimentos sociais? As estratégicas equivocadas de comunicação, confiando uma área estratégica do governo, em especial a de um governo hostilizado pelas mídias e comunicadores, a um grupo despreparado e – como bem observou a Maria Elisa – muitas vezes covarde, foram escolhas de quem? E pelas alianças espúrias, o troca-troca partidário, as nomeações tecnicamente duvidosas, quem se responsabiliza? E pelo apoio a Kennedy Nunes no segundo turno, quando seria muito mais digno e coerente com a história do partido declarar-se neutro e liberar os votos de militantes e demais eleitores?

Eu trabalhei na assessoria de imprensa da campanha de 1996, e lembro como o monopólio do transporte público era um tema fundamental. Foram quatro anos e absolutamente nada, além do aumento nos preços das passagens, mudou. A gestão petista foi subserviente aos interesses monopolistas exatamente como foram as anteriores e continuarão a ser a de agora e as que vierem depois, e o transporte público em Joinville segue caro e ineficiente. Igualmente fundamental era o discurso de valorização e diálogo com os funcionários públicos, e não foi o que se viu na greve de 2011, quando o tratamento dispensado ao sindicato e aos servidores foi, mais que arrogante, autoritário.

É ingenuidade achar que o PT um dia voltará a ser o que era. Ninguém é governo impunemente. Mas o partido precisa decidir o que ele pretende ser – por exemplo, não dá para se dizer oposição ao governo mas autorizar que seus vereadores se declarem independentes em relação a esse mesmo governo. Avaliar e aprender com os erros são bons exercícios; eles ajudam a ponderar e planejar as possibilidades de futuro. Mas, antes, é preciso admiti-los.

22 comentários:

  1. Mais um a tratar o PT como um paladino caído da “justiça e da honra na política, defensor dos pobres e oprimidos da gula capitalista” – o único partido “do bem”. Poupe-nos!

    Desde 2002 se conhece o modus operandi desse partido soberbo e antiético em todas as esferas de poder.

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  2. Ótimo texto Clóvis,
    Acho que alem de não ouvir os movimentos sociais, o governo do Carlito não ouviu as próprias bases do partido, e hoje isso reflete em um partido que depois de um mandato municipal esta esvaziado.
    E pelo quadro que se apresenta o PT não tem outros nomes para a próxima eleição, o partido ficou representado pela figura de um casal, e agora que estes nomes perderam força o partido vai amargar um ostracismo por mais 20 anos.

    O governo ficou entre buscar o apoio da midia e fazer uma base aliada e um governo independente, e nesse meio meio se perdeu.

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    1. André, o que você observa parece ser um problema que extrapola os limites do PT joinvilense. Faz tempo o PT perdeu o contato com as bases e, principalmente no governo Dilma, também com os movimentos sociais.

      Me parece que a situação em Jville. é em parte - e eu enfatizo o "em parte" - reflexo de uma trajetória nacional, fruto da excessiva institucionalização do partido, que há anos privilegia os pleitos eleitorais e deixou de lado sua inserção e diálogo com a sociedade e os movimentos populares.

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    2. Então podemos dizer que o PT está se "tornando" um PMDB, sendo um partido de centro.

      O que mais me assusta hoje é que em 2016 não teremos nomes fortes novos para a eleição municipal, será um mais do mesmo e o povo vai continuar com o voto no "menos pior", se é que isso é possível, mas com os mesmos nomes de 2012.

      Dos vereadores que temos hoje, não consigo ver algum com chances de sair candidato na próxima eleição para prefeito(a não ser que alguém se destaque muito na eleição do ano que vem)

      Bom mesmo só vai ser a briga para as vagas de deputados federais, já que dois derrotados para prefeito vão brigar por esta vaga, e o que não se eleger pode pensar em outra coisa para fazer por que será a última pá de cal.

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    3. Falando em 2016, e que fim deu o processo contra o Carlito? Se ficar inelegível só poderia voltar a disputar a prefeitura em 2020, o que já seria uma pá de cal para ele...
      Restaria provalmente os nomes da ex-primeira dama Marinete Merss e Adilson Mariano como prováveis candidatos a disputarem a indicação do partido.

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    4. O PT está se “tornando um partido de centro”?
      Passa aí o endereço da sua clínica de criogenia.

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    5. André, leve em conta que estou longe de Jville. e não acompanha os desdobramentos da política local in loco, o que implica sempre um risco na hora de dar pitaco. Mas acho que a política joinvilense não vê um nome novo há anos. A "novidade" que foi o Carlito - e coloco entre aspas porque, mesmo ele, já não era exatamente um nome novo - acabou por sepultar por um bom tempo as pretensões do PT, tamanha a frustração e a rejeição à sua administração.

      Sobraram e sobrarão os candidatos indicados e/ou apoiados pelo LHS, que segue, ao menos neste sentido, sendo a principal liderança política da cidade - o que eu, particularmente, acho muitíssimo lamentável. Isso pode mudar com um eventual fracasso da administração Udo, o que abriria espaço para algum candidato de oposição. Mas também neste caso as perspectivas não são alvissareiras, ao menos com os nomes que estão aí hoje.

      13:58, também não sei como ficou o processo contra o Carlito. Mas acho que, independente disso, as chances dele voltar a disputar a prefeitura são muito remotas.

      O nome da Marinete está muito ligado ao do Carlito e mesmo que ela seja indicado, não acho que tenha chances de ganhar - até porque, lhe falta carisma (me falta outra palavra), que o Carlito tem de sobre - ou tinha, pelo menos - e é fundamental em um embate eleitoral.

      Quanto ao Mariano, ou muito me engano, ou ele e seu grupo são minoria dentro do partido em Jville. - aliás, se dependesse do diretório municipal ele teria sido expulso. Gosto dele e de sua atuação na Câmara - fomos contemporâneos de faculdade, há muitos anos -, mas não acredito que ele consiga emplacar uma indicação para sair como candidato à prefeito.

      Em todo caso, fica a mesma ressalva que fiz para o André: faz tempo que acompanho tudo de longe. Então posso estar enganado a respeito de coisas que acontecem lá pelas cochias e que não chegam à ribalta.

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    6. Criticar o governo, o Carlito até vai, mas putz André, compara o PT com o PMDB é quase tão feio que ofender a mãe do juiz...

      NelsonJoi@bol.com.br

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  3. Muito bom o texto, ótima sacada!
    Garanto que vários companheiros tiveram seus interesses atendidos. Poderiam refletir sobre a Fundema, sobre os contratos de iluminação pública, servidor de grande porte pela bagatela de R$3,5 milhões, obras do BID. Muito fácil apontar o Adilson Mariano, a CVJ e a imprensa como culpados.
    "Foram quatro anos e absolutamente nada, além do aumento nos preços das passagens, mudou."
    Ele assumiu uma divida e assinou um decreto bem estranho no ultimo dia de trabalho, autorizando um aumento na passagem, eu estava lá e vi que o prefeito foi "trabalhar" só para assinar esse decreto.

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    1. Absolutamente nada, exceto, claro, seu cargo e salário de comisionado.

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    2. Bruno, obrigado pelos comentários.

      Quanto ao comentário do 16:58, e só pra não variar, ele não faz nenhum sentido.

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    3. Faz parte, passei o ultimo ano da gestão como comissionado agora tenho que ler essas. Provavelmente o 16:58 é um dos companheiros que se beneficiaram muito com a Gestão.
      Acho que qualquer gestão que for honesta será a melhor gestão que a cidade já teve, mas acho que é mais fácil botar culpa na imprensa, CVJ e Adilson Mariano do que ser honesto.
      A nova gestão ta seguindo a mesma linha e assim vai.

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  4. Realmente não da para alegar que a gestão Carlito não tenha tido erros, afinal todos somos passiveis deles.

    Também seria muita crueldade não reconhecer a oposição da mídia e do grupo interno do PT que foi sistemático nas criticas e desqualificação, juntamente com o não comportamento republicano do governo Colombo e dos vereadores, conseguindo assim um “congelamento excluidor” para o prefeito.
    O texto acima realmente contempla algumas situações que concordo, mas vale lembrar que a quebra de paradigmas do poder joinvillense não é coisa tão simples e fácil.
    Assumir erro sim, mas não ficar alimentando ego de prepotentes enraizados, alimentando apenas a tão já imperada sujeição que a cultura de muitos daqui impõem.
    Hoje não se vê a imprensa analisar a "competência" deste prefeito.
    Muito menos as insistentes criticas a tudo pelo grupo interno do PT, que usou a gestão do Carlito, assim como fez no primeiro governo do presidente Lula, o mesmo “Modus Operandi” da critica, como bandeira para se manter na mídia e capitalizar com isto.
    Quanto a transparência em gestão publica nossa cidade só teve a iniciação do seu significado na gestão do Carlito.
    Quanto ao ego e poder do LH, Joinville conta com "suas mãos" em todas as esferas dominantes de poder e a submissão chega a ser constrangedora.
    Nesta gestão atual “todos os ventos” sopram a favor ao governo dele e apoio não lhe faltam, porem não se vê obras, enquanto que na do prefeito Carlito,
    do inicio até o fim só se via obras, basta andar pelas ruas hoje e comparar com a gestão anterior , isto sem falar nas catástrofes que foram enfrentadas pelo Carlito.
    A gestão atual é chamada por muitos como “gestão competente”, por favor, colocar um como competente e outro como incompetente, só nos da à certeza de que a perfeição e a competência aqui em Joinville estão apenas “de onde vem” o gestor e o “quanto tem” este gestor!

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    1. Jucélia, eu reconheço as dificuldades - aliás, acho que deixei isso claro no texto.

      O Carlito não foi o primeiro nem será o último prefeito petista a governar enfrentando uma oposição hostil e mesmo desonesta, seja dos demais partidos ou da imprensa. Basta lembrar o que a RBS fez com Olívio Dutra em suas gestões como prefeito e governador no estado vizinho do RS.

      O que cobro é o PT assumir sua cota de responsabilidade nos muitos equívocos cometidos pela gestão. Isso o partido ainda não fez. E provavelmente não fará.

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    2. Como o Clóvis já colocou, não se pode desqualificar o governo Carlito injustamente, a rede de saneamento dobrou em sua gestão, assim como várias obras em escolas, postos de saúde e áreas de lazer. O problema foi a gestão e fiscalização destas obras, e principalmente, a comunicação entre as diversas Secretarias que já é um problema crônico da prefeitura.
      Conheço muitos petistas descontentes, e não se pode agora colocar a culpa nestas pessoas que não foram ouvidas e não tiveram canais para se manifestar. O governo cometeu erros em função das suas escolhas, das suas opções, da sua equipe de governo e ponto final. Que o LHS e a RBS seriam os maiores opositores até os seixos do Cubatão já sabiam, o problema foi também não ouvi-los.

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    3. Falando em RS, a única esperança do PT é que o UDO continue a ser Yeda Crusius de Joinville, pois mais hora menos hora, a promiscuidade deste governo ficará muito pesada para continuar a ser carregada pela imprensa.

      NelsonJoi@bol.com.br

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  5. Apareceu um petista lúcido, aliás, ex-petista, o que é um alento. O que não abandonou foi o ranço da esquerda. Ah, isso é pedir muito para quem escreve no Chuva Plácida.

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    1. "Ranço da esquerda". Adoro o vocabulário sempre original e nada previsível dos anônimos que tem o "ranço da direita".

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    2. "Chuva Plácida"

      Como diz meu amigo Lindouglas: corre, Carlos Alberto, antes que o Zorra Total ofereça um contrato para este menino.

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