sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Apesar de vocês...

POR FELIPE SILVEIRA

Apesar de papas, bopes e bolhas, o momento que vivemos é sensacional na luta por um mundo mais justo, igualitário e fraterno. Sensacional e delicado, porque é neste momento que construiremos as bases e fundamentos das lutas nos próximos anos e décadas. É nesse momento que quem sempre oprimiu vai usar das suas armas mais letais (literalmente e ideologicamente). Esse é o recurso que eles têm para tentar inibir um pouco a multidão que ganha as ruas e as redes na busca por um mundo melhor.

Não estou falando somente da multidão que foi às ruas em junho de 2013. Também é dessa, mas não somente. Estou falando de todo movimento contra a opressão e pela liberdade e justiça que acompanho nos últimos dez anos (friso: período que acompanho).

Sempre que penso no nosso contexto político-social, imagino a figura de uma estrada com uma bifurcação ao final. Seguindo por essa estrada vai a sociedade, que disputa o volante com todas as suas forças, numa disputa para seguir apenas um dos caminhos quando a estrada acabar (e não vou falar de esquerda e direita nesse momento porque não é exatamente disso que se trata). E apesar de achar que a estrada não acaba nunca, acredito que o momento que vivemos nos dá a sensação de estar muito perto da bifurcação.

Então, é mais ou menos por isso que alterno pessimismo e otimismo várias vezes ao dia. Vou citar alguns exemplos de coisas que enxergo como disputas pela direção na figura citada que descrevi acima.

Se por um lado alguns prefeitos por aí acham que investir em duplicação e alargamento de vias e elevados resolve o problema da mobilidade urbana, por outro há cada vez mais ciclistas organizados, movimentos e cidades interessados em desenvolver e estimular outras maneiras de se locomover.

Se por um lado o sistema cria cada vez mais barreiras e dificuldades de acesso aos pobres, há cada vez mais puladores de catraca. Se por um lado a maioria dos políticos dá um jeito de sempre fazer um negócio excuso com licitação, há movimentos como o Passe Livre e o dos Trabalhadores Sem Terra.

Se por um lado a Copa do Mundo promove a derrubada de casas da população pobre para agradar a Fifa, também há gente lutando em prol do direito à moradia. Assim como há governos, como o da Venezuela, que investiram em grandes programas de casas populares.

Se por um lado há uma polícia que já matou centenas de pessoas nos últimos anos - e não digo BOPE porque cada batalhão tem o seu esquadrão de extermínio -, há também gente que luta pela desmilitarização da polícia e há gente que vai lutar para descobrir onde está o trabalhador Amarildo Souza, desaparecido depois de ser levado para uma delegacia (leia aqui o texto do Clóvis Gruner para entender). Algo quase impensável no nosso passado recente e sombrio (e aqui indico o filme Zuzu Angel).

Se AN, Folha de S. Paulo e New York Times fecham o conteúdo livre para seus assinantes, há cada vez mais informação livre circulando. Assim como há toda a cultura do software livre que mudou e vem mudando o mundo da tecnologia e da informação.

Se por um lado existe gente como Marco Feliciano, que tem aumentado seu número de seguidores e ainda por cima em nome de Jesus, a presidenta do Brasil sancionou a lei sobre vítimas de violência sexual, o Uruguai permitiu o aborto há algum tempo e recentemente os seus deputados aprovaram a venda da maconha (falta passar pelo Senado).

Enfim, há milhares de exemplos em todos os campos, mas vou parar por aqui. Não estou defendendo a Dilma ou sendo otimista demais com o mundo citando esses exemplos. Como disse antes, todos os dias alterno diversas vezes entre o pessimismo e o otimismo por conta disso tudo. O objetivo desse texto é apenas refletir sobre vivermos em um campo de batalha pelo mundo que vamos viver amanhã e pelos próximos anos.

18 comentários:

  1. Por falar nisso, que fim deu o MPL em São Paulo? Porque será que eles cancelaram as manifestações? Será que foi porque o tiro saiu pela culatra?

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    1. Os caras conseguiram fazer Alckmin e Haddad voltarem atrás no aumento das passagens e você diz que "o tiro saiu pela culatra?".

      Cada vez entendo menos alguns comentários.

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    2. Ué, mas o chavão do movimento não era "NÃO É SÓ POR CAUSA DOS R$ 0,20"?
      Quer dizer que o governo recuou o aumento e ficou por isso mesmo?

      Quanto ao "tiro sair pela culatra", acho que vocês entenderam muito bem o significado...

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    3. Sem saco pra responder comentário nonsense. Se você estava em Marte na época das manifestações, chegou agora e decidiu matar um tempinho dando pitaco sobre o que não conhece, dá uma olhada aí, se interessar:

      http://www.chuvaacida.info/2013/06/ocupar-as-ruas-nao-e-crime.html

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    4. Jorge Mauro, parece que os membros do MPL interromperam as atividades porque estão de olho em vaguinhas no governo Alckmin. No teu mundo acho que faz sentido, não?

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    5. Felipe, sei que voce quis ser irônico na resposta ao Jorge M.
      Mas lembro que o principal líder do MPL, anos atrás em Florianópolis, conseguiu sim a sua vaguinha no gabinete da Dep. Angela Albino (conhecida por lá como Comunista de Boutique) na Assembléia Legislativa.
      Com o tempo voce irá descobrir que, por maior que seja nossa convicção em nossas ideologias, telhados de vidro sempre espreitam atrás de cada esquina.

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    6. Nelson,

      se tem uma coisa que eu gosto de fazer é ouvir os mais velhos, aprender com a experiência do outro, essas coisas. Mas a tua me soa como prepotência. Algo como "me ouça, porque sei algo que você não sabe simplesmente por ser mais velho". Não é bem assim que funcionam as coisas. Então estou dispensando seus conselhos sobre o tempo. Abraços

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    7. Depois do comentário do Nelson, estou visualizando o Felipe fechar os olhos, tapar os ouvidos e gritar: lah, lah, lah, lah, lah....

      Hehehehe
      Algumas pessoas selecionadas seguem cegamente o evangelho, outras, a ideologia.

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    8. Nelson, qual o problema de uma liderança do MPL ser funcionário do gabinete de uma deputada estadual? Principalmente em se tratando de uma deputada de um partido - o PCdoB - que apoiou o movimento em Florianópolis desde as primeiras manifestações, já vão alguns anos, à época duramente reprimidas pela polícia, inclusive.

      A nomeação é política? Certamente. Tão políticas quanto a maioria das nomeações do governo Udo, por exemplo. Em cargos comissionados, o critério ideológico é levado em conta tanto quanto o técnico. Neste sentido, eu estranharia, é se o cara fosse convidado a assumir um cargo no governo do Raimundo Colombo e aceitasse.

      Se a tal liderança do MPL fez do cargo na Assembleia um cabide de emprego, é uma coisa. Se ele foi convidado a assumir uma função remunerada e cumpriu com o que se esperava dele, insisto, qual o problema?

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    9. Nenhum problema meu caro Clóvis. O que voce coloca faz todo sentido, seguindo-se a lógica atual. Pessoalmente, nunca concordei com nomeações políticas e apadrinhamentos. Mas é assim que funciona, eu sei. É dar murro em ponta de faca.
      E acho que todos já assistimos a sobejos exemplos do "modus operandi" da grande maioria dos "líderes" surgidos nas últimas décadas. Fazem um grande estardalhaço e depois que conseguem uma "boquinha", desaparecem de cena.
      A única coisa que fiz, foi mostrar que isso acontece à direita e à esquerda.

      E Felipe, obrigado por não ter usado palavrões. Posso te assegurar que não tive intenção de ser prepotente. Se usei um certo tom paternal, é porque, embora concorde cada vez menos com tuas posições (notadamente as últimas), reconheço o teu talento no uso da pena. Peço apenas que não a maltrate tanto.

      E vou usar tuas palavras: Não é assim que as coisas funcionam

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    10. Salve, Nelson!
      Não sou tão xiita quanto a nomeações políticas. Aliás, acho inclusive que a depender do caso, a afinidade política e ideológica é tão necessária quanto qualquer outra.

      Vou dar um exemplo doméstico que ilustra isso. O Guilherme, que escrevia no blog, assumiu um cargo comissionado junto ao governo municipal ligado à área de turismo. Por que? Oras, porque é um tema que interessa a ele e sobre o qual ele escreve um bom punhado de textos aqui no Chuva, com ideias originais e valiosas. Natural, sob este aspecto, que o governo Udo o aproveitasse.

      Por outro lado, creio que o Guilherme foi convidado também pela sua afinidade com o projeto político do atual governo - e quem acompanhou o blog principalmente no segundo turno das eleições do ano passado, sabe que ele não foi apenas um eleitor, mas um entusiasta da candidatura do Udo.

      Quer dizer, se fosse por ex.: o Felipe a escrever os mesmos textos, muito provavelmente ele não seria convidado a assumir um cargo comissionado no governo Udo e, caso fosse, acho que não aceitaria.

      Por que? Porque em cargos comissionados a afinidade política, seja com o partido, seja com o projeto ou programa de governo é fundamental para quem assume uma função. O problema é quando o critério é apenas político, ou ideológico ou partidário, e não se leva em conta as possíveis contribuições, diríamos técnicas, do nome indicado.

      E sim, isso vale à direita e à esquerda, sem distinção. Assim como não imagino um militante do PSOL em um cargo do governo Udo ou Colombo, me é igualmente inimaginável um tucano exercer função comissionada em um governo psolista. O contrário não me surpreende.

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    11. Salve Clovis

      Entendo perfeitamente teu ponto de vista. É pura lógica. Também nunca contestei nomeações de comissionados. Lembro bem a quantidade de críticas aqui mesmo no Chuva Ácida, quando o Guilherme aceitou o cargo na Prefeitura. O Baço quase entrou na mesma roda viva, mas acabou ficando em Portugal mesmo. Voce não vai achar críticas minhas a essas pessoas e suas ações. Ao contrário, no caso do Guilherme até continuamos a manter contato, ele já na Prefeitura. Como sempre, existem casos...e casos.
      E voce mesmo afirma, "o problema é quando o critério é apenas político, ou ideológico ou partidário, e não leva em conta as possíveis (eu diria necessárias) contribuições técnicas, do nome indicado" Não é o caso do Guilherme, nem seria o do Baço, ambos com sobeja e reconhecida competência.
      Mas sabemos que essa forma de contratação é um portal escancarado à inclusão de um exército de incompetentes e aproveitadores, sempre esfregando as mãos por uma "boquinha". E como essa turma se "qualifica"? Sendo ativista do "partido", ou "trabalhando" pelo candidato, ou fazendo passeatas, ou simplesmente "agitando". Alguns, até transportando dinheiro sujo nas cuecas....
      Aliás, milhares de pessoas recentemente sairam às ruas para protestar também contra esse tipo de gente.
      Critério técnico? Capacidade e conhecimento? Ora, sabemos muito bem que isso só se aplica às exceções. Fui testemunha disso por 34 anos de empresa pública. E senti, inclusive na pele, o estrago que isso provoca. Isso ainda durante o governo militar, onde os nomeados eram da Arena, que depois virou PDS, que depois se dividiu em PFL e PPR e hoje é DEM e PP.
      Durante esse tempo, o PMDB, que era no passado oposição pura, cooptou e aderiu às mamatas do poder, e hoje é esse fisiológico que estamos vendo a apoiar e até manobrar o PT. Não sem antes ter gerado o PSDB, que sabemos, também aprontou das suas, mesmo querendo se fazer passar por oposição.
      E o PT, que nasceu "puro", superou-se e hoje é o mestre de todos eles. Acho que não preciso perder tempo em detalhes. Os fatos estão passando pelas avenidas todo fim de tarde.
      É o espírito da "boquinha" e da "mamata" que domina o pensamento da quase totalidade desse pessoal, meu caro Clóvis. Com as sempre raras exceções.
      E voltando à gênese desse nosso pequeno debate, talvez seja o caso de invocar o Velho Mestre que falava - "atire a primeira pedra..." Ou então do provérbio popular, "desta água nunca beberei".
      Na minha forma de ver, o Felipe não só bebeu da água como também atirou a pedra. Em telhado de vidro.

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  2. Chato pra garalho este texto.

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  3. Não falou palavrão, é um começo...

    NelsonJoi@bol.com.br

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    1. Porra, esqueci, Nelson!

      Obrigado por me lembrar! Vou compensar numa próxima oportunidade!

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  4. "Pular catraca" é roubo, quem faz isso está roubando a empresa de transporte.

    E na Venezuela falta até papel higiênico, belo exemplo ge bom governo.

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    1. O que o cú tem a ver com as calças? Pular catraca é um modo de protestar, e um modo de dizer para a sociedade e governos que transporte público é tão importante e necessário como saúde e educação públicas.
      E pelo amor de Deus, estamos no século 21 e as informações não são mais através de sinais de fumaça. Venezuela e Cuba, só para citar 2 exemplos, são países submetidos a embargos e sabotagens dos países ditos democratas há décadas. Os mesmos países que hoje perseguem pessoas que denunciam violações dos direitos humamos e tem que se refugiar nos ditos paises anti-democráticos, deu prá entender?

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